sábado, fevereiro 21, 2009

Dani García, gaspacho ganhador


Dani García, gaspacho ganhador

O cozinheiro malaguenho recebe na Espanha o Prêmio Nacional de Gastronomia

ROSA RIVAS - Madrid – El País - 20/02/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

"Foi uma surpresa. Estou muito emocionado de que tenham lembrado de mim", declarou ontem por telefone dos EUA Dani García. Este cozinheiro malaguenho (Marbelha, Espanha, 1975) recebeu na Espanha o Prêmio Nacional de Gastronomia. Segundo a Real Academia Espanhola de Gastronomia, que outorga este prêmio cada ano, o chefe andaluz -que possui duas estrelas Michelin- é o melhor chefe de cozinha espanhol de 2008.

Porém o prêmio não foi recebido em sua terra, mas em Miami, EUA, onde participou no festival Southern Wine & Spirits. Nesta vitrine da culinária espanhola que se celebra atualmente nos EUA, Dani García apresenta uma de suas especialidades, o “gazpacho de cerezas con nieve de queso, anchoa y pistacho”. Os Reis de Espanha o degustaram junto aos comensais americanos.

Enquanto lhe comunicavam a boa noticia, o cozinheiro andava ontem em pleno trabalho "rodeado de grandes da cozinha espanhola". Tratava-se do chef basco Pedro Subijana, do asturiano José Andrés (dono de um império gastronômico nos EUA) e o mago do chocolate Paco Torreblanca. Elaboravam um jantar de gala a oito mãos: Dani, a entrada; Subijana, um primeiro prato de “rape” (peixe-sapo); José Andrés, umas “carrilleras”; e Torreblanca, a sobremesa.

"É uma honra receber o Prêmio Nacional de Gastronomia. É um prêmio que todo chef deseja receber em sua carreira profissional. É uma recompensa a todo o esforço e trabalho que, tanto minha equipe como eu, fazemos dia a dia com tanta paixão", declarou o cozinheiro, que recebeu o reconhecimento das mãos do presidente da Real Academia de Gastronomia, Rafael Ansón.

García elevou à categoria de alta gastronomia suas memórias culinárias malaguenhas aprendidas nos fogões com sua mãe e sua avó. Os produtos do mar e da terra alcançam nova dimensão em suas criações, onde o nitrogênio líquido transforma sopas e suas mãos desenham silhuetas de paisagens praieiras comestíveis. Neste momento, segundo revelou ontem a este jornal, anda pesquisando novidades para sue cardápio: "Seguimos jogando na linha dos “trampantojos” (ilusões de ótica), sobretudo vegetais e frutas, com ameixas que não são ameixas ou tomates coloridos, por exemplo". O “nitrogel”, uma aplicação de nitrogênio, lhe servirá para criar "uma horta como sobremesa". Em temporadas anteriores levou à mesa os espetos das praias malaguenhas e as profundidades marinhas de algas e moluscos.

Dani García começou sua carreira profissional no restaurante “Tragabuches de Ronda”, depois de estudar na escola malaguenha de hotelaria “La Cónsula” e em “Lasarte” com o mestre basco Martín Berasategui. No “Tragabuches” conseguiu aos 24 anos sua primeira estrela Michelin e a segunda lhe chegou em 2007, já no restaurante “Calima”, do Hotel Meliá Don Pepe de Marbela, que no ano passado foi reformado para ganhar uma espetacular janela para o mar.

O vínculo de Dani García com o grupo hoteleiro Meliá lhe garante também a direção gastronômica de restaurantes em Guía de Isora (Tenerife) e em Madri, onde abriu recentemente em Argüelles o lounge-bar Uno, com sabores mediterrâneos transplantados ao gosto urbano. Sua próxima aventura será em Sevilha, no restaurante “Burladero, Tapas y Tintos”, que abrirá em 28 de fevereiro no Gran Meliá Colón.

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Chávez consegue caminho livre à reeleição


Chávez consegue caminho livre à reeleição

Referendum em Venezuela
O presidente venezuelano ganha o referendum constitucional para a segunda tentativa

PABLO ORDAZ - Caracas – El País - 16/02/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

Na segunda tentativa, Hugo Chávez ganhou. 54,36% dos venezuelanos votaram ontem “sim” à reforma constitucional que permitirá ao atual presidente da Venezuela apresentar-se à reeleição quantas vezes quiser. Com 94% dos votos apurados e uma participação superior a 70%, a opção do “não” que defendia toda a oposição, somente conseguiu 45,63% dos sufrágios. Chávez havia dado a ordem à sua poderosa maquinaria eleitoral de que buscasse voto até debaixo das pedras. Bairro por bairro. Porta por porta. "Não me falhem", havia pedido, "que eu não falharei".

Somente uns minutos após conhecer a vitoria, Chávez se dirigiu à multidão, da varanda do palácio presidencial -escoltado pelas suas filhas e netos- e realizou um juramento solene tomando emprestadas umas palavras do apóstolo São Paulo: "Me consumo e me consumirei prazerosamente ao serviço do homem sofrido, da mulher sofrida, do povo sofrido. Consagro-me integralmente ao pleno serviço do povo. Tudo o que me resta de vida. Assim o juro, diante do povo, de minhas filhas, de meus netos. A menos que o povo decida o contrário, este soldado será o candidato às eleições de 2012 para dirigir o país entre 2013 e 2019".

Chávez deu à noite passada renda solta à sua felicidade. E da varanda de Miraflores foi dando as boas-vindas aos grupos de jovens que chegavam dos bairros mais distantes para celebrar a vitoria. "Abrimos de par em par", lhes disse com a voz a ponto de se romper, "as portas do futuro. Venezuela já não voltará ao passado da indignidade. ¡Foi uma grande vitoria! ¡Aqui está o povo de Simón Bolívar levantando as bandeiras da dignidade! ¡Vitória, vitória, vitória popular!".

A multidão, que agitava as bandeiras, rompeu em aplausos quando o comando da revolução anunciou que a primeira mensagem de felicitação acabava de ser envidada por Fidel Castro. "Querido Hugo", dizia a mensagem do velho líder cubano, "felicidades para ti e para teu povo por uma vitoria que, por sua magnitude, é impossível de medir".

A vitória chega num momento que –apesar das lógicas eufóricas do momento- se apresenta difícil para o projeto revolucionário. Primeiro, porque a situação da economia mundial -e a queda do preço do petróleo- requer uma forma de fazer política mais austera, já sem o cheque que facilitou os efeitos internos e externos. Por outro lado, as bases da revolução vêm mostrando sua preocupação porque a nova burguesia surgida à sombra do poder bolivariano -os aqui chamados “boliburgueses”- pudessem estar adulterando os fins do projeto para seu próprio enriquecimento. Consciente dessa situação, o presidente aproveitou ontem sua visita ao colégio eleitoral para lançar uma mensagem de tranquilidade às suas bases: "Nunca pactuarei com a burguesia para apunhalar o povo pelas costas".

Até que Chávez não terminasse de falar, quase duas horas-, os representantes da oposição não puderam começar a coletiva de imprensa, pois o presidente ordenou que sua festa fosse transmitida "em cadeia" por todas as emissoras de televisão. Nas portas da madrugada, Caracas é uma festa de cor vermelho revolução.

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

O cemitério onde Borges queria descansar


O cemitério onde Borges queria descansar

Testemunhos contraditórios reavivam a polêmica sobre a tumba do escritor

DANIEL SALGADO - Santiago – El País - 12/02/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

A imagem se move em preto e branco. O homem que fala chama-se Jorge Luis Borges e o faz em frente ao panteão de sua família, no cemitério buenairense de “La Recoleta”. Corre o ano de 1969. O autor de “El Aleph” explica à câmara sua vontade de ser enterrado junto aos seus, a uns metros de Evita Perón e no mesmo recinto que os "Pais da Pátria", no campo santo mais central de Buenos Aires. A película, um documentário realizado para a televisão pública francesa pelo franco-espanhol José María Berzosa e por André Camp, se intitula “Le passé qui ne menace pas” [O passado que não ameaça] e encontra-se depositada nos arquivos do Instituto Nacional de Audiovisual da França. A sequência, inserida em duas horas de metragem da peça “Borges”, cobrou relevância no meio da disputa gerada pela intenção do governo argentino de repatriar os restos do escritor, enterrados desde 1986 em Genebra, na Suíça.

"Aguardo a morte com esperança (...) tenho medo de ser imortal". Assim falava Borges, em 1978, a dois jornalistas galegos, Ignacio Ramonet e Ramón Chao, no L'Hôtel, o mesmo estabelecimento de Paris em que havia falecido Oscar Wilde 78 anos antes. Foi precisamente Ramón Chao, escritor e pai do cantor Manu Chao, quem resgatou o filme de Berzosa e Camp do esquecimento. "Trata-se de um documento muito importante", explica, "que demonstra que o escritor queria que o enterrassem em Buenos Aires".

Não é a única menção testamentária de Borges. Um de seus biógrafos, Alejandro Váccaro, citava no diário argentino “La Nación”, a “Antología personal” do poeta e contista, publicada em 1961. "Não passo diante de “La Recoleta” sem recordar que estão sepultados ali meu pai, meus avós e tataravós, como eu o estarei", escreveu então. Váccaro advoga por dar razão ao grupo parlamentar oficial, apoiado pelo Executivo de Cristina Fernández de Kirchner, que apresentou um projeto de lei através da deputada María Beatriz Lenz para repatriar o cadáver de Borges da Suíça em agosto.

Porém, as ânsias de Jorge Luis Borges (1899 – 1986) e do nacionalismo argentino chocam-se com a última esposa do escritor. María Kodama, diante dos microfones de uma cadeia de rádio portenha, afirmou que "em democracia, nenhuma pessoa de nenhum partido pode dispor, ou tentar dispor do corpo de uma pessoa, que é o mais sagrado, ante a outra que deu e segue dando sua vida por amor". Kodama, em declarações ao jornal espanhol “El País”, enquadra essas opiniões de Borges "nos anos 60". "Borges foi viver na Suíça e quis ser cidadão suíço", afirma, "recentemente transmitiram uma entrevista posterior onde fala em sentido contrario ao que diz Váccaro".

A viúva expõe que ela mesma "é a única que pode decidir sobre Borges. O poder simbólico é o da obra, não o do corpo de Borges". Não oculta seu ressentimento com um Alejandro Váccaro "que não está à altura ética nem intelectual de Borges, e que somente busca montar escândalo nos jornais", a quem acusa de alentar a iniciativa da deputada Lenz. "Quem é o senhor Váccaro ou o resto do mundo para dizer o que hei de fazer com Borges?", se questiona, antes de recordar uma sentença que, a meados dos 90, deu-lhe razão numa polêmica similar. Casada com Borges meses antes da morte do escritor, María Kodama não deixou de participar de atos em memória da obra de seu marido morto.

Para Ramón Chao, sem embargo, o assunto não oferece demasiadas dúvidas. “Borges é argentino e sua obra é argentina; ademais, no filme de Berzosa fica claro”. O jornalista galego relata que foi a própria María Kodama, secretaria pessoal de Borges desde 1975, quem lhe facilitou "a entrada" para acercar-se ao autor de “Fervor de Buenos” Aires. A tradição familiar suicida ou a ideia da "morte cíclica", latente em numerosos textos borgianos, surgiram então naquelas conversas. "O importante", diz, "está em “Le passé qui ne mence pás”, com Borges entrando e saindo do panteão onde queria descansar quando morresse".

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Morre o pai dos bonequinhos Playmobil

Morre o pai dos bonequinhos Playmobil

O alemão Hans Beck desenhou os célebres bonecos de plástico que venderam mais de 2,2 bilhões de unidades

EFE - Berlín – El País - 03/02/2009

Tradução de Antonio Freitas

O desenhista alemão Hans Beck, inventor e pai dos bonequinhos de plástico Playmobil, faleceu dia 30 de janeiro aos 79 anos de idade, comunicaram ontem fontes da empresa Geobra-Brandstätter, fabricante dos famosos bonecos. Beck, cujas crianças venderam 2,2 bilhões de exemplares desde que se iniciou a produção em série, em princípios da década de 70 do século XX, faleceu após uma longa enfermidade em sua casa às margens do lago Constanza (fronteira entre Suíça, Alemanha e Áustria).

Ele escreveu uma "importante página na historia dos jogos infantis" com o desenvolvimento de uns versáteis bonecos de plástico que desde que saíram a venda, em 1974, chegaram aos dormitórios infantis de todo o mundo, destacou a empresa. Nascido em 1929, no estado alemão de Turingia (no centro do país), Beck formou-se na cidade de Zirndorf, onde aprendeu o oficio de carpinteiro e especializou-se na produção de brinquedos, principalmente automóveis e aviões. Começou a trabalhar na empresa Geobra em 1958, concentrando-se inicialmente em maquetes de aviões, maquinaria e veículos industriais.

Treze anos depois de iniciar sua carreira, a empresa lhe destinou ao departamento de jogos infantis, com a missão de desenvolver uma nova gama de produtos para crianças, de automóveis a modelos humanos. Sua primeira figurinha media 7,5 centímetros, era facilmente manejável por uma mão infantil e movia braços e pernas. Daí surgiu a ideia de converter esse protótipo em uma criatura dotada para a absoluta versatilidade, de adaptar-se a qualquer situação e profissão, foram cidadãos ocidentais, índios ou vaqueiros. Inicialmente, seus modelos foram concebidos para crianças de até quatro anos.

Nos trinta anos seguintes ao seu lançamento, os bonecos Playmobil deixaram de ser um produto exclusivamente infantil, no sentido literal da palavra, para fascinar a colecionadores adultos de todo o planeta. Geobra é hoje uma empresa com 3.000 empregados, que exporta seus bonequinhos a 70 países dos cinco continentes.