ENTREVISTA com Buzz Aldrin
Astronauta da primeira tripulação que pisou na Lua
40 ANOS DA CHEGADA À LUA
"Haverá vida em outros planetas quando formos visitá-los”
TONI GARCÍA – El País - 19/07/2009
Tradução de Antonio de Freitas Jr.
40 ANOS DA CHEGADA À LUA
"Haverá vida em outros planetas quando formos visitá-los”
TONI GARCÍA – El País - 19/07/2009
Tradução de Antonio de Freitas Jr.
Em 20 de julho de 1969 aterrissava no Mar da Tranquilidade o módulo lunar da missão Apolo 11. Em seu interior, os astronautas Edwin Eugene ‘Buzz’ Aldrin e Neil Armstrong (comandante da expedição) se dispunham a por o pé na Lua. Armstrong disse aquilo de "um pequeno passo para o homem e um grande passo para a humanidade" e Aldrin falou de "desolação magnífica" em referência à paisagem que lhes rodeava. Este último foi o segundo homem a pisar a superfície lunar e se destacou, ademais, por sua decisão de comungar naquele local -"se fosse agora, eu não faria; naquele momento me pareceu um gesto importante", admite-; e mais tarde, já de volta, por seus problemas com a depressão e o álcool.
Aldrin tem agora 79 anos e segue conservando o caráter que lhe fez famoso e que há dois anos deixou bem patente quando Bart Sibrel, um dos mais célebres defensores da teoria de que a alunissagem foi na verdade uma montagem lhe recriminou na saída de uma conferência, o ex-astronauta respondeu nocauteando-lhe sem sequer olhá-lo nos olhos. "Não sabia que ia me denunciar", contesta o ex-astronauta com um meio sorriso quando na entrevista, celebrada no passado dia 6 de julho em Roma, lhe perguntam por este fato.
Buzz Aldrin nasceu em 20 de Janeiro de 1930 em Glen Ridge, um pequeno povo de New Jersey, e seu pai, que era amigo de Charles Lindbergh e Orville Wright, meteu-lhe na cabeça o gosto pela aviação. Aldrin finalizou seus estudos em West Point como terceiro de sua turma, voou em mais de 60 missões de combate na Coréia e finalmente se alistou na NASA onde, durante seis anos, preparou-se para o que seria a missão de sua vida: a conquista da Lua.
Em sua recente autobiografia, ‘Magnificent desolation: the long journey home from moon’, Aldrin explora o que sucedeu desde que em 24 de julho de 1969, quatro dias depois de terem sidos vistos por centenas de milhões de espectadores, a missão amerissou no oceano Pacífico, e que resume em três palavras: infidelidade, depressão e alcoolismo. Uma época obscura que não superou até 1978, segundo admite o próprio Aldrin nas páginas do livro, graças sobretudo à ajuda de Alcoólicos Anônimos, cujas reuniões segue participando quando sua agenda permite.
"Quando em 1972 deixei a NASA, eu desabei", confessa o ex-astronauta, que não voltou a encontrar o caminho até que decidiu converter-se em embaixador do programa espacial e aproveitar sua experiência para implicar a outros em desafios mais distantes. "Marte? Tardaremos ainda em vê-lo".
"Um pouco cansado" de responder sempre as mesmas perguntas e advertindo ao entrevistador que em 20 minutos não vai poder contar o que sentiu na superfície da Lua, Aldrin se dá um pequeno banho de modéstia quando conta por que foi um dos eleitos para entrar na historia da humanidade: "É muito simples: estava no lugar certo no momento certo. Nada mais".
Pergunta. Você acaba de publicar sua autobiografia, ‘Magnificent desolation’, na qual fala, entre outras muitas coisas, de seus problemas de alcoolismo. Foi duro voltar a recordar aquele tempo?
Resposta. Não foi duro em absoluto porque me serviu para renovar a amizade que tinha com algumas pessoas. Pessoas que me ajudaram muito em certos momentos em que tive a necessidade de receber essa ajuda. Também me serviu para reavaliar minha vida, as opções que tomei em cada momento e recordar todas as pessoas que quiseram me ajudar. Compartilhamos os bons e os maus momentos, e isso te ajuda a recuperar-se de qualquer coisa.
P. De maneira que não teve problemas em enfrentar-se a seus demônios...
R. Me enfrento a eles diariamente. Da mesma forma, recordar o que sou é algo que faço semanalmente no meu grupo de recuperação com outras pessoas. Juntos, compartilhamos esse sentimento de comunidade no qual fomos capazes de nos ajudar uns aos outros. Isso me ajudou a madurar e a pensar que, por muito tempo que passe, nunca serei imune a este tipo de problema.
P. Você tende a olhar para trás e recordar toda aquela época marcada pela chegada à Lua? Cumpriu as expectativas que gerou naquele momento?
R. Realmente, não olho para trás. Em absoluto. Creio que aprendi a não estabelecer expectativas sobre o que poderia passar ou não passar. Se esperas alcançar certas metas e estas não se cumprem, posso te assegurar que serás infeliz. Não recordo muito bem quais eram minhas expectativas de futuro naquele momento e o certo é que não meço meu êxito pelo que fiz, mas se fiz o que se esperava de mim. Nesse sentido, não estou descontente.
P. Qual seria a seu juízo o rumo que deveria tomar o programa espacial estadunidense?
R. A Lua necessita desenvolvimento, porém necessita ser explorada por outras pessoas, outros países que queiram desenvolver algum projeto levando sua própria equipe; se essa motivação não existe porque esses países, chamem-se China ou Índia, pensam: "Isto já foi feito ", todos deveríamos abandoná-la já e avançar. Ou seja, há algo na Lua que valha a pena explorar? Se há tesouros na Lua pelos quais valha a pena voltar, então definamos quais são exatamente esses tesouros antes de gastar um montão de dinheiro indo buscá-los.
P. Então, vocês deveriam buscar outros objetivos?
R. Claro. Há grandes logros por conseguir além da Lua, muito além. E isso é o que eu acredito que deveríamos fazer em lugar de gastar muito dinheiro em projetos inservíveis se não queremos acabar, como nação, comprando da Rússia o modo para chegar a nossa própria estação espacial porque gastamos enormes orçamentos em algo que ainda não está pronto. Por exemplo: estamos atrasados em pistas de aterrissagem convencionais há 28 anos e agora deixamos de estar porque o custo é demasiado alto com as naves modernas. Devemos escolher as opções necessárias para mudar tudo isso. É o que trato de mostrar aos que mandam. Eu sei que há muitíssima gente que não quer mudar e que minha tarefa é muito difícil e muito arriscada, porém não podemos permanecer calados por mais tempo.
P. O que mudou em sua visão de futuro a respeito da corrida espacial nos últimos 40 anos?
R. Quando chegamos à Lua, posso dizer que minha visão não era demasiada ampla, só me concentrava em saber o que havia que fazer e os problemas que podiam surgir. Agora, revisando tudo o que fizemos desde então, e como disse antes, creio que não estamos fazendo bem as coisas. A transição do ônibus espacial (shuttle) para a estação espacial está sendo mito mal feita e o tempo que estamos gastando é um tempo vital. Temos que consertar.
P. Você sempre defendeu que não acredita na existência de vida em outros planetas; alguns companheiros seus disseram o contrario. Continua mantendo a mesma postura?
R. Haverá vida em outros planetas quando formos a outros planetas. Então poderemos manter que há vida nesses planetas. Quando façamos isso, poderemos trabalhar sobre o terreno e descobrir muitas coisas sobre a origem da vida. Eu não acredito que ninguém esteja nos visitando, por mais bonito que seja pensar que algumas criaturas nos visitam ou nos visitaram no passado. Isso faz parte da ficção científica, da qual, por certo, eu escrevo relatos.
P. Você gosta de ficção científica?
R. Realmente, não. Ainda assim, creio que ‘2001: Uma odisséia no espaço’ foi certamente pioneira em sua maneira de formular perguntas e desafiar à platéia a descobrir suas próprias respostas. Obviamente, no mundo real não chegamos ao nível técnico do filme de Kubrick [sorri].
P. Você viu o filme depois de chegar à Lua?
R. Não, o certo é que o vi antes.
P. O que você opina dessa lenda urbana que afirma que vocês nunca chegaram a pisar na Lua?
R. Pois que me dá pena que haja tanta gente suscetível de ser manipulada e capaz de dar crédito a algumas das bobagens sensacionalistas de alguns meios que dizem ter informação interna; é algo delirante... [risos], porém isto é a humanidade e a maneira como a sociedade cresceu. É o autêntico anti-progresso.
P. O significado da alunissagem no Mar da Tranquilidade mudou muitíssimo ao longo dos anos...
R. Não estou certo de admirar como se ensina a historia nas escolas recentemente. Existe uma falta de respeito pelos esforços que foram feitos e o importante que foi tudo o que conseguimos em seu momento. Também acredito que há uma alteração da historia quando esta se conta aos jovens, de maneira que eles verão o futuro de forma diferente porque não sabem como e onde surgem os conflitos.
P. No que diferencia o astronauta de 40 anos atrás do atual?
R. O de quatro décadas atrás dava as boas vindas ao desafio de voar mais alto, mais rápido, mais longe... e era aceito como um pioneiro capaz de carregar a responsabilidade de uma importante missão. Creio que num futuro próximo tudo isso voltará a ser importante, porém a chave residirá na capacidade de sobreviver, a meio e longo prazo, em missões espaciais.
P. Como vai celebrar este aniversário?
R. O celebrarei quando acabem as celebrações... Celebrar é muito bonito se tens que escutar, porém para os que passaram 40 anos contando a mesma historia é uma coisa completamente diferente.
P. ‘Pixar’ lhe recompensou finalmente por usar seu nome para batizar a ‘Buzz Lightyear’ em ‘Toy story’?
R. Ninguém me deu nada. Nada de nada.
Aldrin tem agora 79 anos e segue conservando o caráter que lhe fez famoso e que há dois anos deixou bem patente quando Bart Sibrel, um dos mais célebres defensores da teoria de que a alunissagem foi na verdade uma montagem lhe recriminou na saída de uma conferência, o ex-astronauta respondeu nocauteando-lhe sem sequer olhá-lo nos olhos. "Não sabia que ia me denunciar", contesta o ex-astronauta com um meio sorriso quando na entrevista, celebrada no passado dia 6 de julho em Roma, lhe perguntam por este fato.
Buzz Aldrin nasceu em 20 de Janeiro de 1930 em Glen Ridge, um pequeno povo de New Jersey, e seu pai, que era amigo de Charles Lindbergh e Orville Wright, meteu-lhe na cabeça o gosto pela aviação. Aldrin finalizou seus estudos em West Point como terceiro de sua turma, voou em mais de 60 missões de combate na Coréia e finalmente se alistou na NASA onde, durante seis anos, preparou-se para o que seria a missão de sua vida: a conquista da Lua.
Em sua recente autobiografia, ‘Magnificent desolation: the long journey home from moon’, Aldrin explora o que sucedeu desde que em 24 de julho de 1969, quatro dias depois de terem sidos vistos por centenas de milhões de espectadores, a missão amerissou no oceano Pacífico, e que resume em três palavras: infidelidade, depressão e alcoolismo. Uma época obscura que não superou até 1978, segundo admite o próprio Aldrin nas páginas do livro, graças sobretudo à ajuda de Alcoólicos Anônimos, cujas reuniões segue participando quando sua agenda permite.
"Quando em 1972 deixei a NASA, eu desabei", confessa o ex-astronauta, que não voltou a encontrar o caminho até que decidiu converter-se em embaixador do programa espacial e aproveitar sua experiência para implicar a outros em desafios mais distantes. "Marte? Tardaremos ainda em vê-lo".
"Um pouco cansado" de responder sempre as mesmas perguntas e advertindo ao entrevistador que em 20 minutos não vai poder contar o que sentiu na superfície da Lua, Aldrin se dá um pequeno banho de modéstia quando conta por que foi um dos eleitos para entrar na historia da humanidade: "É muito simples: estava no lugar certo no momento certo. Nada mais".
Pergunta. Você acaba de publicar sua autobiografia, ‘Magnificent desolation’, na qual fala, entre outras muitas coisas, de seus problemas de alcoolismo. Foi duro voltar a recordar aquele tempo?
Resposta. Não foi duro em absoluto porque me serviu para renovar a amizade que tinha com algumas pessoas. Pessoas que me ajudaram muito em certos momentos em que tive a necessidade de receber essa ajuda. Também me serviu para reavaliar minha vida, as opções que tomei em cada momento e recordar todas as pessoas que quiseram me ajudar. Compartilhamos os bons e os maus momentos, e isso te ajuda a recuperar-se de qualquer coisa.
P. De maneira que não teve problemas em enfrentar-se a seus demônios...
R. Me enfrento a eles diariamente. Da mesma forma, recordar o que sou é algo que faço semanalmente no meu grupo de recuperação com outras pessoas. Juntos, compartilhamos esse sentimento de comunidade no qual fomos capazes de nos ajudar uns aos outros. Isso me ajudou a madurar e a pensar que, por muito tempo que passe, nunca serei imune a este tipo de problema.
P. Você tende a olhar para trás e recordar toda aquela época marcada pela chegada à Lua? Cumpriu as expectativas que gerou naquele momento?
R. Realmente, não olho para trás. Em absoluto. Creio que aprendi a não estabelecer expectativas sobre o que poderia passar ou não passar. Se esperas alcançar certas metas e estas não se cumprem, posso te assegurar que serás infeliz. Não recordo muito bem quais eram minhas expectativas de futuro naquele momento e o certo é que não meço meu êxito pelo que fiz, mas se fiz o que se esperava de mim. Nesse sentido, não estou descontente.
P. Qual seria a seu juízo o rumo que deveria tomar o programa espacial estadunidense?
R. A Lua necessita desenvolvimento, porém necessita ser explorada por outras pessoas, outros países que queiram desenvolver algum projeto levando sua própria equipe; se essa motivação não existe porque esses países, chamem-se China ou Índia, pensam: "Isto já foi feito ", todos deveríamos abandoná-la já e avançar. Ou seja, há algo na Lua que valha a pena explorar? Se há tesouros na Lua pelos quais valha a pena voltar, então definamos quais são exatamente esses tesouros antes de gastar um montão de dinheiro indo buscá-los.
P. Então, vocês deveriam buscar outros objetivos?
R. Claro. Há grandes logros por conseguir além da Lua, muito além. E isso é o que eu acredito que deveríamos fazer em lugar de gastar muito dinheiro em projetos inservíveis se não queremos acabar, como nação, comprando da Rússia o modo para chegar a nossa própria estação espacial porque gastamos enormes orçamentos em algo que ainda não está pronto. Por exemplo: estamos atrasados em pistas de aterrissagem convencionais há 28 anos e agora deixamos de estar porque o custo é demasiado alto com as naves modernas. Devemos escolher as opções necessárias para mudar tudo isso. É o que trato de mostrar aos que mandam. Eu sei que há muitíssima gente que não quer mudar e que minha tarefa é muito difícil e muito arriscada, porém não podemos permanecer calados por mais tempo.
P. O que mudou em sua visão de futuro a respeito da corrida espacial nos últimos 40 anos?
R. Quando chegamos à Lua, posso dizer que minha visão não era demasiada ampla, só me concentrava em saber o que havia que fazer e os problemas que podiam surgir. Agora, revisando tudo o que fizemos desde então, e como disse antes, creio que não estamos fazendo bem as coisas. A transição do ônibus espacial (shuttle) para a estação espacial está sendo mito mal feita e o tempo que estamos gastando é um tempo vital. Temos que consertar.
P. Você sempre defendeu que não acredita na existência de vida em outros planetas; alguns companheiros seus disseram o contrario. Continua mantendo a mesma postura?
R. Haverá vida em outros planetas quando formos a outros planetas. Então poderemos manter que há vida nesses planetas. Quando façamos isso, poderemos trabalhar sobre o terreno e descobrir muitas coisas sobre a origem da vida. Eu não acredito que ninguém esteja nos visitando, por mais bonito que seja pensar que algumas criaturas nos visitam ou nos visitaram no passado. Isso faz parte da ficção científica, da qual, por certo, eu escrevo relatos.
P. Você gosta de ficção científica?
R. Realmente, não. Ainda assim, creio que ‘2001: Uma odisséia no espaço’ foi certamente pioneira em sua maneira de formular perguntas e desafiar à platéia a descobrir suas próprias respostas. Obviamente, no mundo real não chegamos ao nível técnico do filme de Kubrick [sorri].
P. Você viu o filme depois de chegar à Lua?
R. Não, o certo é que o vi antes.
P. O que você opina dessa lenda urbana que afirma que vocês nunca chegaram a pisar na Lua?
R. Pois que me dá pena que haja tanta gente suscetível de ser manipulada e capaz de dar crédito a algumas das bobagens sensacionalistas de alguns meios que dizem ter informação interna; é algo delirante... [risos], porém isto é a humanidade e a maneira como a sociedade cresceu. É o autêntico anti-progresso.
P. O significado da alunissagem no Mar da Tranquilidade mudou muitíssimo ao longo dos anos...
R. Não estou certo de admirar como se ensina a historia nas escolas recentemente. Existe uma falta de respeito pelos esforços que foram feitos e o importante que foi tudo o que conseguimos em seu momento. Também acredito que há uma alteração da historia quando esta se conta aos jovens, de maneira que eles verão o futuro de forma diferente porque não sabem como e onde surgem os conflitos.
P. No que diferencia o astronauta de 40 anos atrás do atual?
R. O de quatro décadas atrás dava as boas vindas ao desafio de voar mais alto, mais rápido, mais longe... e era aceito como um pioneiro capaz de carregar a responsabilidade de uma importante missão. Creio que num futuro próximo tudo isso voltará a ser importante, porém a chave residirá na capacidade de sobreviver, a meio e longo prazo, em missões espaciais.
P. Como vai celebrar este aniversário?
R. O celebrarei quando acabem as celebrações... Celebrar é muito bonito se tens que escutar, porém para os que passaram 40 anos contando a mesma historia é uma coisa completamente diferente.
P. ‘Pixar’ lhe recompensou finalmente por usar seu nome para batizar a ‘Buzz Lightyear’ em ‘Toy story’?
R. Ninguém me deu nada. Nada de nada.