quarta-feira, maio 26, 2010

Na Feira do Livro de Madri


Na feira

ANTONIO MUÑOZ MOLINA – Babelia - El País - 22/05/2010

Tradução de Antonio de Freitas

Não sei como encontrei pela primeira vez o caminho até o ‘Retiro’ e à Feira do Livro de Madri. Era 1970. Como fui à escola no tempo anterior à pedagogia, tenho boa memória para as datas e, portanto posso situar com precisão as lembranças. Era a primeira vez que viajava a Madri, a primeira vez que subia num trem, que pisava o território fantasma das estações à meia noite, com seus relógios iluminados e suas luzes vermelhas sinalizando a fronteira da escuridão ao final dos hangares. Viajava com meus avós maternos, que tinham planejado visitar a Feira do Campo, ‘El Escorial’ e o ‘Valle de los Caídos’, de passear pelo ‘Retiro’, pôr uma vela no ‘Cristo de Medinaceli’ e tomar uma cerveja com camarão numa taverna, ao parecer lendária, que se chamava ‘El Abuelo’. Na taverna do ‘Abuelo’, diziam com admiração as pessoas de minha província quando voltavam de Madri, se consumia tantos camarões que os pés afundavam entre as cascas quebradiças e tinha que se fazer um esforço heróico para passar entre os joviais bebedores de cerveja. Em tudo que contavam de Madri havia um esplendor que intrigava muito o menino gatuno que rondava as conversas dos adultos. O ‘Cristo de Medinaceli’ era o mais milagroso, o ‘Retiro’ tinha um bosque e uma extensão de água que podia parecer o mar, no ‘Valle de los Caídos’ estava a cruz mais alta do mundo, na praça de ‘Las Ventas’ somente tinham sucesso as grandes figuras das touradas, os camarões frescos e a cerveja espumosa do ‘Abuelo’ não tinham comparação. Mandavam postais e nelas o céu de Madri sobre a ‘Cibeles’ e a perspectiva da rua de Alcalá e sobre as torres da praça de Espanha havia um azul mais puro que o dos mares dos mapas.

A Feira do Campo foi um longo tormento de maquinarias esquentando ao sol de finais de maio e princípios de junho. No mesmo dia a excursão em ônibus ao ‘El Escorial’ e o ‘Valle de los Caídos’ nos confundiram num tédio de câmaras funerárias e esplanadas graníticas. Uma vaga rebeldia antifranquista me acentuava o mau humor de adolescente cansado de ser rebocado pelas expedições dos adultos. O Museu do Prado e o Museu do Exército se misturavam numa extenuante sucessão de quadros de santos e canhões. As águas do Retiro não eram essa espécie de mar que eu imaginava desde pequeno escutando os relatos fantasiosos dos adultos, mas uma grande piscina de água turva sem muito interesse para quem havia navegado desde antes de ter uso da razão pelos vibrantes mares do cinema.

De vez em quando eu escapava da vigilância dos meus avós e me aventurava fora da pensão para explorar Madri por minha conta, com a alegria e o medo de me encontrar sozinho numa cidade que parecia imensa. Eu me via como um adulto: tinha quatorze anos, fumava, vestia calças compridas mesmo fazendo calor de verão, me penteava repartindo o cabelo. Pela primeira vez em minha vida as ruas que eu caminhava estavam habitadas exclusivamente por desconhecidos. Meus olhos se perdiam detrás das mulheres. As mulheres em Madri eram mais altas, mais descaradas, mais jovens. Você as olhava nos olhos e elas mantinham o olhar. Você as olhava não por impertinência nem por desafio, mas porque ficava pasmado e não se dava conta da fixação provinciana com que se olhava com todos seus olhos. Fazia calor e as garotas vestiam minissaias e camisas negras coladas. Você podia encostar-se à sacada do quarto de pensão aberto no qual nunca cessava o clamor do tráfego e as imagens da cidade e das mulheres seguiam agitando-se na câmara escura da memória e não o deixava dormir, apesar do cansaço pelas caminhadas.

Não lembro se por casualidade ou de propósito desemboquei uma manhã na Feira do Livro. O único lugar onde até então eu havia visto muitos livros juntos era a biblioteca pública de Úbeda. Porém, a maioria se tratava de edições antigas, muito desgastadas, com capas de encadernação muito lúgubres, tudo de acordo com a atmosfera um pouco decrépita daquele lugar, com as lâmpadas baixas que não dissipavam a penumbra e com a tosse espectral de bibliotecários anciãos.

Eu não estava preparado para o assombro de tantos estandes alinhados à sombra fresca das árvores, de tantos livros recém impressos, com capas em cores vivas que exageravam seu efeito pelo fato de sua multiplicação. A Feira do Livro era onde se juntava a multidão de Madri, a amplidão do espaço, o tamanho das árvores, a largueza das perspectivas, a tontura da solidão e do medo soterrado de me perder e do nervosismo das mulheres, tudo junto. Os museus, as exposições agrícolas e as criptas funerárias do ‘El Escorial’ e do ‘Valle de los Caídos’ pertenciam a outro mundo com o qual eu, com minha soberba de adolescente caladão e zangado, não tinha nada a ver. Tinha a ver ir pela rua fumando um cigarro sem medo de que me flagrasse alguém da minha família numa cidade demasiado pequena na qual todo mundo me conhecia; era imaginar ver-me nas vitrines um pouco mais velho, havia deixado o cabelo crescer e vivia em Madri, e frequentava com desenvoltura os lugares onde se encontravam os escritores, os cafés, a Biblioteca Nacional, a Feira do Livro.

Na minha cidade, nas vitrines das papelarias, eu costumava ficar olhando as capas de uns poucos livros que permaneciam meses no mesmo lugar invariável, entre cadernos, pesa-papéis, álbuns de primeira comunhão, estojos de lápis de cores. Em algumas daquelas vitrines as cores das capas iam se desbotando ao passar do tempo. Em somente um posto da feira de Madri havia tantos livros que você podia ficar horas interas olhando sem ver a todos. Não lembro se vi a algum escritor, ainda que não acredito que tivesse reconhecido a algum. Os escritores que eu lia -Julio Verne, Dumas, Gustavo Adolfo Bécquer- estavam mortos há muito tempo, de modo que talvez não imaginasse que a literatura fosse uma profissão que alguém pudesse exercer no tempo presente. Eu às vezes me imaginava escritor, menos por vocação do que por fantasia caprichosa, como me imaginava também astronauta, correspondente de guerra e náufrago numa ilha deserta. Como um menino sozinho numa loja de brinquedos, fiquei embriagado entre os livros, o calor e a gente, olhando preços, contando o pouco dinheiro que levava, com muita cautela, porque haviam me advertido que Madri era uma cidade cheia de carteiristas. Absurdamente acabei comprando o ‘Martín Fierro’ e uma historia da Máfia. Voltei tão tarde à pensão que meus avós já temiam que estivesse perdido, que tivesse me acontecido algo, naquela cidade que no fundo nos dava tanto medo.

Programação da "LXIX Feira do Livro de Madri" de 27 de maio a 13 de junho

segunda-feira, maio 24, 2010

A mensagem da luta pelos direitos civis


A mensagem da luta pelos direitos civis

Uma mostra destaca o papel dos meios de comunicação na conquista das liberdades nos EUA

BARBARA CELIS - Nova York - 24/05/2010

Tradução de Antonio de Freitas

"Proibidos a cachorros, negros e mexicanos". Faz menos de cinquenta anos que se aboliram os onipresentes cartazes com esta advertência que povoavam o sul dos Estados Unidos, apesar de ainda haver muito que dizer a respeito do racismo atual contra os hispânicos de lugares como Arizona. Mas a sobre a segregação da população negra, a aprovação em 1964 da ‘Civil Rights Act’ marcou sua extinção oficial e hoje um presidente dessa etnia ocupa a Casa Branca. O sucesso da luta pelos direitos desses 12% da população, que continuou durante décadas sucessivas, provavelmente não haveria conseguido sem os protagonistas do movimento, desde Martin Luther King a Malcom X, passando pela ‘National Association for the Advancemente of Colored People’ (NAACP), caso não tivessem descoberto um importante aliado que entre a década de cinquenta e sessenta estava em plena transformação e foi de fundamental importância para a difusão de sua mensagem e a aceitação de sua luta: os meios de comunicação de massas.

Hoje pode parecer óbvio, uma vez que todos os movimentos sociais se apóiam inteligentemente na imprensa, mas nos anos cinquenta a televisão acabava de nascer e as revistas começavam a dar à fotografia uma importância que nunca havia tido. A exposição ‘For all the world to see: visual culture and the struggle for Civil Rights’ (Para que todo o mundo veja: cultura visual e luta pelos direitos civis), inaugurada quinta-feira (20 de maio) no ‘International Centre of Photography’ de Nova York, e aberta até o próximo dia 12 de setembro, explora o conjunto da cultura visual experimentada pelos Estados Unidos sobre a população negra e como seu uso pioneiro e inteligente por parte de seus protagonistas foi talvez seu melhor aliado.

Organizada de forma cronológica, a mostra começa com as imagens servis e depreciativas que mostrava os negros nas primeiras décadas do século XX. Em 1947 os líderes negros começaram a protestar contra esse tipo de iconografia. Walt Disney e seu filme ‘Song of the south’, sobre uma plantação cultivada por escravos, foi seu primeiro grande cavalo de batalha, com piquetes nos cinemas e cartazes que diziam "Queremos filmes sobre a democracia não sobre escravos". Entretanto, cada vez mais atores negros em papeis de igual para igual com os brancos iam aparecendo na televisão: as cadeias buscavam aumentar sua audiência e o racismo não era o caminho.

Em protestos como os de Birmingham de 1963 - que ficou célebre pela brutalidade policial - até as horas das manifestações e dos discursos foram pensadas em função da televisão: sair no jornal televisivo era então, num mundo sem Internet, um sucesso total com efeitos muito claros. A marcha sobre Washington de 1963, retransmitida ao vivo durante todo o dia pela CBS, foi talvez o momento crucial, como reconheceu Martin Luther King: "A marcha permitiu pela primeira vez que milhões de brancos vissem os negros embarcados numa ocupação séria. O estereotipo do negro sofreu um terrível golpe".

quarta-feira, maio 19, 2010

BRASIL/ESPAÑA - Uma aliança estratégica


BRASIL, Aliança para a nova economia

Presidente Lula, aos investidores:

"O Brasil aprendeu a ser sério. E é um caminho sem retorno"

O Presidente destaca no seminário internacional “Invertir en Brasil”, organizado pelo jornal espanhol EL PAÍS em parceria com jornal brasileiro Valor Econômico, que sua nação aspira a ser "um ator global" no concerto mundial

EL PAÍS - 19/05/2010

Tradução de Antonio de Freitas

Fiel a um estilo que combina a experiência de sua etapa sindical com as duas legislaturas comandando o Brasil, um caráter próximo e afável, porém direto e, em ocasiões, combativo, Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente brasileiro, que deixa este ano o cargo, ocupou o oratório que preside o seminário internacional sobre o futuro econômico de sua nação, organizado por EL PAÍS e Valor Econômico e falou, como Felipe González, de tudo um pouco. De crescimento, de perspectivas macroeconômicas, de desenvolvimento, de atrair mais investimento, mas também da ONU, da velha e da nova ordem global.

Precedido por Juan Luis Cebrián, conselheiro delegado do grupo PRISA, que o apresentou como um híbrido entre "Don Quixote e Sancho Pança" por seu idealismo e seu sentido comum, Lula destacou o sucesso que banha o Brasil na reta final de sua carreira política. "Vou terminar meu mandato com 14,5 milhões de novos trabalhadores", celebrou. Também, agregou, com 12 novas universidades que educam a 700.000 jovens a mais; tudo para um país com "gente, mercado e potencial". Mas, acima de tudo, "com capital humano".

Uma sociedade sólida

Para este último fator de crescimento, que melhorou substancialmente durante o governo Lula com relação a seus antecessores, o Presidente do Brasil encontra alguma explicação: "A economia brasileira é sólida porque a sociedade é sólida e participa no mercado". E um aviso: "O Brasil aprendeu a ser sério e entrou num caminho sem retorno. Venho pedir aos empresários espanhóis que invistam no Brasil, pois chegou o momento de que os brasileiros invistam na Espanha".

Essa manifesta seriedade deu pé a vaticínios do presidente: "O Brasil se transformará numa grande potencia. Está claro que nossos números são sólidos e que queremos ser um ator global". Um ator não somente econômico, como se entrevê nas suas palavras. Aqui lançou uma mensagem à ordem mundial que resultou após a Segunda Guerra Mundial, concretamente ao Conselho de Segurança -órgão decisório por excelência a que aspira Brasil-, inalterada desde 1945: "Quem está sentado numa poltrona não quer mudanças. Há a quem convêm que as Nações Unidas seja uma instituição Nações Unidas seja uma instituição fraca".

"Teremos problemas" se a ONU não mudar, acrescentou. Também abordou, ainda que de forma menor, seu acordo com a Turquia e Iran para dar uma saída ao conflito nuclear com este último país. Um acordo criticado, ironicamente, pelo próprio Conselho de Segurança no qual o Brasil espera poder sentar algum dia de forma permanente. "Necessitamos mais negociadores para levar a paz ao Oriente Médio", propôs. Seu adeus foi lapidário: "Chegou a hora do Brasil". Também se despediu, isso sim, de seus "aliados espanhóis".


Beatles esquecidos na gaveta


Beatles esquecidos na gaveta

Postas à venda 38 fotografias inéditas do quarteto de Liverpool
MIRIAM LAGOA - Madrid – El País - 19/05/2010

Tradução de Antonio de Freitas

Este ano completou 40 anos da separação do grupo de música mais influente. Quatro décadas que aumentaram a lenda do quarteto de Liverpool e nas quais não se deixou de reeditar, descobrir e valorizar qualquer material relacionado com a banda de Paul McCartney, John Lennon, George Harrison e Ringo Starr. O último, ou penúltimo dependendo do ângulo que se veja, são 38 instantâneas inéditas que o fotógrafo britânico Paul Berriff tomou a princípios dos anos 60 e que permaneceram esquecidas entre milhares de negativos armazenados num sótão.

As fotografias mostram
os Beatles entre 1963 e 1964, quando começava a fulgurante carreira do quarteto. Berriff consciente do tesouro econômico que tem entre as mãos pôs à venda 49 cópias de cada foto a um preço de 2.495 libras (algo mais de 2.900 euros) cada uma. As imagens não revelam nada novo, mas tem o valor de terem sido tomadas na época em que uns juveníssimos Beatles começaram a explorar a imagem que os fez famosos: pulcros trajes escuros e franjinhas traçadas milimetricamente. Uma época também na qual eles ainda eram acessíveis aos fotógrafos de imprensa, que foram vetados a partir de 1965 quando as imagens do grupo eram registradas unicamente pelo fotógrafo oficial contratado pela discográfica.

Paul Berriff explicou que tomou as fotografias quando tinha 16 anos e trabalhava como estagiário no jornal
Yorkshire Evening Post. As instantâneas, em preto e branco, mostram os Beatles em atitude relaxada e brincalhona antes de vários shows em Liverpool, Manchester, Leeds e Huddersfield. O fotógrafo britânico passava duas ou três horas com a banda antes de cada atuação e tinha total acesso aos camarins dos quatro de Liverpool.

Berriff, que também fotografou o Queen e os Rolling Stones, se mostrou surpreso por seu esquecimento e pelo bom estado em que se encontram as imagens depois de haver estado mais de 45 anos guardadas em várias caixas. No passado mês de abril estiveram expostas num museu de Londres e agora podem ser compradas através da web
The Beatles Hidden Gallery. Um esquecimento de 40 anos que pode ser a aposentadoria dourada para Berriff.

segunda-feira, maio 17, 2010

Mercosul e União Europeia reatam diálogo comercial




VI Cúpula UE-América Latina

O Mercosul e a União Europeia reatam o diálogo para um acordo comercial

A França e outros nove países alegam que um acordo prejudica os agricultores europeus

VERÓNICA CALDERÓN - Madrid – El País - 17/05/2010

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

A União Europeia e o bloco do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) manterão hoje sua primeira cúpula desde que as negociações para um acordo comercial entre eles fracassaram em 2004. Um grupo de 10 países, encabeçados pela França, advertiu que um eventual acordo prejudicaria os agricultores europeus.

A Espanha, que está na presidência da União Europeia, havia marcado como uma de suas prioridades reatar as negociações com o bloco econômico sul-americano. A agricultura é um dos principais temas do debate hoje. Precisamente este ponto foi o que causou a ruptura das negociações anteriores entre a UE e o Mercosul há seis anos. O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, calcula que o beneficio para as duas partes alcançaria 4,5 bilhões de euros pelo incremento das exportações.

Barroso afirmou que a UE vigiaria que o acordo não tivesse efeitos negativos para os produtores da eurozona. Outros assuntos da agenda são a competitividade dos agricultores europeus e a igualdade entre homens e mulheres nas zonas rurais. O Mercosul, com 297 milhões de pessoas e o quinto PIB mundial, não firmou um acordo similar com nenhum outro país ou região. O compromisso serviria também para consolidar as exportações europeias para a zona. Europa ainda é o segundo sócio comercial da região, porém, continuando o ritmo dos investimentos da China, o país asiático vai superá-la em 2020.

Contudo, França e outros nove países - Irlanda, Grécia, Hungria, Áustria, Luxemburgo, Polônia, Finlândia, Romênia e Chipre -, afirmam que a assinatura de um acordo prejudicaria o setor agrícola da UE. A principal organização agrária francesa, a Federação Nacional de Sindicatos de Exploradores Agrícolas (FNSEA), pediu ao presidente Nicolas Sarkozy que pressionasse o Conselho Europeu para acabar com as negociações. "O custo que suportaria a agricultura europeia é demasiado grande", afirmou a FNSEA num comunicado, que estima as perdas para a pecuária europeia entre 3 e 5 bilhões de euros.

A França é o principal beneficiário das subvenções da UE para a agricultura. Os 10 países, numa declaração conjunta, lamentaram que as negociações tivessem começado sem um debate político interno entre os 27. Sua pressão logrou, contudo, que a agricultura se convertesse em um dos principais temas da discussão de hoje.

Mercosul, principal exportador de carne para a EU

Mesmo sem acordo, os países do Mercosul já são os principais exportadores de carne para a União Europeia. Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai subministram 82% da carne importada em 2009 e 64% dos produtos avícolas, segundo um informe da Comissão Europeia difundido este mês. O Brasil, sozinho, é o principal exportador para o mercado europeu. Um acordo do Mercosul com os 27 consolidaria o país sul-americano como o maior exportador mundial de alimentos.

À cúpula comparecerão o presidente da UE, Herman Van Rompuy, o presidente de governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, e o próprio Barroso. Também participarão os mandatários dos quatro países do Mercosul com exceção do uruguaio José Mujica, que não viajará a Madri por motivos de saúde.

domingo, maio 09, 2010

ENTREVISTA LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA - en español


ENTREVISTA: LULA: EL CARNAVAL Y NO LA GUERRA Luiz Inácio Lula da Silva Presidente de Brasil

"Hay que cambiar la ONU. Si sigue así, no servirá para el gobierno global"

Un socialismo del sentido común.

JUAN LUIS CEBRIÁN – El País - 09/05/2010

"Prefiero un carnaval a una guerra". Posa su mano de obrero sobre mi rodilla, en un ademán de complicidad, de camaradería, de evidente franqueza, porque esa es su fuerza y su convicción, la de comportarse como lo que es, como verdaderamente le miran los brasileños, "soy uno de ellos, uno como ellos", viene de donde ellos vienen, habla como ellos hablan, "no soy un extraño en el nido", y hasta que llegó al poder vistió como ellos visten, "aunque trabajé durante veintisiete años bajo un overol nunca me encontré a gusto; con dos meses de corbata no tuve dificultad en acostumbrarme a ella, es una bonita prenda". Me viene a las mientes la reflexión de Sancho Panza antes de ocuparse como regidor de la ínsula, "vístanme como quisieren, que de cualquier manera que vaya vestido seré Sancho Panza", porque la sotana no hace al cura, y Lula es Lula cualquiera que sea su atuendo, "me comunicaron que tenía que ir de frac a la cena de palacio con el rey de España, mandé decirle a Juan Carlos que yo no usaba eso y aquí en Brasil muchos me criticaron, ¡qué falta de elegancia, de capacidad para ejercer la Presidencia!, hasta que el Rey llamó, venga como usted quiera, pues de traje y corbata, porque no quiero ser visto como un extraño en mi pueblo, lo que pasa es que la liturgia del poder está toda preparada para alejarte de aquél, cuando eres candidato vas a cielo descubierto, saludando, pero una vez llegas a presidente te montan en un coche blindado y nunca más ves el rostro de los ciudadanos".

Me pregunto a qué se parecen más las huelgas, si a las guerras o a los carnavales. Luiz Inácio Lula da Silva fraguó su carrera política en las movilizaciones populares, en la agitación callejera y en la lucha a pie de obra en defensa de los derechos de los trabajadores. Casi millón y medio de obreros brasileños fueron a la huelga, capitaneados por él, durante el año 1979, y a partir de esa fecha este correoso dirigente sindical emprendió una carrera política llena de altibajos que le llevaría un cuarto de siglo más tarde a la presidencia de la República. "Es notable que ni yo ni mi vicepresidente, un empresario de éxito, tengamos título universitario", señala con cierto tono de orgullo que irrita a la oposición por la ambigüedad que ese mensaje puede representar en un país en el que la educación es propósito fundamental del Gobierno y empeño necesario para acabar con las desigualdades y la pobreza. Pero lo que él quiere transmitir es que la democracia funciona en Brasil, que no son los méritos profesionales, académicos ni de cualquier otro género, sino la voluntad de los electores la que es decisiva para llegar al poder. Un poder del que Lula se apeará, al menos formalmente, el próximo mes de diciembre después de ocho años de ejercicio en el cargo, y del que sale rodeado de tal popularidad que algunos esperan verle levitar en cualquier momento, como hacía el curilla de García Márquez en Cien años de soledad, sólo que a base de ingerir café brasileño, que él consume a cada rato con avidez, en vez de tazones de chocolate.

"El momento más extraordinario del poder es el periodo entre el día de la victoria y la toma de posesión. Luego uno ve que las cosas no son tan fáciles, estás ante una carrera de obstáculos. Yo tendría motivos de sobra para decir que a mí el poder me ha dado más alegrías que tristezas, porque pocas veces en la historia de Brasil sucedieron cosas tan importantes como durante mi gobierno, pero me iré lamentando lo que no he podido hacer, la reforma del Estado, por ejemplo. No hemos sido capaces de procurarle mayor agilidad; desde que tomamos una decisión hasta que se ejecuta nos topamos con quinientos obstáculos en nombre de la democracia. Está el Congreso Nacional, con sus dos Cámaras, la Administración pública, los sindicatos, la justicia, las cuestiones ambientales, donde las ONG son muy activas... o sea, que pasan dos años y medio o tres antes de que un proyecto cristalice. Hace falta un consenso que nos permita eliminar tantas dificultades y retrasos. No podemos renunciar a la fiscalización, pero tampoco es aceptable utilizarla como una manera de impedir que se hagan las cosas que Brasil necesita".

Su pragmatismo, su campechanía, su sentido común, todo en él recuerda al gobernador de la Barataria. Casi ocho años después de ocupar la primera magistratura de la República, sus maneras personales, su método de trabajo, su aire decidido y socarrón son los del Lula joven que, huyendo de la burocracia sindical, se reunía por las tardes en la taberna regentada por Tía Rosa en San Bernardo del Campo, donde él todavía mantiene el domicilio familiar. Allí, con sus compañeros de lucha, un grupo de amigos antes que un comité organizado, preparaban entre chato y chato las movilizaciones en defensa de un mayor salario para los obreros. Ninguna ideología alimentaba sus acciones, que enseguida estuvieron apoyadas, sin embargo, por los movimientos de base católicos. "El PT no hubiese existido sin la ayuda de millares de curas y comunidades cristianas de Brasil, le debe mucho al trabajo de la Iglesia, a la teología de la liberación, a los sacerdotes progresistas. Todo ello contribuyó a mi formación política, a la construcción del PT y a mi llegada al poder. Mi relación personal con la Iglesia católica ha sido y sigue siendo muy fuerte, pero somos un país laico, tratamos a todas las religiones con respeto". Le interrumpe por un momento su jefe de gabinete, Gilberto Carvalho, "este era seminarista, iba para cura, y lo abandonó para venirse al PT, para construir conmigo", y despacha un par de asuntos a la sombra de un crucifijo gigantesco que preside su mesa de trabajo, mientras yo me barrunto que para algunos peteros de la época la agitación política era también una especie de sacerdocio. La influencia religiosa ("esta es la Iglesia más progresista de América Latina, probablemente del mundo") es evidente también en el tratamiento de las leyes de aborto en Brasil, aunque el presidente busca la equidistancia. El Vaticano "tiene una actitud muy conservadora sobre este punto. En Brasil, el aborto está prohibido, salvo en caso de violación de la madre. Yo, como ciudadano, soy contrario al aborto, y no creo que haya ninguna mujer que se muestre favorable a él porque genera un gran sufrimiento a quien lo practica. Pero como jefe de Estado pienso que se trata de una cuestión de salud pública. Debemos proteger a las chicas que tratan de abortar ellas mismas metiéndose agujas en el útero y cosas así. El Estado tiene la obligación de atender a esas personas".

Para los progres europeos, que adoran a Lula, una declaración de este género puede resultar decepcionante, tanto como la que él mismo ha hecho muchas veces en el sentido de que no se considera de izquierdas. "Mi trayectoria, mi perfil político, mi vida en el sindicato, la creación del PT, me caracterizan, desde luego, como un izquierdista. Pero el propio PT es una novedad en la izquierda mundial. Nació contra todos los dogmas de los partidos marxistas-leninistas, que obedecían fielmente a Rusia o China. Al principio era algo parecido a una hinchada del fútbol; un grupo de obreros que, junto con el movimiento social, la Iglesia católica y algunos intelectuales que habían creído y participado en la lucha armada, decidieron crear un partido político. No teníamos entonces un programa definido y a mí nunca me gustó que me encasillaran, menos aún al asumir la presidencia. Un jefe de Estado no es una persona, es una institución, no tiene voluntad propia todo el santo día, sino que tiene que llevar a cabo los acuerdos que sean posibles. He aprendido eso en el poder y creo que ha sido bueno para Brasil. No puede ser que me guste un presidente porque es de izquierdas y otro no, por ser derechista. Me llevé bien con Aznar y me llevo bien con Zapatero; tengo que relacionarme con Piñera en Chile igual que lo hice con Bachelet. En el ejercicio del poder soy un ciudadano, ¿cómo diría...? multinacional, multiideológico, ¿no?".

Con sus ojos brillantes, inquietos, reclama mi aprobación para ese pragmatismo, y se transforma de pronto en un agitador de la torcida, la hinchada brasileña; se levanta, se sienta, se vuelve a erguir, sonríe primero, luego se estremece, se desternilla, te guiña el ojo, busca la cercanía, el cariño, soy un brasileño más, un ciudadano más de este país que es capaz de contagiar la alegría, de este país con trescientos días de sol al año, de este país inmenso, autosuficiente, pacífico, "del que estamos tratando de eliminar cincuenta o sesenta años de atraso, de desconfianza, años en que nadie quería invertir aquí. Y por eso estamos construyendo un capitalismo moderno, el Estado de bienestar. Cuando entré en el Gobierno, Brasil no tenía crédito, no tenía capital de trabajo, ni financiación, ni distribución de la renta. ¿Qué coño de capitalismo era ese? Un capitalismo sin capital. Resolví entonces que era preciso primero construir el capitalismo para después hacer el socialismo; hay que tener qué distribuir antes de hacerlo. Si el país no tiene nada, no hay nada que distribuir, y los empresarios tienen que saber que hay que pagar salarios un poco mayores para que la gente pueda comprar los productos que fabrican. Esto ya lo decía Henry Ford en 1912".

Estamos en plena campaña electoral y Lula aprovecha para hacer la propaganda de su partido, se le escapan algunas críticas acerbas, probablemente injustas, contra su antecesor, el socialdemócrata Fernando Henrique Cardoso, tiempo atrás compañero suyo en la lucha contra la dictadura y con el que ahora no se muestra en absoluto generoso. Pero el milagro brasileño empezó precisamente con Cardoso, un profesor respetado y un demócrata ejemplar que niveló las cuentas públicas y venció la inflación. Lula hace un balance diferente. "Hoy el Banco de Brasil tiene más crédito que el de todo el país cuando llegué al poder. De modo que cuando yo deje la presidencia habremos creado más de catorce millones de puestos de trabajo en ocho años. Sólo China e India pueden competir con una realidad así". Le interrogo entonces sobre si eso es un triunfo del capitalismo y enseguida se apresura a aclarar que es un triunfo de su Gobierno "porque ha tenido el coraje de enfrentarse a la crisis, en vez de quejarse: haciendo inversiones, desgravando la actividad en sectores clave para la economía, emprendiendo muchas obras públicas. Si Brasil mantiene en los próximos cinco años seriedad en las políticas fiscal y monetaria, en las inversiones y el control de la inflación, lo tiene todo para transformarse en una potencia respetada en el mundo. Si la economía sigue creciendo entre un 4,5% y un 5,5%, en 2016 puede constituir la quinta economía mundial".

No sé si descubro rastros de la herencia portuguesa en esta ensoñación un poco hiperbólica del presidente, que le hace por momentos alejarse de la sesuda prudencia de Sancho para asemejarle más a la locura idealista de su señor don Quijote, porque mientras Lula habla, las encuestas, allá fuera, siguen dando probable vencedor, aunque por escaso margen, a José Serra, candidato del PSDB, el partido de Cardoso. "Gane el que gane, nadie hará ningún disparate; el pueblo quiere seguir caminando y no volver atrás. Pero déjeme decirle que yo no veo la posibilidad de que perdamos las elecciones". Muchos piensan que si así sucediera, no sería por los méritos de Dilma, la candidata del PT, una antigua guerrillera y una política eficaz, pero sin el carisma que unas elecciones presidenciales demandan, sino por el formidable apoyo que le presta el propio Lula, cuya personalidad lo impregna todo de lulismo, "sí, ya sé que mucha gente, para justificarse, dice, a mí no me gusta el PT, me gusta Lula; gente de derechas, claro. Pasa con otros líderes políticos, Felipe González, por ejemplo. Normalmente las figuras públicas estamos menos ideologizadas que los partidos y tenemos la capacidad individual de congregar en torno nuestro gentes que de ninguna manera se sienten cercanas a nuestras formaciones. Pero no creo que haya un 'lulismo' como tal, prefiero saber que vamos a fortalecer la democracia y que los partidos políticos van a saber organizarse y ser fuertes".

En cualquier caso parece descontada la continuidad en la política económica, que Lula salvaguardó desde un principio nombrando a un antiguo militante del partido de Cardoso gobernador del Banco central. La consecuencia de esas políticas ha sido la prosperidad que permite situar al país entre las potencias emergentes agrupadas en torno a lo que ha dado en llamarse los BRIC (Brasil, Rusia, India y China). Junto a ellos, Lula ha hecho valer su voz afirmando su independencia como un protagonista de la política internacional singular e inclasificable. ¿Está camino su país de convertirse en una superpotencia? ¿Podría hacerlo sin ser poseedor -el único de los BRIC en esta circunstancia- del arma atómica? "La Constitución prohíbe las actividades nucleares salvo para fines pacíficos, están prohibidas, ¿quiere verlo?", me señala acuciante con su mano mutilada el artículo 21, inciso 23, "el presidente no decide en las cuestiones nucleares, es el Congreso, y no tenemos interés en ser una potencia militar si no es del tamaño de nuestra soberanía. Necesitamos unas Fuerzas Armadas adecuadas para garantizar la seguridad del pueblo, mantener una política de defensa respetable. No queremos invadir ningún país, pero tampoco que nos invadan a nosotros...", le interrumpo, entre irónico y risueño, invadir Brasil me parece difícil, presidente, una tarea casi titánica, y él impertérrito, "no se puede menospreciar la locura de algunos seres humanos, es preciso cuidarse". ¿Cuidarse de quién? No creo que sea de Chávez ("un hombre muy inteligente, aunque a veces comete equivocaciones y él lo sabe") ni de Evo ("un retrato de su pueblo, nadie lo representa mejor que él; en el tema del petróleo, yo comprendí que Brasil tenía que pagar mejor a Bolivia, no peleé con Evo, porque él tenía derecho") ni de Colombia, Argentina o Uruguay ("Brasil ha trabajado mucho con ellos para consolidar la democracia en su plenitud. Tenemos que generar una política de confianza. La doctrina utilizada antes por las grandes potencias era considerar a Brasil como enemigo de América Latina, la gran amenaza; nosotros estamos destruyendo esa visión negativa y demostrando en cambio que podemos ser su gran aliado").

El lulismo, si es que existe, hunde sus raíces en el sindicalismo, la lucha como presión y el acuerdo como respuesta. "El llamado mundo desarrollado tiene que comprender que la geopolítica ha cambiado. La democratización de África y el crecimiento de países como China, India y algunos de América del Sur sugiere una nueva dimensión. Yo no quiero la guerra, soy un hombre de diálogo, y en la cuestión nuclear Brasil tiene una política muy definida. Quiero agotar hasta el último minuto las posibilidades de un pacto con el presidente de Irán para que pueda seguir enriqueciendo uranio, teniendo nosotros la tranquilidad de que sólo lo va a utilizar para fines pacíficos. Mi límite son las decisiones de la ONU, a la que, por cierto, pretendo cambiar porque tal y como está representa muy poco. ¿Por qué Brasil no es miembro del Consejo de Seguridad? ¿Por qué no lo es India? ¿Por qué no hay ningún Estado africano? Si la ONU continúa así de débil, sin representatividad, con países con derecho de veto, nunca va a servir correctamente al gobierno global que se necesita".

Felipe González dice que los ex presidentes son como los jarrones chinos. Todo el mundo en casa sabe que se trata de piezas valiosas que merece la pena conservar, aunque no necesariamente aprecian su belleza y la gente no sabe dónde colocarlos: estén donde estén, siempre estorban el paso.
A partir del próximo mes de diciembre, Luiz Inácio Lula da Silva, uno de los políticos más carismáticos, admirados y sorprendentes del último medio siglo, engrosará esa colección de grandes porcelanas. Los visitantes de los museos de cera venerarán su imagen, como la de Lincoln, la de Mandela, la de tantos grandes hombres capaces de surgir desde la nada. Lleno de vida, desbordante de ideas, no le imagino retirado en su piso de San Bernardo, compartiendo con sus vecinos las nostalgias de cualquier tiempo pasado. "El mejor servicio que puede prestar un ex presidente de la República es el de estar callado, dejar gobernar a quien gane las elecciones y él permanecer en silencio". Al buen callar llaman Sancho, pero yo no imagino así a Lula cuando hay tanto que denunciar, tanto que demandar, tanto que proponer. Entonces, quizá se limite a estar ausente, o lejano. "Voy a salir del Gobierno habiendo cosechado un montón de políticas exitosas y quiero compartir ese aprendizaje, esa auténtica lección vital, con países más pobres de América Latina y de África. No sé si lo haré a través de una fundación, porque en ningún caso quiero emprender nada que no esté en consonancia con el Gobierno. Sólo quiero transmitir a los demás la experiencia que adquirí, porque los pobres no tienen acceso a los gobernantes, los pobres no van a los cócteles, claro, y eso que no hay político que gane una elección hablando mal de ellos, puede denostar a los banqueros, a los grandes empresarios, pero a los pobres... de ninguna manera, en campaña electoral un pobre es la cosa más extraordinaria del mundo. Eso sí, una vez que el candidato gana la votación termina su mandato sin reunirse con un pobre ni una sola vez, sólo sabe que existen por lo que lee en los periódicos, no hay interacción, no hay vínculo. Yo, las próximas navidades, cuando mi periodo llegue a su fin, quiero invitar de nuevo a los cartoneros de São Paulo, hace ocho años que me reúno con ellos en palacio por esas fechas (también lo he hecho con los sin casa, con los okupas), y hemos comprobado que esa gente no quiere parar de recolectar papel, pero aspira a una existencia más digna, o sea, que organizamos cooperativas, centenares de ellas en todo Brasil, financiadas por el Estado, que permiten trabajar a cientos de miles de personas, capaces de llevar todos los días a su casa algo que comer gracias al resultado de su trabajo".

Cuando todo eso suceda, el palacio presidencial ya habrá sido reconstruido. De momento, Lula se aloja en unas oficinas prestadas del centro cultural del Banco de Brasil mientras los operarios se esfuerzan en recuperar las ajadas estructuras de Planalto, cuya remozada construcción no pudo estar a punto para la celebración del cincuentenario de Brasilia. Pero el próximo 23 de diciembre el presidente se despedirá de sus cartoneros paulistas en los aposentos elegantes y sobrios destinados al primer magistrado de la nación. Quizá lo haga pensando, como Sancho en su partida, que "saliendo yo desnudo como salgo, no es menester otra señal para dar a entender que he gobernado como un ángel". Seguro estoy, al menos, de que el cronista de ese momento venidero podrá de nuevo relatarlo con las mismas palabras de Cervantes: "Abrazáronle todos, y él, llorando, abrazó a todos, y los dejó admirados, así de sus razones como de su determinación tan resoluta y tan discreta". Vale.

sábado, maio 08, 2010

Walter Salles filma 'On the Road'

Walter Salles filma 'On the Road'

Gregorio Belinchón – Version muy original - blogs.elpais.com

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

Durante décadas, qualquer cineasta indie sonhou com a possibilidade de adaptar 'On the Road', de Jack Kerouac, título mítico da literatura estadunidense, uma viagem desenfreada a finais dos anos quarenta que se converteu no livro chave da geração beat: Kerouac (à direita na foto), Allen Ginsberg, William S. Burroughs e Neal Cassady (à esquerda na imagem). Faz tempo que os direitos de adaptação para o cinema foram comprados por Francis Ford Coppola, que os colocou nas mãos do diretor brasileiro Walter Salles. Ontem o projeto acelerou: as gravações começarão em agosto e entre os protagonistas estará Kristen Stewart, a garota de Crepúsculo.

Finais dos anos quarenta. Dois viajantes enlouquecidos, dois hipsters como Dean Moriarty -Kerouac o define como o grande heroi beatnik, "um demente, um anjo, um mendigo"- e seu amigo Sal Paradise, atravessam os Estados Unidos de ponta a ponta. 'On the Road' foi publicado em 1957, apesar de escrito entre 1948 e 1949, anos em que Kerouac realizou as viagens que descreve no livro. Sob o nome de Moriarty se esconde Neal Cassady, e sob o de Paradise, narrador do romance, o próprio Kerouac. Drogas, álcool, estradas, uma América até então nunca mostrada... e agora, por fim, levada ao cinema.

Francis Ford Coppola sempre teve em mente o poder deste relato, além da dificuldade de passar para a tela esse estilo inconfundível de escrita espontânea, muito próxima ao be bop do jazz. E defendeu a pureza de sua adaptação, contratando para dirigí-la o brasileiro Walter Salles (Estação Central do Brasil). Na realidade, Salles já trasladou para a tela outra viagem mítica, a de um jovem médico chamado Ernesto Che Guevara em 'Diários da Motocicleta'. Em 2006 entregaram-lhe a direção de 'On the Road' e ontem se anunciou o elenco: Sam Riley, que deu vida ao músico Ian Curtis em 'Control', será o álter ego de Kerouac; Garret Hedlund, que veremos em 'TRON legacy', interpretará a Moriarty / Cassady, e buscando um grande atrativo comercial -sem negar seu talento interpretativo- Kristen Stewart (a Bella de 'Crepúsculo') encarnará a sua mulher Marylou. As filmagens começam em agosto próximo. Um grande desafio para Salles, porque milhões de leitores vigiarão que 'On the Road' filme não se distancie nem um milímetro de 'On the Road' romance. O roteiro é obra do porto-riquenho José Rivera, homem de confiança de Salles e candidato ao Oscar em 2005 por seu trabalho em 'Diários da Motocicleta'.

sexta-feira, maio 07, 2010

O aeroporto de Tempelhof se converte em parque


O aeroporto de Tempelhof se converte em parque

O histórico aeródromo de Berlim, crucial no combate ao bloqueio comunista de Berlim durante a guerra fria, foi fechado em 2008 após 80 anos em serviço

EL PAÍS - 07/05/2010

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

O aeroporto berlinense de Tempelhof, criado nos anos 20 do século passado, foi o primeiro grande aeródromo europeu. Foi vital para as operações nazistas e após a II Guerra Mundial, no começo da guerra fria, Tempelhof serviu de
ponte aérea estadunidense para romper o bloqueio soviético. Porém, a finais de 2008 o governo regional fechou-o devido seu alto déficit e o plano para a construção de um aeroporto novo em 2011. Após o polêmico fechamento, seu futuro era incerto. Contudo, neste fim de semana, terá por fim um novo uso. Seus mais de 300 hectares se converterão num novo parque para a capital alemã.
Berlim conta para este projeto com a agência Project GMBH Adlershof, responsável pelo desenvolvimento, planificação e consulta sobre planos de construção e administração de grandes cidades. Os 380 hectares de Tempelhof, uma área maior que o Central Park de Nova York, situado dentro da cidade, ao sul, poderão ser usados desde o sábado 8 de maio como lugar de encontro para passear, jogar, fazer pic-nic, etc. Um lugar histórico que os berlinenses não querem perder.