Mil páginas de guerra e amor
Antonio Muñoz Molina apresentou sua última novela, 'La noche de los tiempos'
J. R. M. - Madrid – El País - 24/11/2009
Tradução de Antonio de Freitas Jr.
Tradução de Antonio de Freitas Jr.
"Uma novela de guerra cruzada por uma história de amor ou uma novela de amor na qual irrompe uma guerra. O leitor decidirá o que é em função de sua experiência". Assim descreveu o poeta e acadêmico Pere Gimferrer a última novela de Antonio Muñoz Molina, ‘La noche de los tiempos’ (Editora Seix Barral), no lotado salão de atos da ‘Residencia de Estudiantes’ de Madri, curiosamente o mesmo lugar em que começa a novela.
Antonio Muñoz Molina, como ele mesmo disse, adiantou o dia de Ação de Graças para repassar em 56 tópicos, que terminaram levando-lhe a perder a conta, os cenários, autores, amigos e leituras que há por detrás de um relato de 1.000 páginas cujo pano de fundo é a guerra civil espanhola.
Sua peculiar lista de agradecimentos começou pelo escritor romeno Norman Manea e terminou com Luis Buñuel. O primeiro lhe convidou a dar uns cursos que lhe obrigaram a viajar desde Nova York em trem durante o outono de 2006 na velha estrada de ferro que corre às margens do rio Hudson. Foram nessas viagens quando lhe ocorreu o argumento de ‘La noche de los tiempos’. A Buñuel lhe agradeceu por ‘La Edad de Oro’: "Nesse filme há dois amantes que se buscam e se separam continuamente a todo o momento. Eu os tive presentes ao imaginar meus personagens".
Entre Manea e Buñuel estiveram Pedro Salinas, sua amante e sua mulher, Arturo Barea, Max Aub e Zenobia Camprubí, esposa de Juan Ramón Jiménez. Tampouco faltou o chileno Carlos Morla, cujos diários de 1936 recuperou, não faz tanto tempo, outro dos citados por Muñoz Molina, o poeta Abelardo Linares, responsável pela Editora ‘Renacimiento’. Porém, nem tudo foram nomes e sobrenomes. Entre as atitudes que lhe incentivaram a escrever seu livro o novelista falou da "cafonice sentimental e barata difundida nos últimos anos em torno à República. Essa moda insensata me irritou e me deu muita força".
Antonio Muñoz Molina, como ele mesmo disse, adiantou o dia de Ação de Graças para repassar em 56 tópicos, que terminaram levando-lhe a perder a conta, os cenários, autores, amigos e leituras que há por detrás de um relato de 1.000 páginas cujo pano de fundo é a guerra civil espanhola.
Sua peculiar lista de agradecimentos começou pelo escritor romeno Norman Manea e terminou com Luis Buñuel. O primeiro lhe convidou a dar uns cursos que lhe obrigaram a viajar desde Nova York em trem durante o outono de 2006 na velha estrada de ferro que corre às margens do rio Hudson. Foram nessas viagens quando lhe ocorreu o argumento de ‘La noche de los tiempos’. A Buñuel lhe agradeceu por ‘La Edad de Oro’: "Nesse filme há dois amantes que se buscam e se separam continuamente a todo o momento. Eu os tive presentes ao imaginar meus personagens".
Entre Manea e Buñuel estiveram Pedro Salinas, sua amante e sua mulher, Arturo Barea, Max Aub e Zenobia Camprubí, esposa de Juan Ramón Jiménez. Tampouco faltou o chileno Carlos Morla, cujos diários de 1936 recuperou, não faz tanto tempo, outro dos citados por Muñoz Molina, o poeta Abelardo Linares, responsável pela Editora ‘Renacimiento’. Porém, nem tudo foram nomes e sobrenomes. Entre as atitudes que lhe incentivaram a escrever seu livro o novelista falou da "cafonice sentimental e barata difundida nos últimos anos em torno à República. Essa moda insensata me irritou e me deu muita força".
Antonio Muñoz Molina contra os fanatismos
'La noche de los tiempos' (Editora Seix Barral) é a esperada novela do escritor espanhol que Babelia antecipa com exclusividade.
WINSTON MANRIQUE SABOGAL - El País – Madrid - 16/11/2009
Tradução de Antonio de Freitas Jr.
A separação amorosa e as dificuldades que sofre o ser humano pelos fanatismos ideológicos, neste caso da Guerra Civil espanhola, formam a geografia da esperada novela de Antonio Muñoz Molina: ‘La noche de los tiempos’ (Editora Seix Barral). Uma obra que transcorre às vésperas do conflito fratricida que assolou a Espanha entre 1936 e 1939, porém com uma desoladora sombra, cujo primeiro capítulo antecipa Babelia com exclusividade em ELPAÍS.com, como faz toda segunda-feira com o livro mais destacado da semana. A novela chegou às livrarias espanholas dia 19/11.
Os motivos e a essência do livro os explicam o próprio Antonio Muñoz Molina (Úbeda, Jaén, 1956): "Escrevi a novela querendo indagar a maneira como a paixão amorosa transtorna não somente as vidas dos amantes unidos por ela, mas também a vida da gente que está ao redor, os que sem conhecer o deslumbramento sofrem seus efeitos, com frequência incontroláveis e cruéis. E também queria pôr-me na alma de um homem que pertencesse a essa classe de sonhadores pragmáticos que foram tão importantes no meio da grande crise do século XX, e que em muitos casos sofreram a perseguição das duas formas de totalitarismo que se impuseram na Europa, que tinham entre si muitas coincidências, entre elas o desprezo pela consciência individual e por esses ativistas do humanismo liberal aos quais se deve algumas das melhores coisas que temos. Porém, que força pode fazer a consciência racional, o compromisso cívico, quando se desatam os delírios messiânicos e em grande medida criminais das ideologias? Não havia lugar para essas pessoas: nem para Stefan Zweig, nem para Juan Negrín, nem para Clara Campoamor, gente progressista que não acreditava que em nome do progresso estivesse autorizado o crime. As duas separações, a sentimental e a política, são o eixo do meu arquiteto inventado, ainda que espero que também verossímil".
Junto a este homem e a outros seres de ficção convivem pessoas reais, algumas já citadas por Muñoz Molina, além de Moreno Villa e Bergamín. Uma narração através da história desse arquiteto que em outubro de 1936, já longe do conflito fratricida recém desencadeado, e deixando para trás sua mulher e filhos, recorda um amor clandestino e as tormentas sociais e políticas que começaram a envolver seu mundo e a envolver a milhares de pessoas.
Novela de sentimentos, emoções e reflexões em torno do amor, da intolerância e dos fanatismos ideológicos; Muñoz Molina criou o retrato de uma época onde se mostra a maneira como se destrói o país, sua sociedade e os afetos de sua população. Uma viagem à noite dos tempos e à longa sombra do passado, do qual falou o escritor numa entrevista publicada em Babelia sábado 21 de novembro.
"En la cartera que abulta en el bolsillo derecho de su gabardina guarda una foto de Judith Biela y otra de sus hijos, Lita y Miguel, sonriendo una mañana de domingo de hace unos meses: las dos mitades rotas de su vida, antes incompatibles, ahora perdidas por igual".
É o que conta o narrador da novela que se pode ler na edição digital do jornal El País, e que continua assim: "Ignacio Abel sabe que si se miran demasiado las fotografías no sirven para invocar una presencia. (...) Desde hace unos meses uno ya no puede estar seguro de ciertas cosas: uno no sabe si alguien que recuerda bien o a quien vio hace unos días o sólo unas horas está vivo aún. Antes la muerte y la vida tenían fronteras nítidas, menos movedizas...".
Capítulo I de 'La noche de los tiempos', de Antonio Muñoz Molina
El País - Editora Seix Barral
BABELIA 939: En casa de Antonio Muñoz Molina
J. RUIZ MANTILLA / Á. R. DE LA RÚA / P. CASADO
El País - 20-11-2009
O escritor abre as portas de sua casa e relata algumas das curiosidades do proceso de criação de sua última novela 'La noche de los tiempos' (en español)