terça-feira, janeiro 18, 2005

Um planeta em movimento




Cinco dias depois da gigantesca
catástrofe na Ásia,
ladrões, falsificadores de
documentos de mortos,
assaltantes, e até estupradores,
aparecem em cena.
É por isso que eu digo:
sempre se pode contar
com o ser humano.

Millôr,
na Veja, de 12 de janeiro de 2005.

As notícias vindas do sul e sudeste da Ásia e da África chocaram a todos. Mais de 163 mil mortos, oficialmente. Os meios de comunicação de massa não pararam de nos mostrar mais terríveis fotografias, imagens capazes de ilustrar o inferno de Dante na “Divina Comédia”, dignas de revirar o estômago de qualquer um. Quando os homens se imaginam os senhores do planetinha azul, ele dá mostra de independência e nos lembra, através de catástrofes como a atual, que somos apenas uma pequena parte do planeta Terra, e nunca seus senhores.

Na célebre lição do chefe indígena Seattle, em 1854, ao então democrata Presidente dos EUA Franklin Pierce, em resposta a sua proposta de compra das terras tradicionais da tribo Duwaish, “Nós somos uma parte da Terra, e ela é uma parte nossa ... o que acontecer à Terra, acontece também aos filhos da Terra. Quando os homens cospem na Terra, estão cuspindo em si mesmos. Pois nós sabemos que a Terra não pertence aos homens, o homem é que pertence a terra. Isso sabemos bem. Tudo está unido, como o sangue que une a uma família. Tudo está unido”.

E a resposta mundial à tragédia pode comover ainda mais que a própria. Seguiram-se declarações de solidariedade e de apoio na reconstrução dos países atingidos. Ademais de movimentos de Estados e de ONGs. A ONU tem cobrado a efetividade das promessas de ajuda feitas no momento inicial da tragédia, e no local chegam médicos de todos os continentes, com remédios, comida, água potável e muita vontade de ajudar. A onda de solidariedade humana que seguiu o “tsunami” desperta sentimentos de compaixão tanto quanto o próprio desastre. Infelizmente, são nestas horas que podemos realmente ver a raça humana exatamente como ela de verdade é: um monte de pessoas separadas por nações, idiomas, cores e religiões, cheias de dúvidas e angústias comuns, compartindo um mesmo planeta.

O maremoto que causou tanta desgraça foi o fenômeno que conseguiu reunir, desde muito tempo, a todos nós, habitantes desta nave chamada Terra. Como afirmou Diogo Schelp, repórter da revista Veja: “O esforço para socorrer as vítimas de uma catástrofe natural é uma afirmação do melhor que existe no espírito humano, a motivação moral sem a contaminação da política. A devastação das ondas gigantes lembra à humanidade que estamos mais intimamente ligados por forças geológicas invisíveis e imprevisíveis do que por laços comerciais, culturais e políticos”.

Portanto, mesmo sendo capaz das piores barbaridades contra sua própria espécie, devemos celebrar o sucesso da ajuda as vitimas da tragédia natural, pois mais uma vez o ser humano provou que é capaz de se unir em prol de uma causa planetária comum.