Edward Kennedy fecha uma página do século XX
El Mundo – Editorial – 27-08-2009
Tradução de Antonio de Freitas Jr.
El Mundo – Editorial – 27-08-2009
Tradução de Antonio de Freitas Jr.
As bandeiras a meio mastro, anunciando a perda nas fachadas dos principais edifícios dos EUA, são a imagem que reflete perfeitamente o sentimento de luto que vive a primeira democracia do planeta após o falecimento de Edward Kennedy. Porém, o golpe da sua morte alcança hoje além dos milhões de pessoas que em todo o mundo se identificam com os valores de liberdade e tolerância que encarnam os Estados Unidos - que Edward Kennedy defendeu durante quase meio século de atividade política -, alcança também a quem seguiu as peripécias de um dos clãs familiares mais influentes da Historia moderna.
Edward Kennedy não era somente um grande político, nem tampouco um Kennedy a mais. Era o patriarca do Partido Democrata, o Leão do Senado - Câmara na qual trabalhou ininterruptamente desde 1962 - e, nas palavras do presidente Obama, «o melhor senador estadunidense de nosso tempo». E era, também, o último líder de uma dinastia que marcou em partes iguais tanto a política como a crônica social na última centúria, especialmente com relação aos magnicídios de John Fitzgerald e Robert. Agora, dos nove irmãos Kennedy, somente sobrevive uma mulher: Jean, de 81 anos. Com ele se fecha uma parte do século XX.
Apesar de Edward Kennedy nunca haver tido chances reais de chegar à Casa Branca – somente um ano depois de que Robert fosse assassinado protagonizou o fatídico acidente de automóvel com sua secretária que condicionou sua carreira futura - sua influência é paradoxalmente enorme. Em seu país foi uma referência fundamental para os democratas. Impulsionou a aprovação de dezenas de leis e iniciativas, a última, a da reforma sanitária, da mão do próprio Obama, é transcendental, porém pode desgastar o governo mais que a própria crise econômica, pela férrea oposição republicana.
No mês passado, sentindo a proximidade de sua morte, Edward Kennedy advertia que seu empenho por estender a cobertura sanitária a toda população havia sido «a causa» de sua vida. «Garantiremos que todo americano tenha uma assistência de saúde decente, de qualidade, como um direito fundamental e não somente um privilégio», afirmava. Estas palavras, no momento atual, mais que uma declaração são todo um testamento político e seguramente animarão a Obama a se reafirmar em sua promessa eleitoral.
Edward Kennedy não ficou distante à polêmica e tratar de convertê-lo num santo seria um empenho estúpido. Isto sim, as críticas lhe chegaram mais por seu comportamento na esfera privada que por sua conduta como líder político, que foi irrepreensível até o final. Um último exemplo é que, apesar do câncer que padecia, negou a se recluir e continuou seu trabalho no Senado dos EUA até umas poucas semanas atrás. Porém, numa sociedade tão tradicionalista como a estadunidense não passaram inadvertidos alguns de seus excessos. Desde muito jovem teve fama de mulherengo, bebedor e ‘bon vivant’.
O caçula dos Kennedy, «o melhor político da família» segundo palavras de JFK, manteve uma linha de coerência em sua longa trajetória pública. Criticou a Guerra do Vietnã quando esta se converteu numa carnificina, arremeteu contra George W. Bush pela Guerra do Iraque, deu seu apoio à luta contra o ‘apartheid’ na África do Sul, se ocupou do processo de paz na Irlanda do Norte, deu seu decidido respaldo para que chegasse à Casa Branca o primeiro presidente negro e levantou as bandeiras da liberdade, da justiça social e da igualdade de oportunidades sempre que teve ocasião. São estas as bandeiras que devem tremular em sua memória agora que as de tecido luzem a meio mastro.
Edward Kennedy não era somente um grande político, nem tampouco um Kennedy a mais. Era o patriarca do Partido Democrata, o Leão do Senado - Câmara na qual trabalhou ininterruptamente desde 1962 - e, nas palavras do presidente Obama, «o melhor senador estadunidense de nosso tempo». E era, também, o último líder de uma dinastia que marcou em partes iguais tanto a política como a crônica social na última centúria, especialmente com relação aos magnicídios de John Fitzgerald e Robert. Agora, dos nove irmãos Kennedy, somente sobrevive uma mulher: Jean, de 81 anos. Com ele se fecha uma parte do século XX.
Apesar de Edward Kennedy nunca haver tido chances reais de chegar à Casa Branca – somente um ano depois de que Robert fosse assassinado protagonizou o fatídico acidente de automóvel com sua secretária que condicionou sua carreira futura - sua influência é paradoxalmente enorme. Em seu país foi uma referência fundamental para os democratas. Impulsionou a aprovação de dezenas de leis e iniciativas, a última, a da reforma sanitária, da mão do próprio Obama, é transcendental, porém pode desgastar o governo mais que a própria crise econômica, pela férrea oposição republicana.
No mês passado, sentindo a proximidade de sua morte, Edward Kennedy advertia que seu empenho por estender a cobertura sanitária a toda população havia sido «a causa» de sua vida. «Garantiremos que todo americano tenha uma assistência de saúde decente, de qualidade, como um direito fundamental e não somente um privilégio», afirmava. Estas palavras, no momento atual, mais que uma declaração são todo um testamento político e seguramente animarão a Obama a se reafirmar em sua promessa eleitoral.
Edward Kennedy não ficou distante à polêmica e tratar de convertê-lo num santo seria um empenho estúpido. Isto sim, as críticas lhe chegaram mais por seu comportamento na esfera privada que por sua conduta como líder político, que foi irrepreensível até o final. Um último exemplo é que, apesar do câncer que padecia, negou a se recluir e continuou seu trabalho no Senado dos EUA até umas poucas semanas atrás. Porém, numa sociedade tão tradicionalista como a estadunidense não passaram inadvertidos alguns de seus excessos. Desde muito jovem teve fama de mulherengo, bebedor e ‘bon vivant’.
O caçula dos Kennedy, «o melhor político da família» segundo palavras de JFK, manteve uma linha de coerência em sua longa trajetória pública. Criticou a Guerra do Vietnã quando esta se converteu numa carnificina, arremeteu contra George W. Bush pela Guerra do Iraque, deu seu apoio à luta contra o ‘apartheid’ na África do Sul, se ocupou do processo de paz na Irlanda do Norte, deu seu decidido respaldo para que chegasse à Casa Branca o primeiro presidente negro e levantou as bandeiras da liberdade, da justiça social e da igualdade de oportunidades sempre que teve ocasião. São estas as bandeiras que devem tremular em sua memória agora que as de tecido luzem a meio mastro.