terça-feira, agosto 12, 2008

A China infla o peito

A China infla o peito

JOSÉ REINOSO - El País - 10/08/2008

Tradução de Antonio de Freitas

Os Jogos Olímpicos são a grande vitrine da China que deseja ser a grande superpotência do século XXI. A nova geração de líderes comunistas leva o gigante asiático pelo caminho do capitalismo sob o lema da 'ascensão pacífica'. Desafios pendentes: desigualdades, corrupção, direitos humanos e falta de democracia. Renunciará o partido a seu monopólio do poder?

“A máxima prioridade do país neste momento é que os Jogos Olímpicos sejam um sucesso". A frase, pronunciada há uns dias pelo presidente chinês, Hu Jintao, diante de um grupo do Politburo do Partido Comunista Chinês (PCCh), não deixa lugar a dúvidas. Pequim deve triunfar no maior evento esportivo que se celebra no mundo a cada quatro anos. Porque os Jogos, com uma audiência global que alguns observadores cifram em quatro bilhões de telespectadores, são a grande janela para o mundo e tem um efeito para a imagem do país organizador que vai muito além das duas semanas e meia que dura a competição. E se não for assim, que perguntem a Barcelona, cuja ressonância e popularidade dispararam como conseqüência dos Jogos Olímpicos de 1992.

Para os dirigentes chineses é imprescindível que o grande evento seja um sucesso de organização, segurança, meio ambiente e, se for possível, também esportivo, porque isto lhes permitiria lograr seu objetivo: sancionar a ascensão da China na cena internacional e subir ao pódio dos países poderosos e respeitados. Ao mesmo tempo legitimará o regime para a população com um banho de nacionalismo.
"Barcelona é uma cidade muito bonita. Eu gostaria de ir". Não diz um jovem universitário, instruído ou viajado, dos que há cada vez mais na China, mas um habitante da Pequim popular que nunca em sua vida saiu do país, mas que, como muitos chineses, segue com fidelidade a televisão.
Durante os últimos meses, as cadeias oficiais emitiram numerosas reportagens relacionadas com os Jogos, e Barcelona foi um dos objetivos dos jornalistas. Daí que quando se pergunta aos locais sobre o que conhecem da Espanha, contestam que os touros (pela televisão), o futebol (preferentemente, o Real Madrid) e Barcelona (de ouvir falar). "E as mulheres são muito bonitas", acrescentam. Se tiverem mais cultura, citam três artistas: Dalí, Gaudí e, em menor medida, Picasso. Os três, curiosamente, relacionados com a capital catalã.

Para o Governo de Pequim não se trata de, com os Jogos, impulsionar o turismo num país que já figura entre os primeiros destinos de viagem do mundo, mas de dar uma nova versão para aquela frase que Mao Zedong pronunciou em 1 de outubro de 1949 desde o alto da Porta da Paz Celestial, na praça de Tiananmen, quando proclamou a fundação da República Popular da China: "O povo chinês se pôs de pé".
Não é que agora o povo chinês não esteja de pé. Em absoluto. Há muito tempo que as potências coloniais saíram do país. E ainda que subsista entre a população e os dirigentes certo complexo de inferioridade, incubado pelas longas décadas de invasão estrangeira e debilidades política, econômica e tecnológica, o complexo está esfumando-se na mesma velocidade que a China ascende degraus, até transformar-se, inclusive em altivez. "Os funcionários chineses se comportam às vezes com arrogância nas reuniões que temos no Ministério de Relações Exteriores. São conscientes do poder que adquiriu seu país, e nos fazem notar", afirma um diplomata europeu. "Até quando vão utilizar como desculpa a humilhação colonial?"

Os dirigentes têm motivos para estarem orgulhosos dos sucessos alcançados. O país asiático já é a quarta economia mundial. Seu produto interno bruto ascendeu a 24,7 trilhões de yuanes (2,3 trilhões de euros) em 2007, e este ano poderia superar a Alemanha e situar-se como terceira. Ultrapassar o Japão e logo aos Estados Unidos é somente questão de tempo. Ao fim e ao cabo, a China têm mais de 1,3 bilhões de habitantes e, ainda que em renda per capita esteja muito longe da cabeça, o valor absoluto de uma economia conta, e muito.
O Governo do presidente Hu Jintao deseja que seus atletas cheguem no mais alto nos Jogos Olímpicos, que começaram na sexta-feira passada e finalizarão no dia 24 de agosto. O qual significa, simplesmente, superar os Estados Unidos em número de medalhas de ouro. Em Atenas, a China obteve 32, três a menos que seu rival norte-americano, e alguns analistas calculam que nesta edição logrará mais de 40, e baterá os Estados Unidos. Porém, sobretudo, os líderes querem que o evento seja uma celebração das três décadas de reformas econômicas, e mostre a rapidez com que o país se modernizou.
A história da China deu um giro de 180 graus em dezembro de 1978, dois anos depois de que falecera Mao, pondo fim à Revolução Cultural (1966-1976), o movimento radical lançado pelo Grande Timoneiro para reavivar o espírito revolucionário e desfazer-se de seus inimigos políticos. Foi em dezembro daquele 1978 quando seu sucessor, Deng Xiaoping, pôs em marcha o processo de abertura e reforma, que substituiu o sistema de economia planificada de herança soviética pela chamada economia de mercado socialista, ou, o que é o mesmo, um capitalismo do melhor corte ocidental sob o controle absoluto do Partido Comunista Chinês.

O Pequeno Timoneiro – pequeno, inteligente e pragmático como poucos - mandou ao traste com o maoísmo e sua herança, sacou o país do isolamento, o abriu ao investimento estrangeiro e o lançou no maior e mais acelerado processo de mudança que viveu uma nação na história da humanidade.

Hoje, o comunismo é pouco mais que uma palavra no nome do partido único governante. A educação e a saúde são pagas, e nada têm a ver que sejam públicas ou privadas. Público não significa gratuito neste país. Assim que quem não tem dinheiro não pode se permitir estudar, nem algo mais grave, cair enfermo.

Como dizem os chineses, quando alguém sofre uma doença grave, não somente afeta a ele mesmo, mas também a toda sua família e sua rede de amigos, que são quem tem de emprestar o dinheiro para fazer frente às elevadas contas. Isto surpreende a muitos turistas, e homens e mulheres de negócios, quando chegam a Pequim. "Mas a China não é um país comunista?", ‘exclamam’.

Desde que Deng lançou o processo de mudança, a China experimentou um desenvolvimento econômico e social extraordinário, que recebeu o aplauso de organismos internacionais e Governos estrangeiros. Durante estas três décadas, a economia cresceu numa média anual de 9,7%, e centos de milhões de pessoas saíram da pobreza, ainda que continue existindo 318 milhões que vivam com menos de dois dólares diários.

Quem conheceu a China de 20 anos atrás e conhece a atual acredita ver dois países distintos. Milhares de quilômetros de rodovias, dezenas de portos e aeroportos, hospitais, complexos hidrelétricos e centrais nucleares de última geração surgiram por toda a geografia, enquanto que as cidades se transformaram completamente, dando passo a bosques de arranha-céus, hotéis de luxo, linhas de metrô e largas avenidas pelas quais passeiam jovens vestidos com roupa - verdadeira ou falsa - das melhores marcas estrangeiras. Jovens que possuem carros novíssimos se divertem em ‘karaokês’, bebem whisky misturado com chá e dançam até o amanhecer em discotecas nas que soam a última música ocidental.

Grande parte destes jovens está orgulhosa de seu país; dos sucessos chineses como, por exemplo, o de haver se convertido em 2003 na terceira nação do mundo, atrás dos Estados Unidos e da antiga União Soviética, de colocar um ser humano em órbita terrestre, ou da crescente influência política e econômica chinesa. Por isso, e ajudados pela política nacionalista do Governo, respaldaram com paixão a organização dos Jogos e criticaram duramente os incidentes que marcaram o recorrido internacional da tocha olímpica. Até ao ponto de - como afirmam numerosos blogs e foros de Internet - interpretar estes protestos como um ataque contra a ascensão chinesa.
A maioria desconhece a verdadeira situação dos direitos humanos em seu país, não lhes importa, e entre os que têm uma idéia, a maior parte diz: "Já sei que na China há problemas, porém a situação está melhorando". Ou seja, o discurso oficial de Pequim, que exerce um controle absoluto sobre os meios de comunicação.
O XVI Congresso do PCCh, celebrado no outono de 2002, marcou a chegada de uma nova geração de líderes, encabeçada por Hu Jintao - hoje com 65 anos- e o primeiro-ministro, Wen Jiabao, da mesma idade. Chegaram levantando a bandeira da defesa dos mais desfavorecidos, preocupados com a tremenda brecha social, a corrupção estrondoso e a deteorização ambiental que produziram as três décadas de desenvolvimento meteórico.
Enquanto o anterior presidente, Jiang Zemin, gostava de rodear-se de executivos de grande multinacionais como o presidente da Microsoft, Bill Gates, Hu e Wen lutam por transmitir uma imagem de homens do povo. Cada inverno, quando chega o Ano Novo chinês, a finais de janeiro, vão visitar camponeses em povoados poeirentos, a mineiros em poços profundos e a outros coletivos desfavorecidos, ali onde estejam, para compartir, diante das câmaras de televisão, uns quantos ‘jiaozi’, uns raviólis recheados e fervidos, muito populares nessas festas. Para a ocasião costumam vestir jeans modestos e tênis.
A China confia em si mesma, e têm ambição. Mas não é uma ambição imperialista, asseguram seus líderes, que se esforçaram em transmitir ao mundo - com irregular sucesso - sua idéia de ‘ascensão pacífica’ (heping jueqi). A teoria, utilizada pela primeira vez a finais de 2003 num discurso do ex-subdiretor da Escola Central do Partido, Zheng Bijian, para contrapor a chamada ‘ameaça chinesa’, resume o bem arejado objetivo de manter boas relações com o mundo e assumir sua responsabilidade global. Ou seja, como Hu e Wen repetiram numerosas vezes em suas viagens pela Ásia e Estados Unidos, que a China nunca buscará a hegemonia mundial, mesmo que nem todos acreditem.

Zheng Bijian apontou no seu discurso que, no passado, a ascensão de uma potência muitas vezes supunha uma mudança drástica do equilíbrio geopolítico mundial e inclusive conflitos bélicos. Assegurou que isto ocorria porque os Governos destes países elegiam a via da agressão e da expansão, o que finalmente conduzia ao fracasso. A situação mudou hoje e a República Popular da China deve desenvolver-se de forma pacífica, e criar um entorno de estabilidade internacional, com uma mensagem muito clara: que o mundo se beneficiará de uma China estável e poderosa, disse a autoridade chinesa.
Alguns países receiam. Pequim quer paz e estabilidade para crescer, mas o que ocorrerá depois? Perguntam-se. Os Estados Unidos são conscientes de que a máquina asiática é muito potente e, sobretudo, paciente. Em definitiva, pensam os dirigentes chineses, que são umas quantas décadas frente aos cinco mil anos de história que reivindicam para seu país? Washington teme perder sua hegemonia global, a liderança no oceano Pacífico e vê com maus olhos o contínuo incremento do orçamento militar chinês - muito inferior, em qualquer caso, ao seu - e, sobretudo, a falta de transparência com relação a “no quê se gasta”.
Mas a economia estadunidense está cada vez mais entrelaçada com a chinesa e o presidente George W. Bush há tempo deixou de falar da China como rival estratégico, como fez na sua primeira legislatura, e se acercou à visão européia de considerá-la um sócio. Milhares de empresas norte-americanas estão instaladas no país asiático, onde produzem desde carros até os tênis que calçam seus cidadãos. E o que dizer da langerie, as camisas e os artigos de eletrônica, que importam a baixos preços da China para alimentar as práticas consumistas de sua população, desde o Oregon até o Alabama.
Para vizinhos como o Japão e a Índia, o despertar do dragão chinês supõe também um desafio, pela busca de recursos energéticos e porque no passado se enfrentaram militarmente, e para Europa representa um grande desafio para suas empresas, que viram como a concorrência asiática forçou o fechamento de fábricas e a demissão de milhares de trabalhadores.

Os Governos europeu e estadunidense criticam que a moeda chinesa está infra-valorada, o que favorece a atividade exportadora das companhias asiáticas, ainda que desde que em julho de 2005 Pequim atrelou o ‘yuan’ - ou ‘renminbi’- a uma cesta de moedas -incluídos o dólar, o euro e o ‘yen’-, em lugar de estar unido só ao bilhete verde estadunidense, não deixou de valorizar-se. As autoridades monetárias disseram a principio que flexibilizariam a taxa de câmbio progressivamente, o repetiram e assim o estão fazendo, em boa parte devido à pressão ocidental.
Os Governos estrangeiros criticam também que a nação asiática não respeitou alguns dos compromissos assumidos quando entrou na Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2001, e que o crescimento da pirataria e a infração de direitos de propriedade intelectual são assustadores. Os sindicatos estrangeiros argumentam que as condições laborais na China são deploráveis, mas o mesmo ocorre em outros países em desenvolvimento, como Índia, Vietnã ou Camboja, e assim aconteceu na Europa ou nos EUA.

A ‘ascensão pacífica’, uma das primeiras iniciativas postas em marcha pela quarta geração de líderes chineses - as três precedentes foram as de Mao Zedong, Deng Xiaoping e Jiang Zemin -, encabeçada por Hu Jintao, é um dos principais eixos da política externa chinesa. O outro eixo é conhecido como ‘diplomacia do petróleo’, segundo a qual Pequim baseia suas relações com outros Governos, em boa medida, nas suas prioridades econômicas, o que explica as freqüentes viagens dos dirigentes à África ou à América do Sul.

Numa visita realizada por Wen Jiabao aos Estados Unidos em dezembro de 2003, o primeiro-ministro afirmou que a política estrangeira de um país está cada vez más ligada ao que percebe que são seus interesses nacionais e a seu próprio desenvolvimento, e para China, assegurar-se de fornecimento de recursos energéticos e matérias primas - petróleo, cobre, gás o urânio, entre outros -, das que tanto carece, é a chave para seguir crescendo. O país asiático é o segundo maior consumidor de petróleo do mundo depois dos Estados Unidos.

Dois exemplos desta tática ocorreram recentemente. Em junho passado, Pequim e Tóquio alcançaram um compromisso para desenvolverem conjuntamente campos de gás natural no mar da China oriental, numa zona que ambos consideram dentro de suas fronteiras e que fora durante anos fonte de atritos. O acordo foi facilitado pela suavização que experimentaram as relações entre ambos os rivais históricos. E no mês passado, a China e a Rússia firmaram um acordo que fixou definitivamente os 4.300 quilômetros de fronteira comum e pôs fim a quatro décadas de disputas sobre a demarcação de seus territórios. Os intercâmbios entre os dois Governos melhoraram consideravelmente nos últimos anos, em boa medida pelo afã comum de contrapor o peso político e econômico dos Estados Unidos, mas também pela sede chinesa de gás e petróleo russo.

Em paralelo, o Executivo de Hu Jintao multiplicou os esforços para polir sua imagem diplomática internacional e corresponder à sua posição como um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. Para isto, deixou, pouco a pouco, de atuar discretamente na sombra, como era sua tradição, para assumir responsabilidades e um papel sob os focos, como demonstram sua atuação nas negociações para resolver a crise nuclear da Coréia do Norte e o envio de soldados em missões de paz.

Para a diplomacia chinesa, as chaves são a "não ingerência nos assuntos internos de outros países", e a construção de relações baseadas no ‘beneficio mutuo’ (‘win-win’, em inglês). Isto leva, conseqüentemente, a olhar muitas vezes para o outro lado e fazer negócios com alguns Governos que violam sistematicamente os direitos humanos, o que lhe valeu as críticas do Ocidente.
Se externamente o objetivo é mostrar um país pacífico e colaborador, internamente a prioridade dos dirigentes é conseguir para 2020 uma "sociedade moderadamente acomodada", ou de classe media (‘xiaokang’, termo registrado pela primeira vez em ‘O clássico dos ritos’, um dos cinco livros clássicos chineses associados a Confúcio). Como sempre, os líderes olharam para o passado para construir o futuro.
Ao ‘xiaokang’ soma-se o outro objetivo socioeconômico do Executivo de Hu Jintao, a criação de uma ‘sociedade harmoniosa’ (‘hexie shehui’, uma idéia proposta pelo partido comunista em 2005 para mudar diametralmente do desenvolvimento a qualquer preço para uma economia mais equilibrada. As desigualdades sociais - entre as maiores do mundo -, as diferenças entre as províncias ricas da costa e as pobres do interior, bem como entre as cidades e os povoados, chegaram a tal nível que o Governo reconheceu que supõem um perigo para a sobrevivência do PCCh, um partido ao que muitos daqueles que se filiam, o fizeram unicamente para conseguir um posto na Administração. A renda per capita mensal nas zonas urbanas cresceu a 1.148 yuanes (108 euros) em 2007, 79% mais que em 2002, enquanto que no campo foi de 345 yuanes (32 euros), 67% mais que cinco anos antes.

À fratura social soma-se uma longa lista de desafios: manter um crescimento da economia superior a 7% para proporcionar empregos à população; interromper a corrupção, que custa 3% do PIB por ano; controlar a inflação e diminuir a poluição. Contudo, 70% dos rios chineses estão contaminados e a chuva ácida afeta a um terço do território.
A implantação de uma política mais igualitária e respeitosa com o meio ambiente foi referendada no XVII Congresso do partido, celebrado no passado outubro [o conclave têm lugar a cada cinco anos]. A Constituição do PCCh foi modificada para incluir o conceito de ‘desenvolvimento científico’ impulsionado por Hu Jintao, que impõe a necessidade de que os avanços econômicos não se produzam a qualquer preço.

Por outro lado, a China tem que administrar com atenção suas relações com Taiwan e fazer frente às tensões separatistas nas regiões autônomas de Xinjiang - onde supostos terroristas muçulmanos ‘uigures’ mataram na segunda-feira passada, dia 04 de agosto, a 16 policiais de fronteira -, e Tibet, onde em março a população local se levantou contra o que considera a falta de liberdade religiosa e a destruição de sua cultura por parte do Governo central. As manifestações, inicialmente pacíficas, degeneraram em violentas e foram reprimidas com dureza pelas forças de segurança, o que fez planar a sombra do boicote sobre os Jogos Olímpicos.
Os dirigentes tomaram contundentes medidas para reduzir as brechas: eliminaram impostos milenários aos camponeses, investiram bilhões de euros em construção de infra-estruturas nas províncias do interior, estão estendendo a gratuidade dos nove anos de educação obrigatória e implantando um sistema de seguros médicos. Tarefas ingentes e com resultados desiguais, num país de 1.300 milhões de habitantes.

A manutenção da estabilidade e a construção de uma ‘sociedade harmoniosa’ entram muitas vezes em conflito com os interesses individuais. Mas na China, o que o Governo considera o bem coletivo passa por cima do particular. Ademais, ‘estabilidade’ significa para o PCCh impedir qualquer dissidência, crise ou levantamentos, como os que no passado sacudiram o país derribando dinastias ou fazendo correr perigo a continuidade do partido. É o caso das manifestações a favor da democracia de Tiananmen, em 1989, que acabaram numa matança. Algo que os dirigentes querem evitar a todo custo em sua acelerada marcha para converter a China numa superpotência. Pequim argumenta, também, que há forças querendo derrocar o Governo e acabar com o partido comunista, e aponta algumas organizações não governamentais, políticos e intelectuais estrangeiros com estes interesses.
As vozes que se levantam desde fora de suas fronteiras em contra das contínuas violações dos direitos humanos são numerosas: Anistia Internacional, Human Rights Watch, Human Rights in China, Reporteros Sin Fronteras, defensores de Darfur, organizações religiosas, o movimento de inspiração budista Falun Gong e grupos contrários à pena de morte ou defensores dos direitos nacionais de Tibet, entre outros.

Também há vozes dissidentes dentro da China, sejam políticas ou de peticionários que exigem compensações justas pelas expropriações, ainda que o Governo as reprima com dureza. Um dos casos mais proeminentes é o de Hu Jia (ativista ambiental, defensor dos afetados pela AIDS e porta-voz dos dissidentes nos cárceres chineses) e sua esposa Zeng Jinyan. Hu, de 35 anos, foi detido em dezembro passado e condenado em abril a três anos e meio de cárcere em um julgamento que durou um dia, por "incitar à subversão do poder do Estado". O arresto de Hu foi interpretado como uma forma de silenciar a um dos dissidentes mais críticos com o Governo, ademais expô-lo como castigo exemplar. Zeng, sua mulher, está submetida a vigilância domiciliar.
Na semana passada, Anistia Internacional (AI) acusou às autoridades chinesas de descumprirem a promessa que fizeram quando conseguiram os Jogos em 2001, a de que melhorariam o estado dos direitos humanos no país. Outras organizações se pronunciaram nas últimas semanas no mesmo sentido. Segundo afirmam, a situação não só não melhorou diante do evento esportivo, como piorou. Desde meses, Pequim aumentou os controles sobre ativistas, que foram postos sob vigilância ou, diretamente, detidos e acusados de querer "subverter o poder do Estado" ou de "revelar segredos de Estado".

Quando os Governos estrangeiros criticam esta situação ou a gestão do Tibet, Pequim replica que são assuntos internos e que nenhum país tem direito a imiscuir-se neles. Um embaixador ocidental afirma: "Já não vale dizer 'isto é uma questão interna'; vivemos numa aldeia global e as ações devem ser justificadas e argumentadas".
Pequim afirma que o Ocidente é injusto e que a situação dos direitos humanos melhorou. Eles afirmam que o primeiro direito humano é o direito da população chinesa se alimentar. Contudo, deficiente diante do Ocidente da legitimidade que outorga haver ganhado o direito de governar nas urnas, o Governo chinês tem perdida no momento a batalha das relações públicas.

A grande pergunta que se faz tanto quem visita a China pela primeira vez como quem leva anos vivendo nela é se algum dia chegará a democracia ao Império do Centro. Hu Jintao prometeu reformas controladas e uma maior participação dos cidadãos nos assuntos políticos do país para 2020, o ano que fixou para conseguir a "sociedade moderadamente acomodada", mas advertiu que qualquer avanço neste sentido será realizado sob o Governo absoluto do partido.
Analistas e observadores políticos estrangeiros consideram que é imprescindível que a China melhore suas estruturas de Governo para poder seguir avançando. "A insegurança judicial e a corrupção são grandes problemas. Um país moderno e desenvolvido não pode existir sem um Estado de direito. Esta é a chave do futuro", afirma o diplomata europeu antes citado.

Os dirigentes chineses afirmaram repetidas vezes que nunca adotarão um modelo de democracia de estilo ocidental. Ao mesmo tempo caminham numa direção mais oligárquica, com uma liderança baseada na busca de acordos e o consenso. Porque os tempos de grandes figuras históricas, como Mao ou Deng, acabaram. Tratar-se-ia de um sistema de consenso que a partir de 2012 está previsto que seja administrado pelo atual vice-presidente, Xi Jinping, de 55 anos, e o vice-primeiro-ministro Li Keqiang, de 53, que devem suceder a Hu e Wen nos seus cargos, respectivamente. Xi é o máximo responsável pela organização dos Jogos.
A história chinesa do último século - marcada pela guerra civil, fomes, caos político e isolamento - explica em boa medida porque a maioria da sociedade não reclama por mudanças políticas e porque os Jogos Olímpicos são um motivo de celebração para muitos cidadãos, apesar das vozes dissidentes, devidamente silenciadas. O país é estável e cada vez mais rico.

É impossível entender a China sem olhar para o passado. Uma anedota ilustra muito bem isto. Uma professora de mandarim foi perguntada por seu aluno, há alguns anos: "Por que os chineses dizem Leste-Oeste, Norte-Sul quando falam dos pontos cardinais e não ao contrário?" Esta respondeu: "A forma de pensar chinesa e a ocidental são diferentes. Onde você acredita que estão o futuro e o passado?". O aluno respondeu de imediato: "O futuro está adiante e o passado detrás". "Não", respondeu, ela. "Na China, o passado está adiante e o futuro está detrás, porque para ir até o futuro deves olhar sempre para o passado". Isto é o que marca profundamente as decisões de seus líderes e explica porque querem que os Jogos Olímpicos sejam um grande sucesso.
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China
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
China (中國 em chinês tradicional, 中国 em chinês simplificado, Zhōngguó no sistema pinyin e Chung-kuo no sistema Wade-Giles)[1] é uma antiga unidade histórica, cultural e geográfica na parte continental do leste da Ásia, incluindo algumas ilhas que desde 1949 foram divididas entre a República Popular da China (que inclui a China continental, Hong Kong e Macau) e a República da China (que inclui Taiwan e algumas ilhas da província de Fujian).
A palavra China costuma referir-se a regiões que, em termos mais específicos não fazem parte dela, como é o caso da Manchúria, da Mongólia Interior, o Tibete e Xinjiang (ver mapa das divisões da China). Nos meios de comunicação ocidentais, “China” refere-se, normalmente, à “República Popular da China”, enquanto que “Taiwan” se refere à “República da China”. Muitas vezes, em termos informais, especialmente entre chineses e ingleses (no contexto do mundo dos negócios), “a Grande região da China” (大中华地區) refere-se ao sentido mais lato, tal como foi apresentado no parágrafo anterior.
Na sua história, as capitais da China situavam-se, essencialmente, no leste. As quatro capitais mais citadas são Nanquim (Nanjing), Pequim (Beijing), Xian, e Luoyang. As línguas oficiais foram mudando ao longo da sua extensa história, (incluindo línguas entretanto desaparecidas), incluindo o mongol, o manchu e os vários dialetos do chinês, entre os quais o mandarim (em chinês Hanyu, pronunciado haN ü, ou seja, /h/ como hat, em inglês, e /ü/ como o som do "u" francês) e o cantonês.
A palavra portuguesa "China", bem como o prefixo associado, "sino-", derivam, provavelmente, de “Qin” (pronúncia "tchim", onde o "q" é pronunciado como um alveopalatal, como o "ch" na palavra inglesa chest). Há quem defenda, no entanto, que China derive da palavra chinesa para chá (igual à palavra em português que, aliás, tem a sua origem etimológica no próprio mandarim) ou, mesmo, de "seda" (note-se, em jeito de nota de rodapé, que é vulgar a associação entre a palavra china e os produtos que têm aí a sua origem: china, em português, também pode significar porcelana) . Qualquer que seja, contudo, a origem da palavra "China" (que é uma palavra europeia, não existindo em qualquer das línguas sino-tibetanas) foi-se perdendo à medida que era filtrada pelos vários povos atravessados pela Rota da Seda, que fazia a primeira ligação histórica estável entre esta região asiática e a Europa. (Ver também: China nas várias línguas mundiais)
História da China
A China aparece desde cedo na história das civilizações humanas a organizar-se enquanto nação (ainda que a identidade nacional chinesa seja complexa), demonstrando um pioneirismo notável em áreas como a arte e a ciência, ultrapassando largamente, na altura, o resto do mundo. Em cerca de 1000 a.C., a China consistia num conjunto complexo e intrincado de reinos de pequenas dimensões. Em 221 a.C., todos estes reinos foram anexados ao estado Qin, dando início à Dinastia Qin.

Na história da China, ao longo dos séculos, num movimento pendular, verificamos períodos de união e de desunião. No século XVIII, a China experimentou um progresso tecnológico acentuado, em relação aos outros povos da Ásia Central, ainda que tivesse perdido terreno se comparada à Europa. Os acontecimentos do século XIX, em que a China tomou uma postura defensiva em relação ao imperialismo europeu ao mesmo tempo que estendia o seu domínio sobre a Ásia Central, podem ser explicados sob este ponto de vista. Veja Guerras do Ópio, Rebelião Taiping e Levante dos Boxers.
No início do século XX, o papel desempenhado pelo Imperador da China desapareceu em 1912, com a proclamação da república por Sun Yat-sen, e posteriormente com a China a entrar num período de desagregação devido à Guerra Civil Chinesa. Atualmente há duas regiões que reclamam, formalmente, para si o nome de China: a República Popular da China e o Governo pré-revolucionário da República da China, que administra Taiwan e várias pequenas ilhas de Fujian. Ver também: Cronologia da história Chinesa, Dinastias Chinesas, História de Hong Kong, História de Macau, História de Taiwan.
Política

Depois da unificação sob o Império Qin, a China foi dominada por mais 10 dinastias, muitas das quais comportavam um complexo sistema de reinos, principados, ducados, condados e marquesados. Contudo, o poder era centralizado na figura do Imperador. Este era ainda coadjuvado por ministros civis e militares e, principalmente, por um primeiro-ministro. Aconteceu, por vezes, o poder político ser tomado por oficiais (eunucos), ou familiares. As relações políticas com regiões dependentes do império (reinos tributários) eram mantidas à base de casamentos, coligações militares e ofertas. Atualmente, a China é governada pelo Partido Comunista Chinês, que realizou a planificação econômica chinesa, fundado por Mao Tsé-tung.

Ver também:
Soberano Chinês, Direito Chinês, Lista de partidos políticos na China

Território

Originalmente na Dinastia Zhou, a China compreendia a região em torno do Rio Amarelo. Desde então que se expandiu para ocidente e para sul (até à Indochina), tendo atingido proporções máximas durante as dinastias Tang, Yuan e Qing. Do ponto de vista chinês, o Império Chinês teria, mesmo, incluído partes do Extremo Oriente Russo e da Ásia Central, durante as fases em que a Dinastia Yuan se mostrou no auge do seu poderio, ainda que a China fosse, nesse caso, meramente um dos vários territórios do Império Mongol.
Durante o Império Qing, o valor da Grande Muralha da China na defesa da integridade territorial do império diminuiu devido à sua expansão. Em 1683, Taiwan torna-se parte do Império Qing, originalmente como uma prefeitura da província de Fukien. As principais divisões administrativas da China foram sendo modificadas ao longo do tempo. No topo da hierarquia administrativa, encontramos os circuitos e as províncias (sheng). Abaixo destas divisões foram aparecendo prefeituras, subprefeituras, departamentos, comarcas (xiang), distritos (xian) e áreas metropolitanas. Existe alguma indefinição na tradução para português das divisões administrativas.
Ver também:
Divisões políticas da China

Geografia
A China contém uma larga variedade de paisagens, sobretudo
planaltos e montanhas a oeste e terras de menor altitude a leste. Como resultado, os rios principais correm de oeste para leste (Chang Jiang, o Huang He (do oriente-central), o Amur (do nordeste), etc), e, por vezes, em direcção ao sul (Rio das Pérolas, Rio Mekong, Brahmaputra, etc). Todos estes rios deságuam no Pacífico. Possui uma área de 9 572 909 km².

No leste, ao longo da costa do
Mar Amarelo e do Mar da China Oriental, encontramos uma extensa e densamente povoada planície aluvial. A Costa do Mar da China do Sul é mais montanhosa. O relevo da China meridional caracteriza-se por serras e cordilheiras não muito altas.

A oeste, há outra grande planície aluvial, a do norte. No sul ocidental, encontramos uma
meseta calcárea atravessada por cordilheiras montanhosas de altitude moderada onde, nos Himalaias, se situa o seu ponto mais elevado (Monte Everest). O sudoeste é ainda caracterizado por altos planaltos cercados pela paisagem árida de alguns desertos, como o Takla-Makan e o deserto de Gobi, que está em expansão. Devido à seca prolongada e, provavelmente devido a práticas de uma agricultura empobrecedora dos solos, as tempestades de poeira tornaram-se comuns durante a primavera chinesa.

Durante muitas dinastias, a fronteira sudoeste da China foi delineada pelas altas montanhas de vales escavados de
Yunnan, que, hoje, separam a China dos estados de Burma, Laos e Vietname.

Clima

Devido às suas grandes dimensões territoriais, a China apresenta diversos conjuntos climáticos. Porém destacam-se na definição geo-climática do país quatro climas: De Montanha: a sudoeste, ocasionado pela cordilheira do Himalaia; Continental Árido: na região central e abrangendo a maior parte do território do país, o que explica a baixa densidade demográfica e o pouco desenvolvimento urbano dessa região; Subtropical: a sudeste; Temperado Continental: a região nordeste, onde há cerca de 70% da concentração populacional do país.

Relevo

China é também um país de grandes montanhas, zonas montanhosas, planícies e colinas que ocupam 65% da superfície continental. Segundo o alinhamento podemos distinguir cinco sistemas de montanhas. A cordilheira de Kunlun, a norte do Himalaya, separa a alta planície de Qinghai-Tibete do deserto de Taklamakan, três dos seus cumes superam os 7000 metros: Muztag, Muztagata e Kongur; a cordilheira Tianshan, mais a norte com as seus cumes nevados; a cordilheira Xingan, no noroeste da China; e por último a cordilheira Hengduam e Qilian. As montanhas atingem especial altitude no setor ocidental para descer progressivamente para a costa. Há montanhas de singular beleza como é a Montanha Huangshan, a única zona de paisagem exclusivamente montanhosa que se encontra no sul da província de Anhui. Trata-se de uma montanha conhecida pelos seus singulares pinhos e pedras estranhas. Tem mais de setenta afiados picos que estão permanentemente cobertos por nuvens e nevoeiro. Os aspectos a salientar são os pinhos, as rochas, as nuvens e as fontes termais.

Flora

A China oferece uma grande variedade de solos que correspondem-se aproximadamente com as regiões geográficas. Ao norte da China encontramos na Bacia do Tarim o cinzento desértico, os pardos e férteis loes da planície, o castanho terreno florestal da Manchúria e as produtivas terras aluviais da Grande Planície do norte. Na China Central a Bacia Vermelha caracteriza-se por um fértil solo florestal cinzento-castanho, e a planície e delta do Yangtsé pelos seus terrenos aluviais. Na China meridional o solo é vermelho com abundantes materiais lateríticos. No Tibete destacam os terrenos pedregosos, semelhantes aos montanhosos da tundra.

Dado o fato da China ser um enorme país, que abarca os mais variados climas, não é surpreendente que exista uma grande variedade de espécies vegetais e animais. Parece que a vegetação natural da China estava formada por bosques mistos discontínuos de caducas e coníferas próprios de zonas temperadas; mas devido ao cultivo intensivo, esta vegetação desapareceu há muitos séculos. Desgraçadamente o impacto humano chega a ser considerável, por isso a riqueza natural é rara ou está em perigo de extinção. O governo tem estabelecido mais de 300 reservas naturais, protegendo por volta de 1, 8 % do território. O maior problema é a destruição do habitat causado pela agricultura intensiva, a urbanização e a produção industrial.

A flora tem "progredido" bem, apesar da pressão de mais de 1.000 milhões de pessoas, mas a desflorestamento, o pastoreio e os cultivos intensivos têm feito grandes estragos.

A última grande extensão florestal chinesa está na região sub ártica do nordeste, perto da fronteira russa. Pela sua diversidade de vegetação, a zona em redor de Xishuangbanna, no sul tropical, é a mais rica do país. Esta região também procura habitat para manadas de elefantes selvagens; porém, tanto os seres vivos como a floresta tropical estão sob a pressão da agricultura, da tala e da queimada.

Talvez a planta cultivada mais bela seja o
bambu. Há muitas variedades e é cultivado no sudeste, para ser utilizado como material de construção e alimento. Outras plantas úteis incluem ervas, entre elas o ginseng, horquilha dourada, angélica e fritilaria. Uma das árvores mais raras é o abeto branco de Cathay na província de Guangxi.

Fauna

A variedade de animais selvagens e domésticos é muito ampla. Além de estar representadas a maior parte das aves canoras e de caça, existem 800 variedades nativas do país. Ao norte, no nordeste especialmente, habitam animais selvagens como o tigre, o antílope, o cervo, o goral (antílope cabra), a ovelha azul, o
leopardo, o lobo e os mamíferos de peles. No Tibete pode-se ver ovelhas, yaks, pandas gigantes e ursos selvagens. No sul proliferam tigres, gibones, macacos e caimanes. Há que assinalar que o animal mais raro da Ásia Central é o urso formigueiro.

Talvez não exista na China animal mais representativo da beleza e luta pela vida selvagem do que o
urso panda. Estes belos animais, atualmente em perigo de extinção devido à combinação da caça, a invasão do habitat e os desastres naturais, sobrevivem graças aos tímidos esforços do governo central. Com escassa densidade, povoam as regiões de Sichuan, Tibete e Xinjiang, que provêem de habitat a outras magníficas espécies, como o leopardo das neves e os yaks selvagens. O extremo noroeste da China está habitado por alguns interessantes mamíferos como renas, alces, cervos almizcleros, ursos e martas. Também há uma considerável ornitofauna como grullas, patos, abutardas, cisnes e garças.

A ilha Hainam também possui variada vegetação tropical e vida animal. Há sete reservas naturais na ilha, embora é justo dizer que ainda algumas espécies em perigo de extinção, terminam no prato da comida.

Entre os animais domésticos encontram-se cães, gatos, patos, gansos, frangos e porcos que abundam em todo o território da China. Os búfalos aquáticos são nativos da zona sul da Península de Shandong. O zebu habita no sul e nordeste da China; no noroeste criam cabras, ovelhas e cavalos. Os camelos e as vacas são importantes também no nordeste.

Há também variedade de peixes de água doce, sendo o mais comum a carpa. Também abundam lagartos, rãs, tartarugas e salamandras. Na costa destacam a lubina, arenque, cavalas, ostras, tubarões e enguias.

A observação de pássaros é algo do que poderá desfrutar o turista, especialmente na primavera, estação na qual há que dirigir-se à Reserva Natural de Zhalong, na província de Heilongjiang; ao Lago Qinghai, na província do mesmo nome; e ao Lago Poyang, ao norte da província de Jiangxi, o lago de água doce maior da China.

Geologia

As formações
paleozóicas da China, exceptuando as que se referem ao Carbonífero Superior (Pensilvaniano), têm características marinhas, enquanto que os depósitos referentes ao Mesozóico e ao Cenozóico são de origem lacustre ou continental. Existem grupos de cones vulcânicos ao longo da Grande Planície do norte da China. Nas penínsulas de Liaodong e Shandong existem planaltos basálticos.

Estrutura social

Já existiram na China mais de uma centena de grupos étnicos. Em termos numéricos, a etnia dominante é a dos
Han. Ao longo da história, muitas etnias foram assimiladas às suas vizinhas ou, simplesmente, desapareceram sem deixar grandes testemunhos da sua existência. Muitas etnias distintas foram diluídas no grupo dos Han, o que explica o peso numérico desta etnia na China. Não obstante, os Han falam várias línguas muito diferentes. (Ver também: Línguas chinesas). O governo da República Popular Chinesa reconhece 56 etnias.

Cultura e Religião

Artigos principais:
Cultura chinesa, Religião na China.

A filosofia chinesa teve um impacto extremo na cultura do seu povo, tanto a nível erudito quanto a nível popular. As raízes da filosofia (e perspectiva religiosa) chinesa estão no Confucionismo, Taoísmo e Budismo (segundo a ordem cronológica).

No território chinês podemos encontrar diversas tradições religiosas, muitas delas dissemelhantes. A
veneração dos antepassados, o islão, e outras religiões populares chinesas ombreiam com outras crenças onde se misturam as correntes filosóficas atrás referidas. O cristianismo (catolicismo e protestantismo), apesar de minoritário por ser de certa forma reprimido pelo governo comunista, não deixa, por isso, de ser uma religião de referência.

A literatura chinesa tem uma antigüidade insuperável, em relação às outras civilizações. A invenção da impressão, atribuída aos chineses, não será alheia a este facto. Antes desta invenção, os Clássicos chineses e os textos religiosos (principalmente do Confucionismo, Taoísmo e Budismo) eram manuscritos a tinta, com pincéis. Com o fim de comentar e reflectir sobre estas obras, os estudantes reuniam-se em várias academias ou escolas, muitas das quais eram apoiadas pelo império. A casa imperial participava, não raramente nessas discussões filosóficas.

A cultura chinesa tem, tradicionalmente, uma grande reverência para com os filósofos, escritores e poetas clássicos. No entanto, os escritos deixados por muitos dos sábios clássicos são muitas vezes pontuados de descrições irreverentes, críticas e ousadas da vida cotidiana chinesa da sua época. (Ver
Lista de escritores chineses e Lista de poetas de língua chinesa).

Os chineses criaram diversos instrumentos musicais, como o
zheng, o xiao e o erhu, que se difundiram pelo leste e sudeste asiático. O sheng serviu de origem a muitos instrumentos de palheta livre ocidentais. Os caracteres chineses têm ( e tiveram) diversas variantes e estilos ao longo da história da China, tendo sido convencionada uma forma simplificada, em meados do século XX, na China Continental.

Uma arte milenar, nascida na China, a cultura dos
Bonsai foi adaptada, posteriormente por outros países asiáticos, como o Japão e a Coreia.

Ver também:
Budismo na China, Mitologia chinesa, Arte chinesa, Arte chinesa do papel, Poesia chinesa, Pintura chinesa

Ciência e Tecnologia
Ver artigo principal: Ciência e Tecnologia na China

Para além das contribuições culturais já mencionadas, outras quatro grandes invenções chinesas na área da tecnologia marcaram profundamente a história mundial:
Bússola
Impressão
Papel
Pólvora

Algumas outras importantes invenções chinesas:
Ábaco oriental
Estribo
Besta (arma)
Leme (navegação)
Guarda-chuva
Molinete de pesca

Outras áreas científicas onde os chineses se distinguiram:

A
astrologia chinesa e as suas constelações eram usadas com fins divinatórios. Aplicaram conceitos matemáticos na arquitectura e na geografia. O π foi calculado por Zu Chongzhi até ao sétimo dígito no século V. A alquimia é identificada com a química Taoísta, com bases diversas da química actual.

Foram levados a cabo estudos de
biologia extensivos e muito pormenorizados, que, ainda hoje são procurados e consultados, como as farmacopeias, género de catálogo de plantas medicinais.

A
medicina tradicional e a cirurgia foram, durante muito tempo, avançadas, havendo ainda hoje, muitos adeptos destas práticas médicas. Um exemplo conhecido é o da acupunctura. As autópsias eram consideradas sacrilégio. No entanto, houve quem violasse tal tabu, o que permitiu um mais vasto conhecimento sobre a anatomia interna humana.

População

A população da China é a maior do mundo. Possui mais de 1,3
bilhão de habitantes. Com políticas rígidas para controle de natalidade, estima-se que a China seja ultrapassada populacionalmente pela Índia.

A política de controle populacional da China tem como principal regra cada família possuir apenas um filho enquanto morar em centros urbanos, já no interior são permitidos dois filhos caso o primeiro seja mulher, revelando, assim, uma preferência dos chineses por filhos do sexo masculino, pois, segundo a tradição do país, são os filhos homens responsáveis por cuidar dos pais durante a 3ª idade e são eles também que carregam o sobrenome da família.

REPÚBLICA POPULAR DA CHINA
CAPITAL - Beijing (Pequim)
ÁREA - 9.562.036 km²
MOEDA - iuan
IDIOMAS - mandarim e dialetos regionais (principais: vu, min e cantonês)
RELIGIÃO - crenças populares (20,3%); budismo (8,5%); islamismo (1,4%); cristianismo (0,1%), sem filiação e ateísmo (64%)
POPULAÇÃO - 1 bilhão e 300 milhões de habitantes
COMPOSIÇÃO ÉTNICA - chineses han (91%) e grupos étnicos minoritários: chuans, manchus, uigures, huis, yis, tibetanos, mongóis, miaos, puyis, dongues, iaos, coreanos, duias, bais, hanis, cazaques, dais, lis e outros
CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO - 0,9% ao ano
ANALFABETISMO - 15%
MORTALIDADE INFANTIL - 41 crianças em mil
EXPECTATIVA DE VIDA - 68 anos para os homens e 72 anos para as mulheres
ESCOLARIZAÇÃO DE SEGUNDO GRAU - 43,7%
ESCOLARIZAÇÃO DE TERCEIRO GRAU - 5,7%
APARELHOS DE TELEVISÃO - 272 para cada mil habitantes
LIVROS PUBLICADOS - 110.283 títulos
PIB - 980 bilhões de dólares
RENDA PER CAPITA - 780 dólares
POPULAÇÃO ECONOMICAMENTE ATIVA (PEA) - 745 milhões
CONTRIBUIÇÃO DA AGROPECUÁRIA PARA O PIB - 18%
CONTRIBUIÇÃO DA INDÚSTRIA PARA O PIB - 49%
CONTRIBUIÇÃO DOS SERVIÇOS PARA O PIB - 33%
PRODUTOS AGRÍCOLAS - arroz, batata-doce, trigo, milho, soja, cana-de-açúcar, tabaco, algodão em pluma, batata, juta, legumes e verduras
PECUÁRIA - suínos, eqüinos, ovinos, bovinos, búfalos, camelos, caprinos e aves
MINERAÇÃO - carvão, petróleo, chumbo, minério de ferro, enxofre, zinco, bauxita, estanho, fosforito e asfalto natural
INDÚSTRIA - têxtil, materiais de construção e siderurgia
PRINCIPAIS PARCEIROS COMERCIAIS - Japão, Estados Unidos da América, Taiwan e Coréia do Norte
ESTRUTURA POLÍTICA - República Parlamentarista
CHEFE DE ESTADO - Presidente Jiang Zemin
CHEFE DE GOVERNO - Primeiro Ministro Zhu Rongji
PARTIDO ÚNICO - Partido Comunista Chinês
PODER LEGISLATIVO - unicameral: Congresso Nacional do Povo (2.979 membros eleitos por voto indireto para mandato de 5 anos)
ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO (IDH) - 98º lugar no "ranking"mundial

Referências


O termo Zhōngguó significa literalmente "país" [guó] "do meio" [zhōng]. Em pinyin, sistema gráfico latino na língua chinesa, o "zh" tem o som de um "d" álveo-palatal (como o "j" na palavra inglesa "jest"), e o "g" é falado como um "k", donde a pronúncia [Djón küo].

Ligações externas

Rádio China Internacional seção em português da Rádio China Internacional