segunda-feira, setembro 10, 2007

Faz parte do meu show, meu amor

Something's telling me
it might be you
It's telling me
it might be you...
All of my life...
I think we're gonna
need some time
Maybe all we need is time...
And it's telling me
it might be you
All of my life...

Maybe it's you...
Maybe it's you...

I've been waiting for
all of my life...

All of my life
(It might be you)

Stephen Bishop


Eis que quando, por fim, encontrei um caminho tranqüilo para viver, depois de anos de aventuras e solidão, mesmo acompanhada, Deus, este eterno gozador, me pregou mais uma peça. Meu caminho cruzou com o teu, da maneira mais suave e doce, jamais imaginada por mim ou pelo roteirista deste papel que represento quase quarenta anos no grande teatro da vida. “Minha alma cansada não faz cerimônia, você pode entrar sem bater”, diria o Dusek.

Eu já havia cruzado oceanos demais, já havia vivido em demasiados lugares distantes e em tantas casas que o meu mapa-múndi já tinha amarelado. Eu já tinha vivido tantas vidas e personagens que, por fim, estava tentando encontrar-me em algum personagem da “Família Soprano”, depois de anos assistindo a “Doctor en Alaska”. E tantas vezes marinheiro em terras de além mar que já me sentia um estrangeiro no meu próprio país. Brasília me parecia tão distante como Adis Abeba.

Depois de esperar, solitário, em tantos bares fumacentos e escuros, de haver convidado a uma bebida a tantas mulheres vazias de mim mesmo e, principalmente, de ter-me envolvido com tantas pessoas sem alma, o destino me fez a odiosa piada de encontrar-te no momento mais difícil para mim. “Eu estava em paz quando você chegou”, como disse o Nando Reis, mas eu é que estou fazendo um “relicário imenso desse amor”.

Durante todos esses anos te confundi, confesso, com outras pessoas. E desperdicei tanto daquilo que havia guardado pra ti com pessoas inconfessáveis, cheias de sentimentos de perda, rancor e esquecimento. Seres humanos vivendo no limite desta maravilhosa denominação. Quase nada de nada. E fui perdendo o pouco de mim que guardava pra ti, esquecendo que o amor é a pergunta e a resposta, aceitando ser mais um na multidão dos miseráveis que nunca amaram.

Assim que, depois de já ter desistido de te buscar, te encontrei num cantinho do mundo, justo como tinha me avisado um manão. Após infinitos anos senti o amor escorrendo pelos meus dedos, pela minha cama, pela minha vida, por mim. Saber que você existe, que acorda e adormece, que vive, toma café, come salada, paga uma conta, se veste e passa creme no corpo, anda pela rua, pega um metrô e cruza por mim numa avenida, aterroriza meu dia. Entorpece minha alma. Dispara meu coração.

Você jamais poderá imaginar a alegria que senti quando ouvi de teus lábios... “eu te amo”. Se eu gostasse de futebol seria gol do tricolor das Laranjeiras no Maracanã lotado, tremendo as arquibancadas. Gooooooooooooooooooooooool. Fui o babaca mais feliz do mundo. Mais feliz, provavelmente, que aquele goiano que ganhou sozinho 32 milhões na megasena, apostando um único real pela primeira vez. Doce agonia. “E até quem me vê, na fila do pão, sabe que eu te encontrei, pequena” como cantaram Los Hermanos.

Com você encontrei sentido para tantas canções que carrego comigo e para tantos sabores indescritíveis. Tua cara linda sorrindo pra mim, tua boca perfeita, minhas mãos deslizado entre tuas coxas, tua pele feita pra mim... tudo isso levarei comigo pra sempre. Nossos filhos não nascidos nos olham agora neste inútil adeus cheio de saudade e meu estômago já começa a revirar. Todos os nossos filhos não nascidos estão reunidos agora, torcendo pela felicidade e a “paichão” eterna de seus pais.

Teus pedidos de decisão, tua certeza em seguir comigo, teus olhos cheios de medo e angustia... É que eu sou lento mesmo, sem coragem, até pra dizer adeus. Deus meu, como me odiei em noites de gozo e sorrisos amarelos. Porque difícil é dizer adeus a quem se ama, é impossível, é não querer seguir vivendo. E pior é saber que o tempo, grande inimigo é o tempo, tornará esse amor cada dia um pouquinho menor e mais bobo, como se todos os amores deste mundo já não fossem ridiculamente bobos.

Você não sabe o ciúme que sinto de você, é horrível. Não posso nem ouvir em qualquer música alguma referência à cidade do Rio de Janeiro. É horrível ouvir o Cazuza cantando das pedras do Arpoador... e o Chico falando do Planetário? Então me lembro das palavras de Dido em “Thank you”, que você me mostrou, cantando “I want to thank you giving me the best day of my life, Oh just to be with you is having the best day of my life”… e te agradeço por tudo, por todo esse amor.

E, é claro, que escorrerá aquela lágrima solitária, fruto de tudo que não vivemos e da noite sem nuvens que nos cobre neste momento sem lua, sem gol, sem palavras, sem você e sem nós.

terça-feira, setembro 04, 2007

Algumas vezes

Si, mañana
Será un día alegre
Y habrá boda y fiesta.
Y probablemente
Sonreiré.

Pero hoy,
Buscaré la felicidad
a ratos,
Aunque me lo creo
Que la verdadera infinita
Felicidad
Ven en toneladas
Duraderas.


“Oceano imenso –
Escritos perdidos de Espanha”,

Antonio de Freitas


Algumas vezes, na minha vida, já estive tão perdido quanto qualquer garotinho no primeiro dia de colégio. Com medo de errar, dos outros rirem de mim, em busca de proteção e de algo que eu nunca soube muito bem o que seria ou sequer existia. E durante alguns anos, enquanto eu me encontrava assim, outras pessoas me seguiram. Como se eu estivesse menos perdido que qualquer uma delas. Porque sempre haverá alguma outra pessoa mais perdida, triste e solitária que você mesma, sempre. Aconteça o que acontecer.

Já tive as despedidas mais tristes do mundo, entre lençóis de linho branco e aeroportos desertos de todos os sentimentos bonitos ou belas imagens cinematográficas. Já desperdicei meu tempo com pessoas que apenas se aproveitaram de mim, enquanto eu vivia uma viagem hedonista de encontro à dor. Já fingi sentir prazer enquanto escondia minhas lágrimas de desespero e guardava minhas lágrimas de diamantes retribuídos em nome da carne que eu servia. Já machuquei e me machuquei, muito. Já fiz chorar e já chorei algumas vezes.

Por isso mesmo, quando encontro alguém que ainda possui muito de seu coração salvo de tantas maldades deste mundo e vive num ritmo de procura e medo, buscando agarrar-se desesperadamente a alguém ou a algo, sempre atirando o escuro, escondendo sua verdadeira dor e evitando cada dia a derradeira hora de encontrar-se cara a cara, meu coração velho senti que pode ajudar, que pode fazer alguma coisa, além de abrir a carteira.

E desejo, firmemente, que este alguém siga seu caminho, e não esta porcaria de caminho que seguiu até aqui, entre vergonha, amores furtivos e gozos sob o manto da mentira. Quero o brilho do sol pra você, quero passeios de mãos dadas pelo parque entre grama e árvores gigantescas, quero a alegria sincera dos sorrisos de amor no seu rosto lindo entre minhas mãos, quero a certeza que dá na gente quando se descobre que existe um outro alguém neste planeta maluco que você quer só pra você. Quero que dancemos na chuva durante a madrugada de outono, numa rua completamente vazia.

Algumas vezes encontro gente no meu caminho que desejo levar para sempre no meu coração. Mas meu coração é pequeno, não cabe todo mundo nem muito menos os meus sentimentos bobos. Então eu espero que me levem dentro de seus corações, que se lembrem de mim quando chegar meu fim, que cuidem de mim naquele hospital de campanha no meio da guerra estúpida, que me levem pra passear no lago ao entardecer, que me sirvam uma imensa dose de uísque com três cubos de gelo em copo tubo, que me dêem banho e façam minha barba, que preparem meu cachimbo com tabaco de chocolate do Tenensee e que me deixem em paz na minha melhor poltrona com meus livros e minha música.

Algumas vezes fico numa bobeira sem tamanho por horas, pensando em momentos tristes ou em pessoas alegres que entraram na minha vida e que sabem que não podem ficar, pelo menos neste momento dela. Algumas vezes fecho meus olhos e me imagino dando um loop completo, num velho avião militar da primeira guerra mundial, numa ensolarada manhã de domingo. Ouvindo a toda castanha a Frank Sinatra cantar “I got you under my skin”.