quarta-feira, março 18, 2009

México declara guerra alfandegária contra Estados Unidos


México declara guerra alfandegária contra Estados Unidos

O governo de Felipe Calderón decide aumentar a cobrança de 90 produtos agrícolas e indústrias

ANTONIO O. ÁVILA - México - El País - 18/03/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

A difícil relação do México com os Estados Unidos tem uma nova frente comercial. O governo mexicano decidiu aumentar a cobrança de tarifas alfandegárias sobre 90 produtos agrícolas e indústrias importados de seu vizinho do norte. Trata-se de una represália contra os Estados Unidos por violar o Tratado de Livre Comercio da América do Norte (TLCAN) (NAFTA em inglês) ao cancelar o programa piloto de Transporte Transfronteiriço de Carga. Ou seja, porque fecharam a passagem de sua fronteira aos caminhões mexicanos de carga, uma decisão que não somente ocasionou perdas econômicas, como também gerou uma resistência social.

O secretário mexicano de Economia, Gerardo Ruiz Mateos, explicou que o castigo às exportações se aplica desde terça-feira passada (17/03), uma vez que os Estados Unidos não aceitarão revisar o fechamento do caminho aos transportes mexicanos. "Somos obrigados a adotar medidas de represália conforme o Tratado". As tarifas alfandegárias se aplicam a 90 produtos industriais e agrícolas de 40 Estados do gigante norte-americano. O valor dessas compras em 2007 foi de 2,4 bilhões de dólares.

Numa clara crítica à posição que adotou Washington, o ministro comentou que "nestes momentos de crise econômica, quando devemos evitar a todo custo o protecionismo, a decisão dos Estados Unidos vai em sentido contrário e manda um sinal negativo ao México e ao resto do mundo". Não obstante, Ruiz Mateos espera que tudo volte ao bom caminho, dada a importância que tem a relação comercial bilateral, com um valor de 367 bilhões de dólares em 2008.

A conta-gotas

A medida mexicana chamou a atenção da Casa Branca, ao ponto de que o secretario de imprensa presidencial, Robert Gibbs, disse que a Administração de Barack Obama busca ações que permitam a reabertura da fronteira aos camioneiros, diante do que qualificou como "medidas de repressão" contra as exportações estadunidenses. "Isto é em resposta ao fim do programa piloto transfronteriço que permitiu a um pequeno número de caminhões mexicanos entrarem nos Estados Unidos além da zona comercial fronteiriça [30 milhas] e prover aceso recíproco a companhias dos Estados Unidos".

No México se acredita que a explicação estadunidense para fechar a passagem aos camioneiros carece de sustentação. As autoridades sustentam que passaram uns 46.000 cruzamentos sem que se registrassem incidentes de importância.

A historia deste choque começou em 11 de março, quando o Congresso estadunidense não concedeu dinheiro a um programa de abertura de fronteiras para os transportes de carga mexicanos. Desta forma, se cancelou o plano que, originalmente, de acordo com o contemplado no TLCAN (NAFTA) tinha que haver começado a fluir em janeiro de 2000. As dúvidas estadunidenses a respeito da segurança que brindam os camioneros mexicanos atrasaram a entrada em vigor do convenio até 2007, quando começou a conta-gotas e pendente por um fio político e financeiro.

Para Ruiz Mateos, a "ação dos Estados Unidos é equivocada, protecionista e claramente viola o Tratado. Por decidir proteger a seus transportistas decidiram afetar a concorrência e a competitividade de nossos países e da região, impactando a muitos outros setores produtivos". O secretario mexicano assegurou que em breve publicará a lista de produtos sancionados, porém adiantou que se trata de artigos que não afetam às cadeias produtivas mexicanas, pelo que não afetarão nos preços finais nem na cesta básica dos mexicanos.