Defender la alegría como un destino
defenderla del fuego y de los bomberos
de los suicidas y los homicidas
de las vacaciones y del agobio
de la obligación de estar alegres.
defenderla del fuego y de los bomberos
de los suicidas y los homicidas
de las vacaciones y del agobio
de la obligación de estar alegres.
Mario Benedetti,
em "Defensa de la alegría".
Creio que cada um de nós recordará, para sempre, onde estávamos naquele 11 de setembro de 2001. Como nossos pais recordam onde estavam quando Getúlio se matou, quando assassinaram a Kennedy ou quando Neil Armstrong se tornou o primeiro homem a caminhar na Lua. Eu me lembro, perfeitamente, que almoçava com uns amigos brasileiros no restaurante chinês ao lado da mesquita de Valencia, na Espanha. E que fomos ver as imagens na televisão do Café de Camilo, que ficava ainda mais perto da mesquita. Um mês depois eu estava num avião da Varig a caminho do Brasil, com uma sensação de indiferença do perigo que tem todo brasileiro, ao se saber distante de todos os problemas do mundo.
Entretanto, que balanço podemos fazer depois de três anos dos atentados de Nova Iorque, seis meses dos de Madri e alguns dias da terrível matança de Beslan, Ossétia do Norte? Depois de inflamar o ódio do Ocidente sobre o Islamismo e favorecer o disparate das mentes racistas de extrema direita acadêmica através de teses tresloucadas, como a da guerra de civilizações, o que ficou foi uma insegurança generalizada que permeia até mesmo as relações pessoais.
Nosso momento atual foi denominado de a “Era do medo total”, por Herman Tertsch, que o explica: “É um medo muito especial, generalizado e compartilhado, confessado, contagioso, exagerado, retro alimentado nesta era da mídia em que todas as sensações se multiplicam e se estendem a velocidade de desmaio. Ainda não sabemos como mudara nossas vidas, nossas relações interpessoais, sociais, políticas e internacionais, mas em todo mundo germina a consciência de que nada será igual ao que era”.
E esta insegurança se amplia na medida em que as mentiras são desmascaradas, e os motivos que foram alegados para justificar invasões e guerras não foram comprovados. A final, onde estão as armas de destruição em massa? Pelo contrário, Iraque não se converteu em uma democracia, o conflito entre judeus e palestinos se acirrou e o preço do petróleo disparou, e não sua produção. Como bem lembra Juan Luís Cebrian, enfraqueceram a unidade européia e a aliança atlântica, se multiplicaram as ações terroristas, caiu a confiança das pessoas na classe política, paralisou o tênue processo de abertura no Iran, prejudicou o prestígio dos EUA como primeira democracia mundial e cresceu o numero de jovens mulçumanos dispostos a sacrificar-se em nome de Deus.
A decisão de Putin de atacar bases terroristas em qualquer parte do mundo, apenas corrobora a tese estadunidense – e israelense – do direito ao ataque preventivo como meio de defesa. Mas não nos enganemos, o ataque preventivo não é direito, é “não direito”, é a lei do mais forte aplicada de maneira hipócrita e cínica pelos países detentores das grandes máquinas de guerra. É a vitória de Hobbes - que privilegia a força - sobre Kant – que enaltece o direito, no campo das relações internacionais.
Como afirmou recentemente o historiador britânico Timothy Garton Ash, o terrorismo nunca é justificável, mas muitas vezes é explicável, e suas causas vamos encontrar nas explicações. Se, ao invés de apavorar o mundo com sua hegemonia militar, os EUA procurassem combater os terrorismos com o uso inteligente da prudência, creio que nenhum país do mundo se recusaria a apoiá-los. Nem Europa, nem América Latina estão dispostos a esquecer seus princípios numa aliança cega e a qualquer preço com os neoconservadores de direita que hoje governam os EUA. Ou com o que o ex-Ministro de Relações Exteriores da França, Dominique de Villepin, denominou "imperialismo messiânico dos neoconservadores norte-americanos, no seu livro Le requin et la mouette (O tubarão e a gaivota).
O Brasil se encontra tão preocupado com seus próprios problemas – e estes são muitos - que muitas vezes nos parece que a insegurança mundial não pode nos atingir. Que os temores estadunidenses sobre a Tríplice fronteira são infundados, coisa de gente bem acomodada num escritório de Washington, sem qualquer conhecimento papável da realidade terceiro-mundista que nos rodeia. Porém, se nosso projeto em nível de política exterior é alcançar um maior protagonismo internacional, estamos preparados para pagar o preço da insegurança?