terça-feira, setembro 04, 2007

Algumas vezes

Si, mañana
Será un día alegre
Y habrá boda y fiesta.
Y probablemente
Sonreiré.

Pero hoy,
Buscaré la felicidad
a ratos,
Aunque me lo creo
Que la verdadera infinita
Felicidad
Ven en toneladas
Duraderas.


“Oceano imenso –
Escritos perdidos de Espanha”,

Antonio de Freitas


Algumas vezes, na minha vida, já estive tão perdido quanto qualquer garotinho no primeiro dia de colégio. Com medo de errar, dos outros rirem de mim, em busca de proteção e de algo que eu nunca soube muito bem o que seria ou sequer existia. E durante alguns anos, enquanto eu me encontrava assim, outras pessoas me seguiram. Como se eu estivesse menos perdido que qualquer uma delas. Porque sempre haverá alguma outra pessoa mais perdida, triste e solitária que você mesma, sempre. Aconteça o que acontecer.

Já tive as despedidas mais tristes do mundo, entre lençóis de linho branco e aeroportos desertos de todos os sentimentos bonitos ou belas imagens cinematográficas. Já desperdicei meu tempo com pessoas que apenas se aproveitaram de mim, enquanto eu vivia uma viagem hedonista de encontro à dor. Já fingi sentir prazer enquanto escondia minhas lágrimas de desespero e guardava minhas lágrimas de diamantes retribuídos em nome da carne que eu servia. Já machuquei e me machuquei, muito. Já fiz chorar e já chorei algumas vezes.

Por isso mesmo, quando encontro alguém que ainda possui muito de seu coração salvo de tantas maldades deste mundo e vive num ritmo de procura e medo, buscando agarrar-se desesperadamente a alguém ou a algo, sempre atirando o escuro, escondendo sua verdadeira dor e evitando cada dia a derradeira hora de encontrar-se cara a cara, meu coração velho senti que pode ajudar, que pode fazer alguma coisa, além de abrir a carteira.

E desejo, firmemente, que este alguém siga seu caminho, e não esta porcaria de caminho que seguiu até aqui, entre vergonha, amores furtivos e gozos sob o manto da mentira. Quero o brilho do sol pra você, quero passeios de mãos dadas pelo parque entre grama e árvores gigantescas, quero a alegria sincera dos sorrisos de amor no seu rosto lindo entre minhas mãos, quero a certeza que dá na gente quando se descobre que existe um outro alguém neste planeta maluco que você quer só pra você. Quero que dancemos na chuva durante a madrugada de outono, numa rua completamente vazia.

Algumas vezes encontro gente no meu caminho que desejo levar para sempre no meu coração. Mas meu coração é pequeno, não cabe todo mundo nem muito menos os meus sentimentos bobos. Então eu espero que me levem dentro de seus corações, que se lembrem de mim quando chegar meu fim, que cuidem de mim naquele hospital de campanha no meio da guerra estúpida, que me levem pra passear no lago ao entardecer, que me sirvam uma imensa dose de uísque com três cubos de gelo em copo tubo, que me dêem banho e façam minha barba, que preparem meu cachimbo com tabaco de chocolate do Tenensee e que me deixem em paz na minha melhor poltrona com meus livros e minha música.

Algumas vezes fico numa bobeira sem tamanho por horas, pensando em momentos tristes ou em pessoas alegres que entraram na minha vida e que sabem que não podem ficar, pelo menos neste momento dela. Algumas vezes fecho meus olhos e me imagino dando um loop completo, num velho avião militar da primeira guerra mundial, numa ensolarada manhã de domingo. Ouvindo a toda castanha a Frank Sinatra cantar “I got you under my skin”.