segunda-feira, maio 17, 2010

Mercosul e União Europeia reatam diálogo comercial




VI Cúpula UE-América Latina

O Mercosul e a União Europeia reatam o diálogo para um acordo comercial

A França e outros nove países alegam que um acordo prejudica os agricultores europeus

VERÓNICA CALDERÓN - Madrid – El País - 17/05/2010

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

A União Europeia e o bloco do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) manterão hoje sua primeira cúpula desde que as negociações para um acordo comercial entre eles fracassaram em 2004. Um grupo de 10 países, encabeçados pela França, advertiu que um eventual acordo prejudicaria os agricultores europeus.

A Espanha, que está na presidência da União Europeia, havia marcado como uma de suas prioridades reatar as negociações com o bloco econômico sul-americano. A agricultura é um dos principais temas do debate hoje. Precisamente este ponto foi o que causou a ruptura das negociações anteriores entre a UE e o Mercosul há seis anos. O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, calcula que o beneficio para as duas partes alcançaria 4,5 bilhões de euros pelo incremento das exportações.

Barroso afirmou que a UE vigiaria que o acordo não tivesse efeitos negativos para os produtores da eurozona. Outros assuntos da agenda são a competitividade dos agricultores europeus e a igualdade entre homens e mulheres nas zonas rurais. O Mercosul, com 297 milhões de pessoas e o quinto PIB mundial, não firmou um acordo similar com nenhum outro país ou região. O compromisso serviria também para consolidar as exportações europeias para a zona. Europa ainda é o segundo sócio comercial da região, porém, continuando o ritmo dos investimentos da China, o país asiático vai superá-la em 2020.

Contudo, França e outros nove países - Irlanda, Grécia, Hungria, Áustria, Luxemburgo, Polônia, Finlândia, Romênia e Chipre -, afirmam que a assinatura de um acordo prejudicaria o setor agrícola da UE. A principal organização agrária francesa, a Federação Nacional de Sindicatos de Exploradores Agrícolas (FNSEA), pediu ao presidente Nicolas Sarkozy que pressionasse o Conselho Europeu para acabar com as negociações. "O custo que suportaria a agricultura europeia é demasiado grande", afirmou a FNSEA num comunicado, que estima as perdas para a pecuária europeia entre 3 e 5 bilhões de euros.

A França é o principal beneficiário das subvenções da UE para a agricultura. Os 10 países, numa declaração conjunta, lamentaram que as negociações tivessem começado sem um debate político interno entre os 27. Sua pressão logrou, contudo, que a agricultura se convertesse em um dos principais temas da discussão de hoje.

Mercosul, principal exportador de carne para a EU

Mesmo sem acordo, os países do Mercosul já são os principais exportadores de carne para a União Europeia. Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai subministram 82% da carne importada em 2009 e 64% dos produtos avícolas, segundo um informe da Comissão Europeia difundido este mês. O Brasil, sozinho, é o principal exportador para o mercado europeu. Um acordo do Mercosul com os 27 consolidaria o país sul-americano como o maior exportador mundial de alimentos.

À cúpula comparecerão o presidente da UE, Herman Van Rompuy, o presidente de governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, e o próprio Barroso. Também participarão os mandatários dos quatro países do Mercosul com exceção do uruguaio José Mujica, que não viajará a Madri por motivos de saúde.