Obama quer o petróleo de Lula
Washington pretende pôr fim a sua dependência energética da Venezuela
FRANCHO BARÓN - Rio de Janeiro - 09/03/2009
Tradução de Antonio de Freitas Jr.
Tradução de Antonio de Freitas Jr.
Brasil e EUA mantêm contatos informais com o objetivo de fechar um futuro acordo comercial que aumente o fluxo de petróleo e derivados desde o gigante sul-americano até seu vizinho do norte. A recém estreada administração de Barack Obama já deixou clara sua vontade de incrementar consideravelmente as importações de petróleo brasileiro. Concretizando-se o pacto comercial, algo que hoje em dia parece muito provável, e que depende unicamente do Brasil, a consequência mais direta seria a saída da Venezuela do mercado energético estadunidense, onde atualmente consegue colocar entre 40% e 70% de sua produção petrolífera.
Várias fontes diplomáticas e governamentais de Brasília confirmaram a EL PAÍS o interesse do governo de Luiz Inácio Lula da Silva em aumentar a presença brasileira no mercado norte-americano de hidrocarbonetos, ainda que isso implique numa colisão frontal com os interesses venezuelanos. Tudo isso dependerá da quantidade de petróleo que a companhia estatal brasileira Petrobras consiga bombear nos próximos anos dos poços perfurados em frente aos litorais dos Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, assim como do marco jurídico que Washington e Brasília estabeleçam.
De Brasília se insiste em que o primeiro objetivo do governo é abastecer totalmente seu mercado interno e deixar de depender das importações de petróleo. Uma vez alcançada esta meta, a Petrobras entrará na luta de qualquer maneira pelos mercados mundiais de hidrocarbonetos e seus derivados. Por sua proximidade geográfica e a fluidez do diálogo político que já se estabeleceu com seu novo presidente, EUA se converte no grande comprador natural do ‘ouro negro’ brasileiro.
Do total das importações norte-americanas de hidrocarbonetos, 11% proveem da Venezuela. A empresa estatal venezuelana PDVSA não somente vende aos EUA petróleo pesado e extrapesado, como também mantêm suas próprias refinarias em solo estadunidense e uma ampla rede de postos de gasolina que distribuem seus derivados. Para Washington, uma relação comercial estável com a Venezuela no terreno energético é importante. Contudo, mesmo com suas frequentes ameaças de fechar a torneira do petróleo, para o regime de Chávez a venda de petróleo a seu inimigo ‘número um’ se converteu numa questão de vida ou morte já que lhe supõe um caixa diário de uns 80 milhões de dólares (64 milhões de euros).
É neste contexto que o governo de Washington tem posto os olhos desde há alguns meses nos recém descobertos mega-campos brasileiros de petróleo. Segundo os estudos preliminares realizados pela Petrobras, se encontram frente às costas do Brasil, na camada denominada pré-sal, ou seja, debaixo de uma grossa camada de sal que pode alcançar os dois quilômetros de espessura. É de uma qualidade excelente. Trata-se de petróleo leve, que em comparação com o pesado e o extrapesado (os extraídos na Venezuela), requer menos trabalho e investimento para ser refinado e transformado em derivados.
Fontes diplomáticas brasileiras recordam que o Departamento de Defesa norte-americano decidiu reativar em julho passado sua Quarta Frota para o Caribe e América do Sul, composta inicialmente por 11 navios, entre eles um porta-aviões e um submarino nuclear. "Esta decisão não é casual. Agora mais do que nunca estamos no radar dos estadunidenses, já que existe certa preocupação em alguns setores desse governo pelo que ocorra nesta zona de produção petrolífera", aponta uma fonte próxima ao presidente brasileiro.
As mesmas fontes afirmam que, para os EUA, a Venezuela é um motivo de preocupação mais que de sossego ou estabilidade regional. Obama vê o governo de Brasília como seu aliado natural na América do Sul. O Brasil é um país politicamente estável, de grande potencial econômico, com uma imensa riqueza natural e humana. "Se o Brasil continua em sua linha de fortalecimento institucional, respeito aos princípios da democracia e ao meio ambiente, segurança jurídica e diminuição da desigualdade social, seremos um país produtor de petróleo único no mundo. E isto é muito atraente para os EUA", assegura uma fonte governamental brasileira especialista em política energética.
Ainda que se desconheçam as reservas exatas, é certo que o petróleo achado no litoral brasileiro é abundante: cumprindo-se estas previsões, o Brasil passará a ser o oitavo ou nono produtor do planeta. Ademais, seu transporte até os EUA é quase tão simples como das costas venezuelanas. "Washington entende que as reservas do pré-sal são a salvação de sua dependência da Venezuela", se insiste em Brasília.
Para a Petrobras, a viabilidade do pacto comercial dependerá das quantidades de petróleo que se logrem extrair. A previsão é que haja petróleo para exportar não somente para os EUA, mas para outros países do mundo que já mostraram interesse, como a China e o Japão.
O Brasil insiste em que está mais interessado na venda de derivados, como gasolina, já que lhe resultará muito mais rentável que a venda de barris de petróleo. Isto explica que Lula haja decidido apostar por uma grande injeção de capital na Petrobras para a construção de quatro novas refinarias e a ampliação de outras tantas que já existem. O país aumentou suas exportações de petróleo e derivados em quase 10% em 2008, e 40% dessas vendas foram parar nos EUA. O negocio está em marcha.
Várias fontes diplomáticas e governamentais de Brasília confirmaram a EL PAÍS o interesse do governo de Luiz Inácio Lula da Silva em aumentar a presença brasileira no mercado norte-americano de hidrocarbonetos, ainda que isso implique numa colisão frontal com os interesses venezuelanos. Tudo isso dependerá da quantidade de petróleo que a companhia estatal brasileira Petrobras consiga bombear nos próximos anos dos poços perfurados em frente aos litorais dos Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, assim como do marco jurídico que Washington e Brasília estabeleçam.
De Brasília se insiste em que o primeiro objetivo do governo é abastecer totalmente seu mercado interno e deixar de depender das importações de petróleo. Uma vez alcançada esta meta, a Petrobras entrará na luta de qualquer maneira pelos mercados mundiais de hidrocarbonetos e seus derivados. Por sua proximidade geográfica e a fluidez do diálogo político que já se estabeleceu com seu novo presidente, EUA se converte no grande comprador natural do ‘ouro negro’ brasileiro.
Do total das importações norte-americanas de hidrocarbonetos, 11% proveem da Venezuela. A empresa estatal venezuelana PDVSA não somente vende aos EUA petróleo pesado e extrapesado, como também mantêm suas próprias refinarias em solo estadunidense e uma ampla rede de postos de gasolina que distribuem seus derivados. Para Washington, uma relação comercial estável com a Venezuela no terreno energético é importante. Contudo, mesmo com suas frequentes ameaças de fechar a torneira do petróleo, para o regime de Chávez a venda de petróleo a seu inimigo ‘número um’ se converteu numa questão de vida ou morte já que lhe supõe um caixa diário de uns 80 milhões de dólares (64 milhões de euros).
É neste contexto que o governo de Washington tem posto os olhos desde há alguns meses nos recém descobertos mega-campos brasileiros de petróleo. Segundo os estudos preliminares realizados pela Petrobras, se encontram frente às costas do Brasil, na camada denominada pré-sal, ou seja, debaixo de uma grossa camada de sal que pode alcançar os dois quilômetros de espessura. É de uma qualidade excelente. Trata-se de petróleo leve, que em comparação com o pesado e o extrapesado (os extraídos na Venezuela), requer menos trabalho e investimento para ser refinado e transformado em derivados.
Fontes diplomáticas brasileiras recordam que o Departamento de Defesa norte-americano decidiu reativar em julho passado sua Quarta Frota para o Caribe e América do Sul, composta inicialmente por 11 navios, entre eles um porta-aviões e um submarino nuclear. "Esta decisão não é casual. Agora mais do que nunca estamos no radar dos estadunidenses, já que existe certa preocupação em alguns setores desse governo pelo que ocorra nesta zona de produção petrolífera", aponta uma fonte próxima ao presidente brasileiro.
As mesmas fontes afirmam que, para os EUA, a Venezuela é um motivo de preocupação mais que de sossego ou estabilidade regional. Obama vê o governo de Brasília como seu aliado natural na América do Sul. O Brasil é um país politicamente estável, de grande potencial econômico, com uma imensa riqueza natural e humana. "Se o Brasil continua em sua linha de fortalecimento institucional, respeito aos princípios da democracia e ao meio ambiente, segurança jurídica e diminuição da desigualdade social, seremos um país produtor de petróleo único no mundo. E isto é muito atraente para os EUA", assegura uma fonte governamental brasileira especialista em política energética.
Ainda que se desconheçam as reservas exatas, é certo que o petróleo achado no litoral brasileiro é abundante: cumprindo-se estas previsões, o Brasil passará a ser o oitavo ou nono produtor do planeta. Ademais, seu transporte até os EUA é quase tão simples como das costas venezuelanas. "Washington entende que as reservas do pré-sal são a salvação de sua dependência da Venezuela", se insiste em Brasília.
Para a Petrobras, a viabilidade do pacto comercial dependerá das quantidades de petróleo que se logrem extrair. A previsão é que haja petróleo para exportar não somente para os EUA, mas para outros países do mundo que já mostraram interesse, como a China e o Japão.
O Brasil insiste em que está mais interessado na venda de derivados, como gasolina, já que lhe resultará muito mais rentável que a venda de barris de petróleo. Isto explica que Lula haja decidido apostar por uma grande injeção de capital na Petrobras para a construção de quatro novas refinarias e a ampliação de outras tantas que já existem. O país aumentou suas exportações de petróleo e derivados em quase 10% em 2008, e 40% dessas vendas foram parar nos EUA. O negocio está em marcha.