segunda-feira, agosto 31, 2009

A escravidão de Isabel Allende

A escravidão de Isabel Allende

EL PAÍS e Babelia publicam em exclusiva o primeiro capítulo da nova novela da autora chilena, “La isla bajo el mar” (Plaza & Janés).

W. M. S. - Madrid - 31/08/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

Zarité é a nova personagem criada por Isabel Allende para sua nova novela sobre a escravidão: “La isla bajo el mar” (Plaza & Janés) que chegará às livrarias no próximo fim de semana. Allende criou uma narração coral que se desenvolve em Santo Domingo (República Dominicana) do século XVIII para relatar a vida de uma jovem escrava que não se resigna a seu destino. Historia, sofrimento, azar, orem acima de tudo liberdade é a palavra chave no livro número 19 da autora de obras como “La casa de los espíritus”. Isabel Allende é uma das escritoras em espanhol de maior sucesso: 51 milhões de livros vendidos. Hoje, EL PAÍS e Babelia brindam seus leitores de todo o mundo com a possibilidade de serem os primeiros em ler o começo de “La isla bajo el mar”, uma obra que parece destinada a se converter numa das mais de 2009.

quinta-feira, agosto 27, 2009

Edward Kennedy fecha uma página do século XX

Edward Kennedy fecha uma página do século XX

El Mundo – Editorial – 27-08-2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

As bandeiras a meio mastro, anunciando a perda nas fachadas dos principais edifícios dos EUA, são a imagem que reflete perfeitamente o sentimento de luto que vive a primeira democracia do planeta após o falecimento de Edward Kennedy. Porém, o golpe da sua morte alcança hoje além dos milhões de pessoas que em todo o mundo se identificam com os valores de liberdade e tolerância que encarnam os Estados Unidos - que Edward Kennedy defendeu durante quase meio século de atividade política -, alcança também a quem seguiu as peripécias de um dos clãs familiares mais influentes da Historia moderna.

Edward Kennedy não era somente um grande político, nem tampouco um Kennedy a mais. Era o patriarca do Partido Democrata, o Leão do Senado - Câmara na qual trabalhou ininterruptamente desde 1962 - e, nas palavras do presidente Obama, «o melhor senador estadunidense de nosso tempo». E era, também, o último líder de uma dinastia que marcou em partes iguais tanto a política como a crônica social na última centúria, especialmente com relação aos magnicídios de John Fitzgerald e Robert. Agora, dos nove irmãos Kennedy, somente sobrevive uma mulher: Jean, de 81 anos. Com ele se fecha uma parte do século XX.

Apesar de Edward Kennedy nunca haver tido chances reais de chegar à Casa Branca – somente um ano depois de que Robert fosse assassinado protagonizou o fatídico acidente de automóvel com sua secretária que condicionou sua carreira futura - sua influência é paradoxalmente enorme. Em seu país foi uma referência fundamental para os democratas. Impulsionou a aprovação de dezenas de leis e iniciativas, a última, a da reforma sanitária, da mão do próprio Obama, é transcendental, porém pode desgastar o governo mais que a própria crise econômica, pela férrea oposição republicana.

No mês passado, sentindo a proximidade de sua morte, Edward Kennedy advertia que seu empenho por estender a cobertura sanitária a toda população havia sido «a causa» de sua vida. «Garantiremos que todo americano tenha uma assistência de saúde decente, de qualidade, como um direito fundamental e não somente um privilégio», afirmava. Estas palavras, no momento atual, mais que uma declaração são todo um testamento político e seguramente animarão a Obama a se reafirmar em sua promessa eleitoral.

Edward Kennedy não ficou distante à polêmica e tratar de convertê-lo num santo seria um empenho estúpido. Isto sim, as críticas lhe chegaram mais por seu comportamento na esfera privada que por sua conduta como líder político, que foi irrepreensível até o final. Um último exemplo é que, apesar do câncer que padecia, negou a se recluir e continuou seu trabalho no Senado dos EUA até umas poucas semanas atrás. Porém, numa sociedade tão tradicionalista como a estadunidense não passaram inadvertidos alguns de seus excessos. Desde muito jovem teve fama de mulherengo, bebedor e ‘bon vivant’.

O caçula dos Kennedy, «o melhor político da família» segundo palavras de JFK, manteve uma linha de coerência em sua longa trajetória pública. Criticou a Guerra do Vietnã quando esta se converteu numa carnificina, arremeteu contra George W. Bush pela Guerra do Iraque, deu seu apoio à luta contra o ‘apartheid’ na África do Sul, se ocupou do processo de paz na Irlanda do Norte, deu seu decidido respaldo para que chegasse à Casa Branca o primeiro presidente negro e levantou as bandeiras da liberdade, da justiça social e da igualdade de oportunidades sempre que teve ocasião. São estas as bandeiras que devem tremular em sua memória agora que as de tecido luzem a meio mastro.

segunda-feira, agosto 24, 2009

A recuperação de um monumento no topo do mundo

A recuperação de um monumento no topo do mundo

China termina a restauração do palácio de Potala em Lhasa, no Tibete, a antiga residência oficial dos Dalai Lama

EFE - Pekín – El País - 24/08/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

As autoridades chinesas anunciaram hoje a conclusão, após sete anos de trabalho, das obras de restauração do Palácio Potala de Lhasa, capital da região autônoma do Tibete e antiga residência oficial do Dalai Lama. Para a restauração do complexo arquitetônico, cujas estruturas de madeira corriam grave perigo de desabamento, foram investidos 300 milhões de yuanes (mais de 30 milhões e meio de euros), cifra que inclui também as reparações do palácio de Norbu Longka, residência de verão do Dalai Lama, também situada em Lhasa.

Nas obras de reparação dos palácios participaram mais de 189.000 trabalhadores, encarregados de reforçar os cimentos, reparar alguns dos murais e tratar quimicamente as estruturas de madeira para lutar contra pragas e outros perigos para as fundações. Apesar das obras de reparação, o Potala, que em seu tempo foi um dos edifícios mais altos do mundo (13 andares), continuará mantendo o limite diário de turistas, uns mil cada jornada. O palácio, cuja construção começou no século VII, passou a ser a residência dos Dalai Lamas, governantes políticos e religiosos do Tíbet, no século XVII.

É considerado o ponto culminante da arquitetura tibetana, com sua característica fachada vermelha e branca. Declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 1994, o edifício alberga ainda um grande número de pinturas e esculturas igualmente consideradas obras mestras da arte tibetana.

domingo, agosto 16, 2009

Aqui nasceu a saudade 'hippy'


Aqui nasceu a saudade 'hippy'

ANDREA AGUILAR – El País - 16/08/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

Hoje, há 40 anos, meio milhão de jovens se espremia em Woodstock, o pai de todos os festivais de música. Foi talvez o desastre de maior sucesso da historia. Três dias de paz e amor convertidos na imagem ícone de uma época. Visitamos o lugar onde se celebrou para comprovar o que sobrou de um mito que continua seduzindo.

Foi quase um mês depois de que Neil Armstrong pisasse na Lua e apenas uns dias mais tarde que os seguidores de Charles Manson perpetrassem os selvagens assassinatos na casa de Roman Polanski. Em 14 de agosto de 1969, furgões, ônibus escolares reciclados e milhares de utilitários colapsaram a rota 17b do Estado de Nova York. Aquele monumental engarrafamento foi o começo de um lendário fim de semana no qual cerca de meio milhão de jovens se encontraram nos terrenos da fazenda de Max Yasgur.

Houve uma quantidade considerável de estupefacientes, muito barro e uma estranha sensação de liberação e idílio coletivo. Janis Joplin, Jimi Hendrix, Joan Báez, Sly, Richie Havens e Joe Cocker, e mais 25 grupos, puseram a trilha sonora ao desastre de maior sucesso que se recorda na historia dos festivais de música. O então governador Nelson A. Rockefeller declarou o condado zona catastrófica. O Exército acudiu em seu auxilio. Remédios e comida foram lançados desde o ar. Woodstock passou a se converter num marco de uma geração.

Quarenta anos depois, a estrada que conduz até os terrenos onde se celebrou o festival, no pequeno condado de Bethel, quase não mudou. Contudo, o número de turistas que visitam a zona aumentou bastante desde que se abriu em 2006 o Centro Bethel Woods. Seu auditório, com capacidade para 15.000 pessoas, programa atuações de Bob Dylan e da Filarmônica de Nova York, e o concerto em homenagem aos ‘Heroes of Woodstock’, com oito dos artistas que atuaram em 1969.

No alto de uma colina de frente para o auditório, centenas de estudantes secundaristas escutam numa manhã de julho a historia de Duke Devlin. “Vim passar três dias e fiquei 40 anos”. Alto e corpulento, este sobrevivente do festival põe a luzir sua barba e mechas brancas e muitas tatuagens nos braços. Parece um Papai Noel alternativo. Após sua passagem pela Marinha, esteve vários anos saltando de comuna em comuna. Numa delas viu um anuncio do festival. Não pensou duas vezes. Em Woodstock se uniu aos membros de ‘Hog Farm’, o coletivo de Santa Fé. “Distribuímos comida e ajudamos aqueles que tinham viagens ruins de ácido”.

Quando tudo terminou, Duke começou a trabalhar numa vacaria dos arredores. Hoje seus netos vão à escola local e ele é guia no centro. Num carrinho de golfe, conduz até a zona onde se montou o palco em 1969, um grande retângulo sem grama, coberto de pedras. A uns metros adiante se encontra uma placa comemorativa. Um casal de bermudas tira fotos. O mito segue sendo atraente. Este ano, 13 novos livros foram publicados nos Estados Unidos e o diretor Ang Lee estreia um filme sobre o festival.

Cabe dar razão a Ellen Willis, a pioneira crítica de rock que inaugurou o gênero na revista ‘New Yorker’. “Há que reconhecer algum mérito aos produtores da Feira de Arte e Música de Woodstock: no fim das contas, deram um golpe magistral na questão de relações públicas”, escreveu Willis em sua crônica sobre o festival para a revista. “Parece que conseguiram fazer com que a ideia de que a crise em Bethel foi um caprichoso desastre natural mais que o resultado da incompetência humana, que a participação massiva era totalmente inesperada (e que, portanto, era impossível que qualquer ser racional pudesse prevê-la) e que, ademais, eles perderam mais de um milhão de dólares no processo de ser boa gente, porque fizeram todo o possível por converter o que apontava ser um fracasso num fim de semana cabeça”.

O mito de Woodstock que Willis via crescer dias depois do festival acabou de se estabelecer graças ao documentário ‘Woodstock Festival: três dias de paz, amor e música’, dirigido por Michael Wadleigh e editado por Thelma Schoonmaker e Martin Scorsese. Chegou às telas em 1970 e foi agraciado com um Oscar. Nele se mostrou ao grande público a chegada do Exército e dos helicópteros, as pipas de papel de prata e o êxtase coletivo; as atuações de Hendrix, Joan Báez e Richie Havens. Woodstock se converteu num mito global. As imagens de jovens desnudos banhando-se nos lagos ou deslizando-se pelo barro passaram a formar parte do imaginário coletivo.

O barro de 1969 ficou neutralizado no centro de arte de Bethel. “Quando me propuseram que eu me encarregasse disto, pensei: como vou a vender sexo, drogas e ‘rock and roll’ a estudantes?”, diz Wade Lawrence, o diretor do museu do centro. A solução foi apostar pelo contexto e fazer um museu de historia política e social dos anos sessenta. Aqueles anos estiveram marcados pela luta em prol dos direitos civis e o movimento estudantil contra a guerra do Vietnã. Kennedy chegou à presidência e Martin Luther King encabeçou a histórica marcha até Washington; ambos morreram assassinados. As comunas se expandiam, o ácido e a maconha eram moedas comuns entre os adolescentes alternativos e o rock vivia uma nova idade dourada.

Nas telas enormes do museu, Richie Havens canta ‘Freedom’ – o hino que improvisou sobre o palco quando já não sabia mais o que tocar –, e Joe Cocker agradece a ajuda de seus amigos em ‘With a little help from my friends’. As vitrines mostram as capas de discos de Supremes, Dylan e dos Beatles, entre outros.

Woodstock se encontra a uma hora e meia de carro do museu. Os promotores originalmente planejaram celebrar aqui o festival. Quando tinha vinte anos, Michael Lang se instalou em Woodstock atraído pela presença de Dylan, Joplin e Hendrix na zona. Lang ia e vinha da cidade e rapidamente conseguiu um encontro com Artie Kornfeld, diretor artístico na Mercury Records aos 25 anos. Juntos idealizaram o plano de montar uma discográfica com sede no povoado.

John Roberts, um rico herdeiro de uma empresa química, e Joel Rosenbam, bacharel em Direito por Yale, foram os investidores da recém fundada Woodstock Ventures. Rápido tomou corpo a idea de organizar um festival. Contrataram a uma equipe e uma agência de relações públicas, Wartoke, para dar publicidade ao evento. “Sou um grande fã de usar os rumores como instrumento de promoção”, escreveu tempo depois Lang num livro comemorativo do festival.

Tom Benton não escutou os rumores que circulavam pelo Village, simplesmente viu um anuncio de página inteira no ‘The New York Times’. Tinha 19 anos e uma paixão desaforada pela música. Relembra sentado em sua loja de guitarras situada na rua principal de Woodstock. “Morria de vontade de ver Jeff Beck e os Iron Butterfly, mas caíram fora da programação na última hora”. Benton não somente foi um dos poucos que pagaram – a avalanche de público fez com que os organizadores declarassem entrada livre –, senão que, ademais, assegura que não perdeu nenhum concerto; nem sequer o ‘Star spangled banner’ de Hendrix, que tocou na manhã de segunda-feira, quando a maioria do público já havia se retirado.

É difícil imaginar a Benton despenteado no lamaçal, um homem de meia cabeleira branca e partinha simétrica. Durante 20 anos renunciou à música e se dedicou a exercer como advogado. “Disse que quando completasse 50 voltaria pra cá”. Em sua loja montou um selo discográfico e dá aulas de música.

Naquele verão, ninguém tinha certeza de que o festival fosse finalmente acontecer. A tensão entre os sócios crescia e as possíveis localizações do macroconcerto eram os seus maiores problemas. Quatro semanas antes que Woodstock abrisse suas portas, ainda não tinha local definitivo.

“Eu salvei o festival. É hora de que se saiba que Woodstock ocorreu graças a um gay”, diz Elliot Tiber, fazendo cara de sério, sentado junto a sua cadelinha ‘Molly’. Decidido a aclarar a historia, este escritor e cômico – vizinho de Tennessee Williams em sua juventude e amigo do fotógrafo Mapplethorpe – publicou suas memórias há dois anos. O livro, ‘Taking Woodstock’, inspirou o filme homônimo de Ang Lee, no qual se recria o motel ‘El Mónaco’ que era gerenciado pelos pais de Elliot Tiber.

Elliot Landy, o fotógrafo oficial do festival, foi um dos hóspedes do motel. Desde algum tempo vivia em Woodstock, onde havia fotografado a Bob Dylan e The Band para as capas de seus discos. Durante os três dias em que cobriu o festival tirou mais de 2.500 fotos. Uma seleção de seu trabalho viajará pela Espanha até finais deste ano.

Além do documentário e das fotografias, aquele momento foi histórico? “A música não foi memorável para os que viram ao vivo”, contesta o grande papa da crítica Robert Christgau. “Sejamos claros, os sistemas de som em 1969 eram ruins”.

Christgau foi ao festival com sua namorada, a crítica Willis. Também levaram seus dois filhos, de dois anos e oito meses. O menor, Nathan, hoje é editor de música na revista Rolling Stone. “Meus pais eram um pouco mais velhos que a maioria do público. Não eram ‘hippies’, estavam mais para um tipo ‘beatniks-folk’”. Em Bethel acamparam no bosque. Anos depois, lhe contaram como acabaram dando de comer a um montão de desconhecidos. “Diziam que se sentiram como monitores de um acampamento”.

Na segunda-feira, 17 de agosto de 1969, ao terminar o concerto de Hendrix, os voluntários e membros das comunas recrutadas pela organização começaram a limpar. O promotor Michael Lang subiu num helicóptero que o levou até Wall Street. Ali se celebrou a primeira das amargas reuniões nas quais os quatro organizadores se enfrentaram durante anos. Acabou-se a paz. Na fazenda de Yasgur tardaram um mês em limpar. Dizem que centenas de objetos ficaram no lodo. Arqueologia de uma geração que já é historia.

Festival de Woodstock

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Woodstock foi um festival de música anunciado como "Uma Exposição Aquariana", organizado na fazenda de 600 acres de Max Yasgur na cidade rural de Bethel, Nova York, de 15 a 18 de agosto de 1969. Era para ocorrer na pequena cidade de Woodstock, estado de Nova Iorque, onde moravam músicos como Bob Dylan, mas a população não aceitou, o que levou o evento para a pequena Bethel, a uma hora e meia de distância.[1]

O festival exemplificou a era hippie e a contracultura do final dos anos 1960 e começo de 70. Trinta e dois dos mais conhecidos músicos da época apresentaram-se durante um chuvoso fim de semana defronte a meio milhão de espectadores. Apesar de tentativas posteriores de emular o festival, o evento original provou ser único e lendário, reconhecido como uma dos maiores momentos na história da música popular.

O evento foi capturado em um documentário lançado em 1970, Woodstock, além de uma trilha-sonora com os melhores momentos.

Introdução
Woodstock surgiu dos esforços de Michael Lang, John P. Roberts, Joel Rosenman e Artie Kornfeld. Roberts e Rosenman, que entrariam com as finanças, colocaram um anúncio sob o nome de Challenge International, Ltd., no New York Times e no Wall Street Journal ("Jovens com capital ilimitado buscam oportunidades de investimento legítimas e interessantes e propostas de negócios").[2] Lang e Kornfeld responderam o anúncio, e os quatro reuniram-se inicialmente para discutir a criação de um estúdio de gravação em Woodstock, mas a idéia evoluiu para um festival de música e artes ao ar livre.[2]

Mesmo considerado um investimento arriscado, o projeto foi montado tendo em vista retorno financeiro. Os ingressos passaram a ser vendidos em lojas de disco e na área metropolitana de Nova York, ou via correio através de uma caixa postal. Custavam 18 dólares (aproximadamente 75 dólares em valores atuais), ou 24 dólares se adquiridos no dia.[3] Aproximadamente 186,000 ingressos foram vendidos antecipadamente, e os organizadores estimaram um público de aproximadamente 200,000 pessoas.[4] Não foi isso que aconteceu, no entanto. Mais de 500,000 pessoas compareceram, derrubando cercas e tornando o festival um evento gratuito.

Este influxo repentino provocou congestionamentos imensos, bloqueando a Via Expressa do Estado de Nova York e eventualmente transformando Bethel em "área de calamidade pública". As instalações do festival não foram equipadas para providenciar saneamento ou primeiros-socorros para tal multidão, e centenas de pessoas se viram tendo que lutar contra mau tempo, racionamento de comida e condições mínimas de higiene.[5]

Embora o festival tenha sido reconhecidamente pacífico, dado o número de pessoas e as condições envolvidas, houve duas fatalidades registradas: a primeira resultado de uma provável overdose de heroína, e a outra após um atropelamento de trator. Houve também dois partos registrados (um dentro de um carro preso no congestionamento e outro em um helicóptero), e quatro abortos.[6]

Ainda assim, em sintonia com as esperanças idealísticas dos anos 60, Woodstock satisfez a maioria das pessoas que compareceram. Mesmo contando com uma qualidade musical excepcional, o destaque do festival foi mesmo o retrato comportamental exibido pela harmonia social e a atitude de seu imenso público.[7]

Artistas que se apresentaram em Woodstock
O livro Woodstock, do jornalista americano Pete Fornatale, é um relato sobre as apresentações de cada artista presente em Woodstock, contado por quem esteve lá (artistas, jornalistas, público e produtores do evento). O livro comemora os 40 anos do festival e faz justiça a possíveis talentos esquecidos presentes na lista abaixo.

Sexta-feira, 15 de agosto - O 1º dia de festival
O festival abriu oficialmente às 17 horas com Richie Havens. Este dia apresentou sets mais leves, trazendo a maior parte dos artistas folks que participaram.
Richie Havens (abriu o festival)
High Flyin' Bird
I Can't Make It Any More
With a Little Help from My Friends
Strawberry Fields Forever
Hey Jude
I Had A Woman
Handsome Johnny
Freedom/Sometimes I Feel Like a Motherless Child
Swami Satchidananda (deu a invocação para o festival)

Country Joe McDonald (tocou separado da sua banda, The Fish)
I Find Myself Missing You
Rockin All Around The World
Flyin' High All Over the World
Seen A Rocket Flyin'
The "Fish" Cheer / I-Feel-Like-I'm-Fixin'-To-Die Rag
John Sebastian
How Have You Been
Rainbows Over Your Blues
I Had A Dream
Darlin' Be Home Soon
Younger Generation
Sweetwater
What's Wrong
Motherless Child
Look Out
For Pete's Sake
Day Song
Crystal Spider
Two Worlds
Why Oh Why
The Incredible String Band
Invocation
The Letter
This Moment
When You Find Out Who You Are
Bert Sommer
Jennifer
The Road To Travel
I Wondered Where You Be
She's Gone
Things Are Going my Way
And When It's Over
Jeanette
America
A Note That Read
Smile
Tim Hardin (com um repertório de uma hora)
If I Were A Carpenter
Misty Roses
Ravi Shankar (com um repertório de 5 músicas tocadas durante uma chuva)
Raga Puriya-Dhanashri/Gat In Sawarital
Tabla Solo In Jhaptal
Raga Manj Kmahaj
Iap Jor
Dhun In Kaharwa Tal
Melanie
Tuning My Guitar
Johnny Boy
Beautiful People
Arlo Guthrie (a ordem do repertório é incerta)
Coming Into Los Angeles
Walking Down the Line
Story about Moses and the Brownies
Amazing Grace (encerrou a apresentação)

Joan Baez (grávida de seis meses na época)
Story about how the Federal Marshals came to take David Harris into custody.
Joe Hill
Sweet Sir Galahad
Drugstore Truck Driving Man
Sweet Sunny South
Warm and Tender Love
Swing Low, Sweet Chariot
We Shall Overcome

Sábado, 16 de agosto
O dia abriu às 12:15 da tarde, e trouxe os principais artistas psicodélicos e de rock do festival.
Quill (repertório de quatro músicas, totalizando quarenta minutos)
They Live the Life
BBY
Waitin' For You
Jam
Keef Hartley Band
Spanish Fly
Believe In You
Rock Me Baby
Medley
Leavin' Trunk
Sinnin' For You
Santana
Waiting
You Just Don't Care
Savor
Jingo
Persuasion
Soul Sacrifice
Fried Neckbones
Country Joe McDonald (sem a banda The Fish)
The Fish Cheer
Canned Heat
A Change Is Gonna Come/Leaving This Town
Going Up The Country
Let's Work Together
Woodstock Boogie
Mountain (repertório de uma hora, incluindo a "Theme For An Imaginary Western", de Jack Bruce)
Blood of the Sun
Stormy Monday
Long Red
Who Am I But You And The Sun
Beside The Sea
For Yasgur's Farm (até então sem nome)
You and Me
Theme For An Imaginary Western
Waiting To Take You Away
Dreams of Milk and Honey
Blind Man
Blue Suede Shoes
Southbound Train
Janis Joplin (dois bis: Piece of "My Heart" e "Ball & Chain")
Raise Your Hand
As Good As You've Been To This World
To Love Somebody
Summertime
Try (Just A Little Bit Harder)
Kosmic Blues
Can't Turn you Loose
Work Me Lord
Piece of My Heart
Ball & Chain
Grateful Dead
St. Stephen
Mama Tried
Dark Star/High Time
Turn On Your Love Light
A apresentação do Grateful Dead foi atrapalhada por problemas técnicos, incluindo um pedaço do chão defeituoso e também dois dos integrantes da banda, Jerry Garcia e Bob Weir, afirmaram levar choque toda hora que encostavam em suas guitarras. A performance do Grateful Dead não foi incluída no filme, mas, em um breve momento do filme, Jerry Garcia aparece segurando uma maconha, dizendo: "Maconha. Exibição A".

Creedence Clearwater Revival
Born on the Bayou
Green River
Ninety-Nine and a Half (Won't Do)
Commotion
Bootleg
Bad Moon Rising
Proud Mary
I Put A Spell On You
Night Time is the Right Time
Keep On Chooglin'
Suzy Q
Sly & the Family Stone
M’Lady
Sing A Simple Song
You Can Make It If You Try
Everyday People
Dance To The Music
I Want To Take You Higher
Love City
Stand!

The Who (começou às 4 da manhã, com um repertório que incluia a ópera rock Tommy)
Heaven and Hell
I Can't Explain
It's a Boy
1921
Amazing Journey
Sparks
Eyesight to the Blind
Christmas
Tommy Can You Hear Me?
Acid Queen
Pinball Wizard
Incidente com Abbie Hoffman
Do You Think It's Alright?
Fiddle About
There's a Doctor
Go to the Mirror
Smash the Mirror
I'm Free
Tommy's Holiday Camp
We're Not Gonna Take It
See Me, Feel Me
Summertime Blues
Shakin' All Over
My Generation
Naked Eye

Jefferson Airplane (começou às 6 horas da manhã, com um repertório de apenas 8 músicas. A vocalista Grace Slick saudou a platéia dizendo: "Ok, amigos, vocês já viram os grupos pesados; agora vocês verão música maníaca da manhã, acredite em mim, yeah. Isso é uma nova manhã... [...] Bom dia, pessoal!")
Volunteers
Somebody To Love
The Other Side of This Life
Plastic Fantastic Lover
Won't You Try/Saturday Afternoon
Eskimo Blue Day
Uncle Sam's Blues
White Rabbit

Domingo, 17 de agosto
O dia abriu às 14 horas com Joe Cocker. Os eventos deste dia acabariam atrasando a agenda do festival em nove horas, e no nascer do sol do dia seguinte o concerto ainda continuava, apesar da maioria do público já ter ido embora.
Joe Cocker
Dear Landlord
Something Comin' On
Do I Still Figure In Your Life
Feelin' Alright
Just Like A Woman
Let's Go Get Stoned
I Don't Need A Doctor
I Shall Be Released
With a Little Help from My Friends
Após o repertório de Joe Cocker, um temporal deu-se inicio interrompendo o festival por longas horas.

Country Joe and the Fish (continuou a apresentação às 18:00 horas)
Rock and Soul Music
Thing Called Love
Love Machine
The "Fish" Cheer/I-Feel-Like-I'm-Fixin'-To-Die Rag
Ten Years After
Good Morning Little Schoolgirl
I Can't Keep From Crying Sometimes
I May Be Wrong, But I Won't Be Wrong Always
Hear Me Calling
I'm Going Home
The Band
Chest Fever
Tears of Rage
We Can Talk
Don't You Tell Henry
Don't Do It
Ain't No More Cane
Long Black Veil
This Wheel's On Fire
I Shall Be Released
The Weight
Loving You Is Sweeter Than Ever
Blood, Sweat & Tears (abriu à meia-noite, com cinco músicas)
More and More
I Love You More Than You'll Ever Know
Spinning Wheel
I Stand Accused
Something Comin' On
Johnny Winter (trazendo Edgar Winter, seu irmão, em duas músicas)
Mama, Talk to Your Daughter
To Tell the Truth
Johnny B. Goode
Six Feet In the Ground
Leland Mississippi Blues/Rock Me Baby
Mean Mistreater
I Can't Stand It (com Edgar Winter)
Tobacco Road (com Edgar Winter)
Mean Town Blues
Crosby, Stills, Nash & Young (começou por volta das três da manhã com um set acústico e outro elétrico separado)
Set acústico
Suite: Judy Blue Eyes
Blackbird
Helplessly Hoping
Guinnevere
Marrakesh Express
4 + 20
Mr. Soul
Wonderin'
You Don't Have To Cry
Set elétrico
Pre-Road Downs
Long Time Gone
Bluebird
Sea of Madness
Wooden Ships
Find the Cost of Freedom
49 Bye-Byes
Paul Butterfield Blues Band
Everything's Gonna Be Alright
Driftin'
Born Under A Bad Sign
Morning Sunrise
Love March
Sha-Na-Na
Na Na Theme
Yakety Yak
Teen Angel
Jailhouse Rock
Wipe Out
Book of Love
Duke of Earl
At the Hop
Na Na Theme

Jimi Hendrix (após ser apresentado à platéia como "Jimi Hendrix Experience", Jimi, já em palco, corrigiu o nome do grupo para "Gypsy Sun and Rainbows"). O repertório de Hendrix consistia em 16 músicas
Message to Love
Hear My Train A Comin'
Spanish Castle Magic
Red House (Durante essa música, uma corda da guitarra de Hendrix estourou, mas ele continuou tocando com cinco cordas)
Mastermind (escrita e cantada por Larry Lee)
Lover Man
Foxy Lady
Jam Back At The House
Izabella
Fire
Gypsy Woman/Aware Of Love (Essas duas músicas escritas por Curtis Mayfield foram cantadas por Larry Lee como um medley)
Voodoo Child (Slight Return)/Stepping Stone
The Star-Spangled Banner
Purple Haze
Woodstock Improvisation/Villanova Junction
Hey Joe

Curiosidades
Fazenda de Max Yasgur, onde aconteceu o Festival de Woodstock
Max Yasgur (15 de Dezembro de 1919 — 9 de Fevereiro de 1973) foi o dono da fazenda em Bethel, Nova York, onde ocorreu o festival em 1969.

A banda Grateful Dead tocou durante a chuva. Alguns membros da banda tomaram choques durante a sua apresentação e Phil Lesh (o baixista) ouviu o rádio de transmissão de um helicóptero através do amplificador de seu baixo enquanto tocava.

The Doors inicialmente concordaram em tocar pois acharam que o festival fosse ocorrer no Central Park, mas decidiram ir contra a idéia quando souberam que o festival ocorreria em uma fazenda isolada da cidade.

Jimi Hendrix estava agendado para tocar no domingo, mas, pelas ocorrências inesperadas, acabaram por tocar na manhã de segunda-feira, quando restavam apenas 35.000 pessoas.

Apesar do festival ter abrangido uma multidão de 500.000 pessoas, apenas 200 pessoas foram presas no local por ofensas, mesmo estando sob os efeitos incontestáveis das drogas.

Foram documentadas apenas duas mortes no festival: uma pessoa morreu de overdose de droga, a segunda pessoa morreu ao ser atropelada por um trator enquanto dormia no campo. Algumas fontes afirmam que há uma terceira morte, devido a uma apendicite, mas isso ainda não foi provado.

Apresentações canceladas
The Jeff Beck Group estava agendado para tocar no festival, mas cancelou pois a banda acabou uma semana antes.
Iron Butterfly ficaram presos no aeroporto.

A banda canadense Lighthouse estava certa de que tocaria no festival, mas, no final, acabaram decidindo por não tocar, pois temeram que aquilo fosse uma cena ruim para a banda. Mais tarde, alguns membros do grupo disseram que se arrependeram da decisão.

Convites negados
A banda Led Zeppelin foi chamada para tocar no festival, mas o empresário da banda, Peter Grant, afirmou: "Nós fomos chamados para tocar em Woodstock e a gravadora (Atlantic) estava bastante entusiasmada, e Frank Barsalona (o promotor) também. Porém eu disse não pois em Woodstock nós seríamos apenas outra banda na parada". Em vez disso, o grupo foi para uma turnê de mais sucesso.

The Doors foi considerada uma banda com grande performance, tinham bastante potencial, mas cancelaram a apresentação em cima da hora. Ao contrário do que muitos pensam, esta ocorrência não está relacionada ao fato de o vocalista, Jim Morrison, ter sido preso por postura indecente em um show anteriormente. O cancelamento do show se deu ao fato de que Morrison sabia que a sua voz soaria repugnante por estar ao ar livre. Há também a idéia de que Morrison, em um momento de paranóia, estava com medo que alguém atirasse nele e o matasse quando o mesmo pisasse no palco. No entanto, o baterista John Densmore compareceu no festival; no filme, ele pode ser visto ao lado do palco durante a apresentação de Joe Cocker, quando esse cantava o hino lisérgico "Let's Go Get Stoned".
Os promotores entraram em contato com John Lennon, pedindo para que os The Beatles tocassem no festival. Lennon disse que os Beatles não tocariam no festival a não ser se a Plastic Ono Band, da Yoko Ono, também pudesse tocar. Os promotores o recusaram.
Frank Zappa e The Mothers of Invention afirmaram: "Muita lama lá em Woodstock. Nós fomos convidados para tocar lá, mas recusamos" - Frank Zappa.

Outras edições
Para comemorar os 25 anos do superevento, 250 mil pessoas se reuniram no Woodstock '94, em Saugerties, a 135 km de Nova York. Pagaram 135 dólares para ouvir 40 bandas, entre eles o Nine Inch Nails, Aerosmith, Metallica, Green Day, Red Hot Chili Peppers e músicos como Peter Gabriel, Carlos Santana e Joe Cocker.Outra edição ocorreu em 1999, destruindo a reputação do "Festival da Paz e do Amor" devido à violência e tumultos supostamente incentivados por bandas como Limp Bizkit, Insane Clown Posse e Kid Rock.
No entanto, para o ano de 2009 fala-se da comemoração dos 40 anos do Festival. De acordo com o promotor Michael Lang, este poderá vir a acontecer em Agosto, nos dias 15 e 16 em Nova York (ainda em local indeterminado) e nos dias 22 e 23 em Berlim (num aeroporto abandonado). Os organizadores pretendem recrutar mais bandas que fizeram parte do alinhamento do 1º Festival, nomeadamente Grateful Dead, The Who e Santana.[8]

Notas e referências
1- Woodstock completa 40 anos neste sábado (15/08). Jornal Hoje (14/08/2009). Página visitada em 15/08/2009.
2- 2,0 2,1 Robert Stephen Spitz,. Barefoot in Babylon.
3- http://oregonstate.edu/cla/polisci/faculty-research/sahr/cv1996.pdf
4- BBC ON THIS DAY - 1969: Woodstock music festival ends.
5- Statement on the Historical and Cultural Significance of the 1969 Woodstock Festival Site.
6- Tired Rock Fans Begin Exodus. New York Times (1969-08-18).
7- Andy Bennett,. Remembering Woodstock.
8- Woodstock 2009 Set For New York And Berlin. Página visitada em March 24, 2009.

sábado, agosto 08, 2009

Aprofunda-se a divisão da Bolívia

Aprofunda-se a divisão da Bolívia

O decreto que consagra as autonomias indígenas reaviva a ruptura entre os Andes e o oeste do país - O governo enaltece a quebra da ordem social

MABEL AZCUI - La Paz – El País - 08/08/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

O presidente boliviano Evo Morales voltou a agitar a caixa de maribondos boliviana com um decreto que abre a porta às autonomias indígenas. Para alguns é uma jogada eleitoral para assegurar sua reeleição, para outros só um disparate e para os demais um ato de justiça histórica. Para o governo Evo Morales, o processo autonômico está destinado a "romper o monopólio do poder político das elites, especialmente das terras baixas [o oeste rico em petróleo e gás: Pando, Beni, Santa Cruz e Tarija] e complementar a luta pelos territórios indígenas, que representa a ruptura do monopólio do poder econômico", nas palavras do Ministro de Autonomia, Carlos Romero, incentivador do decreto.

"É a expulsão das estruturas do colonialismo interno, a ruptura do poder econômico, do poder político e a ruptura do poder cultural", diz Romero. "Declaramos a autonomia indígena para romper definitivamente as cadeias de submissão aos poderes políticos, culturais e coloniais". Morales se adiantou seis meses à data prevista para promulgar o decreto de autonomia, que se esperava para o próximo 6 de dezembro, data das eleições gerais nas quais o presidente espera obter seu segundo mandato.

A autonomia indígena e camponesa é o ponto culminante da luta pela inclusão que os povos do norte e do oriente da Bolívia começaram em 1992, quando ascenderam desde as planícies aos picos andinos numa dramática caminhada. Considerou-se o despertar das maiorias indígenas que haviam permanecido até então, com esporádicas rebeliões, resignadas a viver distantes dos benefícios econômicos do Estado. Seis de cada 10 bolivianos são pobres e os camponeses jamais tiveram um salário médio anual superior aos 50 euros (ao redor de R$ 150,00) na última década do século XX.

A deterioração na vida rural do altiplano é produto, também, do minifúndio, o imperativo de herdar a propriedade de cultivo pela crença de que pertencer a um território reafirma a identidade e consolida a existência dos povos atados à ‘Pachamama’, a Mãe Terra.

A nova Constituição, aprovada no começo do ano, reconhece quatro níveis autonômicos: regional, provincial, municipal e indígena. Determina o artigo 290: a autonomia indígena "é a expressão do direito ao autogoverno como exercício da autodeterminação das nações e dos povos indígenas originários e das comunidades camponesas, cuja população compartilha território, cultura, línguas, organizações e instituições jurídicas, políticas, sociais e econômicas próprias".

As comunidades indígenas terão umas vinte competências exclusivas, referentes fundamentalmente às "formas próprias de desenvolvimento econômico, social, cultural de acordo com sua identidade e visão", ademais da atenção à infraestrutura vial, serviços de educação e saúde (água, luz e esgoto).

Para financiar as autonomias, o Estado as apoiará com recursos econômicos, independentemente dos ingressos que elas gerem por atividades de mineração, por exemplo. Ademais, Carlos Dabdoub, Secretário de Autonomia do governo de Santa Cruz, assinalou que os povos indígenas estarão isentos de pagamento de impostos por suas terras.

Os indígenas poderão formar macrocomunidades que acabem por modificar a atual divisão territorial do país, especialmente no sul. Bolívia está dividida, atualmente, em nove províncias e 327 municípios. Destes últimos, uns 180 podem ser declarados municípios autônomos indígenas, segundo o autor da Lei de Participação Popular, Carlos Hugo Molina. "A autonomia indígena possui mais competências e atribuições que a autonomia provincial; possui a gestão do território, a propriedade de recursos naturais, a aplicação de normas consuetudinárias e tem um germe de formação de novos estados a partir de formas de autodeterminação", explica o jurista.

Os povos originários são 36, com populações que vão dos três milhões de ‘quechuas’ e ‘aymarás’, a outras 34, agrupadas em 10 famílias lingüísticas, nas quais prevalece a tupi-guaraní. Algumas destas etnias têm menos de cem membros (o caso dos ‘araona’) enquanto outras podem superar os 60.000 (os ‘chiquitanos’). A propriedade da terra implica em deter e usufruir dos recursos naturais renováveis, porém, também, o direito de veto à exploração dos recursos naturais não renováveis – petróleo e mineração.

Nos últimos meses, membros de comunidades indígenas ocuparam pelos menos umas vinte explorações mineiras concedidas pelo Estado. Confiscaram as máquinas e outros bens, além de expulsar os trabalhadores em protesto pela presença de investidores estrangeiros ou locais, mas de origem ‘criollo’. Também decidiram assumir a exploração mineira diante da passividade das autoridades. A mesma situação se deu em explorações privadas agrícolas e industriais assentadas em terrenos reclamados pelos indígenas. Os proprietários foram expulsos e confiscados seus bens, recursos, animais e maquinas.

Rumo a um novo Estado

Evo Morales inicia o processo para converter Bolívia num país com autonomias indígenas

Editorial de El País – Madrid - 08/08/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

O presidente boliviano Evo Morales aprovou no domingo passado um decreto para celebrar um referendo, no próximo 6 de dezembro, juntamente com as eleições presidenciais e parlamentares, para aprovar a conversão de uns 180 municípios em autonomias indígenas. Ao mesmo tempo, apresentou oficialmente o anteprojeto de marco regulatório das autonomias e da descentralização. Assim, deu um passo adiante para por em marcha um dos desafios mais delicados da nova Constituição aprovada no referendo de janeiro deste ano com mais de 60% de votos favoráveis, ou seja, o de transformar o país num Estado plurinacional com um amplo regime de autonomias e descentralização.

A iniciativa de Morales foi rapidamente contestada pela oposição por uma questão de procedimento, já que a Constituição estabelece no capítulo sétimo que trata da Autonomia Indígena Originária Camponesa que o marco regulatório em questão deve ser discutido pela Assembléia Legislativa que será eleito em dezembro. Morales, ao convocar uma consulta sobre a conversão de municípios em autonomias indígenas para esse mesmo dia, estaria assim violando as regras do jogo, adiantando-se ao que deveria ser discutido no Parlamento ao forçar a aprovação de suas iniciativas através de consultas plebiscitárias.

Desde que, em 1992, os povos indígenas do norte e do oeste da Bolívia iniciaram uma dramática marcha para reclamar seu direito de serem levados em conta, as coisas mudaram e suas reivindicações já chegaram à Constituição. Autonomia é a palavra chave para essas comunidades. O verdadeiramente complexo é articular num marco legal viável a autonomia que reclamam as províncias rebeldes (Santa Cruz, Beni, Pando, Tarija), e que tem a ver, sobretudo, com uma descentralização na tomada de decisões econômicas, com as autonomias que defendem os indígenas, em temas como a recuperação do controle perdido sobre suas possessões territoriais, além da defesa de questões de identidade (língua, democracia comunitária) e gestão dos recursos.

O complexo desafio (talvez impossível) de articular e fazer viáveis as autonomias de distintos níveis territoriais (departamentais, regionais, municipais e indígenas) deve ser o resultado de um acordo parlamentar. Cada vez mais difícil de ser conseguido nesse clima de enorme divisão em que se enfrentam andinos e orientais.

quarta-feira, agosto 05, 2009

Homenagem às 13 rosas no 70º aniversário de seu fuzilamento


Homenagem às 13 rosas no 70º aniversário de seu fuzilamento

Uma placa recorda às jovens comunistas e socialistas no muro do cemitério de La Almudena, em Madri, onde morreram

ELPAÍS.com - Madrid - 05/08/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

O PSOE e o PCE renderam hoje homenagem, separadamente, no cemitério de La Almudena de Madri, às 13 rosas, no 70º aniversário de fuzilamento destas jovens militantes da organização Juventudes Socialistas Unificadas - JSU e do Partido Comunista de Espanha - PCE, que foram condenadas à morte por um conselho de guerra. Ambos partidos defenderam a necessidade de recuperar as "vozes dormidas" das pessoas que deram sua vida pela paz, a liberdade e a democracia.

Após a vitória do grupo franquista na Guerra Civil espanhola, as 13 jovens foram encerradas na prisão de Las Ventas junto a outros militantes das mesmas formações políticas. Depois do assassinato de um comandante da Guarda Civil e sua filha, em 29 de julho de 1939, na cidade de ‘Talavera de la Reina’, as autoridades tiraram da prisão a 56 jovens militantes do PCE e das JSU, 43 deles varões e as 13 Rosas. Em 3 de agosto, um tribunal militar lhes condenou à morte por "adesão a rebelião", por tratar de recompor o PCE e as JSU e por atentar contra a "ordem social e jurídica da nova Espanha". À homenagem participam a Secretária de Organização do PSOE, Leire Pajín, e o Secretário-Geral dos socialistas madrilenhos, Tomás Gómez. Ambos descerraram uma placa comemorativa que recorda seus nomes no muro do cemitério onde caíram fuziladas. Outros 43 jovens foram assassinados nesse mesmo dia.

A homenagem do PCE

O momento mais emocionante foi quando Angeles García Madrid, uma das companheiras de cela de uma das rosas, relatou as últimas horas das jovens, nas quais, todo mundo, salvo elas, sabiam que morreriam. Assim, recordou a última conversa de Virtudes e Júlia, duas das jovens assassinadas, na qual a primeira perguntou à segunda se pensava que iriam matá-las e esta lhe respondeu: "Não vão nos matar, sua tonta". "Tinham a morte na cara", comentou García, que em seguida contou que ouviram como uma daquelas jovens, ao subir na camioneta que lhes conduziu à morte, entoou o hino da Jovem Guarda, que foi seguido pelas demais até a chegada ao muro do cemitério em que foram executadas.

Com este ato se cumpre, segundo Pajín, com "a última vontade" de Júlia, que antes de morrer escreveu a sua família: "Que meu nome não se apague da historia". "É um direito de todos e de todas recuperar e recordar nossa historia", disse Pajín. A número três do PSOE mostrou seu orgulho pela aprovação da Lei de Memória Histórica ao declarar seu orgulho por "poder recuperar essa memória e, portanto, de poder recuperar a dignidade de homens e mulheres. Foi uma Lei que fez florescer toda essa historia, que seguiremos rememorando porque um povo não pode seguir em frente sem olhar para seu passado ". Por sua vez, Gómez qualificou esta homenagem como um ato "de identidade da esquerda, um ato de reconhecimento e reivindicação do papel da mulher na historia espanhola, mas também um ato de reivindicação dos valores da política, a política pela qual tanta gente morreu, a política como esse conjunto de ideais por uma sociedade melhor, para um mundo melhor".

Posteriormente se celebrou a homenagem organizada pelo PCE, que começou com um minuto de silêncio e com os punhos e as bandeiras republicanas no alto, e que teve lugar junto à parede onde foram assassinadas as jovens, adornada com rosas vermelhas, amarelas e violetas (as cores da bandeira republica espanhola). O Secretario Federal de Memória Histórica do PCE, Javier Ruiz, leu um manifesto no qual assegurou que seu partido continuará trabalhando para que "se anulem todas as sentenças dos tribunais ilegais" e que "o sistema judicial investigue os crimes do franquismo".

Em outro comunicado, também por motivo do aniversário do fuzilamento, várias associações de recuperação da Memória Histórica denunciam os "assassinatos" do franquismo "sob a tentativa de mascarar e legitimar estes processos-farsa" e recordam às 190.000 pessoas que faleceram durante a Guerra Civil e a ditadura. Na nota, reclamam medidas em favor das vítimas, entre elas um impulso à abertura de processos penais contra estes "crimes contra a humanidade" e "apuração de responsabilidades penais, civis e administrativas".

segunda-feira, agosto 03, 2009

Um coelho gigante e invisível será a 'nova estrela' de Spielberg


Um coelho gigante e invisível será a 'nova estrela' de Spielberg

O cineasta filmará uma versão de 'Harvey', filme protagonizado por James Stewart em 1950

ELPAÍS.com - Madrid - 03/08/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

A amizade entre o afável Elwood P. Dowd e Harvey, um enorme coelho invisível, e os problemas que esta relação causam ao redor de Dowd é a trama do novo filme que prepara o cineasta estadunidense Steven Spielberg, com roteiro do escritor Jonathan Tropper.

A estória original de 'Harvey' foi escrita em 1944 para a Broadway pela autora teatral Mary Chase (que ganhou um Pulitzer por ela). Em 1950 o ator James Stewart protagonizou a primeira versão hollywoodiana, pela qual foi indicado ao Oscar.

A seleção de atores para o filme já começou, segundo a revista Variety. Será uma co-produção entre a 20th Century Fox e os estúdios de Spielberg: Dream Works.

Um porta-voz dos estúdios Fox assegurou que o filme estreará no final de 2010 e que o processo de produção começará a começos desse ano.