segunda-feira, maio 24, 2010

A mensagem da luta pelos direitos civis


A mensagem da luta pelos direitos civis

Uma mostra destaca o papel dos meios de comunicação na conquista das liberdades nos EUA

BARBARA CELIS - Nova York - 24/05/2010

Tradução de Antonio de Freitas

"Proibidos a cachorros, negros e mexicanos". Faz menos de cinquenta anos que se aboliram os onipresentes cartazes com esta advertência que povoavam o sul dos Estados Unidos, apesar de ainda haver muito que dizer a respeito do racismo atual contra os hispânicos de lugares como Arizona. Mas a sobre a segregação da população negra, a aprovação em 1964 da ‘Civil Rights Act’ marcou sua extinção oficial e hoje um presidente dessa etnia ocupa a Casa Branca. O sucesso da luta pelos direitos desses 12% da população, que continuou durante décadas sucessivas, provavelmente não haveria conseguido sem os protagonistas do movimento, desde Martin Luther King a Malcom X, passando pela ‘National Association for the Advancemente of Colored People’ (NAACP), caso não tivessem descoberto um importante aliado que entre a década de cinquenta e sessenta estava em plena transformação e foi de fundamental importância para a difusão de sua mensagem e a aceitação de sua luta: os meios de comunicação de massas.

Hoje pode parecer óbvio, uma vez que todos os movimentos sociais se apóiam inteligentemente na imprensa, mas nos anos cinquenta a televisão acabava de nascer e as revistas começavam a dar à fotografia uma importância que nunca havia tido. A exposição ‘For all the world to see: visual culture and the struggle for Civil Rights’ (Para que todo o mundo veja: cultura visual e luta pelos direitos civis), inaugurada quinta-feira (20 de maio) no ‘International Centre of Photography’ de Nova York, e aberta até o próximo dia 12 de setembro, explora o conjunto da cultura visual experimentada pelos Estados Unidos sobre a população negra e como seu uso pioneiro e inteligente por parte de seus protagonistas foi talvez seu melhor aliado.

Organizada de forma cronológica, a mostra começa com as imagens servis e depreciativas que mostrava os negros nas primeiras décadas do século XX. Em 1947 os líderes negros começaram a protestar contra esse tipo de iconografia. Walt Disney e seu filme ‘Song of the south’, sobre uma plantação cultivada por escravos, foi seu primeiro grande cavalo de batalha, com piquetes nos cinemas e cartazes que diziam "Queremos filmes sobre a democracia não sobre escravos". Entretanto, cada vez mais atores negros em papeis de igual para igual com os brancos iam aparecendo na televisão: as cadeias buscavam aumentar sua audiência e o racismo não era o caminho.

Em protestos como os de Birmingham de 1963 - que ficou célebre pela brutalidade policial - até as horas das manifestações e dos discursos foram pensadas em função da televisão: sair no jornal televisivo era então, num mundo sem Internet, um sucesso total com efeitos muito claros. A marcha sobre Washington de 1963, retransmitida ao vivo durante todo o dia pela CBS, foi talvez o momento crucial, como reconheceu Martin Luther King: "A marcha permitiu pela primeira vez que milhões de brancos vissem os negros embarcados numa ocupação séria. O estereotipo do negro sofreu um terrível golpe".