A questão da necessidade dos EUA assumirem seu papel imperial, sem nenhum tipo de complexos e de maneira consciente, diante do fato de serem hoje em dia uma potência com poderes incomparáveis na história, assume o centro das discussões. Como afirma Xavier Batalla, para um enorme setor acadêmico dos EUA, o termo “imperialista” já não representa uma crítica, mas um elogio.
As divergências entre as opiniões dos intelectuais americanos sobre a questão de assumir ou não a condição de império global partem do princípio de que os EUA possuem o dever de fazê-lo, ainda que não o tenham buscado, uma vez que são os únicos com poder de fato para tanto. Como explica o professor Marc Trachtenberg, da Universidade da Califórnia: “Não queremos este papel. Não estamos feitos para a função imperial. Mas alguém tem que resolver os problemas. Podemos cegar a intoxicar-nos com nossa força e impulsionar políticas disparatadas, baseadas na imposição de nosso sistema e nossa ideologia ao resto do mundo. Os europeus se queixam e, sem embargo, lhes resulta muito cômodo que lhes garantamos o abastecimento de petróleo ou lhes solucionemos conflitos internos como o de Kosovo”.
Por outro lado, outros intelectuais americanos como Christopher Layne e Benjamín Schwarz, possuem opinião divergente, pois afirmam: “É evidente que é exagero sugerir que a busca da ordem mundial implicará aos EUA, como dizia lord Rosebery, em quarenta guerras simultâneas. Mas não é exagero observar que a estratégia de preponderância conduzirá inexoravelmente a um império que se estenda por todo o mundo”.
Para o historiador Eric Hobsbawm, os EUA buscaram a hegemonia desde o fim da II Guerra Mundial, e que com exceção da França, todo o Ocidente permitiu esse objetivo, por medo a então União Soviética. Em seu último livro, “El optimismo de la voluntad”, publicado este ano na Espanha, Hobsbawm afirmou: “A verdade é que os americanos se servem destes argumentos para legitimar sua política hegemônica no mundo, uma política da qual nem eles mesmos sabem os limites. Não guardo nenhuma dúvida sobre o fato de que os EUA querem acabar sendo o único pais armado até os dentes no mundo”. Entretanto, o conhecido historiador marxista desfaz qualquer sentimento anti-americano, pois conclui: “Eu não sou hostil a uma hegemonia norte-americana, porque ainda que não goste do mundo americano, tampouco é inaceitável. Há coisas nos EUA que o mundo deveria aprender, como o sentido da possibilidade de transformar as coisas. Nos EUA se pode verdadeiramente mudar de vida; é um país no qual os ideais ainda possuem sentido”.
Como afirma Anthony Pagden, o atual vocábulo império procede da raiz latina imperium, que na antiguidade romana representava o poder supremo tanto de mando na guerra como do magistrado na sanção das leis. A principio como sinônimo de soberania, o vocábulo império passa a partir da época da república romana a ser empregado para se referir ao governo sobre vastos territórios. E agrega: A palavra “império” se converteu tanto em metáfora como na descrição de uma classe concreta de sociedade. Hoje usa-se em geral como sinônimo de abuso, ainda que muitas vezes dourada de um tom de nostalgia. 'Império' sugere exploração sem piedade de povos em grande medida indefesos, menos complexos tecnologicamente, pela força dos avances técnicos de outros.
A Doutrina Bush, intitulada “A nova estratégia de segurança nacional dos EUA”, foi enviada ao congresso estadunidense em setembro de 2002, e daí às páginas dos jornais, pelo qual não existe motivo para manter em silêncio a vocação imperial, que se manifesta através da determinação estadunidense de não permitir que nenhum outro estado se aproxime em potência militar: “Nossas forças serão bastante poderosas para dissuadir a potencias adversárias que acumulem armas na esperança de superar ou igualar aos EUA”.
Um império que inexoravelmente se estenderá por todo o mundo. Segundo Vázquez Montalbán, uma vez que o “Império do Bem” ganhou a Guerra Fría, não existe mas a necessidade de dissimular a hegemonia. Por tanto, temos de concordar ante a evidencia de que sob o governo do Presidente Bush, os EUA mantém como única política exterior a ideologia imperialista, devido a sua hegemonia econômica e militar.
Contudo, a historia nos ensina que a maioria dos impérios se converteram em sociedades cosmopolitas e universais com o passar dos tempos, além de adotarem medidas tolerantes diante da diversidade de culturas e credos que possa englobar, sendo assim, locais de favorecimento do desenvolvimento e a difusão do saber humano.
Enfim, o século XXI começa de fato com os atentados de 11 de setembro de 2001 e com uma nova ordem geopolítica, na que o Império dos EUA – representado pela águia norte-americana - estenderá suas asas de maneira explícita sobre o planeta, e Washington será a nova Roma. Como afirma o professor Philip Golub, da Universidade de Paris: “A opção imperial condenará os EUA a dedicarem o tempo hegemônico que lhes resta, seja o que seja, a construir muros ao redor da “ciudadela” ocidental”.