terça-feira, setembro 09, 2008

O escudo antimíssil é contra a Rússia


ENTREVISTA MIKHAIL GORBACHEV Ex-presidente da União Soviética

Gorbachev: "O escudo antimíssil é contra a Rússia"

ANDREA RIZZI – El País - Madrid - 09/09/2008

Tradução de Antonio de Freitas

Mikhail Gorbachev (Privolnoye, 1931), líder da União Soviética desde 1985 até 1991 e prêmio Nobel da Paz, concedeu esta entrevista ontem em Madri, cidade na qual se encontrava de passagem rumo à Expo de Zaragoza, onde está previsto que pronuncie hoje um discurso. Gorbachev manifestou sua decepção com o Ocidente que descumpriu suas promessas e avisou que a Rússia já não está disposta a aceitar a liderança e lições dos Estados Unidos. "Rússia não dançará ao ritmo da música dos outros. Quer ser tratada de igual para igual".

Pergunta. Houve um momento após a queda do muro de Berlim que pareceu que o espaço entre Vladivostok e Vancouver poderia se converter num único lado...
Resposta. [Sem esperar que se complete a pergunta]. ¡Isso foi possível! Não era uma ilusão; houve um momento em que foi possível.

P. Essa visão agora é uma visão errada, pelo menos para outra geração?
R. A historia dos últimos 15 anos mostra que essa visão era correta, e segue sendo. Porém, quando a URSS desmoronou, alguns perderam a cabeça. A União Européia - UE começou a se expandir num ritmo tremendo. O mesmo fez a OTAN. Uma decisão particularmente perigosa, que se tomou apesar das promessas contrárias. Assim, assistimos agora a estas novas tensões, fricções.

P. É verdade que James Baker [ex-secretario de Estado dos EUA] lhe prometeu que a OTAN não se expandiria até o Leste se você analisava a reunificação da Alemanha e a permanência do novo sujeito na Aliança?
R. Não foi una promessa a mim; foi feita ao mundo. Está gravada no memorando da conversa que mantivemos.

P. A ação da Rússia na Geórgia foi uma mensagem de sua oposição a essa dinâmica?
R. Não. Não foi nenhuma mensagem. O prova o fato de que em Transdniéster, as autoridades russas estão muito próximas a fechar um compromisso com a Moldávia pelo qual esse território fica integrado nesse país, com certas garantias de autonomia. No caso da Osetia do Sul, também estávamos dispostos a falar.
P. O presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili, atuo por sua conta?
R. Não, claro que não.

P. Quem o aconselhou?
R. Se não o sabe, terei que lhe dizer: os Estados Unidos. Porém, também alguns países membros da União Européia - UE. Washington armou abundantemente à Geórgia. Ucrânia, também. Ninguém pode forçar a ninguém a que faça algo como o que fez Saakashvili. Mas seguramente havia um plano para resolver esse problema por meios militares.

P. E o que espera agora? [A reunião em Moscou entre Sarkozy, Barroso, Solana e Medvédev não havia terminado ainda].
R. Agora, a Rússia atuará com responsabilidade, mas não aceitará que seus interesses nacionais sejam ignorados. A Europa tem que revisar sua posição. Os governos de Clinton e de Bush começaram uns jogos geopolíticos que abriram novas linhas de divisão no continente. Sinto que os EUA não tenham sido um bom conselheiro da Europa nestes anos. Os europeus deveriam dizer aos amigos estadunidenses que reconhecemos seus sucessos e seu poder, mas que não aceitamos sua liderança. Não aceitaremos instruções de política internacional ou econômica. As diretrizes que deu o FMI à Rússia a principio dos noventa foram um desastre.

P. Então até onde se deveria ir?
R. A Europa deveria impulsionar uma nova arquitetura de segurança européia com a constituição de um Conselho de Segurança continental. Um diretório no qual estejam representadas todas as nações européias e, por exemplo, com poderes para ações de manutenção da paz. Assim sairíamos de uma situação na qual os EUA dominam a agenda. Algo assim estava sobre a mesa em 1990, porém o Ocidente acreditou que havia ganhado e decidiu não cumprir suas promessas. Não somente os EUA. É a primeira vez que o digo, mas a Alemanha também tem que assumir suas responsabilidades. Cumpriu os tratados bilaterais com a URSS, mas no foro da OTAN apoiou a expansão.

P. O que você opina sobre o escudo antimíssil que os EUA instalarão na Polônia?
R. É contra a Rússia. O Irã é uma ilusão. Pela experiência dos últimos anos, já não confiamos no governo Bush.

P. Bush está a ponto de acabar seu mandato presidencial. Putin já esgotou o seu. Segue sendo o homem mais poderoso na Rússia?
R. Claro, é respeitado, forte; sua credibilidade é elevada, porque fez muito pela Rússia. Porém isso cria condições favoráveis para Dmitri Medvédev. Hoje, a Rússia recebe muitas criticas, está sob pressão. Creio que foi tratada com desigualdade. Espero que o Kremlin não adote a lógica do olho por olho. Pode-se confiar numa Rússia responsável desde que a tratemos como a um sócio a mais. Temos experiência, história, potencial para competir no mundo. Não bailaremos ao ritmo da música dos outros. Não importa que seja jazz ou outra. A Rússia tem sua própria música.

P. Está satisfeito com a transição democrática do país?
R. Na situação atual, é difícil esperar mais. Há 30 países no mundo em transição democrática, e a Rússia é um deles. Estamos na metade do caminho. Avançamos, mas, é claro, em alguns aspectos fracassamos. De momento.

P. Mudaria algo do que fez nos seus anos no Kremlin?
R. Seguiria em geral o mesmo caminho, mas mudaria algumas táticas. Atuamos demasiado tarde na reforma do partido, e este organizou um golpe contra mim. Também nos atrasamos em reformar a URSS. Diante do colapso econômico, deveríamos haver cortado o gasto militar. Não o fizemos. É algo que lamento. Assumo a responsabilidade desse erro.
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Mikhail Gorbachev
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Mikhail Serguéievich Gorbachev ou Gorbatchev[1] (em russo ? Михаи́л Серге́евич Горбачёв, IPA: mʲɪxɐˈil sʲɪrˈgʲeɪvʲɪʨ gərbɐˈʨof ) (Stavropol, 2 de Março de 1931) foi o último Secretário-Geral do Comité Central do Partido Comunista da União Soviética de 1985 a 1991. As suas tentativas de reforma conduziram ao final da Guerra Fria e, ainda que não tivesse esse objectivo, terminou com o poderio do Partido Comunista no país, levando, até mesmo à dissolução da União Soviética.

Vida e carreira
Estudou Direito na Universidade de Moscovo, onde conheceu a sua futura esposa, Raíssa Gorbacheva. Casaram-se em Setembro de 1953 e fixaram-se na terra natal de Gorbachev, Stavropol no sul da Rússia, onde se licenciou em 1955.
Mikhail Gorbachev inscreveu-se no Partido Comunista em
1952 com 21 anos de idade. Em 1966, com 35 anos, completou os estudos no Instituto Agrícola como economista-agrónomo. Começou, então, a progredir rapidamente na sua carreira política. Em 1970 foi nomeado Primeiro Secretário da Agricultura e, no ano seguinte, membro do Comité Central. Em 1972, dirigiu uma delegação soviética à Bélgica e, dois anos mais tarde, em 1974, tornou-se representante do Soviete Supremo. Fez parte do Politburo em 1979. Aí, recebeu a protecção de Iuri Andropov, chefe do KGB, também natural de Stavropol, e foi promovido durante o breve período em que Andropov se tornara líder do partido, antes da sua morte em 1984.
As posições que tomou no partido deram-lhe a oportunidade de realizar viagens a diversas partes do mundo, o que terá influenciado o seu ponto de vista político e social, como líder do seu país. Em
1975, dirige uma delegação à República Federal da Alemanha e em 1983 lidera outra ao Canadá, onde se encontra com o primeiro-ministro Pierre Trudeau, com os membros da Câmara dos Comuns e do Senado.

Governo
Com a morte de Konstantin Chernenko, Mikhail Gorbachev, com 54 anos de idade, é eleito secretário geral do Partido Comunista a 11 de Março de 1985. Sendo, efectivamente, o verdadeiro líder da União Soviética.
Em
1985, viaja até ao Reino Unido, onde se encontra com Margaret Thatcher. A partir de seu governo, Gorbatchov tenta reformar o partido, que dava então mostras de decadência, ao apresentar o seu projecto que se resumia nas expressões glasnost ("transparência") e perestroika ("reestruturação") e que é apresentado no 27.º Congresso do Partido Comunista Soviético em Fevereiro de 1986.
Em 1986, Gorbachev também tem de lidar com a explosão do reator da Usina Nuclear de
Chernobyl, localizada na Ucrânia, que provocou uma onda de radiação por toda a Europa. A desorganização e as informações escassas na época contribuíram para que o regime comunista já estivesse chegando ao fim.
Em
1988, Gorbachev anuncia que a União Soviética abandonava oficialmente a Doutrina Brejnev, ao admitir que a Europa de Leste adotasse regimes democráticos, se desejassem. Em jeito de graça, auto-denominou esta disposição como Doutrina Sinatra. Isto levou à corrente de revoluções de 1989, nos países de leste, através das quais o comunismo colapsou. Revoluções essas que se realizaram de forma pacífica, como na Alemanha, com a queda do muro de Berlim, sendo que houve excepção no caso da Roménia. Terminava assim a Guerra fria, o que justificou a atribuição do Prémio Nobel da paz a Gorbachev em 15 de Outubro de 1990. Nesse mesmo ano, as duas Alemanhas, capitalista e comunista, se reunificariam.
Contudo, a democratização da URSS e dos países de Leste, ao levar à perda de poder do Partido Comunista, conduziu à situação que culminou com o Golpe de Agosto de 1991, como objectivo de o retirar do poder. Durante este tempo foi forçado a passar três dias (de 19 de Agosto até ao dia 21) numa
dacha na Crimeia, antes de ser libertado e reaver o poder. Nessa altura, Boris Iéltsin começava a receber mais apoios em detrimento de Gorbatchov. Este viu-se obrigado a demitir um grande número de membros do Politburo e, em vários casos, houve ordem de prisão. Entre estes encontravam-se o "Gang dos Oito" que tinha conduzido o golpe.
Gorbachev foi eleito como primeiro presidente executivo da União Soviética em
15 de Março de 1990 mas resignou a 25 de Dezembro de 1991.

Vida pós-soviética
Em termos gerais, Gorbachev é bem visto no mundo ocidental graças à sua contribuição para o fim da Guerra Fria. Contudo, na Rússia, a sua reputação não é tão favorável devido à crise económica e social que se instalou logo após a queda da URSS.
Criou a
Fundação Gorbachev em 1992. Em 1993, fundou também a Cruz Verde Internacional. Foi um dos principais promotores da Carta da Terra, em 1994. Tornou-se, igualmente, membro do Clube de Roma.
Em
1997, Gorbachev entrou num anúncio da Pizza Hut, que passou na televisão norte-americana, com o fim de obter fundos para os Arquivos Perestroika.
A
26 de Novembro de 2001, Gorbachev fundou, igualmente, o Partido Social Democrata Russo, como resultado da união de vários partidos que partilhavam esta ideologia. Demitiu-se como líder partidário em Maio de 2004 em consequência de desacordos com o presidente do partido em relação às opções tomadas durante as eleições de Dezembro de 2003.
No início de 2004, Gorbachev registou a sua marca de nascença, na testa, devido à sua utilização por uma marca de
vodka que lhe fazia referência. O caso é tanto mais curioso quanto Gorbachev implementou algumas leis de combate ao alcoolismo enquanto líder da União Soviética. A referida marca de vodka mudou, entretanto, de rótulo.
Em
8 de Fevereiro de 2004, foi galardoado com um Grammy, juntamente com Bill Clinton e Sophia Loren pela narração conjunta do disco Prokofiev: Peter and the Wolf/Beintus: Wolf Tracks sobre Pedro e o lobo, de Prokofiev, uma versão moderna da história, com intuitos ecológicos - o que vai ao encontro das preocupações ambientais que têm marcado os últimos anos.
Ligações externas
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Fundação Gorbachev (em inglês e russo)
www.mikhailgorbachev.org (em inglês)
Biografia em www.nobelprize.org (em inglês)