domingo, fevereiro 13, 2005

O Poder respeita o poder









O Reino Unido não tem força
pra levar os EUA.
Mas Europa tem muita força.
Washington terá que escutar
mais a 450 milhões de europeus
que a 60 milhões de britânicos.
O poder respeita o poder.
Desde o ponto de vista econômico,
a União Européia é uma superpotência.
E o poder respeita ao poder.

Timothy Garton Ash,
no artigo “No mas Jeeves”,
El País, 03-10-2004.


O Brasil não deve jamais afrontar aos EUA. Ao contrário, o Brasil deve aliar-se aos EUA para reafirmar nossa liderança na América do Sul. Esse pensamento não é neoliberal, ao contrário, é um pensamento defendido pela esquerda européia, como política exterior no seio da União Européia. Se eles, os europeus, que possuem sociedades mais igualitárias e ricas defendem esta tese, o mais inteligente para um país em desenvolvimento, com uma dívida social e externa tremenda, é seguir e aplicar essa idéia de política exterior.

E não seria uma inovação em matéria de política exterior brasileira, visto que a seguimos desde o tempo em que fazíamos parte do Império Português - e a Inglaterra era a superpotência hegemônica do momento-, com proveitos incontáveis para o nosso desenvolvimento enquanto potência regional.

Aliás, essa é a política adotada atualmente pela Inglaterra, apesar de que de forma exagerada, conforme admite muitos politólogos ingleses. E pior, pois dá a nítida impressão de que o Reino Unido é apenas uma colônia americana, dado o grau de submissão à Casa Branca. As origens desta submissão britânica aos EUA remontam-se na necessidade de Churchill conseguir apoio americano durante a II Guerra Mundial, no momento posterior à queda da França, quando os britânicos se encontravam em perfeita solidão.

Entretanto, existe o problema do unilateralismo do governo Bush, do qual Alemanha, França e, agora, a Espanha tentam saltar o passo, mesmo desejando a necessária aliança com os EUA. O exemplo espanhol é claro: ao retirar as tropas espanholas do Iraque, o senhor Zapatero – Primeiro Ministro espanhol e socialista - reforça a participação militar do seu país no Afeganistão. Em claro apoio às tropas americanas estacionadas naquele país.

Uma política exterior inteligente, para um país como o Brasil, passa necessariamente por uma aliança com os EUA. Acontece que essa aliança não há de ser entendida como total e incondicional apoio à política exterior do senhor Bush. O poder somente respeita o poder, e isso é uma verdade tão grande como um gol de bicicleta de Pelé numa final de Copa do Mundo contra a Argentina. Ninguém pode negar.

Por fim, cabe lembrar a lição do historiador inglês Timothy Garton Ash, que contou que uma vez perguntado sobre o papel do Reino Unido com relação aos EUA, Harold MacMillan, Ex-Premier britânico, respondeu que deveria ser o mesmo papel dos gregos com relação ao Império romano. Somente esqueceu, que esse papel costumava ser o papel de escravo. O Presidente Reagan tinha como aliado na Europa a Margaret Thatcher, Primeira Ministra britânica, mas isso não o impediu de invadir a ilha de Granada – que faz parte da Commonwealth - sem jamais consultá-la.

Portanto, necessitamos da aliança com os EUA para desenvolver plenamente nossa hegemonia no subcontinente americano, bem como para conseguir um assento definitivo no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Entretanto, não podemos seguir incondicionalmente a política exterior da Casa Branca. Devemos ser aliados preferenciais dos EUA em nossa região, sem perder a independência de buscar soluções nacionais para desenvolver nossa política exterior. Aliados e independentes poderemos até vir a ter poder internacional, pois o poder somente respeita o poder.