domingo, dezembro 31, 2006

Lula do Brasil: filho do povo



Estou convicto hoje de que sem o Lula nós
teríamos conflitos sociais muitos violentos no Brasil.
Ele nasceu na sociedade mais pobre,
tem empatia e raiz social profunda. Está ocurando afastar as grandes diferenças
sociais e, assim, consolidando a democracia.

Cláudio Lembo,
Governador de São Paulo, PFL,
na Folha de São Paulo, de 31/12/2006,
p. A11.

“Quando a gente fala de improviso, a gente pode cometer um erro e falar uma palavra imprevista. Mas, em se tratando de bobagem, é melhor a gente falar do que a gente fazer”. Lula

A riqueza e a pobreza dos homens

“O pobre quer apenas um pouco de pão, enquanto o rico, muitas, quando encosta na gente, quer um bilhão. Fazer política para pobre é uma coisa prazerosa”. 28/06/2006.

“A única frustração que eu tenho é que os ricos não estejam votando em mim. Porque eles ganharam dinheiro como ninguém no meu governo. No meu governo, as empresas ganharam mais que os bancos”. 17/09/2006.

“Os pobres terão preferência no nosso governo. (...) É uma vitória que me deixa realizado como político. Foi a vitória dos de baixo contra os de cima. É o andar de baixo que chegou lá em cima. E pode ter certeza que jamais abdicarei do lado que eu sou”. 29/10/2006.


Diploma universitário e falar inglês

“Eu não tenho diploma universitário, mas este país vai ficar de ver como é que um torneiro mecânico formado no Senai pode cuidar deste pais melhor do que alguns doutores”. 21/05/2003.

“Os preconceituosos contra mim diziam assim: como é possível o lula governar um país, se ele não sabe nem falar inglês? Como é que ele vai conseguir conversar com o Bush? Conversar com o Tony Blair? E eu estou provando que eu não preciso falar inglês para ser respeitado no mundo”. 4/06/2003.


O matrimônio

“A coisa que eu mais queria quando casei com a minha galega (a primeira-dama Marisa Letícia) era um filho. Ela engravidou logo no primeiro dia de casamento, porque pernambucano não deixa por menos”. Em Pelotas (RS), 17/06/2003.

“A Marisa é feliz porque é bem casada”. 19/12/2003.


O fim das ideologias

“Em toda a minha vida, nunca gostei de ser rotulado de esquerdista. E, na primeira vez que me perguntaram se eu era comunista, respondi: ‘sou torneiro mecânico’”. 28/08/2003.

“Setores da esquerda e da intelectualidade não acreditam que um trabalhador possa ter um despertar e começar a falar o que alguns sabem porque leram algum livro. (...) Essas pessoas acham que a classe trabalhadora é incapaz de formular uma visão política sobre as coisas ou os caminhos de suas lutas. Essas pessoas são incapazes de acreditar que quem faz a minha cabeça são os problemas que a classe trabalhadora vive hoje. (...) Nunca quero me apresentar como se tivesse a verdade dentro da cabeça, porque ela não é ‘absoluta’ e pode não ser a verdade do conjunto do povo brasileiro. Não tenho a preocupação de dizer se sou comunista, anarquista, socialista ou cristão. Prefiro me definir como um cidadão brasileiro, com consciência de que os trabalhadores precisam se organizar visando a chegar ao poder. (...) O meu problema com alguns marxistas é que eles não querem adaptar o marxismo à realidade brasileira (e sim o contrário...). Como levar o marxismo ao trabalhador rural? Isso não é fácil – mas alguns já têm o prato feito e só querem que o povo coma nele. (...) Se Marx pudesse ressuscitar e julgar os que se dizem ‘marxistas’, muitos seriam condenados por ele”. (Entrevista à revista Extra, em 1980).

“Você pode fazer seu discurso político na hora em que quiser. Você pode ter suas definições ideológicas quando quiser, mas, na hora de governar, é pão, pão, queijo, queijo. Você nem sempre faz o que você quer”. 31/10/2003.

“É a evolução da espécie humana, quem é mais de direita vai ficando mais de esquerda, quem é mais de esquerda vai ficando social-democrata e as coisas vão fluindo de acordo com a quantidade de cabelos brancos que você vai tendo. Se você conhecer uma pessoa muito idosa esquerdista, é porque ela tem problema. Se você conhecer uma pessoa muito nova de direita, é porque também tem problemas. Então, com 60 anos é a idade do ponto de equilíbrio”. 11/12/2006.


Ética e companheirismo

“Neste país de 180 milhões de brasileiros, pode ter igual, mas não pensem que tem nem mulher nem homem, que tenha a coragem de me dar lição de ética, moral e honestidade”. 22/07/2005.

“Nem farei o que fez Getúlio Vargas, nem farei o que fez Jânio Quadros, nem farei o que fez João Goulart. Meu comportamento será o comportamento que teve Juscelino Kubitschek: paciência, paciência e paciência. A verdade prevalecerá, e o povo brasileiro vai saber verdadeiramente o que está acontecendo no Brasil”. 26/08/2005.

“Companheiro nosso, na dúvida, é nosso companheiro”. 28/04/2006.


Grandes lições

“Orgulho é que nem colesterol. Tem orgulho bom e orgulho ruim”. 23/12/2004.

“Quando a gente é de oposição, você pode fazer bravata porque não vai poder executar nada mesmo. Agora, quando você é governo, tem de fazer. Aí não cabe bravata”. 27/03/2003.

“Todo mundo tem o direito de ser contra, a favor ou muito pelo contrário”. 1/06/2003.


O futuro

“Não tem um congresso nacional, não tem um poder judiciário – só Deus será capaz de impedir que a gente faça este país ocupar o lugar de destaque que ele nunca deveria ter deixado de ocupar”. 24/06/2003.

“Foi Deus que garantiu o segundo turno. Era preciso o segundo turno. Eu, no começo, fiquei chateado. Mas agora estou feliz. Porque no segundo turno é que a gente está podendo provar quem é quem”. 22/10/2006.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Morrer sozinha e milionária

















“Meu único luxo é a solidão”
Pierre Cardin



Abro o jornal e leio que Carmen Pinto Valls faleceu sozinha aos 85 anos, em sua casa em Barcelona, Espanha, no dia 9 de novembro de 1998. Ela estava doente, mas insistia em viver sozinha. Deixou uma fortuna de 12 milhões de euros, sem testamento nem herdeiros.

Carmen não teve filhos. Nasceu no dia 3 de novembro de 1913 numa cidadezinha do sul da Espanha e mais tarde foi viver em Barcelona. Casou-se com Josep Porta Selva, um elegante representante comercial e empresário que morreu em 1983, deixando-a como sua única herdeira.

Hoje, o governo catalão divide sua fortuna de 12 milhões de euros, basicamente formada por imóveis na cidade de Barcelona, entre ONGs e diversos projetos sociais. Contudo, o governo catalão buscou, sem sucesso, a qualquer parente consangüíneo da senhora Carmen Pinto Valls que, de acordo com a lei de sucessão espanhola, poderia reclamar sua herança.

Uma de suas vizinhas disse que “seria 1955 ou 1956” o ano em que o casal fixou residência no quinto andar do prédio que lhes pertencia na zona alta da cidade de Barcelona, ‘acima da Diagonal’, no qual Carmen fixou residência até morrer. “Os inquilinos eram recém casados e eles também”, afirmou a vizinha que recordava, ainda, que o falecido marido de Carmen era muito atencioso com ela.

Três vezes por semana, sua empregada doméstica Núria aparecia para ajudar-lhe a realizar as tarefas domésticas, preparar-lhe a comida e fazer-lhe as compras, quando já não conseguia mais sair de casa. Também recebia a visita de um sobrinho de seu falecido marido, que insistia na sua internação num hospital. Nada, ninguém imaginava que Carmen era uma milionária, pelo tipo de vida que levava.

Carmen era uma mulher muito reservada, mas isso não impediu que sua cabeleireira, Lili, descobrisse a muitos de seus segredos, como que foi empregada doméstica de seu falecido marido.

De gosto simples, Carmen costumava pintar o cabelo uma vez por mês, momento em que também fazia pedicura e manicura. Lavava sua roupa a mão e fazia importantes doações a entidades religiosas. “Ás vezes, parecia que ela não queria dar-se conta da idade que tinha, nem de que estava muito doente”, afirmou Lili.

Apesar de sua fortuna, Carmen sempre desconfiou das pessoas. Quis viver sozinha e desta forma morreu. Seu funeral foi acompanhado pelo sobrinho de seu falecido marido, pela porteira de seu prédio, por sua empregada doméstica e sua cabeleireira.

“Diz-me pra que serviu tanto dinheiro”, disse a cabeleireira.

Fecho o jornal.


domingo, outubro 01, 2006

Manual do Mercosul - Globalização e Integração regional


Os elementos mais representativos do momento atual em que vivemos são a globalização e o processo de integração regional. A nova configuração política e econômica que se manifesta na nova ordem internacional têm sua expressão mais visível na tendência à regionalização e multilateralização das relações entre os Estados. O Estado-nação ainda mantém-se como ator importante no contexto das relações internacionais, muito embora padeça de uma enorme perda de poder. A integração regional entra neste contexto como uma possível resposta à fragmentação do sistema internacional e à globalização. O reforço da estrutura internacional, através da integração regional e da cooperação internacional, pode vir a ser uma solução para os problemas causados pela acentuada globalização, que ultrapassam as fronteiras nacionais e causam o aparente caos da ordem econômica internacional, dando a esse processo pouca estabilidade.

O processo de integração do MERCOSUL enquadra-se perfeitamente dentro da dinâmica do último processo de globalização ou mundialização dos fluxos econômicos e da formação de blocos regionais, que tem seu começo no fim da II Guerra Mundial na Europa Ocidental, mas encontra sua raiz histórica na Carta do Atlântico, de 14 de agosto de 1941, firmada por Roosevelt e Churchill. O Mercado Comum do Sul – MERCOSUL é um processo de integração regional de Estados, iniciado através da integração de dois países historicamente adversários, a similitude do que ocorreu na Europa, entre França e Alemanha.

quarta-feira, setembro 13, 2006

É hora de partir


















Talvez precisemos mentir para nós mesmos
para impedir que fiquemos loucos.

David Livingstone Smith
PhD em Filosofia,
Estadão de 05/03/2006.



Alguém afirmou que está na hora de buscar outro rumo e, imediatamente, eu concordei.

Um ano e vários meses na corte da República e meu coração já grita por novos desafios e minhas amarras já rangem, ainda atracadas ao cais.

O veleiro da minha vida sacode de popa a proa e já sente o vento sudoeste inflar suas velas brancas encardidas e firmes.

Se não é pra mim, tchau, vou buscar o que será. Se não está comigo, adeus, passe bem, obrigado.

O tempo ainda está do meu lado, como todos os poetas que li.

É hora de partir, é hora de partir e meu coração sorri, numa alegria suave e triste de navegante sem pátria e sem bandeira.

* Escrito na cidade de Brasília, em 4 de maio de 2006.



terça-feira, agosto 15, 2006

Noite no Café Viena



Si no es capaz de acoger lo nuevo,

lo imprevisto y dejarse transformar,

es que el espíritu se halla petrificado.

Tzvetan Todorov

em "Deberes & Delicias
- Una vida entre fronteras",
2003.

Então teus ex-amigos entram no teu bar. Cheios de amigas, aparentemente deliciosas, com seus cabelos enormes, caídos sobre os ombros, como querendo te conquistar pelo pau. E você está sozinho... no meio do teu terceiro copo de vodka cheio de soda, cheio de saudade da tua mulher que está longe... lendo teu jornal de domingo, implorando a Deus que entre a porra de um amigo, de um colega ou mesmo de um conhecido. Mas entra a mulher de um deles e, foda, você tem que levantar, sorrir, cumprimentar, acender o cigarro dela. E ainda te pergunta sobre aquela faculdade ridícula que você abandonou há cinco ou seis anos atrás. Pois é, tudo isso ocorre, enquanto você pede ao garçom pra botar teu disco favorito do David Bowie... só pra ter alguma segurança no meio dum furacão.

E, por fim, toca “God only knows”, a música preferida do disco que eu pedi. Ela me enche de confiança, estou seguro, sozinho e seguro, enfrento a todos os exércitos inimigos, salto barreiras intransponíveis, mergulho em trincheiras podres de mortos e escapo são e salvo. Corro entre granadas explodindo, pulo grandes cercas de arame farpado e estou só. Nem um aliado, nem um conhecido, nem um maldito colega ex-aluno de algum lugar que’u já passei. Nada.

Mas tudo isso fortalece a qualquer um. Reforça a confiança em si mesmo, reabilita a posição, recarrega as baterias de um homem que sempre se identificou com a frase da Rita Lee: “Como mutante, no fundo sempre sozinho, seguindo o meu caminho...”

Afinal, já são tantas batalhas, infinitas guerras, travadas entre um mesmo e a humanidade, que a guerrilha já não conta. As pequenas bombas terroristas significam apenas isso, “pequenos atentados”. O oceano está azul, há vento, os marinheiros estão confiantes e temos munição de sobra!

De maneira que grito, pra dentro de mim mesmo, que a vida vale a pena, que abaixo a corrupção, abaixo os amores de conveniência, fora os pequenos “capos” de província, morte aos inimigos da vida, viva la vida y viva la fiesta.

Mas tudo tem, ou terá, seu fim. Pode ser que minhas palavras/pensamentos se percam entre turbilhões de tergiversação ou explodam no céu, entre milhões de estrelas, numa “mascletá” absurda de sentimentos, sons e manhãs!


* Escrito na cidade de Teresina em 5 de abril de 2004.

sábado, junho 17, 2006

Eu quero ser eterno



Sou escravo, sou herói, sou filósofo,
sou demônio e sou mundo - o que
é uma fatigante maneira de dizer que
não sou.

Jorge Luis Borges

Eu odeio precisar. Mas hoje eu preciso de um amigo de verdade, bom de copo e com tempo e disposição pra apoiar, nem que seja ao menos escutando.

É que hoje eu preciso ouvir o silêncio da madrugada de Brasília, com seu céu sem estrelas arranha-céus, com suas noites frias, ouvindo o desesperado canto das cigarras em agosto.

Hoje, eu preciso almoçar com o Ricardo no Itamaraty, ouvir alguma coisa inteligente no meio desta mediocridade que vai subindo na vida às custas da corrupção e de suas vaginas gordas e escancaradas ao meio-dia. Hoje, eu preciso que você me mande uma mensagem simples pro meu telefone dizendo “eu te amo”.

Preciso sentar com meu copo de “juanito caminante”, meu bloco de notas e meu lápis grafite preto, pra pensar por extenso, traduzindo ansiedade em poesia, sentimento de derrota em disposição “churchlliana” de seguir em frente, contando apenas comigo mesmo, valendo-me tão-somente desta adolescência eterna que invade meu peito cheio de marcas de guerra, memórias de batalhas travadas em momentos de extrema solidão feliz.

Hoje, eu preciso parar de esperar “reconhecimento pelo trabalho duro” e pensar em, definitivamente, tomar partido nas grandes causas do meu século. Hoje, de braço dado com todas as minhas ilusões, saio pra rua, pra noite, pro mundo.

Carrego comigo pouca bagagem e toneladas de sonhos reais e personagens e estórias ainda não escritas e todas as ilusões que a chegada anunciada dos quarenta pode trazer.

Hoje, eu te levaria, amorzinhomeu, para um passeio pela minha fantasia de castelos e livrarias imaginárias que’u visitei quando vagava pelas vazias e tristes ruas apertadas de um velho continente cheio de solidão e zumbis e pessoas mortas e sem alma. Hoje, eu venceria qualquer discussão idiota e sem futuro, ainda que fosse sobre futebol na Coréia do Norte.

Hoje, eu visitaria velhos autores e poetas, num passeio de saudade e evocação romântica e literária, entre loucas declarações de amor entre multidões de náufragos nalgum bar boêmio da cidade sem esquina. Hoje, as piores caras irão me ver, entre gargalhadas, e estarei nu, completamente nu, sem palavras...

Hoje, minha eterna companheira abre seus braços para mim, num abraço frio, à sombra de uma mesa num café mal iluminado por velas de parafina e almíscar. Hoje, somente hoje, estarei encostado no balcão de madeira mal polido do meu coração que procura palavras e somente encontra o silêncio.

Hoje, não mais que hoje, o silêncio invadirá minha recordação do tempo que’u ainda viverei, enquanto algum idiota fará o comentário fascista de sempre, julgando-me e condenando-me com toda a sanha daqueles que ficaram em casa pra sempre e ainda não sabem a diferença entre sexo protocolar e desejo.

Hoje, entre palavras de ordem e grandes passeatas de protesto, levarei minha alma para um cantinho de águas tranqüilas, entre vitórias-régias e flamboaiãs chorões. Somente hoje, eu gostaria de ouvir a gargalhada do meu irmão sobre alguma piada de qualquer primo nosso.

Entre tantas melancolias vespertinas, eu desejo hoje ver brilhar o sol de um novo dia, repleto de nova felicidade e cânticos de amor acompanhados de jazz.

Que chegue o carnaval agora, que o alegre bloco invada essa rua, com jardineiras, palhaços e colombinas, livres de toda dor de viver e, completamente repletos, embriagados de vida, abarrotados de confetes e serpentinas e cheirando a lança perfume, debochando de toda a matilha de velhos de coração, buscando a cerveja mais gelada, o sorriso mais sincero e a alegria mais verdadeira.

Hoje, só hoje, eu quero ser eterno.

sexta-feira, junho 16, 2006

Palavras de Sabedoria – II




"Meu Deus protegei-me de meus amigos! Dos meus inimigos eu me encarregarei" - Voltaire


"Não há fatos eternos como não há verdades absolutas" - Nietzsche


"Todo prazer é erótico" - Freud


"Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem que às vezes poderíamos ganhar pelo medo de tentar" - Shakespeare


"O mar não é um obstáculo, é um caminho" - Amyr Klink


"Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim" - Millôr Fernandes


"Não faço esculturas, na verdade, elas sempre estiveram lá. Eu apenas retiro os excessos" - Leonardo da Vinci


"Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta!" - Carl Young


"Você quer ser feliz por um instante? Vingue-se! Você quer ser feliz para sempre? Perdoe!" – Tertuliano


"Não são os grandes planos que dão certo, são os pequenos detalhes" - Stephen Kanitz


"Diga sim sempre que possível e não sempre que necessário" - Tania Zagury


"Para todo problema complexo, existe uma solução clara, simples e errada" - George Bernard Shaw


"Amar é admirar com o coração. Admirar é amar com o pensamento" - Theophile Gautier


"Os homens tendem a acreditar sobretudo naquilo que menos compreendem" - Michel de Montagne


"Do rio que tudo arrasta se diz violento, mas ninguém chama de violentas as margens que o aprisionam" - Bertold Brecht


"Nunca fui capaz de responder à grande pergunta: o que uma mulher quer?" - Sigmund Freud


"A simpatia, como o amor, é um sentimento que não raciocina" - Graham Green


"A maior recompensa para o trabalho do homem não é o que se ganha, mas o que ele nos torna" - John Ruskin


"Nunca conseguirás convencer um rato de que um gato traz boa sorte." - Abraham Lincoln


"Espelhos deveriam pensar duas vezes antes de refletir" - Jean Cocteau


"É preciso ser mais virtuoso para suportar a prosperidade do que a adversidade" - La Rochefoucauld


"Algo que aprendi em uma longa vida: toda nossa ciência, medida contra a realidade, é primitiva e infantil - e ainda assim, é a coisa mais preciosa que temos" - Albert Einstein


"O computador surgiu para resolver os problemas que você não tinha" - Marcio S. Alvarez


"O segredo da felicidade está na liberdade; o segredo da liberdade está na coragem." - Péricles


"Viver é desenhar sem borracha" - Millôr Fernandes


"Aquele que sua força conhece e sua fraqueza esconde, vale um império" - Lao Tsé


"Quem mata um homem é chamado de assassino, quem mata milhares é chamado de herói" - Charles Chaplin

segunda-feira, junho 05, 2006

Palavras de Sabedoria - I




"A alma com medo da morte nunca aprende a viver" - Thereza Winter


"Ao destruir o medo é ativada a curiosidade" - Robert A. Monroe

"Estamos aqui para aprender, experimentar e cometer erros" - Betty Eadie

"A dúvida e o medo são as duas portas que todo ser humano tem que atravessar para conhecer e obter sua plena e completa liberdade" - Saint Germain


"Achar que o mundo não tem um criador é o mesmo que afirmar que um dicionário é o resultado de uma explosão numa tipografia" - Benjamim Franklin


"Acho possível que um indivíduo contemplando a terra se torne ateu. Porém, parece-me inconcebível que esse mesmo indivíduo ao contemplar o céu, possa dizer que o mundo não tem um Criador" - Abrahão Lincoln


"É possível que um homem viva sozinho, mas não creio que isso seja felicidade" - Benjamim Franklin


"É preferível ceder o caminho a um cão, a ser mordido por ele, pois mesmo matando o cachorro a dentada não ficaria curada" - Abrahão Lincoln


"A calúnia torna sempre pior o caluniador e não o caluniado" - C. C. Colton


"Eu não me envergonho de corrigir meus erros nem de mudar minhas opiniões. Porque não me envergonho de raciocinar e aprender" - Alexandre Herculano


"Acredito que somente uma pessoa que nada aprendeu não modifica suas opiniões" - Emil Zatopek


"A realidade de hoje foi o sonho de ontem. O sonho de hoje será a realidade de amanhã. E em todas as épocas zombou-se dos sonhadores" - Zalkind Piatigirki


"Se tivesse acreditado na minha brincadeira de dizer verdades, teria ouvido verdades que teimo em dizer brincando. Falei como um palhaço mas jamais duvidei da sinceridade da platéia que sorria" - Charles Chaplin


Cristo é a maior fonte de força espiritual que o homem tenha conhecido. Ele é o exemplo mais nobre de um desejo de tudo dar sem nada pedir em troca. Cristo não pertence somente ao cristianismo, mas ao mundo inteiro" - Gandhi


"Triste Época! Mais fácil desintegrar um átomo que um preconceito" - Albert Einstein


"O insucesso é apenas uma oportunidade para recomeçar de novo com mais inteligência" - Henry Ford


"Passamos a amar não quando encontramos uma pessoa perfeita, mas quando aprendemos a ver perfeitamente uma pessoa imperfeita" - Sam Keen


"Há alguma coisa errada que não está certo" - Yury Hans Kelsen


"Insensibilizados são aqueles que morrem e não sabem que morreram!" Jefferson Rabal


"Prefiro perder a guerra e ganhar a paz" - Bob Marley


"O que eu faço hoje é importante porque estou trocando um dia da minha vida por isso" Samuel F. Pugh


"Se você pensa e age como sempre fez, vai ser o que sempre foi" - Mario Diotto


"A única alma que um homem pode salvar é a sua" - William O. Douglas


"A imaginação é mais importante que o conhecimento" - Albert Einstein


"O único homem que não erra é aquele que nunca faz nada" - Roosevelt


domingo, maio 14, 2006

Manual do Mercosul - Globalização e Integração Regional

Autor: Antonio Freitas Júnior

Sinopse

Os elementos mais representativos do momento atual em que vivemos são a globalização e o processo de integração regional.

A nova configuração política e econômica que se manifesta na nova ordem internacional têm sua expressão mais visível nas tendências à regionalização e multilateralização das relações entre os Estados.

O Estado - nação ainda mantém - se mantém como ator importante no contexto das relações internacionais, muito embora padeça de uma enorme perda de poder.

A integração regional entra neste contexto como uma possível resposta à fragmentação do sistema internacional e a globalização.

O reforço da estrutura internacional, através da integração regional e da cooperação internacional, pode vir a ser uma solução para os problemas causados pela acentuada globalização, que ultrapassam as fronteiras nacionais e causam o aparente caos da ordem econômica internacional, dando a esse processo pouca estabilidade.

O processo de integração do MERCOSUL enquadra-se perfeitamente dentro da dinâmica do último processo de globalização ou mundialização dos fluxos econômicos e da formação de blocos regionais, que tem seu começo no fim da II Guerra Mundial na Europa Ocidental, mas encontra sua raiz histórica na carta do Atlântico, de 14 de agosto de 1941, firmada por Roosevelt e Churchill.

O Mercado Comum do Sul - MERCOSUL é um processo de integração regional de Estados, iniciado através da integração de dois países historicamente adversários, a similitude do que ocorreu na Europa, entre França e Alemanha.

SUMÁRIO
Capítulo 1 - Introdução
1.1 - A globalização e a Integração regional
1.2 - A Globalização
1.3 - A Integração Regional
Capitulo 2 - Globalização: triunfo do neoliberalismo?
2.1 - As características da atual onda globalizadora
2.2 - A outra Globalização possível: vozes em contra do atual processo de globalização neoliberal
2.3 - Os acontecimentos de 11 de setembro de 2001
Capítulo 3 - A Integração regional e os blocos econômicos
3.1 - A idéia de Integração
3.2 - Modelos de Integração regional
3.3 - A Integração Européia como modelo
a) Introdução
b) Primeira etapa: de 1945 a 1947
c) Segunda etapa: de 1947 a 1957
d) Terceira etapa: de 1957 a 1973
3.4 - Europa no final do século XX e início do século XXI
3.5 - Os processos de integração Ibero-americanos
3.6 - A Integração através da CEPAL
3.7 - Associação Latino-americana de Integração - ALADI
3.8 - Os Acordos de Integração intracontinental
3.9 - O Acordo de Livre Comércio das Américas - ALCA
3.10 - Integração Ibero-americana versus IntegraçãoEuropéia
3.11 - A Integração Ibero-americana hoje em dia
Capítulo 4 - O Mercador Comum do Sul - MERCOSUL
4.1 - Antecedentes
4.2 - O Tratado de Assunção
4.3 - Os Protocolos de Brasília, Ouro Preto e de Olivos
4.4 - A estrutura institucional do MERCOSUL
a) Conselho Mercado Comum - CMC
b) Grupo Mercado Comum - GMC
c) Comissão de Comércio do MERCOSUL - CCM
d) Comissão Parlamentar Conjunta - CPC
e) Fórum Consultivo Econômico-Social
f) Secretaria Administrativa do MERCOSUL
g) Órgãos auxiliares do CMC, do GMC e da CCM
h) O Tribunal Administrativo-Trabalhista
i) O Tribunal Permanente de Revisão
4.5 - O MERCOSUL como integração além do econômico
a) Na política
b) Na democracia
c) Na cooperação científica
d) Na segurança e defesa
e) Na cooperação fronteiriça entre regiões
f) Na proteção ambiental
g) No sócio-cultural
4.6 - O MERCOSUL hoje
Conclusões
Bibliografia
Bibliografia: notas de imprensa

Características detalhadas

Edição: 2006
Numero de Páginas: 392
Altura:21 cm
Largura: 14 cm
Profundidade: 2,3
Acabamento: Brochura
I.S.B.N.: 85-88239-38-8
Código de Barras: 9788588239388
Valor: R$ 68,00
Compras através da Editora BH:

segunda-feira, maio 08, 2006

O petróleo é deles


Para a consecução de seus objetivos,
todos os povos podem dispor livremente
de suas riquezas e de seus recursos naturais,
sem prejuízo das obrigações decorrentes
da cooperação econômica internacional,
baseada no princípio do proveito mútuo
e do Direito Internacional.
Em caso algum poderá um povo
ser privado de seus próprios meios de subsistência.

Item 2, do Art. 1º,
do Pacto Internacional sobre
Direitos Civis e Políticos (1966)
e do Pacto Internacional dos
Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais (1966),
ambos assinados
pelo Brasil e pela Bolívia.


A festa do 1º Maio deste ano teve um sabor amargo para a Petrobrás. Apesar de todos os afagos feitos a Evo Morales, Presidente da Bolívia, a Petrobrás sofreu, até agora, uma verdadeira expropriação de seus investimentos de mais de US$ 1 bilhão naquele país.

Pelo ‘Decreto Supremo nº 28.701’, apelidado de “Heroes del Chaco”, de 1º de maio de 2006, o Estado boliviano, através de sua “Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos – YPFB”, recuperou a propriedade e o controle “total e absoluto” sobre a produção, transporte, refino, armazenagem, distribuição, comercialização e industrialização de seus hidrocarbonetos, cabendo a todas as companhias petroleiras estrangeiras adaptarem-se às novas regras de exploração e comercialização dentro de 180 dias. O Decreto foi seguido da ocupação militar dos campos petrolíferos e das refinarias estrangeiras naquele país, comandada pelo próprio Evo Morales.

Não é a primeira vez que a Bolívia nacionaliza seus hidrocarbonetos, mas a terceira. Na verdade, a Bolívia foi o primeiro país Latino-americano a proceder assim, quando em 1937 nacionalizou a Standar Oil Co. e em 1969 a Gulf Oil, ambas estadunidenses.

A noticia pegou de surpresa o governo brasileiro, notadamente o ministro das Minas e Energia, Silas Rondeau, o ministro interino das Relações Exteriores, Samuel Pinheiro Guimarães e ao presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli. O aumento para 82% dos impostos bolivianos sobre a produção da Petrobrás torna antieconômica a permanência da empresa na Bolívia.

A expropriação boliviana abre uma enorme crise política entre o Brasil e o país mais pobre da América do Sul, pois até a presente data ainda não se sabe se o governo boliviano irá ou não indenizar as empresas estrangeiras e de que forma, uma vez que o país não dispõe de reservas monetárias para tanto.

Apesar de louvável a atitude do governo socialista boliviano, do ponto de vista estritamente do povo boliviano reter os benefícios de suas riquezas naturais, não se deve esquecer que o país necessita de investimentos estrangeiros para sua exploração. Destarte, caso a Petrobrás se retire do território boliviano, seria substituída por investimentos oriundos da Venezuela e da China.

Contudo, a credibilidade das garantias jurídicas bolivianas foi abalada com a nacionalização dos hidrocarbonetos. Com certeza o mercado, esse grande destruidor de mitos no século XXI, reagirá ao ato nacionalista boliviano e as conseqüências serão imprevisíveis. Afinal, nenhum grande líder nacional deseja tornar seu país um pária a nível internacional.

Que o povo boliviano deve ser o verdadeiro beneficiário de suas riquezas naturais é uma verdade inabalável e ninguém será louco de defender o contrário. Contudo, os investimentos estrangeiros são importantes para esse beneficio, principalmente quando participam do desenvolvimento do país, pagando preços justos pelo gás e petróleo explorados.

Merece destaque, ainda, o fato de que o decreto expropriador boliviano haver sido assinado no momento em que o Presidente Evo Morales retornava de uma visita a Havana, onde criou junto a Fidel Castro e Hugo Chávez o “Tratado de Comercio dos Povos”. Ademais, Bolivia somou-se à “Alternativa Bolivariana para as Américas – ALBA, que Castro e Chávez lançaram em dezembro de 2004, que ainda não disse a que veio.

Atualmente, América Latina vive dias de tensão: o Mercosul patina, enquanto o Uruguai afirma que irá abandonar o bloco; Hugo Chávez ao criticar a assinatura de um acordo bilateral entre o Peru e os EUA, em detrimento da Comunidade Andina de Nações – CAN, detonou uma crise diplomática entre a Venezuela e o Peru; enquanto vários países assinam acordos bilaterais com os EUA.

Por fim, uma frase dos “Considerandos” do Decreto boliviano cabe destaque, ainda, por vincular a recuperação das riquezas naturais daquele país à luta dos movimentos sociais e dos “povos originários”, como base da recuperação da própria soberania nacional.

sexta-feira, abril 28, 2006

Já morreu


A morte é uma vida vivida.
A vida é uma morte que chega.
Jorge Luís Borges

Nascer é começar a morrer.
Teófilo Gautier
(1811 - 1872
escritor francês)

Enquanto estão vivos,
nossos pais são a fronteira
entre nós e a morte.
Quando morrem,
nós passamos para
o primeiro lugar da fila.
Jane Fonda

Eu também já morri. Foi há muito tempo, por volta de 1988 ou 1989. Havia um outro eu, um Freitas Júnior ou Freitas Filho, cujo pai chamava-se também Freitas e trabalhava, também, no mesmo Banco que meu pai. Lembro-me vagamente dele, nadando com seus irmãos na piscina de algum clube da minha infância. Freitinhas morreu voltando de moto de Parnaíba no mês das férias, julho, sozinho.

A notícia se espalhou como pólvora e alguns mais chegados até me ligaram em Recife, onde eu morava naquela época, estudando Direito. Outros se assustavam ao ver-me bebendo no antigo P Center.

– Ué? Você aqui?
- Cheguei ontem, já estou de férias.
- Não me refiro a isso, mas...
- Mas o quê?
- Você... aqui... vivo...
- Eu vivo?
- Nada não, valeu, a gente se fala.
Ninguém realmente consegue levar um papo normal sobre o tema morte. Simplesmente o tema não existe quando somos jovens e cheios de sonhos malucos, mas a verdade é que à medida que envelhecemos o tema se torna ainda mais terrível.

Tenho um amigo que desaparece da vida de qualquer outro amigo que perde um parente próximo por no mínimo um ano, para sequer sentir a tristeza provocada pela morte no amigo enlutado. Na verdade o que ele detesta é a perspectiva de encarar a sombra mortal que paira sobre qualquer luto.

A primeira vez que senti a dor pela perda de alguém querido foi em 1983, quando morreu meu avô. Eu ainda lembro daquele dia. Estava na 7ª série do curso ginasial do colégio dos jesuítas e naquele momento assistia a missa semanal. De repente, entra a pedal e com um sinal de mão me chama à porta da capela. – Suba à sua sala, arrume seus livros que seus pais te esperam na Secretaria. Teu avô morreu.

Puxa vida, isso sim é que é classe em comunicar um falecimento. Um verdadeiro anjo do inferno, a porta-voz do cramunhão, o oráculo do boizebú.

Anos mais tarde morreria minha avó, mas eu já estava mais crescidinho e encarei aquela perda de maneira mais... adulta, digamos assim.

Depois aprendi a matar. Isso mesmo, foi com Jorge Amado. De maneira que há pessoas que andam, falam, respiram, mas em verdade estão mortas. Já não existem mais por mil motivos, pela vilania, pelo excesso de picaretagem e etc.

Talvez a morte seja apenas uma passagem de plano, uma mudança de energia ou qualquer outra explicação esotérica. Pra mim, melhor é não mexer com isso. Fica pra depois, pra bem depois que formos todos nós, em paz, pro maravilhoso bar celestial que nunca fecha.

sexta-feira, abril 07, 2006

Depois do começo do fim




Todo pasa.
Nada dura más que un rato.
Si aprendes esto,
la vida se hace más fácil.

Marlon Brando



Amar à distância somente não é pior que amar uma pessoa sem alma. E existe muita gente sem alma neste mundo. Zombies que vagam pelo planeta a maldizerem de sua própria sorte, encantados com as vidas das outras pessoas, mas incapazes de viverem suas próprias, se enganando com suas mesquinhas vidas pequenas e idiotas. Elas encontram resposta pra tudo, menos pro óbvio: estão mortas.

“- Agora, depois de tanto tempo calada, me diz o que realmente aconteceu”.

O medo pode devorar um ser humano a tal ponto que apenas a histeria nervosa vem a ser sua senhora. Dar ouvidos à razão pode te levar a um imobilismo neurótico irreversível. A paralisia mental de atitudes te conduz pelo estreito e escuro caminho da sensação de fracasso perpétuo.

“- Conta-me uma novidade”.

E tem que ser assim. Não há segunda chamada pra vida e que as Carolinas que esperam nas janelas fodam-se sozinhas. O tempo é agora e o lugar é aqui. Não dá pra esperar mais.

“- Você está comigo ou não?”

Chega de esperanças e bons sentimentos nobres. Chega. Já me sinto abusado de tanta paciência, tanta negatividade e tanto sentimento de desprezo pelos meus sentimentos. Pra mim, basta de doces e fodidas historietas de amor sem rumo, com personagens maníaco-depressivas que se entopem de comprimidinhos cor-de-rosa pros nervos diante de qualquer desafio diante da vida.

“- Vai pôr a culpa em mim, de novo?”.

O tempo vai passar e isso é a única coisa positiva desta historinha toda. Que passe o tempo, vem logo tempo, passa logo, transforma todo esse amor em angústia e sentimento de fracasso até que tudo seja apenas nostalgia, esquecimento e vazio.

“- Cuida-te muito, tchau”.

sexta-feira, março 31, 2006

História congelada



Sigue los deseos de tu corazón;
busca la felicidad.
Haz en este mundo
todo aquello que tu corazón desee.

Terenci Moix,
nas palavras do canto
do harpista na tumba
do rei Intef



Leo Musttonen era um jovem soldado do Exército dos Estados Unidos, que naquele dia completaria seu treinamento como navegador aéreo, sobrevoando as montanhas brancas de Sierra Nevada, na Califórnia. A cabeleira loura, algumas moedas, suas cadernetas de endereços pessoais e seu amuleto da sorte, uma caneta tinteiro Sheaffer, lhe acompanhavam naquele vôo treinamento, antes de cruzar o Oceano Atlântico abordo dum navio de transporte de tropas em direção a Inglaterra, pra desde lá, sobrevoar a Europa dominada pelos nazistas.

Também levava uma piada boba de cunho sexista que dizia: “Um pássaro na mão vale mais que dois voando. Todas as grotas sabem”. Ele já havia realizado dezenas de vôos e somente o friozinho normal de sempre lhe percorria o estômago, forrado de café preto e panquecas. Seus pais, Arvid e Anna Musttonen, imigrantes finlandeses, estavam muito orgulhosos do soldado Musttonen e do papel que seu novo país desempenharia no teatro da II Guerra Mundial. O jovem Leo havia nascido há 22 anos em Brainerd, Minessota, e no colégio fazia parte da banda de música da escola.

Mas, naquele dia o destino de Leo Musttonen estava selado pra sempre. Ele seria mandado, por alguma razão ou lógica que desconhecemos totalmente, direto daquele longínquo 18 de novembro de 1942 para o ano de 2005. Contudo, ninguém jamais saberia o que lhe ocorreu depois daquele último salto do jovem navegador aéreo loiro. Pelo menos, durante os 63 anos seguintes que se seguiram ao desaparecimento do avião que o levava, junto a três outros colegas.

No ano passado, alpinistas encontraram o corpo congelado do jovem soldado Leo Musttonen no alto da Geleira Darwin, com sua cabeleira loira e sua cabeça esmagada, carregando nas suas costas um perfeito e fechado pára-quedas no qual se lia “Exército dos EUA”. Como um túnel do tempo, o encontro do corpo do soldado remeteu-nos ao período histórico da II Guerra Mundial.

Naquele dia, o avião que levava o soldado Musttonen entrou em pane. Ele conseguiu saltar, mas o pára-quedas não abriu. Assim é a nossa vida, muitas vezes pensamos que estamos seguros, com nosso pára-quedas bem atado às costas, caso o avião que voamos entre em pane. Então o pára-quedas não abre e a viagem muda repentinamente de rumo, jogando-nos de encontro ao vazio, num último e definitivo vôo, direto pra dentro da História.

quarta-feira, março 22, 2006

São demais os canalhas desta vida














SIC TRANSIT GLORIA MUNDI.Dessa maneira,
São Paulo define a condição humana em
uma de suas epístolas:
a glória do mundo é transitória.
E, mesmo sabendo disso,

o homem sempre parte
em busca do reconhecimento
pelo seu trabalho.
Por quê?

Paulo Coelho



O meu país possui muitos canalhas. E os canalhas dominaram o Brasil. Mas não dominaram de repente. Não, os canalhas foram dominando devagarzinho, cheios de moral, de peito inchado, bradando a retórica da desfaçatez e do cinismo. Foram ocupando o bar, o clube, a praça, as cidades do interior, a faixa de pedestres, o estádio de futebol, os movimentos sociais, os partidos políticos, o carnaval e os cargos federais.

Os canalhas estão por toda parte, na fila do banco, no estacionamento do shopping center, almoçando a seu lado, te olhando no elevador. E são das mais variadas formas e tamanhos. Há canalhas sorridentes, canalhas sérios, canalhas baixos de barba, canalhas altos e de cara limpa, canalhas analfabetos e outros nem isso. Mas existem os bons canalhas, os que prometem e não cumprem, os que pensam que são espertos e que ninguém desconfia da sua salafrarice. Os canalhas municipais solicitam aos canalhas estaduais que peçam aos canalhas federais doses extras de broches coloridos para a lapela, para o desfile nacional. Os safardanas que nunca administraram nada, nem mesmo suas miseráveis vidas ordinárias.

Tudo igualmente canalha, tudo normalmente canalha, tudo tão claramente canalha. Os novos canalhas de sempre foram substituindo os velhos canalhas de ontem. E tudo ficou tão canalha, mas tão canalha, que ninguém mais se assusta com nada. As pessoas ficaram paralisadas, sem se dar conta que tudo passa, tudo mesmo, e até os canalhas passarão. Mas enquanto isso, vamos convivendo com os canalhas. Canalhas que fazem as leis e não cumprem, que sonegam e ainda por cima apresentam a prestação de contas com notas frias. Canalhas que se agarram com unhas e dentes a seus DAS.5, porque precisam pagar as pensões alimentícias das pobres coitadas que pariram seus filhos estudantes de filosofia e que no futuro serão o mesmo que seus papais: canalhas. Os canalhas procriam aos turbilhões, são férteis, promíscuos e ruins de cama. Mas sempre haverá uma gorda horrorosa para um velho canalha movido a pílulas azuis.

Os canalhas dirigem carros enormes, quase sempre comprados de segunda mão. Os canalhas necessitam de muito espaço, necessitam serem louvados. Os canalhas vestem camisas pólo e calça social. Os canalhas têm sotaques. Os canalhas bebem chope e sempre possuem uma explicação para todas as suas derrotas categóricas. Os canalhas estão cercados de gente burra, que pesam que por terem vivido uns anos adquiriram sabedoria aos esbarrões. Os canalhas plantam mal e colhem pior ainda. São incapazes de respeitar seus testículos e jamais se irritam com nada: o importante é manter as aparências, mesmo caindo de podre, disse o velhaco. Os canalhas possuem o vil sangue de barata!

Mais que merda de canalhas fizeram isso com meu país? Foi pra essa canalhada analfabeta e mal cheirosa, de dentes mal cuidados, ditarem as regras? Foi pra isso que as pessoas comuns escolheram os patifes? Foi pra isso que derrubamos os velhos canalhas? Para sustentar novos canalhas cheios de diárias para países que nunca jamais poderiam passear por seus próprios bolsos? Cadê a rapaziada que acredita na vida? Onde estão os verdadeiros nobres de espírito do Brasil? Foram embora? Fugiram? Estão tentando cruzar a fronteira mexicana? Por que os homens de verdade deste Brasil não gritam? Pra onde escorreu o sangue das veias? Então é que os canalhas venceram?

Sem perceber, o canalha do teu lado bateu tua carteira, saiu correndo e pulou o muro do colégio de freiras carmelitas. Justo agora, quando você ia pagar a conta, e dar uma gorjeta pro desgraçado do garçom magro e mal nutrido, que engordou de repente, quando foi promovido a gerente do puteiro que você jamais freqüentou. Nesse exato momento, enquanto você olhava as pernas da filha gostosa da colega de trabalho do teu tio do TCU, o canalha saltou o alambrado do parque e gritou – pega ladrão, pega!



* Escrito na cidade de Brasília em 18 de novembro de 2005

quarta-feira, março 01, 2006

Até o fim


Quando nasci veio um anjo safado
O chato dum querubim
E decretou que eu tava predestinado
A ser errado assim
Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim
(...)
Criei barriga, minha mula empacou
Mas vou até o fim
Não tem cigarro, acabou minha renda
(...)
Eu já nem lembro pronde mesmo que vou
Mas vou até o fim
Como já disse era um anjo safado
O chato dum querubim
Que decretou que eu tava predestinado
A ser todo ruim
Já de saída minha estrada entortou
Mas vou até o fim

Chico Buarque
"Até o fim",
1978.
Tem dias que a gente fica tristão mesmo, principalmente depois do carnaval, achando que aquela alegria boba apenas adia o momento de decidir tanta coisa que a gente considera importante e que nem começou a pensar direito. Aí vem uma amiga nova que já conhece um pouquinho do nosso jeito de ser e, olhando praquela cara triste de dar pena, diz: - Você está sem plano de vôo. E acerta na mosca. Bingooooooo. Na mosca mesmo, porque faz tempo que você anda sem rumo, sem “plano de vôo”. Porque está escrito na tua cara que você navega sem rota há séculos num oceano Atlântico de opções, com toda tua vontade de ser feliz e de comer o mundo.

Mas quantas vezes você já navegou sem plano de vôo e afinal, que diabos significa ter um plano de vôo na vida? Claro que eu já fiz mil planos na vida e que todos escorreram feito cerveja gelada pela garganta de um sedento no passar dos anos. E tinha que ser assim, não há outro modo. Porque a vida é isso mesmo. Hoje você faz planos e planeja tudo certinho, aí vem o destino amanhã e revira tudo, deixa tudo igual que antes, de pernas pro ar. Minto, isso acontece se você tiver um caquinho assim de sorte, porque pode ficar muito pior. Então o melhor é ter idéias, ter princípios, confiar em você mesmo, esperar um pouquinho enquanto passa o “banzo” pra voltar a sorrir e, de novo, fazer mil planos, esperando sempre que a grande roda da vida volte a rodar e parar no teu nome.

Todo dia é segunda-feira, todo dia é dia de recomeçar, de sacudir a poeira e dar a volta por cima. Dizem que os suicidas odeiam as segundas-feiras. A idéia de recomeçar os arrasa. Pois nada disso ocorre comigo. Eu simplesmente amo as segundas-feiras, encanta-me a idéia de recomeçar a cada dia, com mais garra, com mais pique, esperando sempre aquela sensação de gol do Fluminense no estádio das Laranjeiras lotado. Segunda é dia de ir pro Armazém do Ferreira e beber chope, e comer quibe, e encontrar o Piauí e perguntar pela última piada de Brasília. É dia de chegar no trabalho e berrar na porta: - Bom dia torcida brasileira!

É que às vezes é preciso dar um tempo nos planos e viver o dia. Agüentar a chatice da melancolia pra escrever algo interessante. Como em “Coração de caçador”, às vezes faz falta sofrer um pouquinho pra começar a filmar, mesmo estourando o orçamento, deixando os atores malucos e o produtor arrancando os cabelos de puro desespero. De vez em quando faz falta ficar meio perdido mesmo, esperando que as idéias amadureçam um pouquinho, que o mundo se esqueça de nós pra podermos sorrir outra vez. Mas, como diz a canção nordestina: Não se avexe não.

Então vamos com calma. Já já aparece outra loucura, outra fantasia, outro projeto. A vida não pára. Pode ser aqui, agora, ou no estrangeiro, aí eu vou embora. Quem sabe ser funcionário da ONU ou mesmo professor em Angola. Largar tudo e investir em viver de literatura ou mesmo voltar pra província e contar estórias de como você foi “cavaleiro andante” pra impressionar adolescentes estudantes de direito ou letras. Eu já me acostumei em viver assim, flibusteiro cigano, sem ter casa nem bandeira, vivendo de qualquer maneira, no meio de um mundo tão louco, encontrando bondade e maldade em cada porto.

No meio da calmaria eu não me stresso. Afio minha espada, bebo meu rum, canto minhas canções. Sou caolho e perna-de-pau. E tenho um lenço atado à cabeça. As velas estão inçadas, as amarras estão soltas e minha âncora há muito está levantada. Quando o vento soprar, eu vou a mil, gritando feito um louco no meio do oceano mais desconhecido ou nos mares do sul. Tenho munição, a tripulação está descansada e temos fome de riquezas e botins de guerra. Oh, inimigos meus, preparem-se, porque este judeu errante está transbordando de desejo de vitórias.

E será como sempre, novos desafios, grandes projetos, batalhas inesquecíveis, vitórias e derrotas. Vida, acima de tudo. Que os adversários estejam à altura dos nossos heróis e que as mocinhas estejam com os corações cheios de paixão e lábios abarrotados de ternura molhada, entre outras coisas. Sempre em frente, jamais voltamos, feito a “Royal Navy”, mas sem bandeiras ou portos obrigatórios a que retornar. Sem amos nem escravos. Apenas nós mesmos e o grande e desconhecido futuro. Cara a cara.

Seja o que for, eu há muito estou preparado. Porque quem vive sem plano de vôo sempre está preparado. Pra encontrar você ao dobrar uma esquina, pra desencantar de vez com nossa América Latina ou mesmo pra apertar o nó da gravata. Meu coração é novo e meu anjo da guarda já enlouqueceu faz tempo. O importante é saber tirar proveito do silêncio, da falta de riso, da falta de saco, deste vazio momentâneo. É saber quem você é de verdade, no meio do tiroteio infernal ou no meio da companheirada mais boçal. Sempre com grandes planos pro futuro, cuidando dos pequenos, celebrando a vida e cantando todo dia: Força sempre, até o fim.

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Para Rubem Braga, com carinho





Entra, vizinho,
e come do meu pão
e bebe do meu vinho.
Aqui estamos todos a bailar e cantar,
pois descobrimos que a vida é curta
e a lua é bela.

Rubem Braga,
no semanário ‘Comício’,
de 1952.


Todo mundo já teve, ou ainda tem, algum ídolo. Alguém pra admirar, sonhar, ou apenas o desejo secreto de ser aquela pessoa, em algum momento de sua vida ou durante toda a vida.

Meu primeiro ídolo foi o Roberto Carlos. Sim, mas não pensem que foi o RC de hoje em dia, mais sertanejo que qualquer catador de tomates que sonha em cantar numa festa de peão de rodeio. Não, definitivamente desconheço o “Rei” de hoje. Eu me refiro ao RC dos filmes dos anos sessenta, que somente assisti no final dos setenta, na velha e ainda viva “Sessão da Tarde”, na Globo. Ele era incrível. Tinha todas as meninas a seus pés. Era pura magia ver seus filmes, escutar os discos que minha mãe tinha comprado há anos e descer a toda na minha “Monareta” gritando “eu sou terrível”.

Depois, em 1977, morreu Elvis. E assistimos a todos seus filmes na “Sessão da Tarde”. De repente, todos os garotos da minha rua queriam ser Elvis. Ele também tinha todas as meninas na sua. Apesar de, naquela época, eu achar que o nosso Roberto Carlos era bem mais bonito que o Elvis.

Por fim, virei fã do John Wayne. Eu já tinha crescido um pouquinho e aquele símbolo de masculinidade serena, senhor de qualquer situação, tinha mais a ver que a ‘porralouquice’ dos ídolos da infância.

E tive muitos outros ídolos no passar dos anos e começo da adolescência. Chegaram os Beatles, o Led Zeppelin, Jack Kerouac, Getúlio Vargas, Luis Carlos Prestes, e muitos outros que foram tão efêmeros que nem merecem figurar nesta crônica.

Hoje em dia, considero-me parcialmente um adulto. Afinal, estou beirando os quarenta, apesar de tentar manter um coração adolescente no meio de tanta hipocrisia adulta e contas pra pagar. De maneira que já não tenho ídolos, e imagino que tampouco os terá minha geração.

Contudo, um autor que descobri cedo, ainda nos livros de “Comunicação e Expressão” do colégio, consegue manter-me cativado. Esse autor é Rubem Braga. Cada vez que releio algo do Rubem Braga, mais me emociono e mais admiração e respeito aquele camarada consegue obter de mim. Porque não sei se será pela maturidade que insiste em chegar, totalmente contra a minha vontade, ou pela identidade refletida nas suas crônicas, Rubem Braga sempre saca o melhor de mim, e sinto-me reconfortado ao lê-lo, como se fossemos velhos amigos de toda vida, e soubéssemos exatamente de que estamos falando.

Rubem Braga também nasceu em Cachoeiro do Itapemirim, Espírito Santo, como o Roberto Carlos. Só que bem antes dele, em 12 de janeiro de 1913. Viveu em Belo Horizonte, no Rio de Janeiro, em São Paulo, no Recife e em Porto Alegre. Foi correspondente de guerra com a FEB durante a II Guerra Mundial e, por isso, viveu alguns anos na Europa. Ocupou cargos representando o Brasil no Chile e no Marrocos. Contudo, Rubem Braga entrou pra literatura brasileira falando de si mesmo, de sua memória, de seus sentimentos mais profundos através da crônica diária nos jornais. Quase todos seus livros sempre foram coletâneas de suas peças diárias publicadas na imprensa nacional.

Seu texto “A Navegação da Casa” já foi lido por mim milhões de vezes, e não posso ter uma visita regada a vinho aqui em casa que eu não a peça pra lê-lo outra e outra vez. É simplesmente fantástico. E há um trecho desta crônica escrita em abril de 1950, em Paris, que considero pura poesia. Aquele que ele escreve: “Oh! deuses miseráveis da vida,por que nos obrigais ao incessante assassínio de nós mesmos, e a esse interminável desperdício de ternuras?” Confesso que vou às lágrimas só de imaginar aquele velho escritor amigo de farra do Vinicius de Moraes afirmando isso. Esta será um dia considerada uma das melhores frases já escritas em língua portuguesa.

Porém, Rubem Braga escreveu muito mais. Na crônica “Ao Amigos na Praia”, de 1956, que já dei cópia pro Pedro e pero Wellington, se não me falha a memória, há uma frase de verdadeiro significado para aqueles que já tiveram a sorte de ter velhos amigos: “Éramos três velhos amigos e cada um estava tão à vontade junto dos outros que não tínhamos o sentimento de estar juntos, apenas estávamos ali”. Simplesmente divino. Claro e direto como um velho amigo.

Em outra crônica, intitulada “Uma tarde, em Buenos Aires”, também de 1956, Rubem Braga escreveu: “Uma tarde em Buenos Aires eu estava meio triste – mas não bebi, não telefonei, não procurei nenhuma pessoa amiga”. Somente quem já se sentiu “meio triste” e bebeu, e telefonou ou procurou a alguma pessoa amiga poderá entender os verdadeiros versos contidos nessa frase.

Rubem Braga foi-se para nunca mais voltar numa quarta-feira, dia 19 de dezembro de 1990. Dois dias antes, havia reunido seus mais próximos amigos pra jantar na sua cobertura de Ipanema, que na porta tinha uma plaqueta escrita: “Aqui vive um solteiro feliz”. Ele já tinha preparado tudo. Inclusive havia contatado com um crematório de São Paulo para suas exéquias.

Uma vez, o poeta Paulo Lemisnky escreveu que quando tivesse setenta anos iria acabar sua adolescência. Sobre ter ídolos, eu diria que o fim da adolescência ocorre quando você deixa de ser Harry Porter no filme "Cálice de Fogo" ou John Wayne em "Hatari!", e passa a ser você mesmo, em seu próprio filme, chamado vida.

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

E mesmo assim eu espero




It's time the tale were told
Of how you took a child
And you made him old
Reel around the fountain
Slap me on the patio
I'll take it now

Oh ... Fifteen minutes with you
Well, I wouldn't say no
Oh, people said that you were
virtually dead
And they were so wrong

Reel around the fountain,

THE SMITHS,
1984

E mesmo assim eu espero, espero que você me chame no dia do meu aniversario. É muito engraçado, porque afinal eu nem te liguei no teu. Mas não importa, eu continuo esperando tua ligação. A diferença horária é de cinco horas e será quase meia noite agora no Brasil, e eu continuo aqui, às cinco da matina, desperto, esperando tua chamada que eu sei que não chegará.

O dia passou como todo aniversario, com um montão de gente que não tem nada a ver me chamando e dizendo coisas sem sentido, pelo menos para mim. Mas você não chama, você não está nem aí. O pior foi que uma amiga em comum me disse que você está viajando, está na praia com os seus, com sua gente, enquanto que eu passo a noite em claro, esperando uma chamada que certamente nunca virá.
E quanta saudade de ouvir tua voz, de ouvir tua suave voz dizendo as palavras mais bobas, dizendo meu nome como só você sabe pronunciar. As lembranças são como sonhos bons e antigos, que às vezes a gente já não sabe se sonhou ou aconteceu de verdade, alguma vez. Triste é saber que sem querer, que de verdade sem a menor intenção, já começo a te esquecer. Puxa, que mau, eu não quero te esquecer, eu não consigo te esquecer e já começo a não me lembrar bem em que cidade estávamos quando jurei nunca te deixar, que já não tenho certeza qual é nossa música, que já começo a duvidar de nós mesmos.

Talvez você pense que sou o mesmo romântico, louco por amores impossíveis, complicando as coisas simples, sempre fugindo de nós dois, se escondendo de mim mesmo. Mas a verdade é que eu não sei quase nada além de passar a noite do meu aniversario longe de casa esperando tua chamada. Quem sabe se você sabe algo mais???? Quem sabe você sabe um montão de coisa a mais que isso e só por orgulho não me diz nada???? Ou talvez você tem mas dúvidas que eu e lá no fundo já não confia mais em nós????

Bem, as pessoas imaginam o que querem e somente às vezes acertam no que realmente querem. O duro é romper o coração de uma outra pessoa que, por pura emoção se aproximou e ficou cativa do teu coração, de ti. Todos os fantasmas que morreram sozinhos me rodeiam nesta noite tão triste...

Mas a esperança é parada derradeira e meu trem segue cruzando a noite deserta da velha península, chegando por fim ao cais do porto de onde os galeões cruzavam o grande oceano em direção a América. E quantos poetas me acompanham nessa cruzada vazia...

* Escrito na cidade de Valencia, Espanha, em 26 de julho de 2001

terça-feira, janeiro 17, 2006

Amores impossíveis



Prefácio de
um livro nunca escrito,
mas já imaginado,
sonhado, discutido,
borrado e reescrito
durante anos.
“Amores impossíveis” é uma série de contos, estórias de romances de estação, amores de verão, recordações que escutei conversando com pessoas mais velhas, que já tinham vivido e errado muito. Traduzem sentimentos há muito escondidos, mas nunca esquecidos. São fragmentos de vidas humanas que jamais foram revelados e que se perderiam para sempre, caso não fossem escritas e talvez lidas por alguém. Certamente alguns terão vivido casos semelhantes e se identificarão. Outros, tendo vivido uma vida sem grandes aventuras e paixões, apenas sorrirão. Mas, a grande maioria ficará calada. E lá no fundo de suas almas, naquele lugarzinho que somente nós mesmos percorremos, guardará silêncio eterno sobre suas verdadeiras estórias de amor impossível.

O tempo é senhor, o tempo a tudo cura, dizem os sábios. Entretanto, esta série de contos comprova que alguns de nós carregamos sentimentos que o tempo não foi capaz de curar, se é que existe cura para o amor. A solidão, mesmo acompanhada, ou como disse o poeta, “solidão a dois”, ainda é a tônica dos nossos tempos, principalmente neste começo de século XXI, onde as incertezas e o medo prevalecem sobre quase tudo, e o amor não seria exceção. Vivemos a Era do Medo, nas palavras dos especialistas em decifrar catástrofes reais. Então, pra que falar de amor?

Mas que podemos fazer além de amar e amar, de amar e esquecer, de amar e esperar ser amado? Nós, pobres criaturas, afirmou outro poeta, que podemos desejar além do amor?
E desejamos muitas coisas. Queremos morar bem, vestir-nos bem, possuir o melhor carro, pagar aos filhos a melhor educação, comermos bem, enfim, viver a melhor vida que o dinheiro puder comprar. Mesmo se o preço para a melhor vida seja o sacrifício de nossos sonhos, de nossos desejos, de nossa própria essência. O preço que pagamos não nos deixa enganar, basta verificar o que se gasta em drogas pra dormir e em consumo de coisas totalmente supérfluas, que na verdade não durarão até o próximo lançamento da moda primavera/verão.

Tenho um amigo que coleciona aparelhos celulares velhos. Até aí nada demais. Todos nós temos nossas manias e hobbies, e o Caetano já disse que de perto ninguém é normal. Acontece que sua coleção de aparelhos celulares velhos é sua maneira de esquecer que uma vez amou e sua estória de amor não acabou bem. Ele coleciona objetos jogados no lixo pra esquecer que um dia também ele jogou algo, que pensava estar ultrapassado, no lixo. Esse algo foi seu amor. Um amor tão profundo e desinteressado que somente alguém como ele, que coleciona quinquilharias, poderia dar.

Nada pode ser eterno, a não ser que seja eterno enquanto dure, cantou Vinícius, um homem que foi chamado de o poeta da paixão, pois seus incontáveis casos já não são considerados casos de amor, mas casos de paixão, tal o grau de imperatividade amorosa do poeta. Mas não devemos julgar a todos os poetas apenas por Vinícius de Moraes, pois o grande poeta chileno Pablo Neruda, que ninguém pode dizer que amou menos que Vinícius, era um homem que defendia o matrimônio e a fidelidade até as últimas conseqüências, e jamais pode entender àqueles seus amigos que viviam em total e extravagante solteirice. Neruda era o homem que nunca soube viver só. Tal qual meu amigo Rafa, o casamento lhe era algo tão necessário como respirar ou tomar uma dose de JB.

Enfim, o difícil deste prefácio é como o difícil de escrever sobre sentimentos de outras pessoas, porque jamais saberemos o que realmente pensaram ou sentiram quando afirmam que pensaram ou sentiram algo. Sempre nos restará a dúvida sobre suas reais intenções e sobre seus sentimentos. Mas não é assim que somos? Nunca entregamos aos demais nossa identidade real ou nossos verdadeiros sentimentos? Ou será que alguns de nós conseguem realmente amar e calar, amar e esquecer, amar e guardar, amar e calar? Será que existe vida em preto e branco ou apenas podemos sobreviver nesta cor?

Vamos a nossas estórias de amores impossíveis.

segunda-feira, janeiro 02, 2006

A livraria dos meus sonhos


"(...)
declaran los infieles que si ardiera,
ardería la historia. Se equivocan.
Las vigilias humanas engendraronlos
infinitos libros. Si de todos
no quedara uno solo, volverían
a engendrar cada hoja y cada línea,
cada trabajo y cada amor de Hércules,
cada lección de cada manuscrito (...)

Jorge Luis Borges,
Alejandría, 641 A. D.",
em Historia de la noche,
1977.
Sempre que a vida prega-me alguma peça e vejo-me meio assustado, com medo do futuro, penso em minha livraria. Sim, eu tenho uma livraria. Uma livraria que carrego dentro de mim, talvez minha loucura definitiva, como diria minha mãe, um sonho de abrir uma livraria numa imensa terra de analfabetos.

Mas minha livraria, como todo sonho, é feita de livros e momentos, de pessoas e sentimentos, de poesias e contos, de cafés e conhaques, de alegrias e de algumas lágrimas. Ela vive dentro de mim e sempre que me sinto triste, retiro-me à minha livraria e sinto o odor de madeira e papel que vem de suas estantes. Vejo o belo sofá branco convidando os visitantes ao conforto de seu colo e a cafeteira fumegante a espalhar no ar o cheiro forte e quente de café, aliado incondicional de um cigarro.

As livrarias resistem, apesar de este ano, meu bom amigo Gaspar haver fechado sua “Punto y Coma”, uma das melhores livrarias da Espanha. Passei infinitas horas a ‘buquinar’ naquela livraria e a conversar com Gaspar. Aprendi muito naquelas tardes de solidão e melancolia durante a tese em que eu buscava refugio entre as estantes de madeira e o cheiro de papel novo da “Punto y Coma”. Recordo da eterna promessa de Gaspar, jamais cumprida, de levar-me a Denia para comermos um arroz negro. Lembro sua jocosa proposta de deixar a livraria aberta durante a noite, para que eu pudesse entrar sorrateiramente a surrupiar meus livros favoritos, tudo para criar a inacreditável manchete dos jornais da manhã seguinte: Livraria assaltada. Tudo isso pra demonstrar sua teoria de que ninguém rouba uma livraria, pelo menos seus livros.

E existem as livrarias irreais, as verdadeiras e mágicas livrarias, como aquela que entrei no Quartier Latin, em Paris. Era uma velha livraria, daquelas que vendem mais livros velhos que novos. E possuía um dono de cabeleira branca e suspensórios, a ler o jornal com uma enorme lente de aumento. Aquele lugar, com seu ambiente noir, parecia saído do passado. Quando regressei a Espanha, ainda era verão e fui pro meu balcão favorito, o do Café das Letras. Para minha surpresa, Dani, o proprietário, havia pedido duas cópias de um cartaz de um concurso fotográfico promovido pela Universidade de Salamanca, ilustrado exatamente pelo retrato da minha livraria francesa!!! O nome da foto era “O Livreiro Egípcio”. Mas eu insisto, até hoje, que aquela livraria está em Paris.

Muitas outras livrarias passaram por minha vida, como a Leonel Franca, naquela Teresina do começo dos anos 80, a Livro 7, no Recife do meu início de curso de Direito, e a livraria da Moema, que acho que se chamava Papirus, em São Luís. Todas tiveram seu momento mágico e hipnotizaram aquele menino que um dia queria capturar toda a cultura.

Hoje, os grandes centros comerciais estão matando as livrarias, com seus “best sellers” vendidos em estantes aos quilos, como qualquer produto de limpeza, cheios de descontos promocionais. Tudo pra quebrar a livraria, a verdadeira livraria, aquela onde os atendentes são alfabetizados e conseguem até dá uma opinião razoável sobre a obra que despertou teu interesse.

Eu, por minha vez, freqüento hoje em dia duas livrarias enormes: a Livraria Cultura e a Fnac, ambas em Brasília. Passo horas naqueles lugares sagrados, principalmente em minhas tardes de domingos, mas.... não compro nada. E não o faço pela simples razão de que eles, por serem grandes livrarias, não precisam de minhas moedas para sobreviver. De maneira que eu desfruto de minha visita, analiso os lançamentos, rememoro as velhas edições, namoro as obras clássicas e não compro absolutamente nada. Devo ser o desgosto de todas as atendentes. Prefiro ir a uma pequena livraria café chamada Rayuela, na 413, que significa “Jogo da Amarelinha” em português, como no titulo da imortal obra de Julio Cortaza, para tranqüilamente comprar-me algo.

Então, como agora, enquanto todos estão sorrindo e festejando o Ano Novo, eu caminho lentamente para a livraria dos meus sonhos, a livraria que carrego dentro de mim. Elejo algo que me dará um imenso prazer de ler, sento na poltrona de couro marrom, minha caneca de café a mão, um Parliament acesso no cinzeiro. Começo a leitura entre aromas de velhas prateleiras e papel. Papel vivo, cheio de estórias, sabedoria, informação, diversão e companhia. Papel cheio de vida.