segunda-feira, julho 20, 2009

Obama homenageia aos três heróis da 'Apollo 11'

Obama homenageia aos três heróis da 'Apollo 11'

Estados Unidos se propõe agora um novo desafio, chegar a Marte

YOLANDA MONGE - Washington – El País - 21/07/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

Nem saudades, nem queixa de que qualquer tempo passado foi melhor. Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar na Lua, dedicou tão-somente 11 segundos de uma longa palestra para se referir à missão da Apollo 11 que lhe conduziu à gloria. Temos que olhar para frente, para o futuro. E o futuro está em Marte.

Ontem, 40 anos depois daquele "pequeno passo para o homem, mas um salto gigantesco para a humanidade", Armstrong e seus dois companheiros de missão, Buzz Aldrin e Michael Collins, foram recebidos na Casa Branca pelo Presidente Barack Obama. E se o Presidente John F. Kennedy possibilitou o sonho de viajar à Lua, os três astronautas pediram a Obama que ele seja o homem que possibilite o seguinte desafio: pisar em Marte.

Após receber-lhes como "três heróis americanos", Obama disse que era uma honra saudar os homens que inspiraram a várias gerações para pesquisar e sair ao espaço. Sorridentes e agradecidos, os três permaneceram o breve tempo que durou a homenagem ao lado do presidente. Não pronunciaram nenhuma palavra. E se alguém ficou com saudades foi Obama. O presidente recordou suas origens havaianas e o dia em que sobre os ombros de seu avô olhava para o céu com a esperança de ver cair algum pedaço da Apollo 11 sobre o Pacífico. "Naquele dia meu avô me disse que vocês eram o exemplo de que os americanos podem fazer o que se propõe". "Obrigado, senhor presidente", foram as únicas palavras dos três heróis americanos ao primeiro presidente negro da historia dos EUA.

Antes, numa coletiva de imprensa, Aldrin pediu apaixonadamente que a NASA, que no próximo ano vai cancelar seu programa de ônibus espaciais para desenhar um novo veículo que leve o homem à Lua, fixe como objetivo chegar a Marte em 2031. Collins, que tripulou a nave enquanto seus colegas pisavam na Lua, declarou que o satélite da Terra havia perdido interesse. "Às vezes acredito que voei ao lugar errado", brincou. "Desde criança meu lugar favorito sempre foi Marte e ainda hoje é", prosseguiu.

A de ontem foi uma das raras ocasiões na qual os três foram vistos juntos. À noite, no Museu Nacional do Ar e do Espaço ocorreu uma festa especial com mais de 2.000 convidados em homenagem à tripulação da Apollo 11, dos demais astronautas das missões Apollo e dos tripulantes dos ônibus espaciais atuais.


"Haverá vida em outros planetas quando formos visitá-los”

ENTREVISTA com Buzz Aldrin

Astronauta da primeira tripulação que pisou na Lua

40 ANOS DA CHEGADA À LUA

"Haverá vida em outros planetas quando formos visitá-los”

TONI GARCÍA – El País - 19/07/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

Em 20 de julho de 1969 aterrissava no Mar da Tranquilidade o módulo lunar da missão Apolo 11. Em seu interior, os astronautas Edwin Eugene ‘Buzz’ Aldrin e Neil Armstrong (comandante da expedição) se dispunham a por o pé na Lua. Armstrong disse aquilo de "um pequeno passo para o homem e um grande passo para a humanidade" e Aldrin falou de "desolação magnífica" em referência à paisagem que lhes rodeava. Este último foi o segundo homem a pisar a superfície lunar e se destacou, ademais, por sua decisão de comungar naquele local -"se fosse agora, eu não faria; naquele momento me pareceu um gesto importante", admite-; e mais tarde, já de volta, por seus problemas com a depressão e o álcool.

Aldrin tem agora 79 anos e segue conservando o caráter que lhe fez famoso e que há dois anos deixou bem patente quando Bart Sibrel, um dos mais célebres defensores da teoria de que a alunissagem foi na verdade uma montagem lhe recriminou na saída de uma conferência, o ex-astronauta respondeu nocauteando-lhe sem sequer olhá-lo nos olhos. "Não sabia que ia me denunciar", contesta o ex-astronauta com um meio sorriso quando na entrevista, celebrada no passado dia 6 de julho em Roma, lhe perguntam por este fato.

Buzz Aldrin nasceu em 20 de Janeiro de 1930 em Glen Ridge, um pequeno povo de New Jersey, e seu pai, que era amigo de Charles Lindbergh e Orville Wright, meteu-lhe na cabeça o gosto pela aviação. Aldrin finalizou seus estudos em West Point como terceiro de sua turma, voou em mais de 60 missões de combate na Coréia e finalmente se alistou na NASA onde, durante seis anos, preparou-se para o que seria a missão de sua vida: a conquista da Lua.

Em sua recente autobiografia, ‘Magnificent desolation: the long journey home from moon’, Aldrin explora o que sucedeu desde que em 24 de julho de 1969, quatro dias depois de terem sidos vistos por centenas de milhões de espectadores, a missão amerissou no oceano Pacífico, e que resume em três palavras: infidelidade, depressão e alcoolismo. Uma época obscura que não superou até 1978, segundo admite o próprio Aldrin nas páginas do livro, graças sobretudo à ajuda de Alcoólicos Anônimos, cujas reuniões segue participando quando sua agenda permite.

"Quando em 1972 deixei a NASA, eu desabei", confessa o ex-astronauta, que não voltou a encontrar o caminho até que decidiu converter-se em embaixador do programa espacial e aproveitar sua experiência para implicar a outros em desafios mais distantes. "Marte? Tardaremos ainda em vê-lo".

"Um pouco cansado" de responder sempre as mesmas perguntas e advertindo ao entrevistador que em 20 minutos não vai poder contar o que sentiu na superfície da Lua, Aldrin se dá um pequeno banho de modéstia quando conta por que foi um dos eleitos para entrar na historia da humanidade: "É muito simples: estava no lugar certo no momento certo. Nada mais".

Pergunta. Você acaba de publicar sua autobiografia, ‘Magnificent desolation’, na qual fala, entre outras muitas coisas, de seus problemas de alcoolismo. Foi duro voltar a recordar aquele tempo?
Resposta. Não foi duro em absoluto porque me serviu para renovar a amizade que tinha com algumas pessoas. Pessoas que me ajudaram muito em certos momentos em que tive a necessidade de receber essa ajuda. Também me serviu para reavaliar minha vida, as opções que tomei em cada momento e recordar todas as pessoas que quiseram me ajudar. Compartilhamos os bons e os maus momentos, e isso te ajuda a recuperar-se de qualquer coisa.

P. De maneira que não teve problemas em enfrentar-se a seus demônios...
R. Me enfrento a eles diariamente. Da mesma forma, recordar o que sou é algo que faço semanalmente no meu grupo de recuperação com outras pessoas. Juntos, compartilhamos esse sentimento de comunidade no qual fomos capazes de nos ajudar uns aos outros. Isso me ajudou a madurar e a pensar que, por muito tempo que passe, nunca serei imune a este tipo de problema.

P. Você tende a olhar para trás e recordar toda aquela época marcada pela chegada à Lua? Cumpriu as expectativas que gerou naquele momento?
R. Realmente, não olho para trás. Em absoluto. Creio que aprendi a não estabelecer expectativas sobre o que poderia passar ou não passar. Se esperas alcançar certas metas e estas não se cumprem, posso te assegurar que serás infeliz. Não recordo muito bem quais eram minhas expectativas de futuro naquele momento e o certo é que não meço meu êxito pelo que fiz, mas se fiz o que se esperava de mim. Nesse sentido, não estou descontente.

P. Qual seria a seu juízo o rumo que deveria tomar o programa espacial estadunidense?
R. A Lua necessita desenvolvimento, porém necessita ser explorada por outras pessoas, outros países que queiram desenvolver algum projeto levando sua própria equipe; se essa motivação não existe porque esses países, chamem-se China ou Índia, pensam: "Isto já foi feito ", todos deveríamos abandoná-la já e avançar. Ou seja, há algo na Lua que valha a pena explorar? Se há tesouros na Lua pelos quais valha a pena voltar, então definamos quais são exatamente esses tesouros antes de gastar um montão de dinheiro indo buscá-los.

P. Então, vocês deveriam buscar outros objetivos?
R. Claro. Há grandes logros por conseguir além da Lua, muito além. E isso é o que eu acredito que deveríamos fazer em lugar de gastar muito dinheiro em projetos inservíveis se não queremos acabar, como nação, comprando da Rússia o modo para chegar a nossa própria estação espacial porque gastamos enormes orçamentos em algo que ainda não está pronto. Por exemplo: estamos atrasados em pistas de aterrissagem convencionais há 28 anos e agora deixamos de estar porque o custo é demasiado alto com as naves modernas. Devemos escolher as opções necessárias para mudar tudo isso. É o que trato de mostrar aos que mandam. Eu sei que há muitíssima gente que não quer mudar e que minha tarefa é muito difícil e muito arriscada, porém não podemos permanecer calados por mais tempo.

P. O que mudou em sua visão de futuro a respeito da corrida espacial nos últimos 40 anos?
R. Quando chegamos à Lua, posso dizer que minha visão não era demasiada ampla, só me concentrava em saber o que havia que fazer e os problemas que podiam surgir. Agora, revisando tudo o que fizemos desde então, e como disse antes, creio que não estamos fazendo bem as coisas. A transição do ônibus espacial (shuttle) para a estação espacial está sendo mito mal feita e o tempo que estamos gastando é um tempo vital. Temos que consertar.

P. Você sempre defendeu que não acredita na existência de vida em outros planetas; alguns companheiros seus disseram o contrario. Continua mantendo a mesma postura?
R. Haverá vida em outros planetas quando formos a outros planetas. Então poderemos manter que há vida nesses planetas. Quando façamos isso, poderemos trabalhar sobre o terreno e descobrir muitas coisas sobre a origem da vida. Eu não acredito que ninguém esteja nos visitando, por mais bonito que seja pensar que algumas criaturas nos visitam ou nos visitaram no passado. Isso faz parte da ficção científica, da qual, por certo, eu escrevo relatos.

P. Você gosta de ficção científica?
R. Realmente, não. Ainda assim, creio que ‘2001: Uma odisséia no espaço’ foi certamente pioneira em sua maneira de formular perguntas e desafiar à platéia a descobrir suas próprias respostas. Obviamente, no mundo real não chegamos ao nível técnico do filme de Kubrick [sorri].

P. Você viu o filme depois de chegar à Lua?
R. Não, o certo é que o vi antes.

P. O que você opina dessa lenda urbana que afirma que vocês nunca chegaram a pisar na Lua?
R. Pois que me dá pena que haja tanta gente suscetível de ser manipulada e capaz de dar crédito a algumas das bobagens sensacionalistas de alguns meios que dizem ter informação interna; é algo delirante... [risos], porém isto é a humanidade e a maneira como a sociedade cresceu. É o autêntico anti-progresso.

P. O significado da alunissagem no Mar da Tranquilidade mudou muitíssimo ao longo dos anos...
R. Não estou certo de admirar como se ensina a historia nas escolas recentemente. Existe uma falta de respeito pelos esforços que foram feitos e o importante que foi tudo o que conseguimos em seu momento. Também acredito que há uma alteração da historia quando esta se conta aos jovens, de maneira que eles verão o futuro de forma diferente porque não sabem como e onde surgem os conflitos.

P. No que diferencia o astronauta de 40 anos atrás do atual?
R. O de quatro décadas atrás dava as boas vindas ao desafio de voar mais alto, mais rápido, mais longe... e era aceito como um pioneiro capaz de carregar a responsabilidade de uma importante missão. Creio que num futuro próximo tudo isso voltará a ser importante, porém a chave residirá na capacidade de sobreviver, a meio e longo prazo, em missões espaciais.

P. Como vai celebrar este aniversário?
R. O celebrarei quando acabem as celebrações... Celebrar é muito bonito se tens que escutar, porém para os que passaram 40 anos contando a mesma historia é uma coisa completamente diferente.

P. ‘Pixar’ lhe recompensou finalmente por usar seu nome para batizar a ‘Buzz Lightyear’ em ‘Toy story’?
R. Ninguém me deu nada. Nada de nada.

quinta-feira, julho 16, 2009

A viagem à Lua completa 40 anos

A viagem à Lua completa 40 anos

El País - 16/07/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

Às 14h:32s, (horário de Brasília) faz hoje 40 anos, partiu ao espaço um foguete Saturno V (o mais potente já construído). Foi lançado do Centro Kennedy (Flórida/EUA) e a bordo iam os astronautas Neil Armstrong, Edwin Aldrin e Michael Collins. Chegaram à Lua quatro dias depois. Armstrong e Aldrin foram os dois primeiros ‘terráqueos’ a pisar outro corpo celeste.

segunda-feira, julho 13, 2009

O crepúsculo dos Kirchner


O crepúsculo dos Kirchner

Os argentinos temem que o governo não seja capaz de dirigir o país após perder as eleições legislativas

SOLEDAD GALLEGO-DÍAZ – El País - Buenos Aires - 13/07/2009

Tradução Antonio de Freitas Jr.

Se existe algo que os argentinos temem é a "desgobernación", uma palavra que traz a lembrança dos piores momentos de 2001, quando governos incapazes de fazer frente à crise abandonavam sua tarefa, sem cumprir seus mandatos. Essa palavra volta a ser protagonista, com uma diferença. Agora a oposição quer apoiar o governo de Cristina Fernández de Kirchner, debilitado pela perda das eleições legislativas de junho, para garantir que o mesmo chegará a 2011. A questão é que exige em troca que este limite seus poderes e reforme seu programa econômico. Em definitiva, que Néstor Kirchner perda protagonismo e deixe que um grupo de peronistas conciliadores controle o resto do mandato presidencial.

O resultado eleitoral aumentou a preocupação diante da possibilidade de que se precipite uma crise política num país que segue padecendo uma profunda crise social (40% da população em níveis de pobreza, segundo denunciou ontem a Igreja) e uma difícil situação econômica. No final de agosto o Congresso decidirá se anula ou não o decreto que concedeu "superpoderes" aos Kirchner e começará a discutir um novo orçamento, no qual a oposição, majoritariamente de direita, exige mudanças radicais.

"Os argentinos querem ver a seus dirigentes políticos sentados numa mesa falando", assegura Francisco de Narváez, peronista crítico e um dos ganhadores de junho. "O país está desgovernado, mas isso não quer dizer que o governo da presidenta esteja terminado. Deve terminar seu mandato. Porém tem que atuar de outra forma. Não se pode esperar por 2011 para levar a cabo um ajuste econômico sério".

No meio do chamado ao diálogo, surpreenderam as declarações do próprio Narváez assegurando que imagina a "Néstor Kirchner na prisão" por delitos de corrupção. Para uns, devia ser interpretado como uma advertência, para que Kirchner se retire do primeiro plano. Para outros, foram umas palavras imprudentes, que colocam a presidenta numa posição difícil, porque ninguém pode imaginá-la na Casa Rosada com seu marido condenado por delitos tão sérios. (Na Argentina os deputados podem ser julgados, mesmo possuindo imunidades, que só impedem que sejam realmente presos sem autorização do Congresso).

Poucos dias depois de que seu marido perdera as eleições, Cristina Fernández anunciou uma reforma ministerial que a oposição criticou duramente, porque dava mais poder ao grupo de leais kirchneristas. Porém, 48 horas depois, Cristina Fernández lançou outra mensagem: estava disposta a abrir um diálogo com as forças políticas, econômicas e sociais para garantir a governabilidade do país. A rápida reação presidencial pegou desprevenida a oposição, temerosa de que se trate de uma manobra.

"A questão agora é definir a agenda e seus protagonistas", mantêm Narváez. Supõe-se que participariam os presidentes dos partidos políticos representados no Congresso, porém isso deixaria fora da mesa o próprio Narváez, que não ocupa outro cargo que o de deputado. Igualmente importante é fixar a agenda de debate. O ministro do Interior, Florencio Randazzo, muito próximo a Néstor Kirchner, aludiu incluso ao que até agora foi um tabu: falar dos impostos de exportação agrícola, que constituíram o pior fracasso presidencial.

Os olhares se dirigem ao novo ministro da Economia, Amado Boudou, um economista de 45 anos, próximo da presidenta, a quem se atribui crédito de bom gestor. "Boudou é um homem inteligente e, se não quer ser suicida, terá que convencer o matrimonio presidencial de que é imprescindível tomar medidas fiscais imediatas", explica o deputado peronista Eduardo Amadeo.

Nada mais tomar posse, Boudou deu a entender qual era sua principal preocupação: "Meu primeiro objetivo é conseguir financiamento para o governo". Sua obsessão pelo financiamento não é nova: como responsável da Seguridade Social, foi o responsável da nacionalização dos fundos de pensões privados, o que se interpretou como uma forma de injetar dinheiro fresco no governo.

"O resultado das eleições de junho criou uma situação nova, no sentido de que distribuiu o poder", explica Diego Guelar, do PRO (partido do Prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri). Porém, ninguém obteve um resultado tão claro como para proclamar-se único vencedor. Os radicais, que chegaram quase a desaparecer em 2001, experimentaram uma recuperação notável, porém ainda devem decidir se terão um único candidato para 2011, ou seja, se Elisa Carrió (da ‘Coalición Cívica’) aceita entrar debaixo do guarda-chuva de Julio Cobos, vice-presidente da Nação, e da ‘Unión Cívica Radical’, ou se se opta por um terceiro candidato, por exemplo, o governador socialista de Santa Fé, Hermes Binner.

No peronismo, as coisas estão ainda menos claras. Ninguém, nem Narváez, nem Carlos Reutemann quer que o Partido Justicialista celebre agora eleições internas. Todos estão de acordo em que necessitam tempo para "armar" (palavra favorita dos chefes do justicialismo) uma nova candidatura. Falta por ver se Kirchner aceita uma redução de poderes e até que ponto a ameaça de uma "espantada" ou de uma crise política é um jogo ou uma possibilidade real no horizonte.