terça-feira, julho 15, 2008

"Ganhamos" - Daniel Cohn-Bendit


ENTREVISTA com Daniel Cohn-Bendit
Deputado Europeu e protagonista do Maio de 68

"Ganhamos"
ANDREU MISSÉ – El País - 11/05/2008
Tradução de Antonio de Freitas

Daniel Cohn-Bendit (Montauban, França, 1945) é a referência mais importante do Maio de 68. E segue sendo 40 anos depois, porém agora com novos horizontes: com os desafios da globalização, a mudança climática e a imigração. Talvez por isso acredite que há que virar a página daquela rebelião, como explica em seus livros ‘Forget 68’ e ‘La rebelión del 68’, este último em colaboração com Rüdiger Dammann e que publicará proximamente na Espanha ‘Global Rhythm Press’. Com sua lucidez e estilo provocador, Cohn-Bendit, hoje co-presidente do grupo ‘Os Verdes’ do Parlamento Europeu, resume aqueles anos com um categórico: "Ganhamos", e inclui na relação dos beneficiários o presidente francês, Nicolas Sarkozy.

P. Você sustenta que o Maio de 68 não foi uma revolução, mas uma rebelião.
R. Em todos os debates sobre o Maio de 68 é recorrente se questionar se foi uma revolução. Para mim foi uma rebelião. Sobretudo, uma rebelião antiautoritária que teve lugar um pouco por todas as partes. A rebelião de uma juventude que havia nascido depois da guerra e se revolvia contra o tipo de sociedade imposta pelas gerações da guerra. Os rebeldes eram diferentes na Polônia, nos Estados Unidos, na França ou na Alemanha, porém o coração foi precisamente esta rebelião antiautoritária.

P. Qual é a diferença?
R. A revolução supõe uma análise clássica que põe sempre na vanguarda o problema da tomada do poder, quando precisamente a maioria das pessoas que estavam na rua queriam tomar o poder sobre suas vidas, e não o poder político. Por isso, a palavra rebelião é mais adequada.

P. Os ‘sessentaeoitistas’ substituem consignas revolucionarias clássicas, como "abaixo o capitalismo", por outras idéias como "é proibido proibir", "gozar sem travas", "a burguesia não tem outro prazer que destruí-los todos" ou "seja realista, peça o impossível". Que significa esta mudança?
R. Acredito que as palavras de ordem tradicionais continuam existindo. Porém o que é novo, o que é precisamente esta novidade surrealista e que dá uma expressão poética à revolta, sobretudo à de Maio de 68, é sua radicalização antiautoritária.

P. Sarkozy é um liquidador da herança de 68 ou um produto contrariado de 68?
R. Sarkozy é um ‘sessentaeoitistas’ contrariado. Reivindica para ele uma liberdade de vida que é completamente de ‘sessentaeoitista’, porém que não tem nada que ver com sua política. Seu ataque contra o Maio de 68 é um ataque ‘contra natura’, pois ele se beneficia de tudo o que é do Maio de 68. Há 40 anos, um homem duas vezes divorciado não poderia ser presidente da República, era impossível.

P. Em certa medida, o que sugere é que os movimentos de liberação de 68 são os que permitiram o triunfo de um personagem como Sarkozy.
R. Sim. O movimento de 68 mudou de tal maneira a sociedade, que um homem como Sarkozy pode ser presidente.

P. Por que os movimentos de liberação relacionam o imperialismo estadunidense e o totalitarismo soviético?
R. Creio que uma das dimensões fundamentais da França de 68 foi a de pôr juntos, um ao lado do outro, o capitalismo e o comunismo. O Maio de 68 é o principio da desconstrução do comunismo.

P. Para muitos, o Maio de 68 representa a revolta da vida cotidiana, a eclosão da música, a nova relação entre homens e mulheres, a vida, a sexualidade...
R. O Maio de 68 queria precisamente que os indivíduos reivindicassem sua liberdade de vida cotidiana, que integra precisamente a música e uma nova visão lúdica da vida.

P. Sugere você que os revolucionários querem o poder político, enquanto que os rebeldes de 68 queriam o poder sobre suas vidas?
R. Isto mesmo. E ademais muitos revolucionários querem o poder sobre os outros, enquanto que os rebeldes de 68 o querem sobre sua própria vida.

P. O Maio de 68 supõe o fim das revoluções e o principio dos movimentos de liberação?
R. O Maio de 68, de fato, demonstra que o ciclo das revoluções dos séculos XIX e XX se acabou. E que hoje estamos num processo de transformação das sociedades, embora isto não queira dizer que as rebeliões hajam acabado. Porém, as revoltas empurram à transformação e a modernização da sociedade. E o mito da revolução, da tomada do poder, é algo que precisamente desapareceu.

P. As eleições, "uma armadilha para trouxas"? Ou você defende as instituições democráticas?
R. Há que ir com cuidado. Seguramente em 1968 foi difícil imaginar outra solução que a de boicotar as eleições. Porém, fundamentalmente o que havia detrás era una incompreensão do que é o espaço institucional como garantia da democracia.

P. O Maio de 68 foi um movimento da juventude contra as gerações anteriores? Tinham razão porque eram jovens?
R. Não, eu não creio que as gerações do pós-guerra tiveram razão. Os jovens nem sempre tem razão. Por exemplo, também os jovens nas universidades fizeram a revolução hitlerista. Não tinham razão por ser jovens.

P. O Maio de 68 permite o triunfo do feminismo contra o machismo generalizado, incluído o da esquerda?
R. Visto que há uma reivindicação precisamente da apropriação de sua vida, e de sua autonomia, as mulheres se enfrentam ao machismo esquerdista e também ao dos homens do interior do movimento.

P. ‘Gaullistas’ e comunistas, ganhadores ou perdedores da rebelião de Maio de 68?
R. A longo prazo, perdedores; a curto prazo, ganhadores. Creio que foram vitorias pírricas para os ‘gaullistas’ e os comunistas, e que o matiz antiautoritário da greve os varreu aos dois.

P. França segue sendo um país imobilista, centralista e reacionário à evolução?
R. Sim, porém de uma maneira totalmente diferente. Ainda que os problemas históricos continuem, é outra sociedade.

P. Ainda há reflexos destas estruturas em empresas tão influentes como EDF?
R. Sim, é um reflexo de que o jacobinismo francês tem uma determinada idéia dos serviços públicos. No modelo francês, os serviços públicos estão muito ligados a uma concepção estatal do social, que está a caminho de explodir e ninguém deseja pôr algo em seu lugar.

P. Quarenta anos depois daquele Maio, o que se ganhou?
R. Temos outra sociedade. Por um lado, é mais livre, porém tem outros problemas. Em Maio de 68 não se conhecia a AIDS, o desemprego, nem a degradação climática. A globalização desbocada que existe hoje tampouco se conhecia. Assim, pois, temos uma sociedade com uma liberdade muito maior e ao mesmo tempo se enfrenta a problemas de outra dimensão.
P. Você disse também que há de esquecer o Maio de 68. Que quer dizer com isto?
R. Simplesmente quero dizer que o Maio de 68 foi formidável, porém hoje os desafios são outros. Nos enfrentamos a outro mundo, outros problemas e os instrumentos da rebelião não respondem aos problemas de hoje.

P. Alguns consideram que certas idéias do Maio de 68 podem ser úteis, ainda.
R. Sim, porém o que me interessa são as idéias de democracia, dos direitos do homem e etc. Não me interessam tanto as raízes das idéias, ainda que haja gente que segue com o impulso do Maio de 68. Houve muita energia, muito desejo de liberdade e tudo isto continua e continuará. Porém, como são outras gerações as que fazem política, querer ver tudo o que ocorre através das lentes do Maio de 68 não faz avançar a ninguém.

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Daniel Cohn-Bendit
De Wikipedia, la enciclopedia libre

Daniel Cohn-Bendit es un
político alemán, nacido el 4 de abril de 1945 en Francia, que se dio a conocer primero por su tendencia anarquista que luego cambió a la de ecologista. Fue adjunto del alcalde de Fráncfort del Meno y actualmente es portavoz del grupo de Los Verdes en el Parlamento Europeo. Fue uno de los principales líderes de Mayo del 68.

Vida
Daniel Cohn-Bendit (llamado Daniel, el Rojo por los medios de comunicación en 1968) nace en Montauban, Francia, el 4 de abril de 1945 de padres alemanes de origen judío, fue apátrida hasta la edad de 18 años cuando tomó la nacionalidad alemana para no hacer su servicio militar. Luego de terminar el Abitur, en 1965, retorna a Francia donde comienza sus estudios de sociología en la Universidad de Nanterre.

Miembro de la Fédération Anarchiste de Francia, deja esta organización en 1967 con el groupe anarchiste de Nanterre para ir en Noir et Etron. Es uno de los líderes del movimiento universitario del Mayo del 68. Después de su protagonismo durante los acontecimientos de Mayo del 68 es expulsado del territorio francés, y prohibido su regreso al territorio hasta 1978, se fue a vivir a Alemania donde deja la vida política.

En 1981, rompe con el anarquismo militando por la elección de cómico Coluche a la presidencia de la República (francesa). En 1986, oficializa su abandono de la perspectiva revolucionaria en su libro: Nous l'avons tant aimé, la Révolution (La revolución, y nosotros que la quisimos tanto). A esta fecha, su hermano mayor, Gabriel Cohn-Bendit lo hace entrar en el partido Les Verts (partido ecologista francés).

Situación actual

En 2004, Daniel Cohn-Bendit es diputado al Parlamento Europeo para representar a los verdes; es el portavoz del Los Verdes Europeos, partido político creado en febrero 2004. Milita por el federalismo europeo.

Enlaces externos
Site oficial de Daniel Cohn-Bendit (en francés, inglés e alemán)