Encontro bilateral URSS-EUA - MIKE FISHER (AFP)
O fim da URSS
EL PAÍS - 17/08/2011
Tradução de Antonio de Freitas
Em 1991 desmoronou a União Soviética e marcou o fim de uma época. Em questão de meses, a outrora superpotência dissolveu-se sem que ninguém tivesse previsto. O Secretário-Geral do Partido Comunista, Mikhail Gorbachev tentou reformar o regime desde 1985, iniciando câmbios políticos que chocaram com a velha guarda. As resistências da linha dura do partido começaram em agosto de 1991, quando um grupo de golpistas tentou derrubar Gorbachev e tomar o poder para "evitar a decomposição do país".
Março de 1985
Mikhail Gorbachev se converte no Secretário-Geral do Partido Comunista e começa a propor mudanças. Em política interna promove uma série de reformas, definidas por duas palavras chaves: ‘glasnost’ (abertura, transparência) e ‘perestroika’ (reestruturação).
Dezembro de 1985
Gorbachev nomeia a Bóris Iéltsin, um chefe do partido de província relativamente desconhecido, como chefe do Partido Comunista em Moscou. Iéltsin começa a recortar os privilégios dos membros do partido em Moscou. Gorbachev também nomeia a Eduard Shevardnadze como ministro de Exteriores, substituindo a Andrei Gromyko, um veterano de linha dura.
Dezembro de 1986
Como gesto de abertura no marco da nova política, o regime põe fim ao exílio do dissidente Andrei Sakarov.
1987
Gorbachev apresenta um plano de reformas econômicas e políticas no Comitê Central e começa a conquistar grande popularidade nos países ocidentais, por seus compromissos reformistas. Em fevereiro o regime aprova uma anistia pela qual libera a todos os presos de consciência e dita a reabilitação das vítimas das purgas de Stalin (N. Bukarin, entre outros). Em novembro Iéltsin é destituído de seu cargo; diz-se que está levando as reformas demasiado longe e que criticou a Gorbachev por sua lentidão à hora de por em marcha os câmbios. Para alguns, aqui começam os problemas pessoais entre ambos os políticos.
1988
A ‘perestroika’ enfrenta seus primeiros desafios. O jornal comunista ‘Sovetskata Rossiya’ faz um chamado à resistência contra as reformas. Nos países bálticos, começam os chamados à independência e se formam partidos políticos na Estônia, Lituânia e Letônia. Gorbachev recebe o presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan. Em julho a XIX Conferência do PCUS aprova um programa de reformas políticas que se plasmou em várias emendas à Constituição (dezembro) e na eleição, pela primeira vez com candidaturas múltiplas, de um Congresso dos Deputados do Povo, órgão máximo soberano.
Março de 1989
Um novo Congresso Popular de Deputados é eleito no marco das reformas. Os resultados eleitorais demonstram a radicalização popular e a irreversível perda de autoridade do PCUS. Boris Iéltsin ganha uma cadeira por Moscou com uma maioria abrumadora. Gorbachev retira as tropas do Afeganistão e põe fim à guerra que a URSS havia começado com a invasão de 1979. Uma manifestação pacífica na Geórgia é dispersa com violência pelas tropas soviéticas, resultando no saldo de 19 mortos.
Julho de 1989
Gorbachev anuncia que os países do Pacto de Varsóvia podem decidir seu próprio futuro. Na Polônia, o reformista Lech Walesa ganha as eleições e assume o poder. Em setembro, a Hungria abre suas fronteiras para o Ocidente sem que se produza uma reação das tropas soviéticas. Milhares de pessoas começam a viajar cruzando as fronteiras para os países ocidentais.
Novembro de 1989
Queda do Muro de Berlim. Milhares de pessoas começam a destruir e cruzar um dos símbolos mais potentes da cortina de ferro. A URSS não reage. Sob o impulso da chamada "revolução de veludo" o movimento reformista depõe o governo comunista na Checoslováquia, onde Vaclav Havel é eleito presidente. Em dezembro cai o regime de Ceaucescu na Romênia pela sublevação popular: o presidente e sua esposa são executados no dia de Natal.
Janeiro de 1990
Os países bálticos continuam pedindo a separação da União Soviética. Em Baku, capital de Azerbaijão, as tropas soviéticas dissolvem com violência uma manifestação pro - democracia e morrem uma centena de pessoas. Gorbachev continua com suas reformas. Em fevereiro responde a vários protestos populares e pede ao Parlamento que convoque eleições multipartidárias. Gorbachev deixa de ser Secretário-Geral e se converte no primeiro - e último - presidente soviético.
Junho - Julho de 1990
O XXVIII Congresso do PCUS declara a soberania da Rússia sobre seu território e se adianta em fazer leis que procuram desbancar algumas das normas da URSS. O Congresso reelege a Gorbachev como Secretário-Geral, enquanto que Iéltsin e outros dirigentes radicais abandonam o partido. Para fazer frente à crise nacional, Gorbachev propõe um novo Tratado de União, que foi aprovado pelo Congresso dos Deputados do Povo.
Outono de 1990
Ucrânia, Armênia, Turquenistão e Taiquistão reclamam sua soberania. Enquanto que a comunidade internacional aclama Gorbachev e outorga-lhe o Prêmio Nobel da Paz, em seu país o presidente enfrenta graves problemas econômicos. Tenta unir um pacote de reformas radicais com um mais cauteloso desenhado pelo seu primeiro-ministro, Nikolai Ryzhov.
17 de março de 1991
Celebra-se um referendum sobre o novo Tratado de União em toda a URSS, boicotado pelos países bálticos, Armênia, Geórgia e Moldávia. A maioria dos votantes em nove das quinze repúblicas expressou seu desejo de seguir na renovada União Soviética. Nas negociações que se seguiram, oito das nove repúblicas (exceto Ucrânia) aprovaram o Novo Tratado de União, com algumas condições. O acordo oficial faria da União Soviética uma federação de repúblicas independentes, mais descentralizada, porém com uma política exterior, militar e um presidente comum. As três repúblicas bálticas, Letônia, Lituânia e Estônia, organizam consultas eleitorais para reafirmar sua vontade de independência.
Junho de 1991
Os russos elegem pela primeira vez seu presidente: Bóris Iéltsin. Assim, os rivais Gorbachev e Iéltsin trabalham juntos nos escritórios do Kremlin. O clamor pela independência continua crescendo. Em janeiro, as tropas soviéticas dissolvem manifestações na Lituânia e Letônia, matando a mais de 20 pessoas.
31 de julho de 1991
A URSS e os Estados Unidos concordam no tratado para reduzir as armas nucleares estratégicas (START), firmado em Moscou com a visita do presidente George H. W. Bush. O tratado sanciona o fim do enfrentamento de Moscou com Washington, porém agrava as tensões no aparato do PCUS e no complexo militar-industrial.
4 de agosto de 1991
Gorbachev sai de férias a sua ‘dacha’ (casa de campo) em Foros, Crimeia. Tinha planejada a volta a Moscou para 20 de agosto de 1991, quando o Tratado de União seria firmado.
19 de agosto de 1991
Uma junta golpista criada pela ala dura do Partido Comunista, o Comitê Estatal de Emergência, põe em marcha um plano para destituir Gorbachev e tomar o poder para "evitar a decomposição do país". Dirigido por membros marxistas extremistas do governo, o golpe tentava reverter as reformas de Gorbachev e reafirmar o controle central do governo sobre as repúblicas. Os golpistas põem os tanques em Moscou, enquanto Iéltsin encabeça uma campanha de desobediência civil. A negativa do Exército de apoiar os golpistas e a firme atitude dos moscovitas, que formam um escudo humano em torno ao parlamento para evitar sua tomada, provoca o fracasso do golpe, que termina dois dias mais tarde com a detenção dos golpistas e o retorno de Gorbachev. Em Moscou, o poder já havia passado às mãos de Iéltsin, que se reafirma como herói nacional.
29 de agosto de 1991
As atividades do PCUS são proscritas pelo Tribunal Supremo, dissolvem-se os órgãos do poder central e abre-se um novo período constituinte.
6 de setembro de 1991
O Conselho de Estado reconheceu a independência da Estônia, Letônia e Lituânia.
1 de dezembro de 1991
90,3 % dos ucranianos votam pela independência.
8 de dezembro de 1991
Os líderes da Rússia, Ucrânia e Bielorrússia se reúnem para firmar um tratado que marca o nascimento da Comunidade de Estados Independentes (CEI), uma organização supranacional composta por 10 das 15 ex-repúblicas soviéticas.
25 de dezembro de 1991
Gorbachev anuncia sua demissão e a desintegração da URSS. A bandeira tricolor russa substitui no Kremlin à bandeira vermelha soviética.