segunda-feira, outubro 05, 2009

A Esquerda em crise


A Esquerda em crise

Os partidos social-democratas europeus perdem aceleradamente sua relevância política.

EDITORIAL – El País - 05/10/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

A queda eleitoral do Partido Social Democrata alemão, uma das mais consolidadas referencias da esquerda democrática, confirma a crescente hegemonia das forças conservadoras na Europa, à que se somará, caso se cumpram os prognósticos, ao triunfo dos ‘tories’ britânicos. A situação da esquerda na Francia e na Itália tampouco alimenta grandes expectativas e outro tanto caberia dizer da Espanha, onde as pesquisas começaram a desenhar uma virada conservadora na preferência dos eleitores, insensíveis de momento à debilidade da alternativa. A vitória parcial de José Sócrates em Portugal e os dados de ontem favoráveis aos socialistas gregos demonstram que seguem existindo fatores nacionais que incidem nos resultados da esquerda, porém de nada podem contra o que se perfila como corrente geral.

A esquerda se mostra perplexa de que os cidadãos não condenem os partidos que inspiraram as políticas econômicas causadoras da crise. Esquecem-se, assim, de que enquanto governaram não trataram de corrigi-las, nem de questioná-las. Ao contrário, lhes ofereceram um aval na linha da ‘Terceira Via’ de Tony Blair e se limitaram a demarcar suas diferenças com os conservadores em terrenos como os valores e os costumes. Como consequência, a esquerda não somente não se legitimou como alternativa quando tinha que fazê-lo, como também, em muitos casos, a crise lhe surpreendeu no governo, administrando a economia com os princípios que fracassaram e que foram rejeitados pelos eleitores. Agora, quando os conservadores adotam para sair da crise as políticas que tradicionalmente se associavam à social-democracia, não fazem mais que ocupar um território que esta deixou vazio durante os anos de bonança.

A reação da esquerda diante desta situação não pode resultar mais equivocada. Por um lado, se dedicaram a buscar os problemas em seu interior, desencadeando lutas de liderança que, até o momento, se saldaram com uma vitória dos ‘aparatos’ e, por consequente, dos dirigentes que melhor os controlam, não daqueles mais capazes e experimentados. Por outro, reforçaram o discurso dos valores e dos costumes, que a crise converteu num discurso bloqueado com matizes sagrados e complexa tradução prática. Enquanto os partidos de esquerda não disponham de uma análise do que está ocorrendo, e não tanto do que lhes ocorre a eles, é difícil que possam reverter uma tendência eleitoral que os está distanciando do poder nos países mais importantes da Europa.

Esta perda de peso não é uma boa noticia para ninguém, nem sequer para os partidos conservadores. Entre outras razões porque o vazio que a esquerda deixa está sendo ocupado, em muitos casos, por discursos e forças populistas, contra as quais os partidos democráticos, seja qual for a posição ideológica, sempre tiveram serias dificuldades para competir no terreno eleitoral.