segunda-feira, dezembro 01, 2003

O Brasil na ALCA


A notícia de que o Brasil e os EUA fecharam um acordo light para a efetivação do Acordo de Livre Comércio das Américas – ALCA pegou a alguns desavisados de surpresa, num momento em que os ânimos ideológicos e nacionalistas já ameaçavam subir vários graus na escala da insensatez.

Desconhecem a grande tradição da diplomacia brasileira de esvaziar qualquer sinal de enfrentamento com os EUA, para contornando os pontos polêmicos da agenda bilateral, conseguir ocupar um espaço de atuação digno do tamanho do nosso país, e se possível ligeiramente superior ao nosso pífio 'poderio' econômico. Portanto, não foi nenhuma novidade para a história das relações Brasil-EUA a composição de acordo para a criação da ALCA light.

O livre comércio a qualquer preço não interessa ao Brasil, pois somos os únicos na América Latina que ainda tem algo a perder em matéria de acordos comerciais a todo preço. Não existe ALCA sem Brasil, porque aos EUA não interessa fazer acordo para liberalizar a economia de países com números insignificantes. O México poderia ser um país com perfil de interesse para os EUA na ALCA, mas os mexicanos já estão integrados economicamente aos ianques através do Tratado de Livre Comércio da América do Norte, com sigla em inglês NAFTA. Ademais, como observou o embaixador Rubens Ricupero, países como China e Taiwan, que muito se beneficiaram do comercio mundial, há dois anos nem participavam da Organização Mundial do Comércio – OMC.

Enquanto o discurso do livre comércio é recitado pelos EUA e Europa Ocidental, a realidade é que o protecionismo é adotado por ambos, tanto na industria siderúrgica como na agricultura, prejudicando aqueles países que podem competir e vencer a guerra do comercio internacional nestas áreas. Como disse Manuel Castells, uma simples vaca européia recebe dois dólares ao dia em subsídios, ou seja, o equivalente à renda diária de quase 40% da população mundial.

Cada vez mais “o livre comércio é guerra”, como afirmou Naomi Klein, e a cena que traduz essa afirmação é a de Paul Bremer no Iraque, vestido de paletó e gravata, e calçado de botas militares. E por falar em guerra, em recente entrevista a ex-Secretaria de Estado americana Madeleine Albright receitou que, para próprio bem da América Latina, a região deveria jogar um papel mais ativo no cenário mundial. E vaticinou que a criação de uma força militar Latino-americana que colaborasse nos esforços de paz no mundo daria à região mais influencia internacional.

Porém, a América Latina segue seu caminho na contramão econômica mundial, apesar do texto final da Reunião de Ministros de Educação do continente americano, que veio à luz em 13 de agosto último na capital mexicana, propor a troca da dívida externa por investimentos em educação. Mais dinheiro para um sistema de educação retrogrado e corrupto, que forma demasiados Bacharéis em Direito e Engenheiros de menos.

O acordo firmado agora em novembro, em Miami, sobre a ALCA significa apenas que muita água ainda vai rolar até 2005, e que muitos temas em debate poderão ser resolvidos em outros foros de discussão mundial, como a OMC, por exemplo. Contudo, não devemos esquecer que em 2004 teremos eleições para Presidente dos EUA, e que Bush Jr. é candidato. Será que ainda lembramos do fiasco que foi a ultima eleição? Quem viver, verá.