sexta-feira, novembro 27, 2009

Mil páginas de guerra e amor


Mil páginas de guerra e amor

Antonio Muñoz Molina apresentou sua última novela, 'La noche de los tiempos'

J. R. M. - Madrid – El País - 24/11/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

"Uma novela de guerra cruzada por uma história de amor ou uma novela de amor na qual irrompe uma guerra. O leitor decidirá o que é em função de sua experiência". Assim descreveu o poeta e acadêmico Pere Gimferrer a última novela de Antonio Muñoz Molina, ‘La noche de los tiempos’ (Editora Seix Barral), no lotado salão de atos da ‘Residencia de Estudiantes’ de Madri, curiosamente o mesmo lugar em que começa a novela.

Antonio Muñoz Molina, como ele mesmo disse, adiantou o dia de Ação de Graças para repassar em 56 tópicos, que terminaram levando-lhe a perder a conta, os cenários, autores, amigos e leituras que há por detrás de um relato de 1.000 páginas cujo pano de fundo é a guerra civil espanhola.

Sua peculiar lista de agradecimentos começou pelo escritor romeno Norman Manea e terminou com Luis Buñuel. O primeiro lhe convidou a dar uns cursos que lhe obrigaram a viajar desde Nova York em trem durante o outono de 2006 na velha estrada de ferro que corre às margens do rio Hudson. Foram nessas viagens quando lhe ocorreu o argumento de ‘La noche de los tiempos’. A Buñuel lhe agradeceu por ‘La Edad de Oro’: "Nesse filme há dois amantes que se buscam e se separam continuamente a todo o momento. Eu os tive presentes ao imaginar meus personagens".

Entre Manea e Buñuel estiveram Pedro Salinas, sua amante e sua mulher, Arturo Barea, Max Aub e Zenobia Camprubí, esposa de Juan Ramón Jiménez. Tampouco faltou o chileno Carlos Morla, cujos diários de 1936 recuperou, não faz tanto tempo, outro dos citados por Muñoz Molina, o poeta Abelardo Linares, responsável pela Editora ‘Renacimiento’. Porém, nem tudo foram nomes e sobrenomes. Entre as atitudes que lhe incentivaram a escrever seu livro o novelista falou da "cafonice sentimental e barata difundida nos últimos anos em torno à República. Essa moda insensata me irritou e me deu muita força".

Antonio Muñoz Molina contra os fanatismos

'La noche de los tiempos' (Editora Seix Barral) é a esperada novela do escritor espanhol que Babelia antecipa com exclusividade.

WINSTON MANRIQUE SABOGAL - El País – Madrid - 16/11/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

A separação amorosa e as dificuldades que sofre o ser humano pelos fanatismos ideológicos, neste caso da Guerra Civil espanhola, formam a geografia da esperada novela de Antonio Muñoz Molina: ‘La noche de los tiempos’ (Editora Seix Barral). Uma obra que transcorre às vésperas do conflito fratricida que assolou a Espanha entre 1936 e 1939, porém com uma desoladora sombra, cujo primeiro capítulo antecipa Babelia com exclusividade em ELPAÍS.com, como faz toda segunda-feira com o livro mais destacado da semana. A novela chegou às livrarias espanholas dia 19/11.

Os motivos e a essência do livro os explicam o próprio Antonio Muñoz Molina (Úbeda, Jaén, 1956): "Escrevi a novela querendo indagar a maneira como a paixão amorosa transtorna não somente as vidas dos amantes unidos por ela, mas também a vida da gente que está ao redor, os que sem conhecer o deslumbramento sofrem seus efeitos, com frequência incontroláveis e cruéis. E também queria pôr-me na alma de um homem que pertencesse a essa classe de sonhadores pragmáticos que foram tão importantes no meio da grande crise do século XX, e que em muitos casos sofreram a perseguição das duas formas de totalitarismo que se impuseram na Europa, que tinham entre si muitas coincidências, entre elas o desprezo pela consciência individual e por esses ativistas do humanismo liberal aos quais se deve algumas das melhores coisas que temos. Porém, que força pode fazer a consciência racional, o compromisso cívico, quando se desatam os delírios messiânicos e em grande medida criminais das ideologias? Não havia lugar para essas pessoas: nem para Stefan Zweig, nem para Juan Negrín, nem para Clara Campoamor, gente progressista que não acreditava que em nome do progresso estivesse autorizado o crime. As duas separações, a sentimental e a política, são o eixo do meu arquiteto inventado, ainda que espero que também verossímil".

Junto a este homem e a outros seres de ficção convivem pessoas reais, algumas já citadas por Muñoz Molina, além de Moreno Villa e Bergamín. Uma narração através da história desse arquiteto que em outubro de 1936, já longe do conflito fratricida recém desencadeado, e deixando para trás sua mulher e filhos, recorda um amor clandestino e as tormentas sociais e políticas que começaram a envolver seu mundo e a envolver a milhares de pessoas.

Novela de sentimentos, emoções e reflexões em torno do amor, da intolerância e dos fanatismos ideológicos; Muñoz Molina criou o retrato de uma época onde se mostra a maneira como se destrói o país, sua sociedade e os afetos de sua população. Uma viagem à noite dos tempos e à longa sombra do passado, do qual falou o escritor numa entrevista publicada em Babelia sábado 21 de novembro.

"En la cartera que abulta en el bolsillo derecho de su gabardina guarda una foto de Judith Biela y otra de sus hijos, Lita y Miguel, sonriendo una mañana de domingo de hace unos meses: las dos mitades rotas de su vida, antes incompatibles, ahora perdidas por igual".

É o que conta o narrador da novela que se pode ler na edição digital do jornal El País, e que continua assim: "Ignacio Abel sabe que si se miran demasiado las fotografías no sirven para invocar una presencia. (...) Desde hace unos meses uno ya no puede estar seguro de ciertas cosas: uno no sabe si alguien que recuerda bien o a quien vio hace unos días o sólo unas horas está vivo aún. Antes la muerte y la vida tenían fronteras nítidas, menos movedizas...".

Capítulo I de 'La noche de los tiempos', de Antonio Muñoz Molina
El País - Editora Seix Barral

BABELIA 939: En casa de Antonio Muñoz Molina
J. RUIZ MANTILLA / Á. R. DE LA RÚA / P. CASADO
El País - 20-11-2009
O escritor abre as portas de sua casa e relata algumas das curiosidades do proceso de criação de sua última novela 'La noche de los tiempos' (en español)