quinta-feira, dezembro 07, 2006

Morrer sozinha e milionária

















“Meu único luxo é a solidão”
Pierre Cardin



Abro o jornal e leio que Carmen Pinto Valls faleceu sozinha aos 85 anos, em sua casa em Barcelona, Espanha, no dia 9 de novembro de 1998. Ela estava doente, mas insistia em viver sozinha. Deixou uma fortuna de 12 milhões de euros, sem testamento nem herdeiros.

Carmen não teve filhos. Nasceu no dia 3 de novembro de 1913 numa cidadezinha do sul da Espanha e mais tarde foi viver em Barcelona. Casou-se com Josep Porta Selva, um elegante representante comercial e empresário que morreu em 1983, deixando-a como sua única herdeira.

Hoje, o governo catalão divide sua fortuna de 12 milhões de euros, basicamente formada por imóveis na cidade de Barcelona, entre ONGs e diversos projetos sociais. Contudo, o governo catalão buscou, sem sucesso, a qualquer parente consangüíneo da senhora Carmen Pinto Valls que, de acordo com a lei de sucessão espanhola, poderia reclamar sua herança.

Uma de suas vizinhas disse que “seria 1955 ou 1956” o ano em que o casal fixou residência no quinto andar do prédio que lhes pertencia na zona alta da cidade de Barcelona, ‘acima da Diagonal’, no qual Carmen fixou residência até morrer. “Os inquilinos eram recém casados e eles também”, afirmou a vizinha que recordava, ainda, que o falecido marido de Carmen era muito atencioso com ela.

Três vezes por semana, sua empregada doméstica Núria aparecia para ajudar-lhe a realizar as tarefas domésticas, preparar-lhe a comida e fazer-lhe as compras, quando já não conseguia mais sair de casa. Também recebia a visita de um sobrinho de seu falecido marido, que insistia na sua internação num hospital. Nada, ninguém imaginava que Carmen era uma milionária, pelo tipo de vida que levava.

Carmen era uma mulher muito reservada, mas isso não impediu que sua cabeleireira, Lili, descobrisse a muitos de seus segredos, como que foi empregada doméstica de seu falecido marido.

De gosto simples, Carmen costumava pintar o cabelo uma vez por mês, momento em que também fazia pedicura e manicura. Lavava sua roupa a mão e fazia importantes doações a entidades religiosas. “Ás vezes, parecia que ela não queria dar-se conta da idade que tinha, nem de que estava muito doente”, afirmou Lili.

Apesar de sua fortuna, Carmen sempre desconfiou das pessoas. Quis viver sozinha e desta forma morreu. Seu funeral foi acompanhado pelo sobrinho de seu falecido marido, pela porteira de seu prédio, por sua empregada doméstica e sua cabeleireira.

“Diz-me pra que serviu tanto dinheiro”, disse a cabeleireira.

Fecho o jornal.