Love is the answer
and you know that for sureLove is a flower,
you got to let it,
you got to let it grow
John Lennon,
Mind Games,
1973.
De maneira que os Beatles passaram a ser companheiros de adolescência, verdadeiros amigos naquelas tristes tardes de tédio, sonhos vazios e consciência pesada pelas notas baixas e pela falta de perspectivas de mudança num futuro próximo. O tempo se arrastava naquelas tardes agarrado ao livro de química do Geraldo Camargo, mas com a cabeça viajando por longínquos lugares cheios de pernas, coxas, peitos e pelos pubianos. Como a puberdade cobrava seu preço naquelas tardes ausentes de musas sensuais.
John morreu em 8 de dezembro de 1980, tinha 40 anos, e desde então lá se vão 25 anos. Tempo que transformou aquele pré-adolescente e que mudou alguma coisa nesse louco mundo em que vivemos. John agora é só um mito, talvez o maior de todos os mitos da cultura pop do século XX.
Suas músicas continuam tocando, principalmente "Happy Xmas (War is over)", a mensagem originalmente escrita pra o natal de 1969, no Natal (e aqui abro um parêntese para mandar ao diabo a versão ridícula cantada pela Simone). Inclusive Yoko Ono fez as pazes com Paul McCartney, bem antes da morte de George Harrison, autorizando a gravação da inédita “Real love”, cantada por John e incluída no “Anthology 2” dos Beatles.
Nestes 25 anos sem John, a música dos Beatles e a produção individual de Lennon apenas cresceram e se valorizaram ainda mais. Desde que a banda inglesa Queen gravou a música “Life is real”, tornou-se lugar comum qualificar a John como gênio. Ele mesmo já tinha referido a si mesmo como gênio, afirmando ser uma carga por demais pesada. Suas posições políticas - destacadamente sua posição pacifista, em contra da guerra do Vietnã, seu apoio aos movimentos de esquerda estadunidenses, a defesa do feminismo e sua luta em favor dos Direitos Civis – o tempo demonstrou que foram acertadas. Como também se demonstrou mais tarde, ao abrirem-se aos arquivos da CIA, que não era paranóia sua a perseguição que sofreu nos EUA pelo governo Nixon.
John certamente foi o último grande nome da cultura pop a rebelar-se contra o sistema. Um rebelde com uma guitarra e uma idéia de igualdade na cabeça, gritando pela transformação do mundo em que vivia, de mãos dadas com sua mulher de quimono. Um exemplo pra todo idiota que pensa que está bem na vida, pois inclusive os milionários podem ser revolucionários, podem querer transformar o mundo, mudar o planeta e lutar pelas enormes injustiças que acontecem todo dia em qualquer cantinho da terra. Pensando globalmente, mas agindo localmente. Dar uma real contribuição para melhorar nossa comunidade. Tudo isso era John, e nada disso ficou desbotado nestes 25 anos passados.
Há uma imagem de John andando super feliz pelo Central Park, em Nova York, sorrindo na cidade que ele escolheu pra viver. É essa imagem que vou recordar neste 8 de dezembro de 2005, a imagem de um homem resolvido consigo mesmo, com o seu passado, e feliz da vida.