sexta-feira, junho 27, 2008

Bill Gates se aposenta


O fundador da Microsoft deixa o gigante da informática aos 52 anos para se dedicar totalmente à filantropia

SANDRO POZZI - Nova York - 27/06/2008

Tradução de Antonio de Freitas


Bill Gates, o grande ícone do competitivo universo tecnológico, se despede hoje da Microsoft para se dedicar totalmente à filantropia. Foram 1.712 semanas à frente do gigante da informática de Redmond. Acaba assim uma era, 33 anos, durante os quais Gates foi a cara da companhia.

E começa outra, com novos atores que avançam a toda velocidade numa nova realidade, onde o acesso imediato aos conteúdos é a chave para a sobrevivência. Porém, o cérebro da Microsoft não se despede de tudo. Conservará seu posto como presidente do conselho de administração e seguirá trabalhando um dia na semana.

Junto a seu sócio Paul Allen, Bill Gates é considerado o criador da industria dos programas que fazem funcionar os computadores pessoais. Do engenho de ambos nasceu há três décadas a Microsoft, com o objetivo de desenvolver o primeiro aplicativo para o Altair, o primeiro PC. O grande salto da companhia chegou da mão de seu controvertido sistema operativo Windows e do pacote Office.

Depois apareceriam o console de videojogos Xbox e o reprodutor Zune. As autoridades reguladoras nos Estados Unidos e na Europa não tiraram seus olhos de cima, pelo esmagador domínio do Windows, que detém 90% do mercado mundial. Para Gates, a pressão é um elemento a mais de seu trabalho, até o ponto de que considerava que o negocio não era divertido se não havia riscos.

Gates, de 52 anos, começou a preparar sua saída na primavera de 2004. O fundador da Microsoft queria dedicar mais tempo à fundação que possui junto com sua mulher, Melinda, a instituição filantrópica mais rica do planeta, com 37.300 milhões de dólares (23.693 milhões de euros). Já em 2000 delegou a responsabilidade de conselheiro delegado a Steve Ballmer. Em junho de 2006 formalizou sua retirada, após receber uma multimilionária doação de Warren Buffett.

Ballmer deverá dar agora continuidade ao legado de Bill Gates, e não precisamente num momento muito favorável para a Microsoft, convertida num gorila que custa mover-se. Sua eterna rival Apple, de Steve Jobs, e novos atores no universo tecnológico, como o buscador Google ou as comunidades virtuais MySpace e FaceBook, lhe estão obrigando a se adaptar.

A Microsoft segue gerando ingressos massivos, de 51.120 milhões de dólares (32.471 milhões de euros) em 2007, graças aos frutos que lhe aporta o monopólio criado durante as últimas dois décadas no negocio dos programas informáticos para PC. Paul Graham, um dos gurus da Internet, acredita, sem embargo, que Microsoft está morta, porque no soube mudar sua estrutura de negócio.

A última versão de seu sistema operacional, o Vista, está sendo um desastre, até o ponto de que muitos fabricantes de computadores estão pedindo que lhes forneçam o Windows XP para poder fazer funcionar seus PC. Ademais, evitou durante anos o lucrativo negocio da publicidade em Internet, onde manda o buscador Google.

Microsoft tenta agora recuperar terreno, reforçando seu buscador MSN. No momento a estratégia de Ballmer está dando mais desgostos que alegrias aos investidores. Numa tentativa de comer um pedaço maior da suculenta torta publicitária, se lançou em fevereiro a comprar Yahoo!. A tentativa falhou e, pior ainda, estreitou o vínculo comercial entre seus dois rivais.

Em Wall Street tentam ver as coisas de maneira positiva para o futuro, e acreditam que a saída de Bill Gates se produz num momento oportuno e animará a Microsoft a proceder uma mudança de cultura. As esperanças estão postas em Ray Ozzie, o criador de Lotus Notes, encarregado de desenvolver a partir de agora as novidades tecnológicas do gigante de Redmond.

Ozzie acredita que os novos concorrentes da Microsoft não são tão diferentes de outros do passado. E Ballmer, por sua parte, diz sentir-se cômodo e recorda que Gates não desaparecerá da face da terra, porque tem a intenção de passar um dia por semana pelo escritório e estará implicado em projetos específicos. Junto a eles também terá um papel mais relevante Craig Mundie, um dos veteranos da Microsoft.

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Bill Gates
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

William Henry Gates III KBE, GCIH (Seattle, 28 de outubro de 1955), mais conhecido como Bill Gates, é, em parceria com o sócio Paul Allen, o fundador da Microsoft, a maior e mais conhecida empresa de software do mundo. Quando a riqueza da família é considerada, sua família fica em segundo lugar, atrás da família Walton.

Biografia
Nascido em uma família de posses — o pai era advogado de grandes empresas, e a mãe pertenceu à diretoria de vários bancos — Gates freqüentou as melhores escolas particulares de Seattle, sua cidade natal, e também participou do Movimento Escoteiro ainda quando jovem. Bill Gates, que é canhoto[2], foi admitido na prestigiosa Universidade Harvard, mas abandonou o curso de Matemática e Direito no 3° ano, para dedicar-se à Microsoft.

Enquanto estudava em Harvard, desenvolveu junto com Paul Allen um interpretador da linguagem BASIC para um dos primeiros computadores pessoais a serem lançado nos Estados Unidos - o Altair 8800. Após um modesto sucesso na comercialização deste produto, Gates e Allen fundaram a Microsoft, uma das primeiras empresas no mundo focadas exclusivamente no mercado de programas para computadores pessoais ou PCs.

Gates adquiriu ao longo dos anos uma fama de visionário (apostou no mercado de software na época em que o hardware era considerado muito mais valioso) e de negociador agressivo, chegando muitas vezes a ser acusado por concorrentes da Microsoft de utilizar práticas comerciais desleais.

No ano de 2000, Gates promoveu Steve Ballmer, um amigo de longa data, ao posto de presidente da Microsoft e publicamente passou a ter uma participação menos ativa nos processos decisórios da empresa.

Em 2 de março de 2005, ele foi condecorado com o título de Comandante Cavaleiro do Império Britânico.

Bill Gates anunciou no dia 16 de junho de 2006, que vai deixar progressivamente o cargo de diretor da Microsoft até 2008 para poder se ocupar da fundação de caridade Bill & Melinda Gates Foundation.

No dia 27 de Outubro de 2008, Bill Gates retirou-se definitivamente da Microsoft para se dedicar inteiramente aos seus projetos filantrópicos.

A Microsoft
Foi fundada em 1975 por Bill Gates, então com 19 anos, em parceria com Paul Allen. O primeiro produto comercial da empresa foi o Altair BASIC para o MITS Altair (Micro Instrumentation Tlemetry System), produzido no mesmo ano. Em 1980 a empresa deu um passo decisivo ao adquirir da Seattle Computer Products o sistema operativo 86-DOS. Foi o começo do maior caso de sucesso empresarial da história americana.

Fortuna
Gates liderava o ranking dos mais ricos do mundo desde 1995, segundo a revista Forbes. Sua fortuna era estimada em US$ 130 bilhões.

Em 1999, Gates ultrapassou a marca dos US$ 100 bilhões, mas desde 2000 o valor nominal da Microsoft vem caindo após o estouro da internet, e também após várias doações multibilionárias feitas por Gates a projetos filantrópicos.

Em maio de 2006, Gates disse em uma entrevista que gostaria de não ser o homem mais rico do mundo, e que não gosta da atenção que trouxe.

Em 2 de junho de 2007 o mexicano Carlos Slim Helu, que aparecia no segundo lugar da lista assume o posto de homem mais rico do mundo com fortuna estimada em 67,8 bilhões de dólares, após ultrapassar o co-fundador da Microsoft.

Em 2008 a lista de bilionários da Forbes, aponta Gates como o terceiro homem mais rico do mundo, com fortuna estimada em 58 bilhões de dólares.

Filantropia
Em 2000, junto com sua esposa Melinda, Gates criou a Fundação Bill e Melinda Gates, uma organização filantrópica que tem por principais objetivos promover a pesquisa sobre a AIDS e outras doenças que atingem os países do terceiro mundo.

Em 2006, Warren Buffett integrou o projeto, anunciando seu plano de contribuir com 10 milhões de ações de classe B da companhia Berkshire Hathaway (US$ 30,7 bilhões aproximadamente), fazendo com que a fundação dobrasse de tamanho.

Segundo um artigo de 2004 da revista Forbes, Gates já doou cerca de 29 bilhões de dólares para a caridade desde o ano de 2000.

Bill Gates tem quatro filhos adotivos.

O primeiro computador Pessoal
O primeiro computador pessoal nasceu em 12 de agosto de 1981, concebido por 12 engenheiros que trabalhavam num projeto para a IBM. Tinha 15 metros de altura e pesava 11 toneladas. David Bradley e Don Estridge, chefes do projeto, pediram à Intel que fabricasse as placas de memória, mas ainda faltava o sistema operacional.

O jovem Bill Gates foi a uma pequena empresa que havia desenvolvido o sistema para o processador da Intel e decidiu comprá-lo, pagou cerca de US$ 50 mil, personalizou o programa e vendeu-o por US$ 80 mil, mantendo a licença do produto. Este viria a ser o MS-DOS e posteriormente, o Windows.

sábado, junho 21, 2008

Se lessem bem a Bíblia, deixariam de crer

ENTREVISTA Piergiorgio Odifreddi

“Se lessem bem a Bíblia, deixariam de crer”

JESUS RUIZ MANTILLA – El País - 15/06/2008
Tradução de Antonio de Freitas

É o açoite da Igreja na Itália. Seu vicio: desmontar dogmas. Piergiorgio Odifreddi vendeu 200.000 exemplares de ‘Porque não podemos ser cristãos’.

Mesmo sendo um ateu confesso, ainda tem calos nos pés por culpa de sua última experiência mística. Piergiorgio Odifreddi (Cuneo, Italia, 1950) acaba de regressar do Caminho de Santiago, essa meca da cristandade que percorreu durante duas semanas com seu amigo Sergio Valzania. O itinerário deu o que falar na Itália. Juntos fizeram em cada etapa um programa especial para a emissora RAI 3. A graça está em que Odifreddi não crer, mas Valzania sim se confessa católico fervoroso. “Ao final ficamos como começamos. Nem ele me convenceu, nem eu consegui quebrar sua fé”, comenta, num hotel do centro de Madri, este escritor, matemático e professor de lógica.

Porém em algo sim se puseram de acordo: “Galicia é belíssima; Castela, um pouco chata com essas planícies intermináveis”, comenta. “E Espanha, mais laica que Itália, com diferença. “Em nosso país ainda não é possível criticar abertamente à Igreja”, assegura Odifreddi. Talvez por isso, para parar a ‘larga mano’ do Vaticano sobre a liberdade de expressão, este ensaísta se lançou na jugular da Igreja. O fez com um livro que resultou um impacto em seu país e um sucesso de vendas que deixou patente algo serio: “A fratura entre religião e laicismo que existe em meu país, com clara desvantagem para os não crentes”.

O título é tão direto que não deixa lugar a dúvidas: “Porque não podemos ser cristãos e menos ainda católicos” (RBA). Nem precisa dizer que o texto de quem é hoje em dia o açoite do laicismo na Itália supõe-se um pesadelo entre as hierarquias. Não por existir, senão porque o destino e os calendários editoriais o lançaram nas livrarias para competir no mesmo instante com um livro oposto: “Jesus de Nazaré”, do Papa Joseph Ratzinger.

“Durante semanas estivemos nos alternando no primeiro e no segundo lugar das listas dos mais vendidos”, comenta jocoso Odifreddi. Seguramente a cúria haveria preferido outro competidor. Porém ao diabo não se põe nada por adiante. Segue jogando forte e fazendo das suas. Nem com rosários puderam evitar que Odifreddi vendesse 200.000 exemplares.

De maneira que chegas do Caminho de Santiago… Nem assim encontraste a luz?
Foi uma experiência interessante. Acho que é a primeira vez que um ateu retransmite para a Itália o Caminho pela radio. O modelo foi o filme de Buñuel La Vía Láctea, com aqueles dois personagens que combatiam a golpe de dogmas e heresias.

Bem, igual que sempre, não?
Ainda que a heresia como conceito foi superada por uma etiqueta muito mais digna que chamamos laicismo. Na Espanha tem mais sorte que na Itália neste âmbito.

Você acha?
Na Espanha não existe um cardeal Martini, por exemplo. Alguém que defenda tão abertamente desde a hierarquia o sacerdócio para as mulheres ou as bodas entre curas. Homem, na Espanha a direita é católica, porém a esquerda é claramente laica. Na Itália eu militei no Partido Democrático, de Walter Veltroni, e me retirei porque não defendiam o laicismo. Ele mesmo me pediu. Eu pensei que era conveniente porque já que dentro convivem várias correntes, alguns podiam alentar um ar de esquerda mais radical e laico para barrar o que nós chamamos facção ‘teocon’. Porém, ao final Veltroni não foi claro. Decidiu não se meter em assuntos que tiveram que ver com a Igreja. Por mais que lhe perguntassem, nada. E eu me fui do partido ao ver que não se comprometia claramente.

Por que a esquerda italiana não se decide a romper com a Igreja?
As eleições anteriores foram ganhas pela esquerda com 20.000 votos. Com essa vantagem tão pequena, ninguém quer contrariar a uma organização que controla a 30 milhões de cidadãos. eu militei para tentar, mas é difícil num partido que lidera alguém como Veltroni, uma personagem a quem lhe conhecem como o senhor mas também… Falta coragem. Esta oportunidade nós a perdemos.

Desde a esquerda, depois das primeiras ações de Berlusconi, como se vai digerindo o resultado eleitoral?
Por culpa de coisas como estas a esquerda perdeu. O partido de Veltroni não tem identidade, é uma refundação de velhas estruturas. Cabe gente do antigo Partido Comunista e da Democracia Cristiana, empresários e trabalhadores…há 120 deputados que se declaram abertamente católicos. Até a antiga Democracia Cristiana era melhor que isto! Com relação a este Governo, é direita pura.

Muitos o qualificam de neofascista.
Tire-lhe o ‘neo’. Fini é fascista. A Liga é racista e Berlusconi segue com o seu. Na primeira semana de mandato já discutíamos da televisão… Porém, no fim, este Governo sabemos o que é. Sem embargo, com o partido de Veltroni não há definições claras.

Resulta-lhe ‘light’, descafeinado?
Tem medo a certas coisas. Da Igreja, para começar. Na Espanha não acontece isto. Eu leio artigos na imprensa deste país que na Itália seriam impensáveis. Custa publicar certos assuntos.

Por isso decidiu deixar suas posições claras no livro?
Com a óptica de um matemático, ademais. Escrevi muita divulgação científica. Com assuntos que relacionam ciência e religião, como fiz em ‘O Evangelho segundo a ciência’, por exemplo, ou em ‘As mentiras de Ulisses’. Empenhei-me em fazer ver as matemáticas como uma parte da cultura, integrar ambos os mundos.

Porém, como formula um matemático algo que carece de toda lógica?
Este livro tem duas inspirações claras. A obra de Bertrand Russell ‘Por que não sou cristão?’ e aquela de Benedetto Croce ‘Por que não podemos considerar-nos cristãos’. A idéia nasceu porque cada ano editamos um livro de Russell e era a vez de fazer aquele. O reli e me pareceu que havia envelhecido mal com o tempo. Disse ao editor e ele me propôs fazer uma interpretação própria. Assim que me meti um semestre em Nova York, no Instituto de Estudos Italianos da Universidade de Columbia. Estudei a fundo a Bíblia e o catecismo. Meus amigos me encontravam sempre com ambos livros nas costas e me perguntavam: “O que te passa?”.

Normal…lhe veriam como um converso ou temiam alguma salva de tiros sua. Quem sabe! O caso era fazer uma leitura a fundo, uma crítica da religião, não desde perspectivas políticas de ingerência na vida pública e tudo isso, senão de observar-lo desde uma concepção teológica, desde dentro, e descobrir seus anacronismos. Sua concepção violenta, cruel, sanguinária da vida, sobretudo no Antigo Testamento. Por isso, ofenderam-se também os judeus, que me acusaram de anti-semita.

É que reparte para todos.
Normal. Os cristãos herdaram o Antigo Testamento e ninguém sane porque o fizeram.

O acusaram ademais de maneira acrítica.
Completamente. Houve alguns que quiseram eliminá-lo. Acreditavam que o Deus bom do Novo Testamento não requeria a ira do anterior. Não se aceitou.

Ameaçaram-lhe?
Alguns me escreveram dizendo que desse graças porque os cristãos não foram como os islamitas, que se não já o haveria pago. Pensei em fazer algo que se intitulasse ‘Porque não podemos ser islâmicos’, porém é que em Itália são quatro e não seria útil. Ademais decretariam uma ‘fatwa’, e é o que me faltava.

Todavia há coisas que não nos deixam tocar.
E tanto, na Itália existem diretores de jornais que reconhecem que os dogmas de fé são um conto, porém que não podem escrever porque o mero fato de pô-lo em dúvida já cria um conflito.

Como por exemplo…
O pior é pôr em dúvida a própria existência de Jesus Cristo. Não há constâncias históricas serias. São relatos construídos a posteriori. Dizer isto já é algo escandaloso.

Igual que pôr em dúvida a virgindade de Maria, que não se sabe muito bem é por que se sustenta o contrario.
Aquela invenção! Incrível! É um dogma com uma historia muito interessante, de todas as formas. Para isso, se readaptou uma passagem do Antigo Testamento que diz: “Por aqui passou Deus (referindo-se ao útero da Virgem) e não o fará ninguém mais”. São as mesmas palavras que utilizam para assinalar uma porta de Jerusalém pela que passou a Arca da Aliança. Pegam uma passagem, se muda de lugar e a ninguém lhe importa.

A você, depois de haver escrito que Cristo pode ser filho ilegítimo de um centurião romano, não lhe queimaram?
Pantera se chamava o homem. Porém tudo isso já se comentava na época mais próxima. Enfim, eu não creio que haja muita gente que engula a estas alturas. Creio que é uma pose social sustentar estas coisas, porém que na verdade não o pensam. É uma convenção. Nem isto, nem a trindade, nem a transubstanciação... Nem a ressurreição se pode explicar cientificamente. No é um milagre. As bactérias do tétano, por exemplo, podem produzir uma morte aparente. Ele pode ter pegue cravado na cruz.

Existem explicações racionais para tudo aquilo que passa no Evangelho, porém não há para tudo o que dizem nele.
Certo, certo. O Evangelho tem três inspirações. Uma: a do profeta, a de Jesus da montanha, a dos bem-aventurados. Logo está a do charlatão. Na Palestina, há 2000 anos, havia muitíssimos. A última é a do Jesus revolucionário. Unindo as três, se forjou esta historia.

Uma historia que tem depois da sua própria história.
Essa é a mais interessante. Apaixonante. Entender quais são as fontes desses escritos, separa-los, encurtá-los. Aos apócrifos, tratá-los desde o ponto de vista lingüístico, da arqueologia da linguagem, os passos que sofreram depois dos diferentes concílios, tudo isso. As discussões, as heresias que pintavam a Jesus como uma realidade virtual, como o personagem de um filme, como um ser que nunca existiu porque nunca havia podido encarnar-se por ser Deus precisamente. Assim até nossos dias, porque o último dogma é de 1950, a assunção da Virgem, que também trouxe o seu.

Ah sim?
Sim, porque os católicos pensavam que havia ascendido sem saber se havia morrido ou não. Enquanto que os ortodoxos sustentavam que seguramente havia morrido, mas não estão certos de que haja ascendido. Não é uma brincadeira? Eu inclusive cheguei a fazer um cálculo científico. De onde ascendeu? Verticalmente desde Jerusalém. Com quê? Com o corpo. Supondo que haja feito à velocidade da luz, leva 2.000 anos subindo e, portanto, todavia não atravessou nossa galáxia. Por aí segue, está saindo. Com qualquer telescópio potente em Jerusalém mesmo poderíamos localizar-lo. Se da conta do ridículo?

Em suas desmontagens você trata também os mandamentos.
Os hebreus sustentam que há mais de 600, porém no caso cristão, um dos mais interessantes é o segundo, que se perde, curiosamente. O que proíbe levantar e construir imagens.

Qual de todos os dogmas é o que mais lhe atrai?
A transubstanciação. A hóstia, que se baseia num principio aristotélico. Vai contra a idéia de substancia científica. Aos papas lhes trai de cabeça.

De onde lhe vem essa mania de pôr tudo de perna pra cima?
Não faz falta tanto. Se quisesse fazer uma verdadeira cruzada, recomendaria uma única coisa ás pessoas: que lessem a Bíblia com um ponto de vista racional, com atenção. Deixariam de crer imediatamente. Não fazem falta livros anticlericais.

É que 200 anos de Ilustração prendem finalmente em nossa moral e em nossa concepção das coisas de maneira contundente.
É assim. Pese a que muitos insistem em que não pode haver moral sem religião. Era Chesterton quem dizia que se não acreditavas em Deus, podias crer em qualquer coisa. Eu agora penso o contrário, que quem acredita em Deus pode acabar tragando qualquer coisa. A Itália é um dos países com mais fé do mundo, por isso seis milhões de italianos consultam também a magos, quiromânticos, leitores de cartas. Se você acredita na trindade ou na virgindade, acredita em qualquer coisa. Tampouco é justo esse discurso de que os laicos não acreditam em nada. Não é certo, o fazemos nos ideais. Porém não nos dogmas.

Isso que tanto espanta agora do relativismo, como o vê?
Ahh… Ratzinger é um ultraconservador antipático e obtuso. Estas coisas o provam. É um assunto que demonstra a incapacidade da Igreja para entender casos como o de Galileo. Lhe perdoaram 400 anos depois de haver condenado por algo que era certo, porém não entenderam nada. O admitem muitos membros da Igreja, ainda que logo o pagam. O disse George Coyne, um jesuíta que foi o encarregado do Observatório Astronômico do Vaticano durante 25 anos. Assegurava que não havia compreendido a magnitude desse caso. E que passou com ele? Que o licenciaram. Este mesmo pediu publicamente ao Papa que definisse suas posições sobre o evolucionismo e lhe cessaram.

Os jesuítas são outra coisa?
São os mais incisivos, sem dúvida. Cogitam abertamente suas dúvidas sobre muitos dogmas. Existe uma anedota fantástica que os define. Quando descobriram a múmia de Jesus em Jerusalém, os franciscanos diziam: é certo o que sofreu por nós, as feridas estão à vista, devemos amá-lo ainda mais. Os dominicanos cogitaram: cuidado, que se está aqui é que não ressuscitou, teremos problemas com o dogma. E os jesuítas deduziram: aí o temos; portanto, existiu. Não é genial?

Martini é um bom exemplo de jesuíta.
Bom, é que ele chegou a criticar até o livro do Papa sobre Jesus de Nazaré. É raro, porém é a minoria.

É necessário escrever livros assim contra a Igreja ou é dar-lhe demasiada importância a tudo aquilo que não deveria nem sequer ser debatido porque vai contra toda razão?
Não só é necessário. É que me parece pouco tudo o que se pode argumentar contra. Tratei de escrever um livro sério, sem desprezar também a ironia. Ainda que sobretudo tentasse fazer uma crítica rigorosa baseada em princípios teológicos e a prova de que calei é que lhes incomodou. A importância da Igreja é um fato, não é que dei eu. Não escreveria um livro perguntando-me por que não somos ‘raelianos’. Importa-me exatamente o mesmo. Na Itália, 30 milhões de pessoas se declaram católicos. A Igreja possui um quarto dos bens imóveis, de nossos edifícios.

Como imobiliária não há quem possa com ela.
Exato. Ademais, na Itália, o Papa vive dentro. Uma solução seria enviá-lo a Jerusalém. Deixemos Roma para os romanos.

Na Espanha vive o ‘Opus’, que também impõe.
Uma organização que ganhou muitíssimo poder dentro da Igreja por culpa de João Paulo II, por certo. Ele levou à bancarrota as finanças vaticanas para financiar o sindicato Solidariedade. Foi o Opus quem tapou o buraco.

Outro dos assuntos que trata no livro é o criacionismo.
Não acreditemos que seja apenas um invento dos EUA, ainda que foi ali onde se desenvolveu mais. Na Itália, já o primeiro Governo de Berlusconi o reivindicou, e não me estranharia que agora voltassem a carga. Faz-me graça que agora, para fazer o Caminho, meu companheiro levou a Bíblia. Eu, ao contrário, elegi ‘A origem das espécies’, de Darwin. Impressionou-me sua visão de futuro. Todas as objeções cretinas que lhe põe hoje ao evolucionismo, Darwin as previram e ademais as responde no livro com antecipação.

O viu chegar?
Exato, e basta ler-lo para frear-lhes. Porém o problema é que são insaciáveis. Porque tampouco o evolucionismo vai contra a religião. O problema está não tanto na criação do mundo, senão no momento que surge o homem. Aí tinham que por seu selo.

Inventar a culpa. Sem culpa não há negocio? Isso é.

E por que dentre todo o cristianismo, o que menos se sustenta para você é o catolicismo?
Porque são os que mais dogmas impõem e, portanto, os mais fáceis de rebater.

Mas quando a maioria são imposições caprichosas, a expensas dos papas, os concílios, as alianças de poder.
Como a infalibilidade pontifícia, o dogma que mais suspeita desperta entre os crentes. Pesquisas de universidades católicas asseguram que na infalibilidade do papa só acredita 30% de católicos. É o dogma mais débil. Há outras coisas mais absurdas, como que 40% dos que tem fé acreditam que São João se converteu em filho da Virgem diante da cruz. O que lhe digo: se lessem com atenção os evangelhos, deixariam de acreditar automaticamente.

terça-feira, junho 10, 2008

O vinil é melhor


ENTREVISTA com ELVIS COSTELLO

"O vinil é melhor; levam mais de 20 anos nos enganando com o CD"

FERNANDO NEIRA – El País - Madrid - 10/06/2008
Tradução de Antonio de Freitas Jr.

'Momofuku', seu novo e enérgico disco, é a resposta com ar fresco desta lenda do pop no momento atual da indústria e aos iluminados profetas da tecnologia.

Há uns meses tocou o alarme entre seus fãs. "Não voltarei a entrar num estúdio, é um processo demasiado estafante e penoso", alegou. Por sorte, o bom é que Declan Patrick MacManus - Elvis Costello para o mundo desde há 31 anos - faltou com sua palavra. A princípios deste ano ele exigiu a ‘The Imposters’ a gravação em apenas uma semana de ‘Momofuku’, um disco urgente e enérgico que está suscitando comentários entusiastas. E agora embarca numa turnê de lançamento por meio mundo, que conta com apenas duas datas na Espanha: 30 de junho e 1 de julho em ‘Las Palmas de Gran Canaria’, no ‘Festival Arrecife de las Músicas’. Um Costello (Londres, 1954) muito mais loquaz e cordial do que dizem as más línguas atendeu ontem por telefone a este jornalista desde um hotel nos EUA.

P. Que te fez decidir voltar a gravar?
R. Foi quase por casualidade. [A cantora de folk-rock] Jenny Lewis me convidou para colaborar no seu disco e redescobri os bons aspectos deste trabalho. Não havia deixado de compor canções, porém cheguei a pensar que gravar um álbum havia se convertido num fato banal.

P. Angustiava-te as exigências de uma indústria em crise?
R. Eu decidi não voltar a me preocupar com cifras. Só espero que as pessoas se interessem pela minha música, mas já não me importa se a compram ou a roubam. Não sou ninguém para falar em termos comerciais. Por isso mesmo, tenho certeza que você pretende publicar esta entrevista nas páginas de Cultura, não nas de Negócios...

P. Você quis editar Momofuku só em vinil. Não teme que seja visto como um nostálgico?
R. Não é nostalgia. O vinil soa melhor e há mais de vinte anos nos enganam sobre a qualidade do CD. As reedições neste formato dos discos originais analógicos constituem uma desgraça, como também a aceitação do MP3 como um padrão de som. A música se grava numas condições de excelência, mas logo nos conformamos com que a vedam num formato que arruína todos esses meses e meses de trabalho. Este é um problema prioritário: há que se fazer algo a respeito, o quanto antes.

P. Seu novo disco representa um regresso às essências do passado, ao espírito de discos como Get happy!! e outros?
R. É um erro você tratar de fazer as coisas como se fosse mais jovem do que é. A verdade é que nenhuma destas 12 novas canções eu poderia ter escrito com 22 anos. Se as pessoas associam ambos sons é porque somos quase os mesmos músicos, porém não existe nenhuma premeditação a respeito.

R. Nos últimos anos você compôs ballets, jazz, música de câmara... Podemos seguir considerando-lhe um roqueiro?
R. Estas outras facetas minhas só irritam as pessoas com pouca curiosidade. Na verdade estes projetos alternativos estavam sempre presentes: gravei ‘My funny Valentine’ em 1978 e o disco ‘Imperial bedroom’, de 1982, já incluía algo parecido ao tango e ao jazz. Acontece que as oportunidades foram aumentando com os anos, sobretudo a partir da mudança de século. Porém, eu acredito que ‘The Juliet letters’, meu disco com o Brodsky Quartet, goza de um público muito fiel na Espanha, sem ir mais longe.

P. ‘Momofuku’ se abre com ‘No hiding place’, uma sátira sobre a era da Internet. Tão negativas foram suas experiências?
R. Não se trata de uma grande declaração de princípios, mas apenas uma canção mais ou menos cômica. Incomoda-me, sim, a fascinação insana que nos produzem determinados fenômenos. Vivemos num mundo de obsessões e possessões, e qualquer um, desde a impunidade do anonimato, se acha no direito a falar do divino e do humano. Houve um tempo em que se exigiam uns quantos anos de aprendizagem antes de publicar seu primeiro artigo no jornal. Agora tudo o que necessitas é um computador.

P. Satura-te a sobreabundância de informação?
R. Sem dúvida, porque este excesso de opiniões não contribui para aclarar as coisas. Sim, já sei que agora podes conseguir muita informação útil que Há alguns anos atrás resultava inacessível, e isto está muito bem. Porém, também podes ver vídeos de gente trepando num elevador, gravações que foram vendidas pelos próprios serviços de segurança. Este é um mundo sem vergonha...

P. Para que fique claro, você pensa seguir se dedicando a seu oficio nestes próximos anos?
R. Claro! Sou um músico vocacional, não vejo motivos para deixar de sê-lo, a menos que ocorra algo com minha saúde. A única diferença é que desliguei destes planos de negócios que desenhavam os executivos sem a menor idéia de música. Estranhamente, sou otimista de cara ao futuro imediato, porque poderei fazer o que pintar na cabeça sem que nenhum contrato me empeça. Como editar minhas próximas canções em forma de partitura para que outros as cantem. Ou muitas outras idéias, me desculpe, que não vou dizer. Trata-se de evitar que alguém apressado me ultrapasse...
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Elvis Costello
De Wikipedia, la enciclopedia libre

Declan Patrick Aloysius MacManus (nascido em 25 de agosto de 1954), mais conhecido por seu nome artístico de Elvis Costello é um cantor, compositor e músico britânico. Ele teve participação nos primórdios do cenário pub rock britânico no meio dos anos 70, e mais tarde foi associado aos estilos de punk rock e new wave antes de se estabilizar como uma voz única e original nos anos 80. O alcance musical é impressionantemente amplo. Certo crítico escreveu que “Costello, a enciclopédia do pop, pode inventar o passado sob sua própria imagem”.

Biografia
Começo de vida e carreira
MacManus nasceu no St.Mary’s Hospital em Paddington, Londres, vivendo na região até os dezesseis anos. Já com uma família musical (o pai, Ross MacManus, cantava com Joe Loss), MacManus mudou-se com a mãe para Liverpool em 1971. Foi ali que ele formou a primeira banda, Flip City, com um estilo calcado no pub rock; tocaram até 1975/76, época em que MacManus passou a viver em Londres com a esposa e filho.
Teve diversos empregos enquanto continuava a compor, e iniciou uma tentativa agressiva de conseguir um contrato, o que provocou o incidente de uma prisão por atitute suspeita no local de uma reunião de executivos de gravadora. Depois de mandar uma fita demo, foi contratado pela Stiff Records. O empresário na Stiff, Jake Rivera, sugeriu a mudança de nome (usando o primeiro nome de
Elvis Presley e o nome do meio de sua mãe para formar “Elvis Costello”) e juntou-o com uma banda de country/soft rock chamada “Clover”.

Anos 70
O primeiro álbum de Costello, My Aim Is True (1977) foi de um sucesso comercial moderado, com ele aparecendo na capa usando os óculos que se tornariam sua marca registrada, e beirando uma semelhança chocante com Buddy Holly. Este lançamento viu Costello promovido por Stiff como um artista New Wave e punk, apesar do fato de o álbum apresentar a conservadora balada “Alison” (uma de suas canções mais conhecidas). No mesmo ano Costello recrutou sua própria banda, The Attractions, composta por Steve Nieve (piano), Bruce Thomas (baixo) e Pete Thomas (bateria). Ele lançou seu primeiro compacto de sucesso, o cinematográfico “Watching The Detectives”, gravado com Nieve e mais Steve Goulding (bateria) e Andrew Bodnar (baixo), ambos integrantes da banda Graham Parker & The Rumour.
Depois de uma badalada turnê com outros artistas da Stiff (capturada no álbum Live Stiffs, notável pela versão do sucesso de Burt Bacharach/Hal David “I Just Don’t Know What To Do With Myself”), a banda lançou This Year’s Model (
1978), uma gravação frenética preenchida com rouca energia e os versos afiados de Costtelo.
Em
1977 Costello participou do Saturday Night Live. Durante os ensaios, ele e o Attractions tocaram “Less Than Zero”. Mas quando chegou a hora da apresentação, Costello e sua banda fizeram apenas a introdução da música e então – para o choque dos produtores do programa – parou tudo, desculpou-se com a platéia e começou uma versão de “Radio, Radio”, que o programa pediu que não tocassem devido a sua mensagem anti-corporativista (Costello também afirmou achar que “Less Than Zero” não faria muito sentido para o público americano). O produtor Lome Michaels ficou furioso, não só com o desafio de Costello mas também porque o programa foi tirado do ar. Costello só seria convidado a tocar no Saturday Night Live novamente em 1989, não aparecendo em mais nenhum programa de TV americano nos anos seguintes a esse incidente.
1979 foi sem dúvida nenhuma o ano do auge do sucesso comercial de Costello com o lançamento de Armed Forces (intitulado originalmente de Emotional Fascism). Inspirada pelas turnês constantes, a banda estava em fina forma e Costello evoluiu notavelmente seu talento de compositor, passando a tratar de assuntos pessoais e políticos. Ele também encontrou tempo naquele ano para produzir o álbum de estréia da banda de ska The Specials.
Seu sucesso nos E.U.A foi severamente prejudicado, entretanto, quando Costello chamou
Ray Charles de “crioulo cego e ignorante” durante uma discussão com Bonnie Bramlett no bar do hotel Holiday Inn em Columbus, Ohio (sendo um comentário particularmente esquisito, pois Elvis trabalhava constantemente na campanha britânica Rock Against Racism tanto antes quanto depois disso). Um contido Costello desculpou-se em uma conferência de imprensa em Nova York, dizendo que estava bêbado e que disse aquilo só para provocar Bramlett (e conseguiu; ela lhe deu um murro). Em seu encarte da versão remasterizada de Get Happy!!, Costello escreveu que recusou um convite para conhecer Charles pouco tempo depois do infame incidente: “qualquer desculpa depois de todos esses anos seria mais do que embaraçosa para todos os presentes, e tudo que eu pude fazer foi virar meu rosto em vergonha e frustração sabendo que aquela era uma mão que eu provavelmente nunca apertaria... eu também descobri que a culpa é um fogo que arde sem qualquer sinal de limitação”. O incidente com Bonnie inspirou Costello a compor Riot Act, canção presente no álbum Get Happy!.

Anos 80
Possivelmente como outra afirmação de seu auto-imposto débito com a música negra, o álbum seguinte de Costello e o Attractions, Get Happy!!, foi um inventivo pastiche do pop da new wave com a soul music. Seria o primeiro e, juntamente com King Of America, provavelmente o mais bem sucedido dos muitos experimentos de Costello com gêneros além dos quais ele é comumente associado. A brevidade das canções (20 faixas em aproximadamente 45 minutos) formatou o novo estilo da banda. Liricamente, as canções eram repletas da marca registrada de Costello - o jogo de palavras - ao ponto de ele sentir mais tarde como se estivesse tornando-se uma auto-paródia, diminuindo o ritmo em composições posteriores.
Trust, de 1981, soava mais
pop, mas o resultado geral era claramente influenciado pelas tensões crescentes entre a banda, particularmente entre Bruce e Pete Thomas. Apesar de seu ecletismo, ‘’Trust’’ não obteve muita repercussão e foi o primeiro álbum de Costello a não gerar compactos de sucesso.
Depois da instatisfação comercial de Trust, Costello deu um tempo da carreira de compositor e a banda seguiu para
Nashville para gravar Almost Blue, um álbum de versões de sucessos da música country compostos por Hank Williams (“Why Don’t You Lije Me (Like You Used To Do?)”), Merle Haggard, (“Tonight The Bottle Let Me Down”) e Gram Parsons (“How Much I Lied”). Com críticas variadas, algumas das quais acusavam Costello de estar ficando sofisticado, a gravação foi lançada com uma faixa que trazia a mensagem: CUIDADO: Este álbum contém música country & western e pode ofender a ouvintes de mente limitada.
Imperial Bedroom, de 1982, marcou um som mais obscuro, quase barroco, para Costello, em grande parte devido à produção de Geof Emerick, famoso por ser o engenheiro-de-som de várias gravações dos Beatles. Apresentando uma gama superior de canções – tanto musicalmente quanto liricamente – este permanece como um de seus álbuns mais aclamados pela crítica, mas, novamente, fracassou em gerar compactos de sucesso. Costello disse não ter gostado da promoção do estúdio para o álbum, com fracos anúncios consistindo apenas da frase “Obra Prima?”.
1983 viu o lançamento de outra experimentação de pop-soul com Punch The Clock, com backing vocals femininos e até uma banda de metais. Foi deste álbum que saiu o sucesso internacional “Everyday I Write The Book”, ilustrado por um profético vídeo-clipe que apresentava sósias do príncipe Charles e da princesa Diana passando por uma crise doméstica em uma casa suburbana.
A tensão entre a banda estava passando a ficar insuportável, e Costello, começando a se sentir esgotado, anunciou sua aposentadoria e a separação do grupo logo depois da gravação de Goodbye Cruel World, em
1984. Com um número de canções fracas (e mesmo as melhores, mal produzidas), o disco não obteve muita repercussão, e até os mais fanáticos seguidores de Costello consideram Goodbye como seu pior álbum.
A aposentadoria de Costello, embora de vida curta, foi acompanhada por duas coletâneas, Elvis Costello: The Man no Reino Unido, Europa e Austrália e The Best of Elvis Costello and the Attractions nos E.U.A.
Em
1985, Costello juntou-se a seu amigo T-Bone Burnett para gravar um compacto chamado “The People’s Limousine” sob o pseudônimo de “The Coward Brothers”. Neste mesmo ano, Costello produziu Rum, Sodomy and the Lash para a banda punk/folk Pogues. Foi aí que ele conheceu sua segunda esposa, Cait O’Riordan, baixista do Pogues.
Já em
1986 Costello estava se preparando para retomar sua carreira. Trabalhando nos Estados Unidos com Burnett, mais uma banda contendo vários músicos de apoio de Elvis Presley e uma parte da formação do Attractions, ele produziu King of America, um álbum firmado no som do violão country, complementado por algumas de suas melhores composições por um bom tempo. Foi nesta época que ele voltou legalmente a se chamar Declan MacManus, acrescentando um Aloysius como um nome do meio extra.
No final do mesmo ano, ele voltou ao estúdio com o Attractions e gravou Blood And Chocolate, proclamado por um fervor pós-punk que não se via desde This Year’s Model, de 1978. Também marcou o retorno do produtor Nick Lowe, que produziu os primeiros cinco álbuns de Costello. Foi neste disco que ele usou pela primeira vez seu alter-ego “Napoleon Dynamite” (este apelido havia sido usado anteriormente em 1982, quando o lado-B do compacto “Imperial Bedroom” foi creditado à “Napoleon Dynamite & The Royal Guard”.)
Em
1987 Costello, com um novo contrato pela Warner Bros., deu início ao que seria uma longa parceria com Paul McCartney. Eles compuseram diversas canções juntos, incluindo “Veronica” e “Pads, Paws and Claws” do álbum Spike (1989, disco que também contém God´s Comic) e “So Like Candy” e “Playboy to a Man” de Mighty Like A Rose (1991), ambos álbuns de Costello, e “My Brave Face”, “Don’t Be Careless Love”, “That Day Is Done” e “You Want Her Too”, de Flowers in the Dirt, “Back On My Feet” (Lado B do single Once Upon A Long Ago) e “The Lovers The Never Were” e “Mistress and Maid” de Off The Ground, lançados por McCartney. Em 1989, ele participou de um especial pela HBO, Roy Orbison and Friends, A Black and White Night, estrelando seu ídolo de longa data Roy Orbison, e foi convidado a participar do Saturday Night Live pela primeira vez desde 1977.

Anos 90
Em 1991 Costello lançou o supracitado Mighty Like A Rose, nesta época deixando crescer uma infame e longa barba.
Em
1993 Costello provou das águas da música clássica com uma aclamada colaboração com o Brodsky Quartet em The Juliet Letters. Costello retornaria ao rock and roll no ano seguinte em um projeto que o reuniu com o The Attractions, Brutal Youth. Um álbum de versões gravado cinco anos antes foi lançado em 1995, ‘’Kojak Variety’’, seguido em 1996 por um álbum de canções que ele escrevera originalmente para outros artistas, All This Useless Beauty. Este foi o último álbum de seu contrato com a Warner Bros.
Em
1996 ele colaborou com Burt Bacharach em uma canção chamada “God Give Me Strength” para o filme ‘’Grace Of My Heart’’. Esta colaboração levou a dupla a compor e gravar um álbum juntos, Painted From Memory, lançado em 1998 sob seu novo contrato com a Mercury Records.
Para o vigésimo quinto aniversário de Saturday Night Live, Costello foi convidado para o programa, onde ele reviveu sua abrupta troca de músicas de 1977. Desta vez, entretanto, ele interrompeu “Sabotage”, dos
Beastie Boys, e eles ficaram como sua banda de apoio em “Radio, Radio”.

2000 até o presente
Em 2001, Costello foi anunciado como o “artista em residência” na UCLA (embora ele tenha terminado fazendo menos aparições do que o previsto) e compôs músicas para um balé. Ele também produziu e participou de um álbum da cantora de ópera Anne Sofie von Otter, For The Stars.
Em
2002 ele lançou um novo álbum, When I Was Cruel, viajando em turnê com uma nova banda, o Imposters (o Attractions com um baixista diferente, Davey Farragher). Costello separou-se de sua segunda esposa, Cait O’Riordan, no final do mesmo ano.
Em março de
2003, Elvis Costello & The Attractions foram incluídos no Hall da Fama do Rock and Roll. Em maio, seu casamento com a cantora de jazz canadense Diana Krall foi anunciado. Setembro viu o lançamento de North, um álbum de baladas ao piano. Em dezembro, Costello e Krall se casaram na mansão londrina de Elton John. Em 2004 a canção “Scarlet Tide” (co-escrita por Costello e T-Bone Burnett e usada no filme ‘’Cold Mountain’’) foi indicada ao Oscar; ele tocou-a na premiação com Alison Krauss, que a canta na trilha sonora oficial.
Em julho de
2004 o primeiro trabalho orquestral em larga larga escala de Costello, Il Sogno, foi apresentado em Nova York. O trabalho, um balé inspirado na obra “Sonho de Uma Noite de Verão” de William Shakespeare foi representado pela trupe de dança italiana Aterballeto, sendo um sucesso de crítica. Enquanto o escrevia, Costello propositalmente recusou-se a ouvir as interpretações anteriores de Mendelssohn e Britten em função de preservar sua própria originalidade. Uma gama de estilos e temas musicais foi usado para representar os diferentes elementos dos personagens. Il Sogno foi lançado em CD em setembro do mesmo ano pela Deustche Grammophon.
Costello também lançou outro álbum naquele mesmo mês: The Delivery Man, um álbum de rock gravado em Oxford, Miss. Composto em sua maioria de blues, country e folk, The Delivery Man foi aclamado pela crítica com um dos melhores álbuns de Costello, e dá continuação à busca pessoal de Elvis de lançar um disco diferente em cada um dos selos da gravadora Universal.
Ainda no contexto do álbum The Delivery Man, em outubro de
2005, Costello esteve no Brasil, desta vez não como "atração-extra" (como no Free Jazz de 1995), mas como principal atrativo do TIM Festival daquele ano. Fez 3 shows, nos quais realizou um memorável apanhado de sua carreira: um no Rio de Janeiro, outro em Belo Horizonte e ainda um em São Paulo. Neste último houve um comparecimento significativo de grandes nomes da música nacional.

Discografia
Álbuns
1. 1977 - My Aim Is True
2.
1978 - This Year's Model
3.
1979 - Armed Forces
4.
1980 - Get Happy!!
5.
1981 - Trust
6.
1981 - Almost Blue
7.
1982 - Imperial Bedroom
8.
1983 - Punch the Clock
9.
1984 - Goodbye Cruel World
10.
1986 - King of America
11.
1986 - Blood and Chocolate
12.
1989 - Spike
13.
1991 - Mighty Like a Rose
14.
1993 - The Juliet Letters
15.
1994 - Brutal Youth
16.
1995 - Kojak Variety
17.
1996 - All This Useless Beauty
18.
1996 - Costello & Nieve
19.
1998 - Painted from Memory, com Burt Bacharach
20.
2002 - When I Was Cruel
21.
2002 - Cruel Smile
22.
2003 - North
23.
2004 - The Delivery Man
24.
2004 - Il Sogno

Coletâneas
1. 1980 - Taking Liberties
2.
1980 - Ten Bloody Marys & Ten How's Your Fathers
3.
1987 - Out of Our Idiot
4.
1993 - 2½ Years
5.
2003 - Singles, Volume 1
6.
2003 - Singles, Volume 2
7.
2003 - Singles, Volume 3
(Esta seção está incompleta).

Relançamentos pela Rhino
Todos os álbuns de estúdio de Costello até 1996 (com exceção de ‘’The Juliet Letters’’) foram relançados de 2001 a 2005 pela Rhino Records, sob a supervisão do próprio Costello e apresentando, em cada caso, um disco bônus de lados-B, outtakes, faixas ao vivo, versões alternativas e/ou demos das músicas. O som foi remasterizado e Costello escreveu o encarte de cada álbum, com suas reflexões sobre as músicas e anedotas da época de gravação.
Os discos bônus de ‘’Almost Blue’’ e ‘’Kojak Variety’’ destacam-se particularmente por conter, cada um deles, praticamente um novo álbum de material que foi gravado na época ou não lançado, ou que saiu no lado-B de compactos.
O disco bônus de ‘’Get Happy’’ também se destaca, com 30 faixas adicionais que o transformaram num álbum duplo com 50 canções.

Álbuns em Tributo
1. 1998 - Bespoke Songs, Lost Dogs, Detours & Rendezvous - (vários artistas)
2.
2002 - Almost You: The Songs of Elvis Costello - (vários artistas)
3.
2003 - The Elvis Costello Songbook - Bonnie Brett
4.
2004 - A Tribute to Elvis Costello - Patrik Tanner

Filmografia
1979 estréia no cinema como 'The Earl of Manchester' em Americathon
1984 como ‘Henry Scully' na série de TV britânica Scully
1985 como o mágico inepto 'Rosco de Ville' em No Surrender
1987 como 'Hives the Butler' em Straight to Hell, estrelando Joe Strummer e Courtney Love
1997 como si mesmo em Spice World
1999 como si mesmo em Austin Powers: The Spy Who Shagged Me, tocando com Burt Bacharach
1999 como si mesmo em 200 Cigarettes
2001 como um defensor público e professor em Prison Song
2002 como si mesmo em How I Spent My Strummer Vacation, um episódio do The Simpsons
2003 Indicado ao Oscar na categoria “Melhor Canção Original” por “The Scarlet Tide” em Cold Mountain
2003 como 'Ben' no episódio “Farewell, Nervosa” da série Frasier
2003 apresentador convidado no The Late Show with David Letterman
2004 tocando a canção de Cole Porter "Let's Misbehave" em De-Lovely

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