sexta-feira, outubro 01, 2010

Rahm Emanuel deixa o gabinete Obama


Obama se concentra na reeleição

após a substituição de seu Chefe de Gabinete Rahm Emanuel

Pete Rouse, um próximo assessor do Presidente, substitui Rahm Emanuel

ANTONIO CAÑO Washington – El País - 01/10/2010

Tradução de Antonio de Freitas

Num momento decisivo de sua presidência, Barack Obama exonerou Rahm Emanuel, o homem que lhe serviu para conectar com os centros de poder em Washington, e nomeou Pete Rouse para o cargo de Chefe de Gabinete, um integrante de seu mais íntimo círculo de assessores, num movimento que significa o regresso de Obama a suas origens, a recuperação na segunda parte de seu mandato dos valores que fizeram dele um candidato excepcional na historia norte-americana. Com esta mudança, o Presidente demonstra que já começa a se preocupar mais com sua reeleição do que com sua agenda legislativa.

Não é um cavalo-de-pau. É a curva de um transatlântico cujo rumo definitivo tardará uns dias em se conhecer. Pela personalidade e trajetória de Emanuel e de Rouse se pode deduzir, entretanto, algumas consequências imediatas desta mudança: ganham a esquerda e os velhos amigos do Presidente, perdem os advogados do bipartidarismo e do centrismo; ganham os leais, perdem os forasteiros; ganha harmonia a Casa Branca, perde brilhantismo o país.

Emanuel, que agora tratará de ser prefeito de Chicago, era ao mesmo tempo um construtor de acordos políticos, um forasteiro que não participou da campanha eleitoral que se originou do círculo de Hillary Clinton, um dos mais brilhantes cérebros da classe política norte-americana. Foi uma peça fundamental no ressurgimento democrata após o triunfo de George Bush e o arquiteto indiscutível da extraordinária vitória dessa formação nas eleições legislativas de 2004.

Isso o converteu num dos homens mais influentes de Washington. Obama se colocou em suas mãos para promover seu ambicioso projeto de reformas. O plano não saiu de todo bem. Apesar de que o sucesso da aprovação da nova lei sanitária e a de controle financeiro sejam creditados essencialmente a Emanuel, também lhe culpam por um acidentado procedimento que manchou o resultado final e fez Obama parecer fraco e demasiado conciliador.

A esquerda o culpa por isso (e também por alguns desplantes e maus modos) e julga em retrospectiva que a Obama teria sido melhor se tivesse esquecido de cortejar os republicanos e acelerado a aprovação de seu programa de mudanças somente com votos democratas.

Não se pode garantir que a saída de Emanuel, precedida da de três assessores econômicos também do setor centrista, suponha imediatamente um aumento do peso da esquerda nesta Administração. Obama é por natureza um moderado inclinado a escutar ambos os lados. Porém, é de se imaginar que a necessidade de reformulação da imagem do Presidente, depois do previsível sucesso republicano em novembro, acentue a oratória progressista. Provavelmente, a situação do Congresso dentro de um mês não permita outra coisa.

Entra Rouse, o modesto

A saída de Emanuel é mais significativa sobre o rumo que pode tomar os acontecimentos que a entrada de Rouse, que assume com uma etiqueta formal de "interino" que define sua modéstia como figura política. Rouse é a antítese de Emanuel e jamais poderá chegar a seus pés. Após mais de 30 anos no serviço público em Washington, pouca gente conhece seu nome, inclusive entre os iniciados.

Os dois aspectos mais destacados de sua biografia são os de Chefe de Gabinete de Obama quando este era senador (o que demonstra que o presidente recorreu a quem sabe cuidar fielmente dos seus papeis?) e o de Chefe de Gabinete do ex-senador Tom Daschle, sem dúvida o político que Obama mais admira. Rouse esteve na Casa Branca durante os últimos dois anos, mas, como sempre, num papel obscuro, dedicando seu tempo principalmente a corrigir os erros de outros. "O dito mais frequentemente na Casa Branca é: 'deixa que Pete o ajeite", recordou Obama ao apresentar seu novo Chefe de Gabinete.

Emanuel foi de fato um primeiro-ministro. Agora essas tarefas terão que ser repartidas entre as figuras em ascensão na Avenida de Pensilvânia: David Alxerod, o principal conselheiro político; David Plouffe, o criador do mito Obama, e Robert Gibbs, que logo deixará de ser diretor de comunicação para assumir maiores responsabilidades.

Axelrod já anunciou que dentro de um ano ou ano e meio deixará, também, seu cargo para se dedicar integralmente à campanha de reeleição. Porém, é evidente que essa já é a principal preocupação no entorno do presidente. Se foi difícil legislar até aquela data, depois de 2 de novembro vai ser praticamente impossível que Obama consiga no Capitólio maiorias suficientes para aprovar leis como a reforma migratória, energética, educativa e sobre a mudança climática. Tudo se centrará em salvar a imagem do presidente do bloqueio que se avizinha.

http://news.yahoo.com/video/politics-15749652/22225905