Domingo, dia 5 de junho, comemorou-se o Dia Mundial do Meio Ambiente, entre protestos e mensagens de alerta de defensores da nossa casa planetária e autoridades, tentando demonstrar algum progresso no combate às misérias que afligem o planeta. O lema da campanha deste ano é “Cidades Verdes: Um Plano para o Planeta”, destacando o desafio do momento, ou seja, o crescente aumento do número de habitantes dos centros urbanos.
De acordo com pesquisas confiáveis, nos próximos 25 anos, quase a totalidade de todo o crescimento populacional estará concentrado nas cidades, principalmente naquelas localizadas nos países pobres e em desenvolvimento. Este incremento de população nos centros urbanos vem acompanhado da ampliação de problemas já conhecidos, como pobreza, desemprego, criminalidade e as drogas. A superpopulação dos centros urbanos gera, também, o agravamento dos problemas ambientais por causa do acúmulo de resíduos, ou seja, de lixo, maior produção de gases causadores do efeito estufa, e etc.
Entretanto, a maior conseqüência da falta de planejamento ambiental nas áreas de concentração urbana será o fato de que não conseguiremos atingir os Objetivos de Desenvolvimento da ONU para o Milênio, mesmo possuindo tecnologia e conhecimentos suficientes para atingir parte daquelas metas propostas.
O conhecimento e a tecnologia necessários para desenvolvermos cidades sustentáveis do ponto de vista ambiental já possuímos, somente falta-nos a vontade política consciente para implementá-los. Transporte limpo, edifícios inteligentes, saneamento básico e o uso racional da água são uma realidade hoje, para aqueles países que realmente se preocupam com o meio ambiente e a qualidade de vida de sua população.
A “Fundación Entorno”, que desde 1996 lidera o Comitê Espanhol do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, e o PNUMA, elaboraram uma lista de cifras sobre a situação atual dos problemas gerados pelo aumento do número de habitantes das cidades, merecendo destaque para as seguintes conclusões:
a) Em 2015, serão 23 as cidades com mais de 10 milhões de habitantes no mundo, sendo que 19 destas estarão em países em desenvolvimento. Todo o crescimento populacional nos próximos 25 anos acontecerá nas áreas urbanas dos países menos desenvolvidos, ainda que o crescimento mais rápido não será nas grandes cidades, mas nos centros urbanos com menos de 500 mil habitantes. Em 1950, menos de uma em cada três pessoas vivia em algum vilarejo ou cidade. Hoje, cerca da metade da população mundial é urbana. Para o ano de 2030, a proporção será de mais de 60%. No ano 2000 havia 402 cidades com população entre 1 e 5 milhões de habitantes e 22 cidades entre 5 e 10 milhões. Em 2015, serão 23 as cidades com mais de 10 milhões de habitantes, 19 delas em países em desenvolvimento.
b) Nos paises desenvolvidos, 75% da população é urbana. A urbanização no mundo desenvolvido coincidiu, em grande parte, com o crescimento econômico e o aumento da riqueza. Entretanto, esse não é o caso dos países em desenvolvimento. Nestes, em 2020, a cifra poderia chegar a mais de 2 bilhões de habitantes vivendo em subúrbios e em assentamentos irregulares. Na África, mais de 70% da população urbana, isto é, mais de 160 milhões de pessoas, vivem em áreas pobres. Desde 1990, a população das áreas urbanas pobres cresceu cerda de 5% anualmente, e está a caminho de duplicar-se a cada 15 anos. Pelo menos um bilhão de pessoas, principalmente na Ásia, África e América Latina, vivem em subúrbios improvisados e assentamentos irregulares, que não estão nem reconhecidos legalmente, nem dotados de serviços pelas autoridades da cidade. Para o ano 2020, a cifra poderá chegar a mais de dois bilhões de habitantes.
c) A diarréia é a segunda causa mais comum de mortalidade infantil. Calcula-se que seja responsável por 12% do número de mortes de crianças menores de cinco anos nos países em desenvolvimento. Ademais, aproximadamente dois milhões de crianças, menores de cinco anos, morrem a cada ano vítimas de infecções respiratórias agudas. A água contaminada e os inadequados sistemas sanitários são os perigos característicos da vida nos subúrbios.
d) A maioria das emissões urbanas provém de veículos automotores. 1,5 bilhão de habitantes de centros urbanos suportam a contaminação atmosférica em níveis superiores aos limites máximos recomendados. Um milhão de mortes pode ser atribuída exclusivamente à contaminação por partículas de dióxido de enxofre, a maioria proveniente das emissões de veículos. Nos paises desenvolvidos, os custos da contaminação do ar são cerca de 2% do PIB, enquanto que nos países em desenvolvimento a cifra está entre 5 e 20%. A geração de energia, a industria e o transporte, em geral, associados com a vida nas cidades do mundo desenvolvido, são responsáveis pela maioria das emissões de dióxido de carbono. Calcula-se que as emissões de dióxido de carbono provenientes em sua maioria dos automóveis, caminhões e usinas elétricas, se elevarão em 60% até nos próximos 25 anos do novo século. Mais de dois terços do incremento virão dos países em desenvolvimento, como conseqüência do rápido crescimento econômico e do aumento do numero de veículos particulares. De 1950 aos dias de hoje, o uso global de combustíveis fosseis incrementou-se em 500%.
e) A urbanização e o desenvolvimento econômico geralmente são acompanhados de um aumento no consumo de recursos e na geração de resíduos per capita. Os habitantes das cidades do mundo desenvolvido produzem até seis vezes a quantidade de desperdício que geram os países em desenvolvimento. As municipalidades poderão ter que gastar até 30% do seu orçamento somente com o tratamento da questão dos resíduos, principalmente no seu transporte. Nos países em desenvolvimento, o custo do manejo dos resíduos sólidos pode ser ainda maior, chegando a 50% do orçamento disponível. Existe uma falta de infra-estrutura para o manejo adequado dos resíduos, pois entre 30 e 60% dos resíduos sólidos produzidos nas cidades não é recolhido e menos de 50% da população conta com o serviço de coleta.
f) Na medida em que as cidades e vilarejos se desenvolvem, cresce também sua dependência de recursos distantes, assim como seu impacto ambiental. Uma cidade média Norte-americana, com uma população de 650 mil habitantes requer 30 mil km2 de terra para servir às suas necessidades. Em comparação, uma cidade de tamanho similar, com menor poder aquisitivo, na Índia, requer apenas 2,8 km2.
g) Água – o consumo de água potável quase duplicou a partir de 1960 e a pesca marítima quadruplicou. Mais da metade da água potável que se obtém pra consumo humano destina-se para as áreas urbanas, para se usada pela industria, para beber e para limpeza, ou como irrigação para a agricultura. Até 65% da água usada para irrigação é desperdiçada. Em muitas cidades de países em desenvolvimento, entre 40 e 60% da caríssima água potável perde-se, devido a avarias no sistema hidráulico, isto é, encanamento, e através das conexões ilegais. Nos países industrializados, desperdiça-se um quarto de toda a água canalizada.
Enfim, pouca coisa há que se comemorar neste dia, apesar de ser a data mais um elemento de conscientização que de celebração. Somente com a conscientização de que a melhora na qualidade de vida da população, de qualquer país, seja rico ou pobre, passa necessariamente por um melhor aproveitamento racional dos seus recursos naturais, é possível tratar melhor a matéria.
O ser humano deve entender, imediatamente, que o planeta é uma casa, a grande casa da humanidade, que merece e deve ser tratada como lugar único e morada de todos. Os grandes centros urbanos devem ser lugares ambientalmente sustentáveis ou estarão condenados ao fracasso. Que os alertas de hoje não sejam as calamitosas notícias de amanhã.