E por fim 26 de julho de 1999. Os trinta anos chegaram pela minha janela aberta junto à brisa dos primeiros minutos desta madrugada de segunda-feira. Encontraram-me muito bem, longe de casa, sozinho, mais com alguns sonhos antigos e outros nem tanto.
Em que país estranho estou? Onde está você?, minha casa?, meus amigos? As perguntas podem variar um pouco , mas algo que nunca muda é esta sensação de ter vivido demasiadas vidas em poucos segundos, quando você me pergunta se eu te amo.
Será que valeu? As mulheres que passaram por minhas mãos tremulas de carinho e desejo, a paixão que tantas vezes martelou meu coração com seu intenso peso, arrebatando momentos de pura felicidade. Os lugares que visitei e que meu avô jamais conhecerá. Minhas dúvidas sobre a vida. Os livros que nunca escrevi, os poemas que jamais serão lidos, o pouco de mim que guardei pra você.... tudo isso invade esta sala tão distante do mundo que conhecemos.
Uma existência tão comum e ao mesmo tempo tão especial para mim. Afinal, sou eu, e não um personagem que criei, apesar de quer tantas vezes fui muitos outros. Ainda continuo dormindo pouco à noite, ainda continuo acreditando nas coisas simples que acreditava quando tinha quinze anos, mas algo realmente mudou. Não tenho direito a muita coisa e preciso descobrir meu próprio espaço, que não será o do menino e tampouco o do adolescente. A maturidade arrebenta minha vidraça e fala comigo em noites de embriagada ternura e música. Acredito, piamente, que ser adulto é ser você mesmo em seu próprio filme!
Ainda me falta encontrar tanta coisa. O brilho do teu olhar quando nos encontramos naquela festa boba é algo que jamais irei esquecer. O cheiro de teu pescoço naquele abraço de despedida me acompanha a tantos anos que começo a imaginar que é meu... como se eu pudesse ser dono de tanta beleza. Ainda busco o milagre, a palavra que uma vez dita muda tudo, o sonho de encontrar o casarão onde Maria jogou o coelho branco morto, a menina que dançou comigo naquela noite de lua cheia perto da piscina, o lugar onde as pessoas da floresta se reúnem ao entardecer, a vontade de fugir deste mundo para ter você sem necessitar explicar nada, sem necessitar palavras para dizer o que sinto.
Creio que aos trinta comecei a sorrir de verdade, a ter um pouco mais de paciência comigo mesmo, comecei a gostar mais deste homem que possui dentro de si um menino que ninguém consegue ver, mas que corre feito louco por um campo de flores amarelas e brancas, cantando uma canção que apenas ele pode escutar, buscando um milagre no final deste nosso tempo que se vai, querendo aprender um pouco mais a cada dia, com uma tremenda dor de viver no peito e, acima de tudo, sentindo uma falta tremenda de teus olhos, de teu cheiro, de você.
Os trinta invadiram minha janela desta madrugada. Imagino que estavam um pouco atrasados, mas quem vai compreender o tempo... ele chega sem ser convidado e entra sem pedir licença. As palavras se vão, minha taça seca, minha música favorita termina. O importante é esta estrela solitária sob minha janela, ela pisca e pisca uma luz azul e branca, e jamais, jamais saberá de minha existência. Mas eu confirmo a sua... e me confirmo.
* Escrito na cidade de Valencia, Espanha, no verão de 1999.
Será que valeu? As mulheres que passaram por minhas mãos tremulas de carinho e desejo, a paixão que tantas vezes martelou meu coração com seu intenso peso, arrebatando momentos de pura felicidade. Os lugares que visitei e que meu avô jamais conhecerá. Minhas dúvidas sobre a vida. Os livros que nunca escrevi, os poemas que jamais serão lidos, o pouco de mim que guardei pra você.... tudo isso invade esta sala tão distante do mundo que conhecemos.
Uma existência tão comum e ao mesmo tempo tão especial para mim. Afinal, sou eu, e não um personagem que criei, apesar de quer tantas vezes fui muitos outros. Ainda continuo dormindo pouco à noite, ainda continuo acreditando nas coisas simples que acreditava quando tinha quinze anos, mas algo realmente mudou. Não tenho direito a muita coisa e preciso descobrir meu próprio espaço, que não será o do menino e tampouco o do adolescente. A maturidade arrebenta minha vidraça e fala comigo em noites de embriagada ternura e música. Acredito, piamente, que ser adulto é ser você mesmo em seu próprio filme!
Ainda me falta encontrar tanta coisa. O brilho do teu olhar quando nos encontramos naquela festa boba é algo que jamais irei esquecer. O cheiro de teu pescoço naquele abraço de despedida me acompanha a tantos anos que começo a imaginar que é meu... como se eu pudesse ser dono de tanta beleza. Ainda busco o milagre, a palavra que uma vez dita muda tudo, o sonho de encontrar o casarão onde Maria jogou o coelho branco morto, a menina que dançou comigo naquela noite de lua cheia perto da piscina, o lugar onde as pessoas da floresta se reúnem ao entardecer, a vontade de fugir deste mundo para ter você sem necessitar explicar nada, sem necessitar palavras para dizer o que sinto.
Creio que aos trinta comecei a sorrir de verdade, a ter um pouco mais de paciência comigo mesmo, comecei a gostar mais deste homem que possui dentro de si um menino que ninguém consegue ver, mas que corre feito louco por um campo de flores amarelas e brancas, cantando uma canção que apenas ele pode escutar, buscando um milagre no final deste nosso tempo que se vai, querendo aprender um pouco mais a cada dia, com uma tremenda dor de viver no peito e, acima de tudo, sentindo uma falta tremenda de teus olhos, de teu cheiro, de você.
Os trinta invadiram minha janela desta madrugada. Imagino que estavam um pouco atrasados, mas quem vai compreender o tempo... ele chega sem ser convidado e entra sem pedir licença. As palavras se vão, minha taça seca, minha música favorita termina. O importante é esta estrela solitária sob minha janela, ela pisca e pisca uma luz azul e branca, e jamais, jamais saberá de minha existência. Mas eu confirmo a sua... e me confirmo.
* Escrito na cidade de Valencia, Espanha, no verão de 1999.