sexta-feira, dezembro 28, 2007

Juan António Cebrián, sit tibi terra levis



Alegre y feliz como
una lombriz.

Juan António Cebrián




Uma das maravilhas que descobri nos meus anos de Espanha foi o rádio. Sim, o rádio como companheiro de madrugadas, em longas jornadas de leitura, escrita e insônia, muita insônia. A Espanha possui algumas estações de rádio que são verdadeiras maravilhas de informação, diversão, cultura e que funcionam durante as vinte e quatros horas do dia. Com a rádio espanhola aprendi muito sobre a Espanha, sobre a língua castelhana e, principalmente, sobre a “Hispanidad”, esta sensação de inclusão num universo muito maior que o da restrita “Comunidade de Povos de Língua Portuguesa” em que vivemos, sem darmos conta.

A “Hispanidad” suplanta e inclui a “Comunidade de Povos de Língua Portuguesa”, supera as divergências Ibero-americanas e une a todos os mais de quatrocentos milhões de “hispano-hablantes” num abraço que transpassa os séculos, os impérios do passado e forja a têmpera de uma cultura esplêndida.

E aqueles programas radiofônicos que eu escutava nas minhas noites insones, naquela Espanha de começo de século XXI, possuíam nomes hilários. “Cuando los elefantes sueñan con la música”, “brasilidad y negritud”, com Carlos Galilea na Radio Nacional de Espanha, Radio 3, que em certa noite nos disse que somente fez da música sua profissão graças a Milton nascimento e à Turma do Clube da Esquina. “Goma espuma”, na M80 Rádio, com Juan Luis Cano e Guillermo Fesser, que ouvia todas as manhãs, geralmente ressacado.

Contudo, um programa era o meu favorito naquelas madrugadas: “La Rosa de los Vientos”, com Juan António Cebrián.

“La Rosa de los Vientos”, nesta época, era um programa diário que deliciava minhas noites espanholas com muita informação, dicas de música, de meio ambiente, de viagens pelo planeta, algumas extravagâncias paranormais e muita História. O programa era apresentado por Juan António Cebrián, um locutor de voz de veludo, que antes já havia apresentado uns programas no mesmo formato da “Rosa...”, tais como 'La Red' , 'Azul y verde' e mais famoso de todos o 'Turno de noche'.

A equipe da “Rosa...” era formada por gente fantástica como Bruno Cardeñosa, Fernando Rueda, José Manuel Escribano e a dupla de pesquisadores Jesús Callejo e Carlos Canales. Mas meu quadro favorito era quando Juan Antonio apresentava suas “Pasajes de la Historia”, sempre contando algum trecho famoso da História.

Quando voltei ao Brasil em 2003 continuei ouvindo a “La Rosa de los Vientos” através da internet, mas o programa já não era diário e tudo havia mudado.

A vida nos afasta a cada dia do que somos e do que queremos. De alguma maneira, esta parte da Espanha foi desaparecendo lentamente de mim.

Daí a triste surpresa descobrir que Juan António Cebrián faleceu na tarde de sábado, dia 20 de outubro deste ano, aos 41 anos de idade, vítima de infarto fulminante. À noite, no momento de começar “La Rosa de los Vientos”, uma voz anunciou a morte de seu mentor e apresentador: "Ha fallecido Juan Antonio Cebrián, de repente, por culpa de un infarto traicionero que llegó esta tarde sin avisar, sin darle ocasión a Juan Antonio de despedirse de ustedes, la familia de los oyentes de Onda Cero y la familia de sus oyentes de La Rosa de los Vientos".

Comunicado de Onda Cero:
Ha fallecido Juan Antonio Cebrián, de repente, por culpa de un infarto traicionero que llegó esta tarde sin avisar, sin darle ocasión a Juan Antonio de despedirse de ustedes, la familia de los oyentes de Onda Cero y la familia de sus oyentes de La Rosa de los Vientos. Esta noche no va a haber Rosa de los Vientos, porque se nos ha muerto el alma de este programa, el hombre que lo creó, lo inventó, lo hizo crecer y lo condujo con mano maestra hasta convetirlo en lo más hermoso que puede llegar a ser un espacio de radio: un programa de culto, una parte de la vida de cientos de miles de personas que escuchaban, admiraban y querían a Juan Antonio Cebrián. Su muerte nos ha dejado a todos perplejos, y deja a nuestra cadena huérfana de una de sus voces más genuinas, una voz que siempre tuvo el sello de esta casa, la impronta de Onda Cero. Juan Antonio ha formado parte de esta aventura desde que levantamos el telón, hace ya diecisiete años. Un buen día llegó al estudio con su música favorita en una mano y su innata capacidad de transmitir en la otra: el resultado fue “Discos Cero”, el primer paso de una carrera que, para él, era una forma de ver y entender la vida. En aquella Onda Cero que empezaba, a Juan Antonio Cebrián le bautizamos entre todos como “el Cebri”: inquieto, curioso, creativo; inventor de programas muy diversos —”Bienvenidos al club”, “La Red”, “Azul y verde”—, que compartieron siempre un denominador común: el afán por divulgar, la otra gran pasión de este Cebri que hoy se nos ha marchado sin previo aviso: la divulgación histórica. Solo él era capaz de convertir a Juana la Loca en un vivisimo personaje radiofónico. Gracias a él aprendimos, entre excursiones científicas, grandes enigmas, y criticas de cine antológicas, gracias a él aprendimos a disfrutar de aprender escuchando la radio. Un buen día Juan Antonio, hombre de radio, descubrió que a sus oyentes del “Turno de noche” les fascinaba descubrir “Pasajes de la Historia”. Y así empezó una irrepetible serie radiofónica, que acabaria siendo el germen, también, de la carrera literaria de Cebrían, el escritor, el divulgador, el autor que cosechaba, libro tras libro, abrumadores éxitos de ventas.
Esta noche la familia de Onda Cero, y la familia de La Rosa de los Vientos, está enlutada. Hoy la vida —siempre imprevisible— nos ha dejado sin uno de los grandes de este medio. Sólo la muerte le podía impedir acudir a la cita con la audiencia. Sólo la muerte podía apartarle de este micrófono que era suyo. Esta es la noticia que ojalá nunca hubiéramos tenido que dar. Que se nos ha ido Juan Antonio Cebrián. Uno de los grandes. Uno de los buenos. Uno de los nuestros.

De maneira que o Natal de 2007 será um pouquinho mais triste, ainda que este ano tenha nascido minha filha Isabela e tudo o mais de bom que me aconteceu. Este ano de 2007 será, também, o ano em que morreu Juan António Cebrián, um amigo e companheiro, “alegre y feliz como una lombriz”.

segunda-feira, setembro 10, 2007

Faz parte do meu show, meu amor

Something's telling me
it might be you
It's telling me
it might be you...
All of my life...
I think we're gonna
need some time
Maybe all we need is time...
And it's telling me
it might be you
All of my life...

Maybe it's you...
Maybe it's you...

I've been waiting for
all of my life...

All of my life
(It might be you)

Stephen Bishop


Eis que quando, por fim, encontrei um caminho tranqüilo para viver, depois de anos de aventuras e solidão, mesmo acompanhada, Deus, este eterno gozador, me pregou mais uma peça. Meu caminho cruzou com o teu, da maneira mais suave e doce, jamais imaginada por mim ou pelo roteirista deste papel que represento quase quarenta anos no grande teatro da vida. “Minha alma cansada não faz cerimônia, você pode entrar sem bater”, diria o Dusek.

Eu já havia cruzado oceanos demais, já havia vivido em demasiados lugares distantes e em tantas casas que o meu mapa-múndi já tinha amarelado. Eu já tinha vivido tantas vidas e personagens que, por fim, estava tentando encontrar-me em algum personagem da “Família Soprano”, depois de anos assistindo a “Doctor en Alaska”. E tantas vezes marinheiro em terras de além mar que já me sentia um estrangeiro no meu próprio país. Brasília me parecia tão distante como Adis Abeba.

Depois de esperar, solitário, em tantos bares fumacentos e escuros, de haver convidado a uma bebida a tantas mulheres vazias de mim mesmo e, principalmente, de ter-me envolvido com tantas pessoas sem alma, o destino me fez a odiosa piada de encontrar-te no momento mais difícil para mim. “Eu estava em paz quando você chegou”, como disse o Nando Reis, mas eu é que estou fazendo um “relicário imenso desse amor”.

Durante todos esses anos te confundi, confesso, com outras pessoas. E desperdicei tanto daquilo que havia guardado pra ti com pessoas inconfessáveis, cheias de sentimentos de perda, rancor e esquecimento. Seres humanos vivendo no limite desta maravilhosa denominação. Quase nada de nada. E fui perdendo o pouco de mim que guardava pra ti, esquecendo que o amor é a pergunta e a resposta, aceitando ser mais um na multidão dos miseráveis que nunca amaram.

Assim que, depois de já ter desistido de te buscar, te encontrei num cantinho do mundo, justo como tinha me avisado um manão. Após infinitos anos senti o amor escorrendo pelos meus dedos, pela minha cama, pela minha vida, por mim. Saber que você existe, que acorda e adormece, que vive, toma café, come salada, paga uma conta, se veste e passa creme no corpo, anda pela rua, pega um metrô e cruza por mim numa avenida, aterroriza meu dia. Entorpece minha alma. Dispara meu coração.

Você jamais poderá imaginar a alegria que senti quando ouvi de teus lábios... “eu te amo”. Se eu gostasse de futebol seria gol do tricolor das Laranjeiras no Maracanã lotado, tremendo as arquibancadas. Gooooooooooooooooooooooool. Fui o babaca mais feliz do mundo. Mais feliz, provavelmente, que aquele goiano que ganhou sozinho 32 milhões na megasena, apostando um único real pela primeira vez. Doce agonia. “E até quem me vê, na fila do pão, sabe que eu te encontrei, pequena” como cantaram Los Hermanos.

Com você encontrei sentido para tantas canções que carrego comigo e para tantos sabores indescritíveis. Tua cara linda sorrindo pra mim, tua boca perfeita, minhas mãos deslizado entre tuas coxas, tua pele feita pra mim... tudo isso levarei comigo pra sempre. Nossos filhos não nascidos nos olham agora neste inútil adeus cheio de saudade e meu estômago já começa a revirar. Todos os nossos filhos não nascidos estão reunidos agora, torcendo pela felicidade e a “paichão” eterna de seus pais.

Teus pedidos de decisão, tua certeza em seguir comigo, teus olhos cheios de medo e angustia... É que eu sou lento mesmo, sem coragem, até pra dizer adeus. Deus meu, como me odiei em noites de gozo e sorrisos amarelos. Porque difícil é dizer adeus a quem se ama, é impossível, é não querer seguir vivendo. E pior é saber que o tempo, grande inimigo é o tempo, tornará esse amor cada dia um pouquinho menor e mais bobo, como se todos os amores deste mundo já não fossem ridiculamente bobos.

Você não sabe o ciúme que sinto de você, é horrível. Não posso nem ouvir em qualquer música alguma referência à cidade do Rio de Janeiro. É horrível ouvir o Cazuza cantando das pedras do Arpoador... e o Chico falando do Planetário? Então me lembro das palavras de Dido em “Thank you”, que você me mostrou, cantando “I want to thank you giving me the best day of my life, Oh just to be with you is having the best day of my life”… e te agradeço por tudo, por todo esse amor.

E, é claro, que escorrerá aquela lágrima solitária, fruto de tudo que não vivemos e da noite sem nuvens que nos cobre neste momento sem lua, sem gol, sem palavras, sem você e sem nós.

terça-feira, setembro 04, 2007

Algumas vezes

Si, mañana
Será un día alegre
Y habrá boda y fiesta.
Y probablemente
Sonreiré.

Pero hoy,
Buscaré la felicidad
a ratos,
Aunque me lo creo
Que la verdadera infinita
Felicidad
Ven en toneladas
Duraderas.


“Oceano imenso –
Escritos perdidos de Espanha”,

Antonio de Freitas


Algumas vezes, na minha vida, já estive tão perdido quanto qualquer garotinho no primeiro dia de colégio. Com medo de errar, dos outros rirem de mim, em busca de proteção e de algo que eu nunca soube muito bem o que seria ou sequer existia. E durante alguns anos, enquanto eu me encontrava assim, outras pessoas me seguiram. Como se eu estivesse menos perdido que qualquer uma delas. Porque sempre haverá alguma outra pessoa mais perdida, triste e solitária que você mesma, sempre. Aconteça o que acontecer.

Já tive as despedidas mais tristes do mundo, entre lençóis de linho branco e aeroportos desertos de todos os sentimentos bonitos ou belas imagens cinematográficas. Já desperdicei meu tempo com pessoas que apenas se aproveitaram de mim, enquanto eu vivia uma viagem hedonista de encontro à dor. Já fingi sentir prazer enquanto escondia minhas lágrimas de desespero e guardava minhas lágrimas de diamantes retribuídos em nome da carne que eu servia. Já machuquei e me machuquei, muito. Já fiz chorar e já chorei algumas vezes.

Por isso mesmo, quando encontro alguém que ainda possui muito de seu coração salvo de tantas maldades deste mundo e vive num ritmo de procura e medo, buscando agarrar-se desesperadamente a alguém ou a algo, sempre atirando o escuro, escondendo sua verdadeira dor e evitando cada dia a derradeira hora de encontrar-se cara a cara, meu coração velho senti que pode ajudar, que pode fazer alguma coisa, além de abrir a carteira.

E desejo, firmemente, que este alguém siga seu caminho, e não esta porcaria de caminho que seguiu até aqui, entre vergonha, amores furtivos e gozos sob o manto da mentira. Quero o brilho do sol pra você, quero passeios de mãos dadas pelo parque entre grama e árvores gigantescas, quero a alegria sincera dos sorrisos de amor no seu rosto lindo entre minhas mãos, quero a certeza que dá na gente quando se descobre que existe um outro alguém neste planeta maluco que você quer só pra você. Quero que dancemos na chuva durante a madrugada de outono, numa rua completamente vazia.

Algumas vezes encontro gente no meu caminho que desejo levar para sempre no meu coração. Mas meu coração é pequeno, não cabe todo mundo nem muito menos os meus sentimentos bobos. Então eu espero que me levem dentro de seus corações, que se lembrem de mim quando chegar meu fim, que cuidem de mim naquele hospital de campanha no meio da guerra estúpida, que me levem pra passear no lago ao entardecer, que me sirvam uma imensa dose de uísque com três cubos de gelo em copo tubo, que me dêem banho e façam minha barba, que preparem meu cachimbo com tabaco de chocolate do Tenensee e que me deixem em paz na minha melhor poltrona com meus livros e minha música.

Algumas vezes fico numa bobeira sem tamanho por horas, pensando em momentos tristes ou em pessoas alegres que entraram na minha vida e que sabem que não podem ficar, pelo menos neste momento dela. Algumas vezes fecho meus olhos e me imagino dando um loop completo, num velho avião militar da primeira guerra mundial, numa ensolarada manhã de domingo. Ouvindo a toda castanha a Frank Sinatra cantar “I got you under my skin”.



sexta-feira, agosto 10, 2007

We shall never surrender





We shall not flag or fail. We shall go on to the end. We shall fight in France, we shall fight on the seas and the oceans, we shall fight with growing confidence and growing strength in the air, we shall defend our island, whatever the cost may be. We shall fight on the beaches, we shall fight on the landing grounds, we shall fight in the fields and in the streets, we shall fight in the hills; we shall never surrender.
1. We make a living by what we get, but we make a life by what we give.

2. There is no such thing as a good tax.

3. Some see private enterprise as a predatory target to be shot, others as a cow to be milked, but few are those who see it as a sturdy horse pulling the wagon.

4. The inherent vice of capitalism is the unequal sharing of blessings; the inherent virtue of socialism is the equal sharing of miseries.

5. We contend that for a nation to tax itself into prosperity is like a man standing in a bucket and trying to lift himself up by the handle.

6. An appeaser is one who feeds a crocodile—hoping it will eat him last.

7. The problems of victory are more agreeable than the problems of defeat, but they are no less difficult.

8. From now on, ending a sentence with a preposition is something up with which I shall not put.

9. A fanatic is one who can’t change his mind and won’t change the subject.

10. Bessie Braddock: “Sir, you are drunk.”Churchill: “Madam, you are ugly. In the morning, I shall be sober.”

11. Nancy Astor: “Sir, if you were my husband, I would give you poison.”Churchill: “If I were your husband I would take it.”

12. A lie gets halfway around the world before the truth has a chance to get its pants on.

13. Once in a while you will stumble upon the truth but most of us manage to pick ourselves up and hurry along as if nothing had happened.

14. If you are going to go through hell, keep going.

15. It is a good thing for an uneducated man to read books of quotations.

16. You have enemies? Good. That means you’ve stood up for something, sometime in your life.

17. If you have ten thousand regulations, you destroy all respect for the law.

18. You can always count on Americans to do the right thing—after they’ve tried everything else.

19. History will be kind to me for I intend to write it.

20. Writing a book is an adventure. To begin with, it is a toy and an amusement; then it becomes a mistress, and then it becomes a master, and then a tyrant. The last phase is that just as you are about to be reconciled to your servitude, you kill the monster, and fling him out to the public.
21. The farther backward you can look, the farther forward you are likely to see.

22. A sheep in sheep’s clothing. (On Clement Atlee)

23. A modest man, who has much to be modest about. (On Clement Atlee)

24. I am ready to meet my Maker. Whether my Maker is prepared for the ordeal of meeting me is another matter.

25. The truth is incontrovertible, malice may attack it, ignorance may deride it, but in the end; there it is.

26. A pessimist sees the difficulty in every opportunity; an optimist sees the opportunity in every difficulty.

27. To improve is to change; to be perfect is to change often.

28. Politics is the ability to foretell what is going to happen tomorrow, next week, next month and next year. And to have the ability afterwards to explain why it didn’t happen.

29. Socialism is a philosophy of failure, the creed of ignorance, and the gospel of envy.

30. Solitary trees, if they grow at all, grow strong.

31. Success consists of going from failure to failure without loss of enthusiasm.

32. The best argument against democracy is a five-minute conversation with the average voter.

33. It has been said that democracy is the worst form of government except all the others that have been tried.

34. Everyone has his day and some days last longer than others.

35. The whole history of the world is summed up in the fact that, when nations are strong, they are not always just, and when they wish to be just, they are no longer strong.

36. From Stettin in the Baltic to Trieste in the Adriatic, an iron curtain has descended across the Continent. “The Sinews of Peace” speech, Westminster College, Fulton, Missouri, March 5, 1945:

37. If Hitler invaded hell I would make at least a favorable reference to the devil in the House of Commons.

38. Those who can win a war well can rarely make a good peace and those who could make a good peace would never have won the war.

39. Courage is the first of human qualities because it is the quality that guarantees all the others.

40. The problems of victory are more agreeable than those of defeat, but they are no less difficult.

41. If you will not fight for right when you can easily win without blood shed; if you will not fight when your victory is sure and not too costly; you may come to the moment when you will have to fight with all the odds against you and only a precarious chance of survival. There may even be a worse case. You may have to fight when there is no hope of victory, because it is better to perish than to live as slaves.

42. You ask, What is our policy? I will say; “It is to wage war, by sea, land and air, with all our might and with all the strength that God can give us: to wage war against a monstrous tyranny, never surpassed in the dark lamentable catalogue of human crime. That is our policy.” You ask, What is our aim? I can answer with one word: Victory—victory at all costs, victory in spite of all terror, victory however long and hard the road may be; for without victory there is no survival.

43. Hitler knows that he will have to break us in this island or lose the war. If we can stand up to him, all Europe may be free and life of the world may move forward into broad, sunlit uplands. But if we fall, then the whole world, including the United States, including all that we have known and cared for, will sink into the abyss of a new Dark Age made more sinister, and perhaps more protracted, by the lights of perverted science. Let us therefore brace ourselves to our duties, and so bear ourselves that, if the British Empire and its Commonwealth lasts for a thousand years, men will still say, “This was their finest hour!”

quinta-feira, maio 24, 2007

Mas quanto falta, Comandante


Amigo é coisa
pra se guardar,
mesmo que o tempo
e a distância
digam não.
Mesmo esquecendo
a canção.

“A Canção da América”,
Milton Nascimento.


Viver é bom,
nas curvas da estrada,
solidão que nada.

Viver é bom,
partida e chegada,
solidão que nada.

“Solidão que nada”,
Cazuza.


Foram apenas dois anos de convivência diária entre processos administrativos, consultoria ministerial, aprendizagem política e muita camaradagem e gargalhadas. Dizem que família não escolhemos, mas os amigos sim. Então devemos ser rigorosos, pois só depende da gente.

Assim o planeta deu duas voltas ao redor do sol, enquanto nós aqui embaixo sacaneávamos meio-mundo, pondo apelidos nada carinhosos nos filhos-da-puta que cruzavam o caminho da assessoria jurídica e, principalmente, naqueles que cruzavam teu caminho com soberba, empáfia e alguma inveja. Naqueles que confundiam o trabalho em prol de um projeto de Brasil, de governo e de ministro, com seus próprios projetos pessoais. Botamos pra foder neles, lhes mostramos a força da inteligência aliada ao bom humor. Sim, fomos maiores que o Monty Phyton.

Lembro o primeiro dia que te encontrei. Eras exatamente tu, como hoje. Mas eu não era eu. Era apenas um curriculum vitae e uma recomendação. Alguém que recém chegado ainda não conhecia todos os códigos de conduta da capital federal, sua infinita ironia e jogo de cena. Era apenas mais um garoto de província tentando um lugar ao sol.

E o tempo foi passando. Separei-me e você me aconselhou algo em que acredito até hoje: “É preciso ter paz em casa, sem paz em casa a vida é uma merda”. Sábias palavras. Encontrei outras pessoas, a vida segue seu curso e a natureza humana é selvagem, você dizia. Mas sempre houve palavra amiga, apoio incondicional, confiança mútua e segurança.

Depois discutimos em nossas diferentes posições sobre o Direito, mas a vida voltou a correr perigo, tínhamos do que falar: “vida, louca vida, vida breve, já que eu não posso te levar, quero que você me leve”, diria o Cazuza. Quando vieram tentar usar títulos acadêmicos, dos quais sempre sorri, para forçar uma discórdia, eu, fruto de anos de educação jesuíta italiana, fui taxativo: “Aqui, nesta assessoria jurídica, há hierarquia. Batendo o martelo o chefe, não há outra tese possível”. Saíram com o rabo entre as pernas. Como cantaram os Novos Baianos “acabou chorare”.

E vieram as cachaças, os momentos de pura festa e alegria. Chegou o Rigón e muitas estórias que você nunca tinha contado. Foi o “diabo, o diabo”. O “Seu Elias”, o Márcio, o garçom goiano, o Iran arenista, .... lembra quando o “carioca” Frega entrou na nossa sala? Foi piada pra mais de mês.... hahahahaha. E ele depois foi aceito na “pandilla”, com toda nossa amizade.

Jamais esquecerei aquele dia em que você botou pra correr da nossa sala àquela anta de merda que te foi fazer inferno sobre alguém que eu até já esqueci. Nem tive dúvida, me levantei e fui apertar tua mão: “É uma honra, comandante, trabalhar contigo. Uma honra e um privilégio”. Recordo seu regresso de sua penúltima viagem à Europa em 2007, quando você concordou comigo de que o jornal espanhol “El País” era o melhor jornal do mundo. As “pérolas” que ouvimos, da melhor música, verdadeiramente popular e brasileira, que fazia o inferno dos evangélicos e pudicos.

Sua fidelidade às idéias e às pessoas que ama, seu ministro, Luis Carlos Prestes, seus sonhos libertários, seu perdão infinito para com aqueles que perderam a esperança neste mundo e seu desprezo por aqueles que aproveitaram de posições equivocadas pra não contribuir com nada. Você somente nunca perdoou aos covardes, àqueles que nunca tiveram nobreza no coração. É preciso saber distinguir entre o verdadeiro líder e aqueles que simplesmente exercem uma chefia, qualquer. Liderança se conquista, não se impõe.

O Brasil é imenso, um continente, um mundo, sozinho, ilhado através de uma língua difícil que nos separa mais que nos une. Norte, Sul, oxente e tchê. E nós representávamos exatamente a esse país, nas nossas origens, com todas as suas distâncias e seus medos. Não enfrentar os estereótipos significa apenas permanecer na burrice, essa sandice que abunda hoje em dia.

Os espanhóis, em sua infinita sabedoria daqueles que já tiveram um império, afirmam que “Deus faz e o diabo junta”. Ficou muita coisa. A sensação que’u deveria ter perguntado mais sobre um monte de coisas que’u preciso saber e que você, certamente, saberia me responder com sua maneira originalíssima de ver a vida, as pessoas e o mundo. Teria, certamente, me ajudado a ser melhor pessoa hoje.

De repente, eu olho pra Esplanada, vejo o Ricardo Peixoto, gente de nossa infinita estima, caminhando em minha direção, e certamente iremos almoçar em algum restaurante vegetariano, e falaremos sobre a atual conjuntura, falaremos do mundo, aprenderei algo inteligente sobre alguma coisa, trocaremos confidencias, riremos de alguém, serei melhor pessoa depois deste almoço, mas faltará você com toda sua “verve” neste momento. Você teria provocado o Ricardo com algum comentário sacana sobre algo, e eu teria sorrido da cena. Completamente felizardo, por compartilhar aquela mesa com vocês dois.

Há dias de chuva em Brasília e muitos dias de sol. O lago continua igual, vão construir outro prédio de apartamentos no Sudoeste e o Pão de Açúcar continua vendendo vinho avinagrado. Continuo comendo carne vermelha mal passada, sangrando, e acreditando que há mais “tabaréus” que camaradas neste mundo. Mas quanta falta, Comandante, quanta falta você fará por aqui, quanta falta.

domingo, abril 15, 2007

Minha filha Isabela

















A melhor maneira
de ter bons filhos
é fazê-los felizes.


Oscar Wilde



Será a vida um caminho traçado pelo destino, já escrito em todos os seus nuances e curvas ou cada um de nós escreve sua própria estória passo a passo, dia após dia, acertando e errando, sorrindo e chorando? Sinceramente, eu não sei.

Porque parece que às vezes acertamos no alvo no meio da neblina, como também erramos de pura certeza a opção plena, a escolha perfeitamente metodicamente pragmaticamente acertada.

A vida nos ensina a cada dia que certas coisas nos parece, realmente, que nos chegam em estado de pura magia. E eu sempre acreditei na magia das coisas, dos fatos e, principalmente, na magia de algumas pessoas, que entram nas nossas vidas e mudam tudo, como por puro encanto.

No dia dez de março de dois mil e sete, quando eu já tinha 37 anos de vida e muitos equívocos e alguns acertos nas costas, você chegou, numa manhã de sol após uma noite de chuva. E eu sabia que você chegaria neste dia. Mas esta certeza não impediu a magia deste dia, como se a vitória anunciada não impedisse o grito da torcida campeã.

Marinheiro de primeira viagem, eu me resignei ao silêncio das surpresas anunciadas, ao enjôo previsto da viagem, como calouro sabedor do trote que esconde a camisa nova na mochila no meio do mela-mela, eu confiei na boa sorte que sempre me acompanhou em horas como esta e fui, como deveria ser, simplesmente coadjuvante de tua mãe e de ti.

No meu relógio faltavam quinze para as nove horas da manhã quando você surgiu chorando sem necessidade de palmada. Coberta de muco e enrugada, meu amor, você foi colocada num berço sob uma luz forte que aquecia teu corpinho cor de rosa. Fiquei te olhando por infinitos minutos. Com medo toquei meu dedo na tua fronte e senti quão indefesa estavas desnuda e linda no teu choro. E tremi de medo, pois eu sei que este mundo é tão cruel, que neste mundo há tanta injustiça e me senti totalmente responsável por ti, por ter te trazido pra este lado da vida, me senti tão canalha por haver te feito enfrentar tantas batalhas futuras que quase chorei.

Mas você, de repente, calou seu choro. E dormiu. Ou simplesmente sentiu o peso dos pensamentos do teu pai ali a teu lado e decidiu acalmar meu coração, fingindo estar preparada para o futuro que te espera.

Depois pensei em quem você é. Lembrei do meu avô e disse em silêncio: bisneta do Senhor Rocha. E todos aqueles que vieram antes de ti e de mim passaram diante dos meus amendrotados pensamentos, como se você fosse a ponta de um novelo que no seu emaranhado encontramos toda a saga de vidas inteiras de cristãos novos buscando uma vida nova nas terras da América, velhos portugueses cansados da fome e da subserviência aos novos ricos, africanos escravizados cansados de nada serem, índios completamente perdidos diante da violência dos usurpadores de suas casas. Seres humanos, tão-somente, que durante suas existências buscaram a felicidade.

E, neste momento, lembrei que você apenas lutava pra se adaptar ao novo ambiente, completamente diferente à segurança da barriga da tua mãe. Indiferente a todo o calhamaço de idéias e idiotices que teu pai, tolamente, imaginava.

Então, você agarrou meu indicador, enquanto na minha doce fantasia vislumbrava um sorriso da tua boca linda. Simplesmente o planeta Terra deu uma paradinha imperceptível de alguns segundos, nada registrado pela ciência, simplesmente pra dizer a Deus: Obrigado, pai, muito obrigado.





quarta-feira, março 07, 2007

E, por fim, 26 de julho de 1999
















E por fim 26 de julho de 1999. Os trinta anos chegaram pela minha janela aberta junto à brisa dos primeiros minutos desta madrugada de segunda-feira. Encontraram-me muito bem, longe de casa, sozinho, mais com alguns sonhos antigos e outros nem tanto.

Em que país estranho estou? Onde está você?, minha casa?, meus amigos? As perguntas podem variar um pouco , mas algo que nunca muda é esta sensação de ter vivido demasiadas vidas em poucos segundos, quando você me pergunta se eu te amo.

Será que valeu? As mulheres que passaram por minhas mãos tremulas de carinho e desejo, a paixão que tantas vezes martelou meu coração com seu intenso peso, arrebatando momentos de pura felicidade. Os lugares que visitei e que meu avô jamais conhecerá. Minhas dúvidas sobre a vida. Os livros que nunca escrevi, os poemas que jamais serão lidos, o pouco de mim que guardei pra você.... tudo isso invade esta sala tão distante do mundo que conhecemos.

Uma existência tão comum e ao mesmo tempo tão especial para mim. Afinal, sou eu, e não um personagem que criei, apesar de quer tantas vezes fui muitos outros. Ainda continuo dormindo pouco à noite, ainda continuo acreditando nas coisas simples que acreditava quando tinha quinze anos, mas algo realmente mudou. Não tenho direito a muita coisa e preciso descobrir meu próprio espaço, que não será o do menino e tampouco o do adolescente. A maturidade arrebenta minha vidraça e fala comigo em noites de embriagada ternura e música. Acredito, piamente, que ser adulto é ser você mesmo em seu próprio filme!

Ainda me falta encontrar tanta coisa. O brilho do teu olhar quando nos encontramos naquela festa boba é algo que jamais irei esquecer. O cheiro de teu pescoço naquele abraço de despedida me acompanha a tantos anos que começo a imaginar que é meu... como se eu pudesse ser dono de tanta beleza. Ainda busco o milagre, a palavra que uma vez dita muda tudo, o sonho de encontrar o casarão onde Maria jogou o coelho branco morto, a menina que dançou comigo naquela noite de lua cheia perto da piscina, o lugar onde as pessoas da floresta se reúnem ao entardecer, a vontade de fugir deste mundo para ter você sem necessitar explicar nada, sem necessitar palavras para dizer o que sinto.

Creio que aos trinta comecei a sorrir de verdade, a ter um pouco mais de paciência comigo mesmo, comecei a gostar mais deste homem que possui dentro de si um menino que ninguém consegue ver, mas que corre feito louco por um campo de flores amarelas e brancas, cantando uma canção que apenas ele pode escutar, buscando um milagre no final deste nosso tempo que se vai, querendo aprender um pouco mais a cada dia, com uma tremenda dor de viver no peito e, acima de tudo, sentindo uma falta tremenda de teus olhos, de teu cheiro, de você.

Os trinta invadiram minha janela desta madrugada. Imagino que estavam um pouco atrasados, mas quem vai compreender o tempo... ele chega sem ser convidado e entra sem pedir licença. As palavras se vão, minha taça seca, minha música favorita termina. O importante é esta estrela solitária sob minha janela, ela pisca e pisca uma luz azul e branca, e jamais, jamais saberá de minha existência. Mas eu confirmo a sua... e me confirmo.

* Escrito na cidade de Valencia, Espanha, no verão de 1999.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

O socialismo do século 21

Dê razão sempre a si mesmo e a seu sentimento,
diante de qualquer discussão,
debate e introdução;
se o senhor estiver errado,

o crescimento natural de
sua vida intima o levará
lentamente, com o tempo,
a outros conhecimentos.

Permita a suas avaliações seguir o
desenvolvimento próprio,

tranqüilo e sem perturbação,
algo que, como todo avanço,
precisa vir de dentro
e não ser forçado
nem apressado
por nada.

Tudo está em deixar amadurecer
e então dar à luz.

Ranier Maria Rilke,
em “Carta a um jovem poeta”,
23 de abril de 1903.


Apesar de bastante divulgada pelo presidente venezuelano Hugo Chávez, a expressão “socialismo do século 21” não é de sua criação. A expressão, bem como seu significado, foi criada pelo escritor alemão Heinz Dieterich Steffan, Professor da Universidade Autônoma Metropolitana – UAM, do México, que conheceu o Presidente Chávez em 1999, aos três meses no poder.

Em entrevista ao “Correio Braziliense”, de 12 de janeiro de 2007, o Professor Heinz Dieterich Steffan explicou os fundamentos de sua famosa teoria, que combina democracia participativa com “um sistema econômico não mais regido por preços”, no qual, segundo seu autor, os produtos teriam um valor baseado no tempo médio gasto na sua produção.

“Uma sociedade diferente precisa de uma economia qualitativamente diferente. Os produtos terão um valor, baseado no tempo médio gasto em sua produção ou time-imput. Se um aparato de medicina de Cuba representa 100 horas de trabalho, e o mesmo ocorre na produção de 500 barris de petróleo, podemos trocá-los de forma justa”, leciona o teórico alemão.

Destarte, o socialismo do século 21 para o Professor Heinz Dieterich Steffan foi um conceito formulado em 1998, quando buscava um modelo alternativo à economia de mercado, um modelo que sociedade pós-capitalista que leve em conta a “intenção humanista do socialismo histórico”, apesar de conter diferenças qualitativas.

De acordo com a teoria formulada, a economia deverá operar sobre valores e não mais sobre os preços, além de ampliar a participação cidadã no processo decisório econômico, político e social. Contudo, a ampliação da participação popular no processo decisório não substituiria o Poder Legislativo do Estado, pois seria implantado de forma gradual, e em seu primeiro momento seria submetido á decisão popular apenas 10% do orçamento estatal, ficando o restante submetido tão somente ao Legislativo.

Para o Professor Heinz Dieterich Steffan, a Venezuela segue avançando, confiante de que Hugo Chávez não instalará uma tirania naquele país. Contudo, ele não acredita que todos os membros do governo venezuelano saibam o que significa o ‘socialismo do século 21’: “Muita gente do governo Chávez ainda não está ciente do que consiste a economia do socialismo do século 21. Alguns apostam no escambo, outros na expropriação da propriedade privada”... “Mas o socialismo do século 21 só começará na Venezuela quando Chávez instituir a contabilidade do valor no Estado e nos três principais setores econômicos: a PDVSA (petroleira estatal), a Corporação Venezuela de Guayana (indústria básica de energia) e as cooperativas”.

Por outro lado, as nacionalizações ocorridas na Bolívia e na Venezuela não significam socialismo, mas recuperação das forças produtivas, no mais tradicional modelo “nacional-desenvolvimentista”, já praticado no Brasil durante o governo de Getúlio Vargas, na Argentina de Perón e no México de Lázaro Cárdenas. Como explica o Professor alemão: “Mas isso não muda a lógica do comportamento de mercado, e a nacionalização indiscriminada pode comprometer a eficiência econômica. O império soviético faliu porque era, no fundo, uma economia estatal. O risco aqui é o mesmo. Pode estatizar, criar cooperativas. Se for baseada no preço, a economia não deixa de ser capitalista”.

O processo histórico de transição venezuelana já iniciou, e o Professor Heinz Dieterich Steffan acredita na implantação do socialismo do século 21: “Chávez acha que Jesus foi o primeiro grande socialista, mas eu já lhe disse que Jesus e a Bíblia não podem aportar nada ao socialismo. Jesus resolvia problemas de falta de vinho ou pão com milagres. Nós precisamos de ciência e tecnologia”.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Canção triste de espera














O mundo é um ótimo lugar pra nascer
se não te importa que a felicidadenem sempre tenha muita graçase não te importa um quê de infernode quando em quandojusto quando tudo vai bempois nem mesmo nos céusse canta o tempo todo.

Lawrence Ferlinghetti,
em "O mundo é um ótimo lugar...",publicado originariamente em "Pictures of the Gone World",em 1955,e no Brasil publicado em "Vida sem fim", 1984.

A canção triste de espera começa a soar no meu ouvido, justo agora, no meu melhor momento, suas palavras de tristeza soam como um pesado sino de desolação no meu coração cheio de nós.

E lembro de nós, sorrindo pela cidade que nos esquecia, entre beijos e carinhos, no meio da nossa adolescência, no meio de nossas vidas. Como pude esquecer, durante todos esses anos, da nossa alegria?

A canção triste de espera arranca seus acordes nesta tarde quente e chuvosa na cidade que comprime minh’alma de doce angústia e lembranças de solitárias caminhadas por praças vazias, depois daquelas manhãs no colégio dos padres.

A canção triste de espera invade-me como uma avalancha de mau gosto de boca e pesar escuro, fecha meu tempo, derrapa meu sol pro Oriente, subtrai-me de meus melhores sonhos de felicidade a dois, anoitece com o vento mais frio minha carne e queima meu estomago com a acidez das más noticias.

A canção triste de espera atropela minha alegria. E nunca esquecerei que na minha melhor hora, no meu melhor momento, soou a triste canção da espera.

* Escrito na cidade de Teresina, em 24 de julho de 2006.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Carta a um amigo distante


infante, desejavas crescer
para realizares os teus sonhos de conquista.
adulto, queres retornar ao país de tua infância.
não sabes o que queres.
queres apenas morrer, esquecer.
queres viver eternamente num mundo
que não é o teu. contudo, tens esperança
e agora teces um poema sem fim
com o novelo infinito de tua vida
que se desdobra do nada ao tudo...

Elmar Carvalho,
em "Vida in Vitro",
no livro “Lira dos Cinqüentanos”,
2006.


Estimado amigo Elmar, não sabes minha alegria ao receber tua carta, acompanhada do teu poema “Vida in Vitro”. Sim, Elmar, eu compreendo perfeitamente tudo que nele está escrito. Entendo tuas lembranças da infância, da busca da menina de uma noite de verão (ou inverno). E, principalmente, entendo quando escreves:

“no entanto
ainda não estás saciado,
esperas um milagre
mas não sabes se os milagres ainda existem,
estás perdido”


Sim, poeta, tantas vezes me senti assim, tal qual teu poema. Em busca de um milagre, de alguma que dure mais que um flerte. Quantas vezes não consigo dormir e vago com meus pensamentos e lembranças. Quantas vezes busco respostas para as perguntas que desconheço. E ando pelas ruas, cumprimento os amigos, olho as pessoas e não me vejo. Sempre buscando encontrar o local secreto combinado que esqueci, a palavra mágica, a menina que dançou comigo à beira da piscina na festa desconhecida e iluminada de lua...

Há algo, não sei explicitar, que lembra a poesia “beat” americana e um Drummond insone. Talvez seja a eterna busca da “noite que nunca acaba”, do copo que nunca seque, da mulher que nunca te abandone, do amigo que nunca traia a amizade, não sei. Mas alguma coisa em mim entende perfeitamente tua poesia. Quiçá seja os ecos de nossas conversas na velha Sunab, pois lembro termos falado sobre alguns sentimentos revelados na poesia.

A vida por aqui é uma descoberta diária. A Espanha de hoje na lembra Cervantes, mas brilha nas páginas de um Antonio Muñoz Molina. Entretanto, carrego o Brasil na alma. As lembranças de Teresina, do Piauí, nosso pobre Estado sem nenhuma sorte, do nosso país, me comovem. As comparações com o velho mundo são inevitáveis. Por que esta eterna incompetência para construir um grande país? Por que tanta corrupção, miséria, fome, indiferença e egoísmo?

Por que tanta falta de humildade, tanta falta de respeito pelo ser humano, tanta falta de vergonha na cara? Será este o legado que deixaremos aos nossos netos? Será este o Brasil que queremos para nós mesmos? Se todos cumprissem seu dever, se todos participassem com sua pequenina quota (não é necessário muito), tudo seria tão diferente.

A Universidade de Valencia, onde estudo, semana passada completou quinhentos anos. Isto mesmo, quinhentos anos de existência como universidade. E não é a mais antiga da Espanha, pois Salamanca é do século XIII.

Aproveitando a semana de festividades pelo aniversário da universidade, viajei à Portugal, cruzei o Algarves e o Alentejo de carro e fui até Lisboa. Você não imagina o quanto Portugal é pobre e bonito.

As palavras acabam e fica o convite para você cruzar o Atlântico e conhecer um pouco desta parte do mundo, onde com certeza encontrará uma casa acolhedora, um copo de vinho e um amigo que sempre gostou de conversar com você, pois sempre aprendeu muito com as sua lições.

Saudações à sua família e aos nossos amigos.

PS: Agora entendo porque o Oswald descobriu o Brasil desde Paris. É porque daqui se pensa demasiado em casa.


* Escrito na cidade de Valencia, Espanha, na primavera de 1999.

segunda-feira, janeiro 01, 2007

A fadiga da expansão européia




Não podemos ampliar
a União Européia eternamente
sem reformar as instituições".

Jose Manuel Durão Barroso,

Presidente da Comissão Européia,
em setembro de 2007.


Hoje, dia primeiro de janeiro de dois mil e sete, a União Européia - UE atinge a marca de 27 países, em sua sexta ampliação, com a entrada dos dois Estados mais pobres do clube europeu: Romênia e Bulgária - que juntos representam menos de 1% do PIB do bloco. Desde 2004, ambos fazem parte da OTAN.

De entrada, os fundos de coesão da UE injetarão até 2013, ao redor de 32 bilhões de euros (mais de R$ 90 bilhões) na Romênia e 11 bilhões de euros (R$ 31 bilhões) na Bulgária, para programas de fortalecimento das instituições públicas, de implantação da legislação européia e infra-estrutura. Por outro lado, a União Européia ganha influência sobre a região dos Bálcãs e de acesso ao Mar Negro, e suas importantes fontes de energia.

Bulgária é um dos territórios habitados mais antigos da Europa, desde o século II, e esteve sob o domínio do império otomano por cinco séculos, até sua independência em 1878. República Popular e satélite da URSS de 1946 até 1989, Bulgária teve a mais pacífica transição para o capitalismo, com eleições presidenciais em 1990 e uma nova Constituição em 1991. O padrão de vida de seus habitantes caiu 40% com relação aos tempos do comunismo, à causa da inflação, do desemprego e da corrupção generalizada. Desde 1994 a economia búlgara começou a recuperar-se e atualmente cresce a uma taxa de 5% ao ano. Utiliza oficialmente o alfabeto cirílico e 85% de sua população é cristã ortodoxa.

Romênia foi quase propriedade particular do ditador Nicolae Ceausescu durante mais de vinte anos. Tentando exercer uma política externa independente da URSS, Romênia foi o único país membro do Pacto de Varsóvia a condenar a invasão da Tchecoslováquia em 1968, o que lhe rendeu bilionários empréstimos pelos países ocidentais. Ceausescu foi executado em dezembro de 1989, quando uma insurreição popular deu um basta ao regime, promovendo as reformas democráticas. De sua população, 87% são cristãos ortodoxos.

A “fadiga de expansão” da União Européia não contagiou os novos sócios, pois suas populações acreditam na sua maioria, numa melhoria de seus padrões com a entrada no bloco europeu, apesar de que alguns países que entraram no clube europeu em 2004 terem sofrido crises pontuais após seus ingressos. A “fadiga de expansão” sentida na União Européia resume-se no fato de que menos da metade sua população acredita que o bloco esteja progredindo no caminho certo com sua expansão política.

Contudo, na matéria “imigração” a recepção não foi das melhores, porto que apenas a Suécia e a Finlândia não imporão restrições aos búlgaros e romenos. Todos os demais 15 sócios iniciais da União Européia (Bélgica, França, Alemanha, Itália, Luxemburgo, Holanda, Dinamarca, Irlanda, Reino Unido, Grécia, Portugal, Espanha, Áustria, Finlândia e Suécia) fecharam as portas do mercado de trabalho aos novos sócios até sete anos, utilizando de normas do próprio bloco.

A entrada de Bulgária e Romênia encerra um novo ciclo do processo de integração europeu, que resultará numa prolongada pausa na esperada entrada de Turquia, Croácia e Macedônia no bloco.

O bloco europeu inicia-se em 1957, com o ingresso de Bélgica, França, Alemanha, Itália, Luxemburgo e Holanda. A primeira expansão dá-se em 1973, com a entrada de Dinamarca, Irlanda e Reino Unido. Em 1981, Grécia é aceita no grupo. Portugal e Espanha entram juntos em 1986. Áustria, Finlândia e Suécia entram no clube em 1995, encerrando um ciclo. A última grande expansão foi em 2004, com a entrada de Chipre, República Checa, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Malta, Polônia, Eslováquia e Eslovênia. Por fim, em 2007, Bulgária e Romênia entraram na União Européia que atinge seus 27 membros.

Hoje, ainda, inicia a presidência da Alemanha na União Européia, que durará até 30 de junho de 2007 - quando assumirá a presidência Portugal, que promete retomar as negociações para a implantação da Constituição Européia. A crise da Constituição Européia começou quando em 2005, França e Holanda a reprovaram em seus plebiscitos, em oposição à metade dos membros do bloco que a tinham aprovado.

Por fim, hoje marca a entrada da Eslovênia, ex-república da antiga Iugoslávia, como 13º país do bloco europeu a adotar o Euro como moeda nacional, dois anos e meio depois de sua entrada na EU e dezesseis anos após abandonar a federação socialista da Iugoslávia. Assim, atualmente fazem parte da zona euro Bélgica, França, Alemanha, Itália, Luxemburgo, Holanda, Irlanda, Grécia, Portugal, Espanha, Áustria, Finlândia e Eslovênia.

O Euro foi estabelecido pelo Tratado de Maastricht, em 1992, a nova moeda foi lançada como “moeda não-física” em 1999 e passou a tomar a forma de cédulas e moedas em 2002. Para participar da zona euro os países precisam cumprir uma série de critérios econômicos, como por exemplo, definir o tamanho da dívida pública, o grau de estabilidade da moeda e as taxas de inflação e de juros. A rigidez de exigências para entrar na zona euro se comprova no caso da Lituânia, que por ter sua inflação 0,1% acima da meta prevista, precisou adiar a adoção da moeda européia para 2009. Ou como Polônia e Hungria, que por seus déficits orçamentários elevados ainda não puderam adotar o Euro.