segunda-feira, agosto 30, 2004

A diplomacia das chuteiras

Desde os anos 60 que o Brasil almeja a um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Esse caminho, sabe a diplomacia brasileira, passa necessariamente por um papel de maior relevo no concerto das nações. Na busca desse protagonismo é que o país aceitou o comando de uma missão militar de manutenção da paz no miserável Haiti, da qual aportará a maior parte do efetivo humano. Nossas tropas estão divididas em um batalhão de fuzileiros, um outro de infantaria motorizada, um esquadrão de cavalaria mecanizada e dois pelotões de engenharia. A missão está autorizada pela Resolução nº 1.542 da ONU e orçada em 217 milhões de euros. Dentre os objetivos da missão está o de patrulhar as ruas e desarmar as facções do país caribenho, que possui 80% de seus oito milhões de habitantes vivendo na mais brutal indigência.

O Brasil, através do general Augusto Heleno Ribeiro Pereira, lidera uma força de 6.700 soldados, cascos azuis, 1.622 policiais e 900 funcionários civis que atuarão no Haiti. Desde total, o Brasil aportará um efetivo de 1.200 militares, no maior envio de tropas fora do país desde a participação brasileira na invasão da República Dominicana na época do governo Castelo Branco.

A Missão das Nações Unidas de Estabilização no Haiti, denominada MINUSTAH, foi aprovada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas – ONU em 30 de abril, e oficialmente teve início em 1º de junho. Os cascos azuis substituíram a uma força internacional comandada pelos EUA, que assumiu a segurança no Haiti depois dos incidentes que ocasionaram a saída do presidente eleito Jean-Bertrand Aristide., em fevereiro deste ano. Atualmente o Haiti possui como Presidente interino a Boniface Alexandre, e como Primeiro-Ministro a Gerard Latortue.

Com base no Capítulo III da Carta das Nações Unidas, a operação no Haiti, ou seja, com base no uso da força para impor a paz. Entretanto, a missão terá três frentes, por assim dizer, sendo a primeira de aspecto militar, a segunda civil e a terceira de reconstrução daquele país, que nasceu há dois séculos como a primeira república negra da América.

Inicialmente, a missão no Haiti terá um prazo de seis meses, mas segundo a opinião do Secretário Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, as tropas deverão permanecer naquele país por mais tempo.

Até o presente momento, vários países além do Brasil já ofereceram tropas para a missão do Haiti, como por exemplo Argentina, Bolívia, Canadá, Chile, Croácia, França, Nepal, Paraguai, Peru e Uruguai. Portugal e Espanha ofereceram envio de policia civil.

O Haiti divide com a República Dominicana a Ilha Hispaniola, a segunda maior das Grandes Antilhas, no Mar Caribe. Foi o primeiro país de maioria negra a libertar seus escravos em 1794, e a declarar sua independência em 1804. Entre 1850 ao início do século XX, o Haiti teve 16 presidentes depostos ou assassinados. O país foi ocupado pelos EUA entre 1915 e 1934. Em 1957 assume o poder o médico François Duvalier, o Papa Doc, que instaura uma sangrenta ditadura com o auxilio de seus “tontons macoutes” (bichos-papões), sua guarda pessoal. Depois de sua morte em 1971, seu filho Jean-Claude Duvalier, o Baby Doc, governa Haiti até 1986. O país vem tentando estabelecer uma democracia desde os anos 90.

A pedido do Premier Latortue, a Seleção brasileira de futebol, com o astro Ronaldo, realizou um jogo contra a seleção local, para facilitar o trabalho e a presença das tropas brasileiras naquele país. Em carreata, montados em tanques de guerra, a seleção brasileira desfilou pela capital do Haiti e conseguiu o objetivo de conquistar os haitianos. O Brasil destinou 40 milhões de dólares para sua participação no Haiti, na esperança de que a maior parte desse dinheiro seja devolvida pela ONU. Assim, onde a ONU fracassou na sua missão de paz de 1995-2000, o Brasil estréia com sua diplomacia de chuteiras.