sexta-feira, abril 28, 2006

Já morreu


A morte é uma vida vivida.
A vida é uma morte que chega.
Jorge Luís Borges

Nascer é começar a morrer.
Teófilo Gautier
(1811 - 1872
escritor francês)

Enquanto estão vivos,
nossos pais são a fronteira
entre nós e a morte.
Quando morrem,
nós passamos para
o primeiro lugar da fila.
Jane Fonda

Eu também já morri. Foi há muito tempo, por volta de 1988 ou 1989. Havia um outro eu, um Freitas Júnior ou Freitas Filho, cujo pai chamava-se também Freitas e trabalhava, também, no mesmo Banco que meu pai. Lembro-me vagamente dele, nadando com seus irmãos na piscina de algum clube da minha infância. Freitinhas morreu voltando de moto de Parnaíba no mês das férias, julho, sozinho.

A notícia se espalhou como pólvora e alguns mais chegados até me ligaram em Recife, onde eu morava naquela época, estudando Direito. Outros se assustavam ao ver-me bebendo no antigo P Center.

– Ué? Você aqui?
- Cheguei ontem, já estou de férias.
- Não me refiro a isso, mas...
- Mas o quê?
- Você... aqui... vivo...
- Eu vivo?
- Nada não, valeu, a gente se fala.
Ninguém realmente consegue levar um papo normal sobre o tema morte. Simplesmente o tema não existe quando somos jovens e cheios de sonhos malucos, mas a verdade é que à medida que envelhecemos o tema se torna ainda mais terrível.

Tenho um amigo que desaparece da vida de qualquer outro amigo que perde um parente próximo por no mínimo um ano, para sequer sentir a tristeza provocada pela morte no amigo enlutado. Na verdade o que ele detesta é a perspectiva de encarar a sombra mortal que paira sobre qualquer luto.

A primeira vez que senti a dor pela perda de alguém querido foi em 1983, quando morreu meu avô. Eu ainda lembro daquele dia. Estava na 7ª série do curso ginasial do colégio dos jesuítas e naquele momento assistia a missa semanal. De repente, entra a pedal e com um sinal de mão me chama à porta da capela. – Suba à sua sala, arrume seus livros que seus pais te esperam na Secretaria. Teu avô morreu.

Puxa vida, isso sim é que é classe em comunicar um falecimento. Um verdadeiro anjo do inferno, a porta-voz do cramunhão, o oráculo do boizebú.

Anos mais tarde morreria minha avó, mas eu já estava mais crescidinho e encarei aquela perda de maneira mais... adulta, digamos assim.

Depois aprendi a matar. Isso mesmo, foi com Jorge Amado. De maneira que há pessoas que andam, falam, respiram, mas em verdade estão mortas. Já não existem mais por mil motivos, pela vilania, pelo excesso de picaretagem e etc.

Talvez a morte seja apenas uma passagem de plano, uma mudança de energia ou qualquer outra explicação esotérica. Pra mim, melhor é não mexer com isso. Fica pra depois, pra bem depois que formos todos nós, em paz, pro maravilhoso bar celestial que nunca fecha.

sexta-feira, abril 07, 2006

Depois do começo do fim




Todo pasa.
Nada dura más que un rato.
Si aprendes esto,
la vida se hace más fácil.

Marlon Brando



Amar à distância somente não é pior que amar uma pessoa sem alma. E existe muita gente sem alma neste mundo. Zombies que vagam pelo planeta a maldizerem de sua própria sorte, encantados com as vidas das outras pessoas, mas incapazes de viverem suas próprias, se enganando com suas mesquinhas vidas pequenas e idiotas. Elas encontram resposta pra tudo, menos pro óbvio: estão mortas.

“- Agora, depois de tanto tempo calada, me diz o que realmente aconteceu”.

O medo pode devorar um ser humano a tal ponto que apenas a histeria nervosa vem a ser sua senhora. Dar ouvidos à razão pode te levar a um imobilismo neurótico irreversível. A paralisia mental de atitudes te conduz pelo estreito e escuro caminho da sensação de fracasso perpétuo.

“- Conta-me uma novidade”.

E tem que ser assim. Não há segunda chamada pra vida e que as Carolinas que esperam nas janelas fodam-se sozinhas. O tempo é agora e o lugar é aqui. Não dá pra esperar mais.

“- Você está comigo ou não?”

Chega de esperanças e bons sentimentos nobres. Chega. Já me sinto abusado de tanta paciência, tanta negatividade e tanto sentimento de desprezo pelos meus sentimentos. Pra mim, basta de doces e fodidas historietas de amor sem rumo, com personagens maníaco-depressivas que se entopem de comprimidinhos cor-de-rosa pros nervos diante de qualquer desafio diante da vida.

“- Vai pôr a culpa em mim, de novo?”.

O tempo vai passar e isso é a única coisa positiva desta historinha toda. Que passe o tempo, vem logo tempo, passa logo, transforma todo esse amor em angústia e sentimento de fracasso até que tudo seja apenas nostalgia, esquecimento e vazio.

“- Cuida-te muito, tchau”.