Castro diz que foi mal interpretado e que "é o capitalismo que já não serve"
Responde à revista americana 'Atlantic Magazine' que esta semana publicou num blog que o ex-presidente cubano havia reconhecido que "o modelo cubano já não funciona"
MAURICIO VICENT La Habana – El País - 10/09/2010
Tradução de Antonio de Freitas
Corrigido em sua totalidade. Fidel Castro assegurou hoje que o socialismo cubano funciona, O que não funciona, a seu juízo, é "o sistema capitalista" que "já não serve nem para os Estados Unidos, nem para o mundo, porque sobrevive de crise em crise; que são cada vez mais graves, globais e repetidas". O líder comunista não pôde ser mais enfático ao matizar suas recentes declarações ao jornalista norte-americano Jeffrey Goldberg, a quem disse, numa longa
entrevista para a revista ‘The Atlantic’, que "o modelo cubano não funciona nem sequer para nós". Castro garantiu que o jornalista não inventou a frase, mas que lhe interpretou absolutamente mal. O ex-mandatario cubano, de 84 anos, deu sua versão do sucedido em entrevista durante a apresentação do segundo livro autobiográfico na ‘Sala Magna de La Habana’. De acordo com Castro, Goldberg lhe perguntou "se o modelo cubano era algo que ainda valia a pena exportar". No seu entender, a pergunta levava "implícita a teoria de que Cuba exportava a revolução". Foi então quando lhe respondeu que "o modelo cubano" já não funcionava nem a eles.
"Expressei-o sem amargura nem preocupação. Divirto-me agora ao ver como ele o interpretou ao pé da letra e consultou [acadêmica norte-americana] Julia Sweig que o acompanhou e elaborou a teoria que expus", afirmou. De acordo com Castro, "o real" é que sua "resposta significava exatamente o contrario do que ambos os jornalistas norte-americanos interpretaram. "Minha ideia, como todo mundo conhece, é que o sistema capitalista já não serve nem para os Estados Unidos, nem para o mundo, porque sobrevive de crise em crise, que são cada vez mais graves, globais e repetidas, das quais não pode escapar". E sentenciou: "Como poderia servir semelhante sistema para um país socialista como Cuba?"
O ex-presidente cubano também menosprezou as interpretações de Goldberg sobre o que lhe disse sobre a crise dos mísseis. O jornalista norte-americano perguntou se valeu a pena haver pedido em 1962 ao líder soviético Nikita Kruchev, durante a crise dos mísseis, que atacasse os Estados Unidos com armas nucleares caso fosse necessário. Segundo Fidel, lhe respondeu textualmente: "depois de haver visto o que vi e de saber o que agora sei, não valeu absolutamente a pena".
Castro disse que ele recomendou a Kruchev foi que se "EUA invadisse Cuba", nesse momento com armas nucleares russas, "não deveria deixar de dar o primeiro golpe". O líder cubano explicou que a frase "de saber o que agora sei", era uma "óbvia referência à traição cometida por um presidente da URSS que, saturado de sustância etílica, entregou aos EUA os mais importantes segredos militares daquele país".
Castro não acusou o jornalista de manipulação, mas de mal interpretar-lhe, porém avisou que esperava com "interesse" as próximas publicações da entrevista, que aparecerão nos próximos dias na ‘The Atlantic’. O pequeno discurso de Castro terminou com uma referência ao "império que se afunda". Enfim, caso alguém tenha acreditado em outra coisa, aqui está o Fidel Castro de toda a vida.