sexta-feira, dezembro 04, 2009

Tabela da Copa do Mundo 2010


sexta-feira, novembro 27, 2009

Mil páginas de guerra e amor


Mil páginas de guerra e amor

Antonio Muñoz Molina apresentou sua última novela, 'La noche de los tiempos'

J. R. M. - Madrid – El País - 24/11/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

"Uma novela de guerra cruzada por uma história de amor ou uma novela de amor na qual irrompe uma guerra. O leitor decidirá o que é em função de sua experiência". Assim descreveu o poeta e acadêmico Pere Gimferrer a última novela de Antonio Muñoz Molina, ‘La noche de los tiempos’ (Editora Seix Barral), no lotado salão de atos da ‘Residencia de Estudiantes’ de Madri, curiosamente o mesmo lugar em que começa a novela.

Antonio Muñoz Molina, como ele mesmo disse, adiantou o dia de Ação de Graças para repassar em 56 tópicos, que terminaram levando-lhe a perder a conta, os cenários, autores, amigos e leituras que há por detrás de um relato de 1.000 páginas cujo pano de fundo é a guerra civil espanhola.

Sua peculiar lista de agradecimentos começou pelo escritor romeno Norman Manea e terminou com Luis Buñuel. O primeiro lhe convidou a dar uns cursos que lhe obrigaram a viajar desde Nova York em trem durante o outono de 2006 na velha estrada de ferro que corre às margens do rio Hudson. Foram nessas viagens quando lhe ocorreu o argumento de ‘La noche de los tiempos’. A Buñuel lhe agradeceu por ‘La Edad de Oro’: "Nesse filme há dois amantes que se buscam e se separam continuamente a todo o momento. Eu os tive presentes ao imaginar meus personagens".

Entre Manea e Buñuel estiveram Pedro Salinas, sua amante e sua mulher, Arturo Barea, Max Aub e Zenobia Camprubí, esposa de Juan Ramón Jiménez. Tampouco faltou o chileno Carlos Morla, cujos diários de 1936 recuperou, não faz tanto tempo, outro dos citados por Muñoz Molina, o poeta Abelardo Linares, responsável pela Editora ‘Renacimiento’. Porém, nem tudo foram nomes e sobrenomes. Entre as atitudes que lhe incentivaram a escrever seu livro o novelista falou da "cafonice sentimental e barata difundida nos últimos anos em torno à República. Essa moda insensata me irritou e me deu muita força".

Antonio Muñoz Molina contra os fanatismos

'La noche de los tiempos' (Editora Seix Barral) é a esperada novela do escritor espanhol que Babelia antecipa com exclusividade.

WINSTON MANRIQUE SABOGAL - El País – Madrid - 16/11/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

A separação amorosa e as dificuldades que sofre o ser humano pelos fanatismos ideológicos, neste caso da Guerra Civil espanhola, formam a geografia da esperada novela de Antonio Muñoz Molina: ‘La noche de los tiempos’ (Editora Seix Barral). Uma obra que transcorre às vésperas do conflito fratricida que assolou a Espanha entre 1936 e 1939, porém com uma desoladora sombra, cujo primeiro capítulo antecipa Babelia com exclusividade em ELPAÍS.com, como faz toda segunda-feira com o livro mais destacado da semana. A novela chegou às livrarias espanholas dia 19/11.

Os motivos e a essência do livro os explicam o próprio Antonio Muñoz Molina (Úbeda, Jaén, 1956): "Escrevi a novela querendo indagar a maneira como a paixão amorosa transtorna não somente as vidas dos amantes unidos por ela, mas também a vida da gente que está ao redor, os que sem conhecer o deslumbramento sofrem seus efeitos, com frequência incontroláveis e cruéis. E também queria pôr-me na alma de um homem que pertencesse a essa classe de sonhadores pragmáticos que foram tão importantes no meio da grande crise do século XX, e que em muitos casos sofreram a perseguição das duas formas de totalitarismo que se impuseram na Europa, que tinham entre si muitas coincidências, entre elas o desprezo pela consciência individual e por esses ativistas do humanismo liberal aos quais se deve algumas das melhores coisas que temos. Porém, que força pode fazer a consciência racional, o compromisso cívico, quando se desatam os delírios messiânicos e em grande medida criminais das ideologias? Não havia lugar para essas pessoas: nem para Stefan Zweig, nem para Juan Negrín, nem para Clara Campoamor, gente progressista que não acreditava que em nome do progresso estivesse autorizado o crime. As duas separações, a sentimental e a política, são o eixo do meu arquiteto inventado, ainda que espero que também verossímil".

Junto a este homem e a outros seres de ficção convivem pessoas reais, algumas já citadas por Muñoz Molina, além de Moreno Villa e Bergamín. Uma narração através da história desse arquiteto que em outubro de 1936, já longe do conflito fratricida recém desencadeado, e deixando para trás sua mulher e filhos, recorda um amor clandestino e as tormentas sociais e políticas que começaram a envolver seu mundo e a envolver a milhares de pessoas.

Novela de sentimentos, emoções e reflexões em torno do amor, da intolerância e dos fanatismos ideológicos; Muñoz Molina criou o retrato de uma época onde se mostra a maneira como se destrói o país, sua sociedade e os afetos de sua população. Uma viagem à noite dos tempos e à longa sombra do passado, do qual falou o escritor numa entrevista publicada em Babelia sábado 21 de novembro.

"En la cartera que abulta en el bolsillo derecho de su gabardina guarda una foto de Judith Biela y otra de sus hijos, Lita y Miguel, sonriendo una mañana de domingo de hace unos meses: las dos mitades rotas de su vida, antes incompatibles, ahora perdidas por igual".

É o que conta o narrador da novela que se pode ler na edição digital do jornal El País, e que continua assim: "Ignacio Abel sabe que si se miran demasiado las fotografías no sirven para invocar una presencia. (...) Desde hace unos meses uno ya no puede estar seguro de ciertas cosas: uno no sabe si alguien que recuerda bien o a quien vio hace unos días o sólo unas horas está vivo aún. Antes la muerte y la vida tenían fronteras nítidas, menos movedizas...".

Capítulo I de 'La noche de los tiempos', de Antonio Muñoz Molina
El País - Editora Seix Barral

BABELIA 939: En casa de Antonio Muñoz Molina
J. RUIZ MANTILLA / Á. R. DE LA RÚA / P. CASADO
El País - 20-11-2009
O escritor abre as portas de sua casa e relata algumas das curiosidades do proceso de criação de sua última novela 'La noche de los tiempos' (en español)

sábado, novembro 21, 2009

França 'fichou' a Hitler como um "demagogo astuto, não um idiota"


França 'fichou' a Hitler como um "demagogo astuto, não um idiota"

REUTERS - Paris – El País - 21/11/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

Um documento oculto nos Arquivos Nacionais franceses e datado de 1924 descreve Adolf Hitler - então líder do Partido Nacional-socialista Obreiro Alemão - como um "demagogo bastante astuto" e como o equivalente germânico do ditador italiano Benito Mussolini. Contudo, não levanta a voz de alarme sobre a eventual influência de Hitler na realidade europeia dos anos subsequentes.

"Não é idiota, mas um demagogo bastante astuto", afirma a breve e amarelada nota redigida por um espião francês, acompanhada de uma foto de Hitler vestido com paletó e gravata, já com seu habitual bigode e seu cabelo partido de lado. O agente apresenta a Hitler como "o Mussolini alemão" e adverte de que "comanda grupos paramilitares de orientação fascista", mas não recomenda adotar nenhuma medida contra o homem que desencadearia a Segunda Guerra Mundial.

Esta nota é parte de um enorme arquivo que se remonta ao período em que as tropas francesas ocuparam a Alemanha após o final da Primeira Guerra Mundial. O informe sobre Hitler, que logo estará à disposição dos historiadores, estava guardado separado num arquivo de metal construído em 1791 durante a Revolução Francesa, que contém mais de 800 textos, entre os quais se destacam o diário do decapitado rei Luis XVI e de sua esposa, Maria Antonieta. Estes documentos foram posteriormente transportados a Paris em 1930 e estão armazenados desde então nos Arquivos Nacionais franceses. A nota que descreve Hitler está acompanhada de textos similares com referências a seus comparsas, Goebbels, Hermann Goering e Heinrich Himmler, ministro do Interior e chefe da polícia alemã, ao qual se acusa diretamente de "racista".

quarta-feira, novembro 18, 2009

A temperatura global pode subir até seis graus


A temperatura global pode subir até seis graus caso não se tomem medidas urgentes

Um informe do ‘Global Carbon Project’ alerta para as consequências irreversíveis do aquecimento global - A diretora do estudo adverte que Copenhague é "a última oportunidade para estabilizar o clima"

ELPAÍS.com - Madrid - 18/11/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

A temperatura aumentará seis graus antes do fim do século, segundo um estudo publicado na revista ‘Nature Geoscience’ e realizado pela associação ‘Global Carbon Project’, que contou com a participação de 31 pesquisadores de sete países. O estudo confirma o pior dos cenários em que se movem os prognósticos sobre a mudança climática; até agora, os melhores propósitos dos Estados falam em reduzir a dois graus o aumento da temperatura daqui a 2050 já que situava aqui o umbral do que se considerava realmente perigoso.

Este aumento seria ainda mais grave próximo dos pólos e poderia ter consequências irreversíveis para a Terra. Os cientistas afirmam que a responsabilidade é do aumento de emissões de carbono, provocado, sobretudo pela indústria, pelo transporte e pelo desmatamento. O estudo afirma que até 2002, as emissões cresceram em torno de um ponto anual e a partir daí o aumento chegou até 3%.

O estudo põe de relevo a grande importância da próxima conferência de Copenhague, onde a comunidade internacional deve firmar um novo acordo para tratar de frear a mudança climática. Corinne Le Quéré, diretora do estudo da Universidade de East Anglia, assegurou que foi provado um aumento das emissões em 29% entre 2000 e 2008. Os cientistas prevêem que haverá pequenos retrocessos este ano, porém mais aumentos a partir de 2010.

"A Conferencia de Copenhague este mês é a última oportunidade de estabilizar o clima", advertiu a professora Le Quéré. "Se o acordo é demasiado fraco ou não se respeitam os acordos não vamos ver um aumento de 2,5 ou 3 graus: vai ser 5 ou 6, porque esse é o caminho por onde vamos", advertiu. O estudo também revela que pela primeira vez se detectou uma falha na capacidade da Terra para absorver dióxido de carbono, provavelmente devido ao aumento de temperatura.

quarta-feira, novembro 11, 2009

"Algo único da Espanha"


"Algo único da Espanha"

Carlos Saura filma 'Flamenco, flamenco' em Sevilha.

SANTIAGO BELAUSTEGUIGOITIA - Sevilha – El País - 11/11/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

Vestida de vermelho e com uma manta sobre os ombros, a bailarina Sara Baras é o centro dos olhares de dezenas de pessoas. Três guitarras e um violino põem música ao movimento de Baras, que sapateia rodeada por grandes reproduções de quadros de Julio Romero de Torres. A câmera segue sua dança. Os sapatos vermelhos assenhoreiam-se do cenário. O som das palmas se faz mais alto. E soa um grito que corta este momento de gravação do filme ‘Flamenco, flamenco’, do diretor Carlos Saura, no ‘Pabellón del Futuro’, na ‘Cartuja de Sevilha’.

Quatorze anos após a gravação do filme ‘Flamenco’, Saura voltou a submergir na arte espanhola por excelência junto ao diretor de fotografia Vittorio Storaro e o assessor musical Isidro Muñoz. "Há uma quantidade de talento surpreendente. Há um florescimento poderosíssimo do flamenco em Andaluzia. Por isso a seleção de artistas foi muito difícil de fazer", afirmou Saura. "O flamenco interessa cada vez mais. Não sou um grande especialista em flamenco. Sou um apaixonado pelo flamenco. É algo único que temos na Espanha. O mais parecido ao jazz. É uma mescla de culturas. É, ademais, uma música viva, o que a diferencia de outras que não avançaram. O flamenco se enriquece com novos aportes. Está num momento vigoroso, vivo e fantástico", comentou o diretor de ‘La caza’.

‘Flamenco, flamenco’, cuja gravação acaba dia 13 de novembro, estreia em setembro de 2010. Com um orçamento de 4,2 milhões de euros, o filme conta com a participação de cantores como José Mercé, Estrella Morente, Miguel Poveda, Niña Pastori e Arcángel, entre outros. Além de Sara Baras, bailam no filme Eva Yerbabuena, Israel Galván e Farruquito. Guitarristas como Paco de Lucía, Manolo Sanlúcar e Tomatito traçam um quadro artístico que se completa com David Dorantes e Diego Amador ao piano.

Artistas que são a historia do flamenco, como José Mercé, Sanlúcar e Paco de Lucía, conformam o eixo do filme. São o tronco que sustenta o aporte dos jovens que não estiveram no filme anterior (Poveda, Morente, Baras, Galván, Eva Yerbabuena). Essa soma de procuras se estrutura em torno a um ciclo vital que vai do nascimento à morte através dos palcos flamencos. Dessa forma, começa com a ‘nana flamenca’ e as influências das músicas andaluza e paquistanesa até chegar ao canto sério e ao sentimento mais puro. Em seguida, vem o renascimento que trazido pelos jovens intérpretes. Paralelamente, há outra viagem visual baseada na luz e nas cores. "São os melhores artistas que há neste país e os melhores do mundo", liquidou Saura.

terça-feira, novembro 10, 2009

Berlim celebra a vitória da liberdade

Berlim celebra a vitória da liberdade

Merkel: "A liberdade não surge sozinha, há que lutar. Juntos podemos tirar o Muro" - Sarkozy, Medvédev, Brown e Clinton se dirigiram à multidão entre ovaciones

JUAN GÓMEZ - Berlim – El País - 10/11/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

Às oito e meia da tarde de ontem (09/11), o líder do movimento Solidariedade e posteriormente Presidente da Polônia, Lech Walesa, empurrou junto a Miklos Nemeth, primeiro-ministro húngaro em 1989, a primeira peça do dominó gigante que simbolizava o antigo muro de Berlim. Foi o auge da grande festa da liberdade que celebrava ontem sua queda 20 anos atrás. Os aplausos diante da Porta de Brandeburgo, símbolo da divisão da cidade, eram entusiastas. Dezenas de milhares de pessoas aguentavam com impermeáveis e guarda-chuvas a forte chuva e temperaturas abaixo de zero de capital alemã.

Convidados de 30 países participaram da comemoração, entre eles os representantes das potencias aliadas que ocuparam Berlim, após a II Guerra Mundial: o presidente russo, Dmitri Medvédev; o da França, Nicolas Sarkozy; o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, e a secretaria de Estado dos EUA, Hillary Clinton.

A chanceler Angela Merkel presidiu a cerimônia. Tampouco faltaram protagonistas da época, como o Chefe de Estado da desaparecida União Soviética Mikhail Gorbachev, sentado na tribuna junto ao então ministro alemão de Assuntos Exteriores, Hans-Dietrich Genscher. O presidente alemão, Horst Köhler, se referiu ao 9 de novembro de 1989 como a data de "uma mudança de época para a liberdade e a democracia". O mundo, e nisso coincidiram todos, "mudou aquele dia".

A festa da liberdade começou em Berlim às sete da tarde. O centro da cidade estava adornado pelo falso muro de mais de mil peças de dominó feitas de cortiça branca, de dois metros e meio de altura, cada uma pintada de forma diferente. Sobre as peças primavam as mensagens de reconciliação e de alegria, mas também havia algum logotipo publicitário de empresas patrocinadoras.

É a lembrança da vitoria do sistema capitalista, que teve lugar neste mesmo dia há 20 anos. Ademais, os discursos de Merkel e do Prefeito-governador de Berlim, Klaus Wowereit, assim como as palavras do diretor da Staatskapelle, a orquestra da ópera estatal de Berlim, Daniel Barenboim, recordaram o acontecimento fúnebre cujo aniversario se recordou também ontem: o ‘pogrom’ anti-semita conhecido como a ‘Noite dos cristais quebrados’, em 1938, quando a turba nazista começou uma espiral de violência que culminaria no Holocausto. A Staatskapelle tocou para relembrar ‘Um sobrevivente de Varsóvia, do compositor judeu austríaco Arnold Schoenberg. "A liberdade", disse Merkel, "não surge sozinha, há que lutar por ela". Merkel, que cresceu na antiga República Democrática Alemã (RDA) sob "a ditadura do proletariado", agradeceu às pessoas que "lutaram há 20 anos" pela abertura do Muro, em Berlim e em outros países da órbita soviética como Polônia ey a antiga Checoslováquia. "Juntos pudemos tirar o Muro", concluiu, "agora está nossa mão superar as fronteiras de nosso tempo; se acreditamos nisso podemos conseguir". Merkel concluiu: "Para mim, foi um dos dias mais felizes da minha vida".

Barenboim havia aberto a festa com peças de Wagner, Schoenberg, Beethoven e Friedrich Gold, e anunciou uma surpresa: Plácido Domingo cantou Berliner Luft (O ar berlinense) do compositor de Berlim Paul Lincke, uma espécie de hino popular da cidade. O público compartilhou a alegria com a tribuna, onde Merkel, Genscher e os demais convidados demonstraram sua alegria batendo palmas. O público pediu a Plácido Domingo um bis, que concedeu junto à ‘Staatskapelle’. A satisfação dos berlinenses era palpável.

Antes que fizesse Merkel, falaram Dmitri Medvédev, Nicolas Sarkozy, Gordon Brown e Hillary Clinton, que apresentou uma felicitação gravada em vídeo do presidente dos EUA, Barack Obama. Obteve uma grande ovação.

O distrito político da capital alemã estava tomado. O Muro era ontem de gesso e pintado, porém os centos de policiais eram de verdade. Às seis e meia da tarde, as comitivas oficiais impediam a passagem dos cidadãos. Entre divertidos e curiosos, milhares de berlinenses especulavam nas calçadas sobre quem podia ocupar cada veículo. "Aí vai o russo, como se chama?", se perguntava Christiane, berlinense do Oeste. O desfile impressionava. Quando a caravana se deteve, um grupo de pessoas permanecia ainda junto a um furgão com dois atiradores de elite da policia, com os olhos postos nas miras telescópicas. "Serão de visão noturna", lhe dizia um homem a seu boquiaberto filho. Não muito longe, na ‘Luisenstrasse’, Marius e Catarina, nascidos em 1991, celebravam a queda do Muro refugiados com uma garrafa de sidra. Vivem em Potsdam, na antiga Berlim Leste. Ela é do Oeste; ele do Leste. Diferenças? "Alguma haverá, porém é coisa de nossos pais". O Muro somente conhecem através dos livros da escola.

quinta-feira, novembro 05, 2009

Vinte anos depois do Muro a historia continua


Vinte anos depois do Muro a historia continua

MIKHAIL GORBACHEV – El País - 05/11/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

Vinte anos se passaram desde a queda do Muro de Berlim, um dos símbolos vergonhosos da guerra fria e da perigosa divisão do mundo em blocos e esferas de influencia enfrentadas. O período atual nos permite observar aqueles acontecimentos e a formar uma opinião menos emocional e mais racional.

A primeira observação otimista é que o anunciado ‘fim da Historia’ em absoluto não se produziu. Porém, tampouco chegou o que os políticos de minha geração confiavam sinceramente que ocorreria: um mundo no qual, com o fim da guerra fria, a humanidade pudesse finalmente esquecer a aberração da corrida armamentista, dos conflitos regionais e das estéreis disputas ideológicas e entrar numa sorte de século dourado de segurança coletiva, uso racional dos recursos, fim da pobreza e da desigualdade e restauração da harmonia com a natureza.

Outra consequência é a interdependência de importantes aspectos que têm a ver com o sentido da existência da humanidade. Esta interdependência não se dá somente entre os processos e fatos que ocorrem nos diferentes continentes, mas também no vínculo entre as mudanças nas condições econômicas, tecnológicas, sociais, demográficas e culturais de milhares de milhões de pessoas. A humanidade começou a se transformar numa civilização única.

Ao mesmo tempo, a desaparição da chamada cortina de ferro e das fronteiras justapôs não somente àqueles países que até há pouco representavam diferentes sistemas políticos, mas também a diferentes civilizações, culturas e tradições.

Os políticos do século passado podem estar orgulhosos de haver evitado o perigo de uma guerra termonuclear. Contudo, para milhões de pessoas o mundo não se converteu num lugar mais seguro que antes. Inumeráveis conflitos locais e guerras étnicas e religiosas apareceram no novo mapa da política mundial. Uma prova evidente do comportamento irracional da nova geração de políticos é o fato de que os orçamentos de defesa de muitos países, grandes ou pequenos, são agora maiores que durante a guerra fria, assim como os métodos repressivos ainda são a forma geral para resolver conflitos e um aspecto comum e corrente das atuais relações internacionais.

Desafortunadamente, ao longo das duas últimas décadas o mundo não se tornou um lugar mais justo: as disparidades entre a pobreza e a riqueza inclusive se incrementaram, não somente nos países em desenvolvimento, mas também dentro das próprias nações desenvolvidas. Os problemas sociais da Rússia, como em outros países pós-comunistas, são uma prova de que o simples abandono de um modelo defeituoso de economia centralizada e de planificação burocrática não é suficiente para garantir tanto a competitividade do país numa economia globalizada, como o respeito pelos princípios da justiça social.

Devem-se acrescentar novos desafios. Um é o terrorismo, convertido na "bomba atômica dos pobres", não somente em sentido figurado, mas em sentido literal. A incontrolada proliferação das armas de destruição massiva, a competição entre os antigos adversários da guerra fria para alcançar novos níveis tecnológicos na produção de armas e a urgência de novos pretendentes em desempenhar um papel protagonista num mundo multipolar incrementa a sensação de caos que está afligindo à política global.

A verdadeira conquista que podemos celebrar é o fato de que o século XX marcou o fim das ideologias totalitárias, em particular as inspiradas em crenças utópicas. Porém, rápido tornou-se evidente que também o capitalismo ocidental, privado de seu velho adversário histórico e imaginando-se a si mesmo como o indiscutível ganhador histórico e a encarnação do progresso global podem conduzir a sociedade ocidental e o resto do mundo a um novo e abominável beco sem saída.

Neste quadro, a erupção da atual crise econômica revelou os defeitos orgânicos do presente modelo ocidental de desenvolvimento imposto ao resto do mundo como o único possível. Assim mesmo, demonstra que não somente o socialismo burocrático, mas também o capitalismo ultraliberal tem a necessidade de uma profunda reforma democrática e da aquisição de um rosto humano, uma sorte de ‘Perestróica’ própria.

Hoje em dia, enquanto deixamos para trás as ruínas da velha ordem, podemos pensar em nós mesmos como ativos participantes do processo de criação de um mundo novo. Muitas verdades e postulados considerados indiscutíveis (tanto no Leste como no Oeste) deixaram de sê-lo. Entre eles estavam a fé cega no todo poderoso mercado e, sobretudo, em sua natureza democrática. Havia uma arraigada crença de que o modelo ocidental de democracia podia ser difundido mecanicamente em outras sociedades cujas experiências históricas e tradições culturais fossem diferentes. Na situação presente, inclusive um conceito como o de progresso social, que parece ser compartilhado por todos, necessita uma informação mais precisa e uma redefinição.

Mikhail Gorbachev, líder da União Soviética no período 1985/1991, é Premio Nobel da Paz 1990 e presidente do World Political Forum (WPF). © IPS (Inter Press Service).

terça-feira, novembro 03, 2009

A justiça argentina coloca o ditador Bignone no banco dos réus


A justiça argentina coloca o ditador Bignone no banco dos réus

O general repressor é acusado de destruir os arquivos do regime militar

ALEJANDRO REBOSSIO - Buenos Aires – El País - 03/11/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

O último ditador da Argentina, Reynaldo Bignone (1982-1983), foi submetido ontem (02/11), pela segunda vez em sua vida, a julgamento pelos sequestros, torturas e desaparições de presos políticos. Bignone foi o general que assumiu o poder depois da derrota argentina na guerra contra o Reino Unido pelas Ilhas Malvinas e quem não teve outra opção que abrir a transição democrática. Contudo, no meio de tudo isso, destruiu os arquivos sobre as detenções e assassinatos cometidos pelo regime militar (1976-1983) e promulgou uma falida lei de anistia para os responsáveis pelo terrorismo de Estado que se exerceu contra guerrilheiros, políticos, militantes sociais e de direitos humanos, sindicalistas, empresários e religiosos. Seu governo foi o primeiro a reconhecer que os desaparecidos estavam mortos, ainda que contou "somente 8.000", frente aos 30.000 que denunciavam as organizações de direitos humanos.

O julgamento que começou ontem (02/11) no Tribunal Oral Federal número 1 de ‘San Martín’, um subúrbio do noroeste de Buenos Aires, é o segundo em que se julga por crimes cometidos nos centros de detenção clandestina que operavam no regimento de ‘Campo de Mayo’ e por onde passaram 5.500 pessoas. Bignone, de 81 anos, que cumpre prisão preventiva domiciliar, será julgado junto a outros sete octogenários integrantes das forças de segurança por 56 delitos de invasão de domicílio, sequestros, torturas, desaparições e homicídios entre 1976 e 1978. Antes de ser presidente de fato da Argentina, Bignone foi o segundo comandante do Comando de Institutos Militares, em ‘Campo de Mayo’, em 1977.

No banco dos réus se sentarão três militares que já foram condenados pelo mesmo tribunal em agosto, no que foi o primeiro julgamento da chamada ‘megacausa de Campo de Mayo’. Trata-se do comandante de Institutos Militares, Santiago Riveros, e dos agentes de segurança Fernando Verplaestsen e Jorge García, que foram sentenciados a cadeia perpétua, a 25 e 18 anos de prisão, respectivamente. Também serão julgados neste novo julgamento os militares Carlos Tepedino e Eugenio Guañabens Perelló, além do policial Germán Montenegro.

Uma das vítimas dos delitos apontados é o operário Héctor Ratto, que pertencia ao comitê de empresa da Mercedes-Benz. A automotora alemã, como outras empresas multinacionais e argentinas, é acusada de denunciar ao regime os seus empregados com militância sindical, que acabaram desaparecidos.

Ao regressar a democracia, durante o governo de Raúl Alfonsín (1983-1989), Bignone foi julgado culpado pelos delitos cometidos no ‘Campo de Mayo’, porém não foi preso graças às leis de perdão que promoveu o líder radical para diminuir as condenações da junta militar que encabeçou o golpe de Estado de 1976. Essas leis foram declaradas inconstitucionais pela Corte Suprema em 2005. Proximamente, também deverá comparecer como acusado em outros dois julgamentos pelas desaparições de jovens que cumpriam o serviço militar e de médicos e enfermeiros que supostamente atendiam a guerrilheiros.

Após a frustrada tentativa de recuperar as Malvinas, que custou a vida de 900 militares de ambos os lados em dois meses de guerra, as Forças Armadas da Argentina, debilitadas também pelas denuncias internacionais sobre a repressão ilegal e a crise econômica latino-americana, designaram a Bignone como encarregado da transição à democracia. Em seu primeiro discurso público prometeu eleições para princípios de 1984, que finalmente foram adiantadas para outubro de 1983 e nas quais venceu Alfonsín. O Congresso eleito pelo povo anulou a anistia de Bignone.

segunda-feira, outubro 26, 2009

Mujica enfrentara um difícil segundo turno nas eleições presidenciais uruguaias

Mujica enfrentara um difícil segundo turno nas eleições presidenciais uruguaias

O candidato esquerdista terá que enfrentar o ex-presidente Lacalle no próximo dia 29 de novembro

S. GALLEGO-DÍAZ Montevideo – El País - 26/10/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

O segundo turno das eleições presidenciais uruguaias, no próximo dia 29 de novembro, será muito disputado. Acabado o escrutínio, o candidato da Frente Ampla, José Pepe Mujica alcançou no domingo, em primeiro turno, 47,49% dos votos, porém a soma dos votos da oposição - os tradicionais Partido Nacional (28,53%) e Partido Colorado (16,66%) - chegou a 45,19%, e já confirmaram que se juntarão. A Frente, coalizão de esquerda e centro-esquerda, depende de uma cadeira, que ainda não conseguiu, para alcançar a maioria absoluta no Congresso (50 de 99 cadeiras) e o Senado pode ficar dividido ao meio.

Mujica, de 74 anos, ex-dirigente tupamaro e ex-ministro de Agricultura, assegurou que continua com muita esperança. "Sou um homem de luta. Nunca nos presentearam nada. Seguiremos lutando". Seu candidato a vice-presidente, Danilo Astori, afirmou que em novembro as coisas estarão mais claras porque "os eleitores enfrentarão a uma opção simples: eleger entre a gestão dos partidos que levaram este país ao desastre ou a da Frente Ampla, que conseguiu nos últimos quatro anos, sob a presidência de Tabaré Vázquez, conquistas e vitórias muito importantes".

A melhor noticia para a FA foi que o candidato do Partido Nacional, o ex-presidente Luís Alberto Lacalle, de 68 anos, teve um resultado pessoal francamente mau: perdeu mais de seis pontos (cem mil votos) em comparação com as eleições de 2004. Os sufrágios foram praticamente em bloco para o Partido Colorado, de Pedro Bordaberry (filho do ditador), que passou de 10,6% nas eleições passadas para um notável 16,6% nestas, com um discurso bastante conciliador. Bordaberry anunciou imediatamente seu apoio a Lacalle, porém um setor importante de seu partido, e inclusive do próprio Partido Nacional, acredita que o ex-presidente, que acabou seu mandato em 1995 sob sérias acusações de corrupção, é um mau candidato e que seu vice-presidente, Jorge Larrañaga, poderia ter conseguido uma melhor porcentagem dos votos. A realidade é que Mujica, com um resultado que não pode ser considerado brilhante, superou a Lacalle em praticamente meio milhão de votos (de um total de dois milhões e meio).

Na Frente Ampla, nem todo mundo estava seguro que Mujica fosse o melhor candidato, por sua peculiar e debochada maneira de falar, sua imagem de velho guerrilheiro, e, sobretudo, pelo fato de que o atual presidente Tabaré Vázquez, muito popular, haver apoiado outro candidato nas eleições internas da FA. "O que temos que fazer agora é não dispersar o discurso e centrá-lo nas vitórias do governo atual, um governo e umas vitórias que são da Frente Ampla e não somente de Vázquez", assegurou hoje, segunda-feira, um membro da campanha de Mujica.

"Não se pode ter um candidato que chegue a todas as frentes. Mujica é insuperável na hora de estabelecer uma comunicação emocional com as camadas mais humildes do Uruguai e com um amplo setor dos jovens. O fundamental é colocar os eleitores em novembro diante das alternativas de um governo da Frente ou um de Lacalle, que foi a quintessência da corrupção", explica o escritor Mauricio Rosencof, destacando militante da FA.

Um dos resultados mais chamativos das eleições de domingo foi o fracasso do referendo (não se chegou a 50% do voto favorável requerido) para anular a atual ‘Ley de Caducidad’, que retira da justiça a decisão de processar a militares e policiais por crimes e violações dos direitos humanos durante a ditadura. "O país olha para o futuro e não para os fantasmas do passado", disse o ex-presidente Julio María Sanguinetti, sob cujo primeiro mandato se referendou a lei.

Os defensores do referendo consideram, contudo, que os uruguaios se desmobilizaram porque a Corte Suprema decidiu há poucos dias que não se podia aplicar a ‘Ley de Caducidad’ por inconstitucionalidade, no caso de uma jovem torturada e assassinada durante a ditadura. A decisão fez crer que a lei já estava inválida em sua totalidade. Em todo caso, os maiores responsáveis pela ditadura já se encontram processados por decisão do Executivo: Juan María Bordaberry permanece em prisão domiciliar, por problemas de saúde, e o general Gregorio Álvarez foi condenado na quinta-feira passada a 25 anos de prisão pelo assassinato de 37 opositores entre 1977 e 1978.

quarta-feira, outubro 14, 2009

O dilema do socialismo europeu


O dilema do socialismo europeu

A crise de tantos partidos socialdemocratas se deve, em grande medida, ao fato de que adotaram esquemas neoliberais nos anos noventa e mutilaram sua própria identidade. A Terceira Via de Blair só era 'tatcherismo' sorridente

SAMI NAÏR – El País - 13/10/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

Os partidos socialistas europeus atravessam uma crise extremadamente profunda. Se deixarmos de lado o caso dos países nórdicos, onde, em seu conjunto, a tradição socialista é muito particular e o conflito social menos agudo, ou incluso dos partidos socialdemocratas dos países do Leste europeu, demasiado recentes ainda para serem julgados, constatamos, com a exceção notável da Espanha, que em todos os outros lugares -França, Grã-Bretanha, Alemanha, Itália- os partidos socialistas estão de capa caída.

Na França, a crise começou a princípios do ano 2000 com o fracasso estrepitoso do experimento da "esquerda plural". A aplicação de uma política de recuperação econômica em 1997 foi seguida, a partir de 1999, por uma política de adaptação liberal contrária ao programa inicial. Simbolicamente, esta mudança se encarnou na célebre frase do então líder socialista Lionel Jospin -"não posso fazer nada"- no momento em que a multinacional Michelin anunciou ‘superlucros’ e, ao mesmo tempo, deixava no desemprego a milhares de trabalhadores devido às mudanças de locais de trabalho. Foi aí que o Partido Socialista Francês perdeu o povo.

Porém, há algo ainda mais grave: o Partido Socialista Francês não viu a chegada da crise com a globalização liberal; foi surpreendido e desconcertado pela estratégia de Nicolas Sarkozy, que congregou ao redor de um único grande partido liberal-conservador a pessoas de direitas, de extrema-direita, de centro e da esquerda social-liberal. Por último, o PS é incapaz de fechar fileiras em torno a um candidato acreditável, posto que nenhum dos/as aspirantes que lutam pelas próximas eleições presidenciais possuem nem a personalidade, nem a profundidade de visão necessária para derrotar a Nicolas Sarkozy. Esta situação engendra a apatia das classes populares, a desorientação das classes médias e o aumento da abstenção eleitoral.

Na Grã-Bretanha, o fracasso do ‘blairismo’ ficou simbolizado pela própria saída de Tony Blair. A famosa Terceira Via não foi de fato mais que uma adaptação sorridente e conservadora do ‘tatcherismo’ baseado no desmantelamento dos serviços públicos e na privatização generalizada. Hoje, o Partido Trabalhista está em queda livre. Durante seu último congresso, Gordon Brown propôs um ‘Welfare State’ (Estado de bem-estar) centrado num "novo modelo econômico, social e político", baseado na "regulação do mercado". Mas em nenhuma parte do programa se especificava como financiar este ‘Welfare State’ e muito menos como convencer às classes medias que querem ao mesmo tempo mais Estados de bem-estar e menos impostos.

Por não estar na zona euro, Grã-Bretanha tem, sem dúvida, maior liberdade para fazer a gestão de uma dívida pública de 80% e um déficit orçamentário de 12,4%; porém, o desemprego (3 milhões de pessoas) aumentará e não vemos como poderíamos contê-lo sem incentivos fiscais, e, portanto, sem um endividamento crescente.

Na Itália, a decomposição da esquerda socialista se produziu sob a forma de um buraco negro que a tragou. A aliança no seio do PD dos ex-comunistas e de uma parte da Democracia Cristã levou a dois desenlaces fatais: de um lado, ao desaparecimento do socialismo político e ideológico do terreno político italiano; do outro, à abertura há quase 10 anos de uma ampla avenida eleitoral para o populismo reacionário de Silvio Berlusconi. A crise atual do ‘berlusconismo’, em lugar de beneficiar à esquerda, põe, sobretudo, em evidencia sua impotência.

Na Alemanha, o SPD está em crise desde que Oskar Lafontaine se negou a apoiar no ano 2000 a orientação liberal que preconizava Gerhard Schröder. O SPD acabou perdendo as eleições e aceitando um governo de coalizão com a CDU. Acostumado a estabelecer alianças com a direita, não soube, desta vez, sacar proveito porque demonstrou ser incapaz de oferecer um discurso próprio e acreditável sobre a crise econômica. O caso é que, de momento, é o partido socialista europeu que maiores perdas sofreu. Ademais de sua divisão pela criação na esquerda do ‘Die Linke’, perdeu 10 milhões de votos desde 1998, em beneficio tanto do ‘Die Linke’ como dos Verdes, dos Liberais e da CDU.

O SPD alemão compartilha hoje com o PS francês a mesma crise de liderança e a eleição recente de Sigmar Gabriel, com fama de centrista sem matiz ideológico, estão longe de concitar unanimidade.

Este breve resumo permite perceber algumas tendências de fundo.

Em primeiro lugar, os partidos socialistas ocidentais aceitaram nos anos noventa se adaptar à globalização liberal (batizada como ‘terceira via’ ou ‘cultura de governo’) não só sem oferecer um projeto alternativo a seu eleitorado central (classes médias e classes populares), mas também sem sacar todas as consequências ideológicas desta eleição.

Com isso, ganharam sem dúvida em eficácia governamental, porém mutilaram gravemente sua própria identidade. Dai o paradoxo atual: são arrastados pela crise do liberalismo enquanto que a direita liberal não duvida em aplicar as receitas tradicionais do ‘Welfare State’ para fazer frente ao temporal. Dito de outra maneira, a direita se mostra mais pragmática que a esquerda, a qual, depois de haver perdido sua identidade socialista, acreditou plenamente nas virtudes do social-liberalismo.

Em segundo lugar, em todas as partes da Europa ocidental, os partidos socialistas não sabem como reagir diante da tendência à "direitização" da sociedade, que é o resultado da instabilidade criada pela desregulamentação econômica e social destes últimos anos e que se encarna numa forte demanda por segurança (social, econômica e de identidade) e numa volta aos nacionalismos. Estas duas tendências de fundo, que podemos observar em todas as partes, expressam na realidade uma grave crise de identidade da socialdemocracia: já não tem nenhum projeto específico. Assim que a vitoria do liberalismo nestes últimos 15 anos não foi somente econômica; foi também e, sobretudo, ideológica e cultural.

A esquerda já não tem nem conceitos, nem métodos, nem visão para entender o mundo e atuar. Tem cada vez mais dificuldades para se diferenciar qualitativamente da direita. Ademais, esta falta de projeto não pode ser mascarada por uma retórica de defesa dos "valores". Porque se a esquerda segue acreditando nos seus "valores" (de solidariedade, igualdade, liberdade e tolerância), também sabemos há muito tempo que os invoca tanto mais facilmente na oposição quanto que, muitas vezes, se esquece deles quando está no governo.

Os partidos socialistas estão enfrentados deste modo a um dilema trágico: ou inventam um novo programa ou perecerão lentamente. O que fazer diante da crise da mundialização liberal? O que fazer diante do rechaço de que é objeto a Europa liberal? O que fazer diante do ceticismo e do distanciamento das classes populares e médias? O projeto de um novo ‘Welfare State’ europeu, mais necessário que nunca, depende das respostas que os partidos socialistas sejam capazes de dar a estas perguntas.

Sami Naïr é Professor da Universidade Pablo de Olavide de Sevilha, Espanha. Tradução ao castelhano de M. Sampons.

terça-feira, outubro 13, 2009

Saramago acerta contas com Deus

Saramago acerta contas com Deus

Babelia adianta a nível mundial o primeiro capítulo da nova novela do Nobel português: 'Caím'

WINSTON MANRIQUE SABOGAL - Madrid – El País - 13/10/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

"Quando o senhor, também conhecido como deus, se deu conta de que a Adão e Eva, perfeitos em tudo o que se mostrava à vista, não lhes saía nem uma palavra da boca nem emitiam um simples som, por primário que fosse, não teve outro remédio que se irritar consigo mesmo, já que não havia ninguém mais no jardim do éden a quem responsabilizar da gravíssima falta...". Com esta cena começa José Saramago sua nova novela na que faz uma nova incursão na Bíblia e que intitulou ‘Caín’ (Alfaguara). Uma obra na qual o Nobel português faz uma revisão do Antigo Testamento e que Babelia adianta, em ELPAÍS.com, em exclusiva a nível mundial, já que a novela chegará às livrarias da Espanha e de Portugal nesta quinta-feira, 15 de outubro.

Após sua visão do novo testamento em ‘O evangelho segundo Jesus cristo’, em 1991, que aumentou sua popularidade em todo o mundo, Saramago regressa no tempo e nas raízes da historia do cristianismo ao oferecer uma visão heterodoxa e enfrentar a Deus e a suas criaturas.

"Deus, o demônio, o bem, o mal, tudo está em nossa cabeça, não no Céu ou no inferno, que também inventamos. Não nos damos conta de que, havendo inventado a Deus, imediatamente nos escravizamos a ele". Esta é uma das reflexões que fez o escritor sobre seu novo livro no qual, de alguma maneira, pede contas a Deus. Esta reinvenção literária-histórica está carregada da sutil e elegante ironia e humor de Saramago, com uma historia que vai além do mero fato narrado e conhecido de Deus, Caím e Abel, ao abordar um tema eterno e agora muito candente: sobre crer ou não crer num ser supremo, que deriva em questões como a religiosidade, o poder e a tirania, a existência ou não do destino e seu sentido e muitas outras perguntas que assomam nesta visão heterodoxa de José Saramago.

segunda-feira, outubro 05, 2009

A Esquerda em crise


A Esquerda em crise

Os partidos social-democratas europeus perdem aceleradamente sua relevância política.

EDITORIAL – El País - 05/10/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

A queda eleitoral do Partido Social Democrata alemão, uma das mais consolidadas referencias da esquerda democrática, confirma a crescente hegemonia das forças conservadoras na Europa, à que se somará, caso se cumpram os prognósticos, ao triunfo dos ‘tories’ britânicos. A situação da esquerda na Francia e na Itália tampouco alimenta grandes expectativas e outro tanto caberia dizer da Espanha, onde as pesquisas começaram a desenhar uma virada conservadora na preferência dos eleitores, insensíveis de momento à debilidade da alternativa. A vitória parcial de José Sócrates em Portugal e os dados de ontem favoráveis aos socialistas gregos demonstram que seguem existindo fatores nacionais que incidem nos resultados da esquerda, porém de nada podem contra o que se perfila como corrente geral.

A esquerda se mostra perplexa de que os cidadãos não condenem os partidos que inspiraram as políticas econômicas causadoras da crise. Esquecem-se, assim, de que enquanto governaram não trataram de corrigi-las, nem de questioná-las. Ao contrário, lhes ofereceram um aval na linha da ‘Terceira Via’ de Tony Blair e se limitaram a demarcar suas diferenças com os conservadores em terrenos como os valores e os costumes. Como consequência, a esquerda não somente não se legitimou como alternativa quando tinha que fazê-lo, como também, em muitos casos, a crise lhe surpreendeu no governo, administrando a economia com os princípios que fracassaram e que foram rejeitados pelos eleitores. Agora, quando os conservadores adotam para sair da crise as políticas que tradicionalmente se associavam à social-democracia, não fazem mais que ocupar um território que esta deixou vazio durante os anos de bonança.

A reação da esquerda diante desta situação não pode resultar mais equivocada. Por um lado, se dedicaram a buscar os problemas em seu interior, desencadeando lutas de liderança que, até o momento, se saldaram com uma vitória dos ‘aparatos’ e, por consequente, dos dirigentes que melhor os controlam, não daqueles mais capazes e experimentados. Por outro, reforçaram o discurso dos valores e dos costumes, que a crise converteu num discurso bloqueado com matizes sagrados e complexa tradução prática. Enquanto os partidos de esquerda não disponham de uma análise do que está ocorrendo, e não tanto do que lhes ocorre a eles, é difícil que possam reverter uma tendência eleitoral que os está distanciando do poder nos países mais importantes da Europa.

Esta perda de peso não é uma boa noticia para ninguém, nem sequer para os partidos conservadores. Entre outras razões porque o vazio que a esquerda deixa está sendo ocupado, em muitos casos, por discursos e forças populistas, contra as quais os partidos democráticos, seja qual for a posição ideológica, sempre tiveram serias dificuldades para competir no terreno eleitoral.

sexta-feira, outubro 02, 2009

Rio de Janeiro – Jogos Olímpicos de 2016

Rio de Janeiro – Brasil - sede dos Jogos Olímpicos de 2016

quinta-feira, outubro 01, 2009

60 anos de comunismo chinês


China celebra 60 anos de comunismo

reivindicando seu papel de superpotência

O presidente Hu Jintao assegura que somente a abertura garantirá o desenvolvimento do país. Estritas medidas de segurança marcam uma celebração na qual se exibiu os últimos avances militares

AGENCIAS - Pequim – El País - 01/10/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

Pequim, a capital da China, acolheu nesta quinta-feira (01/10) uma jornada de grande relevância para a história recente do gigante asiático. Entre um extraordinário aparato de segurança, o país celebra os 60 anos do triunfo do comunismo pela mão de Mao Zedong. Os mais modernos tanques, mísseis e caças do Exército de Libertação Popular chinês (ELP) desfilaram pela Avenida ‘Chang An' no centro de Pequim e em frente à Praça de Tiananmen, no principal ato de celebração deste importante aniversário.

De Tiananmen, o presidente chinês Hu Jintao, não deixou passar a oportunidade para reivindicar o sucesso de uma fórmula de partido único que gerou um vertiginoso crescimento econômico e que catapultou a terceira economia do mundo à categoria de superpotência capaz de rivalizar em pé de igualdade com os Estados Unidos e seu modelo capitalista.

Num discurso retransmitido ao vivo pela televisão, o dirigente afirmou que somente a reforma e a abertura podem garantir o desenvolvimento do país. "O desenvolvimento e o progresso da Nova China nos últimos 60 anos demonstram plenamente que somente o socialismo pode salvar a China e somente a reforma e a abertura podem garantir o desenvolvimento do país", assinalou Hu acompanhado do ex-presidente Jiang Zemin, o primeiro-ministro Wen Jiabao e os demais membros da cúpula comunista.

Na Praça Tiananmen, tristemente conhecida no Ocidente pela repressão aos jovens opositores que demandaram sem sucesso liberdade e abertura há 20 anos, desfilou toda a parafernália comunista para destacar os logros do regime nestas últimas seis décadas. A festa pretende ser de tal magnitude que se calcula que se queimarão o dobro de fogos artificiais que na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2006.

Ataviado com um traje estilo Mao, o líder chinês saudou aos 8.000 soldados presentes na praça repetindo: "Saudações, camaradas", "Camaradas, estais trabalhando duro", ao que estes responderam: "Saudações, líder", "Nós servimos ao povo". Em seu discurso, o presidente assegurou ao povo que a China entrou "numa nova era de desenvolvimento e progresso desde que Mao Zedong pronunciou a fundação da República Popular da China, tal dia como hoje há sessenta anos".

Uma festa colossal

Milhares de soldados escrupulosamente alinhados e escoltados mostraram tanques e mísseis para demonstrar ao mundo o potencial militar que possui a China. Após a parada militar, um abrumador espetáculo com 180.000 pessoas (entre elas 80.000 meninos que foram os primeiros do mundo a receber programas de vacinação contra a gripe A) apresentaram um mosaico de cor, bailes tradicionais, kung fu e outras apresentações da cultura chinesa.

Todos os cidadãos foram chamados a permanecer em casa e seguir a celebração pela televisão. Tal é a obsessão pela segurança, que inclusive aqueles que vivem junto ao lugar dos desfiles não poderão aparecer nas janelas de suas casas. Ademais, os vôos a Pequim foram suspensos durante o tempo que durem as celebrações e a rede de metrô deixou de funcionar.

segunda-feira, setembro 28, 2009

Zoellick adverte sobre o fim do dólar


O presidente do Banco Mundial prevê que a moeda estadunidense deixará de ser a divisa de referência mundial. O euro se perfila como a grande alternativa

AGENCIAS - Washington – El País - 28/09/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

O dólar estadunidense, moeda de referência mundial, poderá se converter numa das vítimas da crise financeira, segundo Robert Zoellick. O presidente do Banco Mundial considera que os dias de glória dos ‘bilhetes verdes’ estão contados. Depois da ‘débâcle’, Zoellick prevê que as maiores economias emergentes do mundo terão uma maior influencia mundial, em detrimento dos Estados Unidos, o epicentro do desastre. As alternativas apontadas, pelo chefão do Banco Mundial, são o euro e a moeda chinesa.

"A atual suposição é que, depois da crise, a economia refletirá a crescente influencia da China, provavelmente da Índia, e de outras grandes economias emergentes. Supostamente, EUA, verão reduzidos seu poder econômico e influência", assegurou hoje Zoellick num discurso pronunciado na prestigiosa Universidade John Hopkins de Washington. E nesta nova ordem econômica mundial, o dólar poderá perder sua posição dominante. "Os Estados Unidos se equivocariam se acreditassem na garantia, para sua moeda, do papel de divisa predominante do mundo. Olhando pro futuro, cada vez mais haverá outras diferentes opções", porém, afirmou, "o dólar seguirá sendo uma das principais divisas".

segunda-feira, setembro 21, 2009

Dan Brown passa do Opus Dei à Maçonaria


Dan Brown passa do Opus Dei à Maçonaria

O popular autor lança cinco milhões de exemplares de 'O símbolo perdido'

DAVID ALANDETE - Washington – El País - 16/09/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

A sala principal da Casa do Templo de Washington, uma das sedes do Conselho Supremo número 33 dos franco-maçons está erigida em forma de pirâmide. Uma imponente clarabóia, adornada por imagens de águias bicéfalas, joga luz sobre um altar, ao qual rodeia uma inscrição em letras douradas: "Da luz da palavra divina, o logos, procede a sabedoria da vida e o fim da iniciação". Sobre esse altar repousam os textos sagrados da humanidade, com a Bíblia entre eles.

Dan Brown, autor de ‘O Código Da Vinci’, visitou este templo maçônico em numerosas ocasiões enquanto se documentava para sua nova novela, ‘O símbolo perdido’, publicada dia 15 de setembro nos EUA com uma tiragem inicial de cinco milhões de exemplares. Nesta sala estão as soluções para os muitos enigmas que permeiam a nova entrega das aventuras do professor Robert Langdon. Aqui, a simples vista, está a razão pela qual um eunuco tatuado e musculoso rapta ao mentor de Langdon para submeter-lhe a um violento jogo de xadrez sobre o mapa de Washington, traçando linhas que desenham figuras esotéricas e arcanos.

O novo livro de Brown possui todos os condimentos de seus predecessores: segredos históricos e simbologias artísticas. Material de rápida ascensão nas listas de vendas de ficção. ‘O Código Da Vinci’, publicado em 2003, já vendeu 80 milhões de cópias. No dia de seu lançamento, as livrarias de Washington guardavam centos de exemplares para clientes que levavam meses em lista de espera.

A trama da nova novela está calcada daquele sucesso anterior. O professor é posto à prova por um cruel fanático que se aproveita de sua clarividência para revelar um segredo que lhe dará um poder ilimitado. Em lugar do Priorato de Sião, do Opus Dei ou dos templários, nesta ocasião a trama leva a marca e está dominada quase que integralmente pelos maçons e suas artificiosas práticas ideológicas e arquitetônicas.

"Como todo escritor, Brown mesclou historia e ficção em seu livro", explica o grande arquivista e historiador do Conselho Supremo 33, Arturo de Hoyos. Há muitos elementos inventados na novela. De Hoyos mostra o edifício, copiado do antiqüíssimo Mausoléu de Halicarnasso, enquanto explica ao visitante que os maçons são, na realidade, uma fraternidade que lutou pelos valores da igualdade e o bom governo durante a guerra de independência americana, defendendo os ideais do Iluminismo.

Muitos dos pais fundadores dos EUA e o primeiro presidente foram maçons. Dan Brown teve tudo isto em conta na hora de ambientar sua nova novela. George Washington usou um rito maçom para colocar a primeira pedra do Capitólio. Um total de 13 maçons firmou a Constituição americana. E se suspeita que o arquiteto francês que desenhou a cidade, Pierre L'Enfant, era também maçom e encheu o mapa de símbolos relativos a tal irmandade.

Entre eles se movem Langdon e seu arquiinimigo, Malakh, cujo nome significa anjo na tradição bíblica hebréia. A trama é rica em simbologia. A forma, o estilo da novela, é simples, pouco elaborada às vezes simples pretexto para a trama. Dan Brown teve ilustres precursores no mister de dissecar os maçons, como Umberto Eco e seu ‘O pendulo de Foucault’. Porém, Brown está longe de Eco. Não é semiólogo nem historiador. É escritor de sucesso. Sua intenção é entreter. E com sua nova novela agradar a seus fãs.

terça-feira, setembro 15, 2009

A voz do anjo desdentado


A voz do anjo desdentado

Chega à Espanha o mítico filme de Bruce Weber sobre Chet Baker

ELSA FERNÁNDEZ-SANTOS - Madrid – El País - 15/09/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

Não era fácil seguir os passos de Chet Baker pelo mundo, ainda que o difícil, realmente, fosse não querer estar a seu lado. Trompetista desdentado com voz de anjo, ‘junkie’ errante amante dos carros caros e das belas mulheres, Chet Baker era um mito escorregadio. Perseguiam-lhe demasiadas lendas, algumas gloriosas, outras inomináveis. Em meados dos anos oitenta Bruce Weber –então já convertido num dos melhores fotógrafos de moda do mundo- foi retratar-lhe para incluí-lo numa exposição que preparava para o Whitney Museum. Aquela sessão se converteu numa viagem de mais de dois anos e num filme, ‘Let’s get lost’. Um dos documentários mais bonitos dos que se tem notícia, um genial retrato em preto e branco nascido da fascinação por um homem com o qual era demasiado fácil perder-se.

Weber apresentará amanhã na ‘La Casa Encendida’ de Madri aquele filme, que estreará pela primeira vez, 22 anos depois, nos cinemas espanhóis na sexta-feira. Ademais, uma exposição recuperará sua singular filmografia. "É inevitável, meus filmes nascem da fotografia, é uma limitação, mas também me permite uma liberdade estranha. Não me atenho às regras do cinema, em realidade não há regras, não são canções pop ou de rock & roll com principio e fim. São como o jazz, nunca se sabe aonde vai te levar", explica o fotógrafo em sua casa de Nova York.

Let’s get lost’ é em realidade o segundo filme de uma trilogia que começou com ‘Broken noses’ e que se encerrará com o documentário sobre Robert Mitchum, que mantêm inédito. "É sobre tipos duros, sobre homens como aqueles que conheci de criança na fazenda onde me criei. Levamos anos com o filme de Bob [Mitchum] mas nos ocorre o mesmo que com o de Chet. Ninguém se interessa. Demasiado dinheiro para um musical de Robert Mitchum!".

Weber recorda que o ator aceitou fazer o filme depois de ver ‘Let's get lost’ e depois de passar vários anos rondando a porta de Weber. "Era um tipo duro de verdade e um terrível pessimista, sempre de mau humor, tinha uma voz maravilhosa, porém ele se irritava quando o dizias. Recordava-me tanto àqueles homens velhos de minha família. Não havia nenhuma mulher que após lhe conhecer não quisesse saber mais sobre ele no dia seguinte. Gostava das mulheres e dos doces, e eu costumava passar por sua casa de Santa Bárbara a saudar-lhe com uma torta e acompanhado de Christy Turlington ou de outras modelos... E claro, assim foi-me tomando simpatia!"

Let’s get lost’ terminou em 1987, uns meses depois de que Chet Baker se precipitara desde uma janela de um hotel de Amsterdam. "Estávamos na sala de montagem quando nos chegou a noticia. Durante vários dias não pudemos voltar ao estúdio. Logo seguimos, sem falar, sem comentar o ocorrido, pensando na beleza que Chet nos havia presenteado. Não tínhamos idéia se o que havíamos feito era bom, mau ou regular, ninguém apostava um centavo por nós. Porém, seguimos adiante".

Para Weber a enorme capacidade de sedução de Chet Baker nascia de sua "inocência". "Não podias deixar-lhe passar, querias viver a seu lado". A estranha inocência de um homem que assegura que o dia mais feliz de sua vida foi quando comprou seu Alfa Romeo S.S e que o pior foi aquele no qual perdeu a golpes todos os dentes. "De todas suas historias, falsas ou reais, a de sua dentadura sempre foi a mais terrível e incômoda". Arrancaram-lhe uma a uma as peças de sua boca num ajuste de contas do qual nunca contou toda a verdade. Durante seis meses Baker foi incapaz de pegar o trompete e aquele incidente abriu a maior fissura em sua carreira musical. Três anos recolhido, até que Dizzie Gillispie voltou a lhe chamar para que atuasse em Nova York.

O Chet Baker de ‘Let's get lost’ já não é o jovem James Dean do jazz das fotografias de William Claxton, porém em todo o filme não há nada sórdido. "Costumam me perguntar onde está a beleza e eu nunca sei muito bem o quê responder. Eu sempre vejo a beleza a meu redor, talvez esse seja meu dom. Há anos Larry Clark, o diretor da maravilhosa ‘Kids’, me disse algo que nunca esquecerei, que ele nunca se permitia sorrir de alguém. Eu gostei dessa idéia e desde então a fiz minha. Não sei o que é a beleza, sei o que é o respeito".

terça-feira, setembro 08, 2009

40 anos sem os quatro de Liverpool


Beatles. Viagem a seus cenários de lenda

40 anos sem os quatro de Liverpool

MANUEL CUÉLLAR – El País - 06/09/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

Dia 13 de setembro de 1969 foi a última vez que os Beatles trabalharam juntos num estúdio. Quatro décadas depois de sua dissolução, e com dois deles desaparecidos, continuam sendo um fenômeno mundial. Percorremos alguns dos lugares que foram parte de sua historia para descobrir que seguem vivos.

Na parte interior do antebraço esquerdo de um músico de Liverpool está a resposta. Jason Murray tem 33 anos, o cabelo louro e a pele muito branca. Tanto que o verde de suas veias se confunde com a tinta da tatuagem. Justo na altura do cotovelo, uma clave de sol, e de ali até o pulso, as cinco linhas de um pentagrama com dois compassos. Sob as notas, a letra da canção: All you need is love, love is all you need. Nessa pele está a resposta. É o símbolo do que ocorreu desde que há quarenta anos os quatro Beatles - o grupo que praticamente inventou a música pop - decidiram não voltar a tocar juntos nunca mais. De maneira indelével, esses quatro rapazes de Liverpool ficaram gravados a fogo, para sempre, como numa tatuagem, na memória e na bagagem cultural de milhões de pessoas no mundo.

Jay Murray fala alegremente com dois amigos com uma ‘pinta’ de cerveja em sua mão. Está no ‘The Cavern Pub’, um dos botecos que formam parte dessa espécie de parque temático sobre os Beatles em que se converteu sua cidade natal. Está apoiado numa Jukebox amarela, com forma de submarino de desenhos animados, e nas paredes do local, numa sorte de ‘horror vacui’ estudado para fãs, se exibe todo tipo de souvenires dos quatro fabulosos. "Haver formado parte de uma das bandas de tributo aos Beatles [The Mersey Beatles] mais importantes me permitiu tocar diante de 10.000 pessoas", afirma o guitarrista. "Mudaram o mundo. Liverpool está muito agradecida, aqui vêm pessoas de todas as partes do planeta atraídas por eles". Nestas palavras se adivinha o exterior de seu antebraço, o outro lado: os Beatles, 40 anos depois de sua dissolução, continuam sendo um grande negocio. Tanto que em 1985 o desaparecido Michael Jackson comprou por 8 bilhões de pesetas os direitos editoriais de 267 canções dos descabelados deixando quase a metade de sua fortuna na transação. Agora, segundo um jornal tão prestigioso como ‘The Wall Street Journal’, a confusão financeira gerada pela morte do comprador suporá uma espera de pelo menos 18 meses para elucidar quem ficará com os lucros adquiridos e (tal vez hipotecados) pelo chamado rei do pop.

Quarta-feira, dia 9 de setembro, num lançamento sem precedentes, EMI, a gravadora dos ‘Beatles’, reeditará toda a discografia do grupo remasterizada nos estúdios Abbey Road, onde gravaram 90% de sua produção. Nesse mesmo dia se porá a venda um videojogo para múltiplos aparatos, denominado ‘The Beatles Rock Band’, com o qual o jogador poderá emular ao grupo desde seus princípios. A aposta é tão alta (supõe uma possibilidade de negocio enorme, uma vez que o catálogo de canções do jogo será vendido separadamente), que Paul McCartney, Ringo Starr, Yoko Ono Lennon e Olivia Harrison (viúvas, respectivamente, de John Lennon e George Harrison) se reuniram em Los Ángeles no passado mês de junho para apadrinhar o produto. Em Las Vegas, o ‘Circo do Sol’ continua imparável com as representações de ‘Love’, um espetáculo baseado em sua música, e Canal + emitirá nesta quinta-feira, dia 10 de setembro, pela primeira vez na Espanha o documentário ‘All together now’ sobre a gestação e o começo desta montagem que levou até o deserto de Nevada ao mesmíssimo George Martin, o produtor da banda, apesar de estar sofrendo de uma forte surdez. Se Lennon e Harrison pudessem regressar da morte, um concerto ou um novo disco dos quatro Beatles seria, sem dúvida, um dos acontecimentos mundiais do século XXI. Falamos de um grupo que quarenta anos depois segue encabeçando a lista de vendas de um organismo tão prestigioso como a Associação Americana da Indústria Discográfica (RIIA), com um total de 170 milhões de discos despachados tão-somente nos Estados Unidos. Outras fontes como ‘The New York Times’ ou a revista Forbes garantem a cifra de mais de um bilhão de discos em todo o mundo desde seu começo em 1962.

Nos estúdios Abbey Road em Londres há que se andar com cuidado. O clima dos baseados daqueles adolescentes que confessaram haver experimentado o LSD, a ‘marihuana’, o haxixe e a todo o experimentável, se converteu no típico clima de discográfica paranóica. "Quem roubou uma capa de disco?", pergunta Paul Bromby, diretor de marketing da EMI. Todos os jornalistas presentes ficam sob suspeita. "Essa capa poderia valer muito em Ebay", arremata. O acusador leva mais de uma dezena delas na mão. Claro que sem o correspondente CD dentro. Assim, os Beatles seguem sendo um negócio e os primeiros que sabem são os responsáveis de que seus 13 discos soem desde a próxima quarta-feira como se tivessem sido gravados por qualquer grupo de ‘brit pop’ do momento. Contundentes, com presença, de certo modo agressivos e, sobretudo, envolventes. E o maior dos sobretudos: na internet estarão remasterizadinhos desde esse mesmo dia. O certo é que quando se escuta o resultado nesses estúdios, diante de uma mesa de som de 78 canais, é assombroso. Um cuidadoso trabalho de quatro anos, de ourives.

O estúdio 2, o predileto dos Beatles, deve ser visto furtivamente. Nada de fotos, nem amabilidade. Em Abbey Road há que se andar com cuidado. A eles, que gravaram com Alanis Morisette, Diana Krall, Elbow, Hard Fi ou Panic! At The Disco, por apresentar alguns exemplos, nada lhes importa. Parece que não aprenderam nada daqueles quatro: não se dão conta de que o melhor de tudo está fora dessas paredes.

Nos muros do número 3 de Abbey Road há poemas escritos, declarações de amor, de fidelidade eterna a esse quarteto irrepetível. E na esquina, uma faixa de pedestres que é mais que seis listas brancas sobre o asfalto. É um santuário e também uma diversão. Alan Haynes é um operário da construção civil que trabalha a 20 metros dessa faixa de pedestres. "A hora da merenda é para os Beatles. Nos sentamos aqui, de frente para o cruzamento, e vemos todo esse circo que se monta. Gente de todo o mundo segue vindo aqui para parar o tráfego. É algo alucinante".

Nada comparado com Liverpool. "Não chegamos a odiá-los ainda, mas é claro que em casa não ponho a nenhum de seus discos". Assim diz Moira, uma das recepcionistas do hotel ‘A Hard Days Night’, um estabelecimento completamente baseado nos Beatles e no qual não se escuta outra coisa que não seja suas canções. Quarenta anos depois da dissolução da banda, Liverpool é uma cidade absolutamente ‘beatle’. Seu aeroporto se chama John Lennon, no mesmo quarteirão onde está o hotel se encontra a nova caverna, um local fabricado a imagem e semelhança e a escassos 10 metros daquele onde Brian Epstein decidiu que seria o ‘manager’ da banda. Ali, pelo menos 40 pessoas têm um trabalho relacionado com os Beatles. Rotas turísticas de todo tipo, incluída uma numa espécie de barco amarelo que navega pelo rio Mersey. Lojas, estátuas, fotos, museus e música, muita música. Jason Murray agita sua franjinha cortada ao estilo dos ‘fab four’. Sobe ao palco com sua guitarra acústica e canta ‘Yesterday’. Depois, comprovada mais uma vez a eficácia de uma canção eterna, desce do palco e diz: "Está vendo? Deles parte tudo. Toda a música de agora tem algo dos Beatles. Falamos de uns garotos que foram algo assim como Bach ou Mozart".

segunda-feira, setembro 07, 2009

Brasil compra 36 caças Rafale da França


Brasil compra 36 caças Rafale da França

O presidente francês Nicolás Sarkozy este em Brasília, em visita oficial. Os acordos de defesa que firmaram ambos os países totalizam oito bilhões de euros

AGENCIAS - Brasília – El País - 07/09/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

O presidente francês Nicolas Sarkozy e seu homólogo brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva assistiram juntos hoje a um desfile em Brasília em comemoração ao Dia da Independência do Brasil, pouco antes da assinatura de uma série de acordos na área de defesa no valor total de uns 12 bilhões de dólares (uns 8 bilhões de euros).

Também, hoje, ambos os mandatários anunciaram oficialmente a compra de 36 caças franceses Rafale para a Força Aérea Brasileira. O preço da compra não foi divulgado, mas se estima que poderia rondar os 3,8 bilhões de reais brasileiros, uns 1,436 bilhões de euros.

Ademais, na manhã de hoje, através de um comunicado, Sarkozy informou a Lula a "intenção da França de adquirir uma dezena de unidades da futura aeronave de transporte militar KC-390 e manifestou a disposição dos industriais franceses em contribuir para o desenvolvimento do programa dessa aeronave". O KC-390, da empresa brasileira Embraer, é um avião militar mediano de transporte com dois motores a reação que ainda se encontra em fase de desenvolvimento. Em virtude do acordo fechado hoje, a França se compromete a colaborar no desenvolvimento do KC-390 com transferências de tecnologia e aportando capacidade de produção.

Estes acordos formam parte de uma série de pactos nas áreas de defesa, cooperação policial, imigração, transporte, agricultura e tecnologia. Sarkozy chegou ontem à capital brasileira acompanhado por uma nutrida delegação integrada por oito ministros, entre eles o de Assuntos Exteriores, Bernard Kouchner. Lula, num gesto pouco usual, esperou o presidente galo no aeroporto da capital, de onde ambos se dirigiram ao Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência brasileira, onde foi oferecido um jantar em homenagem ao visitante.

A delegação encabeçada por Sarkozy, também, formalizará os pactos previamente alcançados para a construção conjunta de um submarino de propulsão nuclear e outros quatro convencionais do modelo francês Scorpene, assim como a edificação do estaleiro onde serão fabricados os submarinos e uma base naval de apoio. Ademais, os convênios também incluem a compra de 50 helicópteros de transporte franceses EC-725 para as Forças Armadas brasileiras, que serão entregues entre 2010 e 2016 por um consórcio formado pela brasileira Helibras e pela europeia Eurocopter, sucursal do grupo EADS.

Ambos os projetos, que incluem a construção dos estaleiros nos quais serão fabricados os submarinos e das fábricas em que serão elaborados os helicópteros, representarão para o Brasil um desembolso de 12,317 bilhões de dólares até 2021, dos quais uns 9 bilhões serão destinados à compra do armamento.

domingo, setembro 06, 2009

Passeata gigante em favor do direito de protesto em Caracas

Passeata gigante em favor do direito de protesto em Caracas

El País - 07/09/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

Milhares de opositores ao presidente venezuelano Hugo Chavez, fizeram uma passeata neste fim de semana em Caracas para expressar seu repúdio à revolução bolivariana que o mandatário esta conduzindo na Venezuela e tentando exportar para o resto da América Latina. A passeata da oposição "pela liberdade e pela democracia" culminou no centro, às portas da sede do Ministério Público, para entregar um documento contra a política de persecução à dissidência, à criminalização do protesto social e contra os ataques à imprensa por parte do governo. Há uma semana, a promotora de justiça Luisa Ortega afirmou que algumas pessoas buscavam "qualquer motivo para protestar e criar o caos", e que essas "condutas" se enquadravam no delito de "rebelião civil", com penas de 12 a 24 anos de prisão.

segunda-feira, agosto 31, 2009

A escravidão de Isabel Allende

A escravidão de Isabel Allende

EL PAÍS e Babelia publicam em exclusiva o primeiro capítulo da nova novela da autora chilena, “La isla bajo el mar” (Plaza & Janés).

W. M. S. - Madrid - 31/08/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

Zarité é a nova personagem criada por Isabel Allende para sua nova novela sobre a escravidão: “La isla bajo el mar” (Plaza & Janés) que chegará às livrarias no próximo fim de semana. Allende criou uma narração coral que se desenvolve em Santo Domingo (República Dominicana) do século XVIII para relatar a vida de uma jovem escrava que não se resigna a seu destino. Historia, sofrimento, azar, orem acima de tudo liberdade é a palavra chave no livro número 19 da autora de obras como “La casa de los espíritus”. Isabel Allende é uma das escritoras em espanhol de maior sucesso: 51 milhões de livros vendidos. Hoje, EL PAÍS e Babelia brindam seus leitores de todo o mundo com a possibilidade de serem os primeiros em ler o começo de “La isla bajo el mar”, uma obra que parece destinada a se converter numa das mais de 2009.

quinta-feira, agosto 27, 2009

Edward Kennedy fecha uma página do século XX

Edward Kennedy fecha uma página do século XX

El Mundo – Editorial – 27-08-2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

As bandeiras a meio mastro, anunciando a perda nas fachadas dos principais edifícios dos EUA, são a imagem que reflete perfeitamente o sentimento de luto que vive a primeira democracia do planeta após o falecimento de Edward Kennedy. Porém, o golpe da sua morte alcança hoje além dos milhões de pessoas que em todo o mundo se identificam com os valores de liberdade e tolerância que encarnam os Estados Unidos - que Edward Kennedy defendeu durante quase meio século de atividade política -, alcança também a quem seguiu as peripécias de um dos clãs familiares mais influentes da Historia moderna.

Edward Kennedy não era somente um grande político, nem tampouco um Kennedy a mais. Era o patriarca do Partido Democrata, o Leão do Senado - Câmara na qual trabalhou ininterruptamente desde 1962 - e, nas palavras do presidente Obama, «o melhor senador estadunidense de nosso tempo». E era, também, o último líder de uma dinastia que marcou em partes iguais tanto a política como a crônica social na última centúria, especialmente com relação aos magnicídios de John Fitzgerald e Robert. Agora, dos nove irmãos Kennedy, somente sobrevive uma mulher: Jean, de 81 anos. Com ele se fecha uma parte do século XX.

Apesar de Edward Kennedy nunca haver tido chances reais de chegar à Casa Branca – somente um ano depois de que Robert fosse assassinado protagonizou o fatídico acidente de automóvel com sua secretária que condicionou sua carreira futura - sua influência é paradoxalmente enorme. Em seu país foi uma referência fundamental para os democratas. Impulsionou a aprovação de dezenas de leis e iniciativas, a última, a da reforma sanitária, da mão do próprio Obama, é transcendental, porém pode desgastar o governo mais que a própria crise econômica, pela férrea oposição republicana.

No mês passado, sentindo a proximidade de sua morte, Edward Kennedy advertia que seu empenho por estender a cobertura sanitária a toda população havia sido «a causa» de sua vida. «Garantiremos que todo americano tenha uma assistência de saúde decente, de qualidade, como um direito fundamental e não somente um privilégio», afirmava. Estas palavras, no momento atual, mais que uma declaração são todo um testamento político e seguramente animarão a Obama a se reafirmar em sua promessa eleitoral.

Edward Kennedy não ficou distante à polêmica e tratar de convertê-lo num santo seria um empenho estúpido. Isto sim, as críticas lhe chegaram mais por seu comportamento na esfera privada que por sua conduta como líder político, que foi irrepreensível até o final. Um último exemplo é que, apesar do câncer que padecia, negou a se recluir e continuou seu trabalho no Senado dos EUA até umas poucas semanas atrás. Porém, numa sociedade tão tradicionalista como a estadunidense não passaram inadvertidos alguns de seus excessos. Desde muito jovem teve fama de mulherengo, bebedor e ‘bon vivant’.

O caçula dos Kennedy, «o melhor político da família» segundo palavras de JFK, manteve uma linha de coerência em sua longa trajetória pública. Criticou a Guerra do Vietnã quando esta se converteu numa carnificina, arremeteu contra George W. Bush pela Guerra do Iraque, deu seu apoio à luta contra o ‘apartheid’ na África do Sul, se ocupou do processo de paz na Irlanda do Norte, deu seu decidido respaldo para que chegasse à Casa Branca o primeiro presidente negro e levantou as bandeiras da liberdade, da justiça social e da igualdade de oportunidades sempre que teve ocasião. São estas as bandeiras que devem tremular em sua memória agora que as de tecido luzem a meio mastro.

segunda-feira, agosto 24, 2009

A recuperação de um monumento no topo do mundo

A recuperação de um monumento no topo do mundo

China termina a restauração do palácio de Potala em Lhasa, no Tibete, a antiga residência oficial dos Dalai Lama

EFE - Pekín – El País - 24/08/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

As autoridades chinesas anunciaram hoje a conclusão, após sete anos de trabalho, das obras de restauração do Palácio Potala de Lhasa, capital da região autônoma do Tibete e antiga residência oficial do Dalai Lama. Para a restauração do complexo arquitetônico, cujas estruturas de madeira corriam grave perigo de desabamento, foram investidos 300 milhões de yuanes (mais de 30 milhões e meio de euros), cifra que inclui também as reparações do palácio de Norbu Longka, residência de verão do Dalai Lama, também situada em Lhasa.

Nas obras de reparação dos palácios participaram mais de 189.000 trabalhadores, encarregados de reforçar os cimentos, reparar alguns dos murais e tratar quimicamente as estruturas de madeira para lutar contra pragas e outros perigos para as fundações. Apesar das obras de reparação, o Potala, que em seu tempo foi um dos edifícios mais altos do mundo (13 andares), continuará mantendo o limite diário de turistas, uns mil cada jornada. O palácio, cuja construção começou no século VII, passou a ser a residência dos Dalai Lamas, governantes políticos e religiosos do Tíbet, no século XVII.

É considerado o ponto culminante da arquitetura tibetana, com sua característica fachada vermelha e branca. Declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 1994, o edifício alberga ainda um grande número de pinturas e esculturas igualmente consideradas obras mestras da arte tibetana.

domingo, agosto 16, 2009

Aqui nasceu a saudade 'hippy'


Aqui nasceu a saudade 'hippy'

ANDREA AGUILAR – El País - 16/08/2009

Tradução de Antonio de Freitas Jr.

Hoje, há 40 anos, meio milhão de jovens se espremia em Woodstock, o pai de todos os festivais de música. Foi talvez o desastre de maior sucesso da historia. Três dias de paz e amor convertidos na imagem ícone de uma época. Visitamos o lugar onde se celebrou para comprovar o que sobrou de um mito que continua seduzindo.

Foi quase um mês depois de que Neil Armstrong pisasse na Lua e apenas uns dias mais tarde que os seguidores de Charles Manson perpetrassem os selvagens assassinatos na casa de Roman Polanski. Em 14 de agosto de 1969, furgões, ônibus escolares reciclados e milhares de utilitários colapsaram a rota 17b do Estado de Nova York. Aquele monumental engarrafamento foi o começo de um lendário fim de semana no qual cerca de meio milhão de jovens se encontraram nos terrenos da fazenda de Max Yasgur.

Houve uma quantidade considerável de estupefacientes, muito barro e uma estranha sensação de liberação e idílio coletivo. Janis Joplin, Jimi Hendrix, Joan Báez, Sly, Richie Havens e Joe Cocker, e mais 25 grupos, puseram a trilha sonora ao desastre de maior sucesso que se recorda na historia dos festivais de música. O então governador Nelson A. Rockefeller declarou o condado zona catastrófica. O Exército acudiu em seu auxilio. Remédios e comida foram lançados desde o ar. Woodstock passou a se converter num marco de uma geração.

Quarenta anos depois, a estrada que conduz até os terrenos onde se celebrou o festival, no pequeno condado de Bethel, quase não mudou. Contudo, o número de turistas que visitam a zona aumentou bastante desde que se abriu em 2006 o Centro Bethel Woods. Seu auditório, com capacidade para 15.000 pessoas, programa atuações de Bob Dylan e da Filarmônica de Nova York, e o concerto em homenagem aos ‘Heroes of Woodstock’, com oito dos artistas que atuaram em 1969.

No alto de uma colina de frente para o auditório, centenas de estudantes secundaristas escutam numa manhã de julho a historia de Duke Devlin. “Vim passar três dias e fiquei 40 anos”. Alto e corpulento, este sobrevivente do festival põe a luzir sua barba e mechas brancas e muitas tatuagens nos braços. Parece um Papai Noel alternativo. Após sua passagem pela Marinha, esteve vários anos saltando de comuna em comuna. Numa delas viu um anuncio do festival. Não pensou duas vezes. Em Woodstock se uniu aos membros de ‘Hog Farm’, o coletivo de Santa Fé. “Distribuímos comida e ajudamos aqueles que tinham viagens ruins de ácido”.

Quando tudo terminou, Duke começou a trabalhar numa vacaria dos arredores. Hoje seus netos vão à escola local e ele é guia no centro. Num carrinho de golfe, conduz até a zona onde se montou o palco em 1969, um grande retângulo sem grama, coberto de pedras. A uns metros adiante se encontra uma placa comemorativa. Um casal de bermudas tira fotos. O mito segue sendo atraente. Este ano, 13 novos livros foram publicados nos Estados Unidos e o diretor Ang Lee estreia um filme sobre o festival.

Cabe dar razão a Ellen Willis, a pioneira crítica de rock que inaugurou o gênero na revista ‘New Yorker’. “Há que reconhecer algum mérito aos produtores da Feira de Arte e Música de Woodstock: no fim das contas, deram um golpe magistral na questão de relações públicas”, escreveu Willis em sua crônica sobre o festival para a revista. “Parece que conseguiram fazer com que a ideia de que a crise em Bethel foi um caprichoso desastre natural mais que o resultado da incompetência humana, que a participação massiva era totalmente inesperada (e que, portanto, era impossível que qualquer ser racional pudesse prevê-la) e que, ademais, eles perderam mais de um milhão de dólares no processo de ser boa gente, porque fizeram todo o possível por converter o que apontava ser um fracasso num fim de semana cabeça”.

O mito de Woodstock que Willis via crescer dias depois do festival acabou de se estabelecer graças ao documentário ‘Woodstock Festival: três dias de paz, amor e música’, dirigido por Michael Wadleigh e editado por Thelma Schoonmaker e Martin Scorsese. Chegou às telas em 1970 e foi agraciado com um Oscar. Nele se mostrou ao grande público a chegada do Exército e dos helicópteros, as pipas de papel de prata e o êxtase coletivo; as atuações de Hendrix, Joan Báez e Richie Havens. Woodstock se converteu num mito global. As imagens de jovens desnudos banhando-se nos lagos ou deslizando-se pelo barro passaram a formar parte do imaginário coletivo.

O barro de 1969 ficou neutralizado no centro de arte de Bethel. “Quando me propuseram que eu me encarregasse disto, pensei: como vou a vender sexo, drogas e ‘rock and roll’ a estudantes?”, diz Wade Lawrence, o diretor do museu do centro. A solução foi apostar pelo contexto e fazer um museu de historia política e social dos anos sessenta. Aqueles anos estiveram marcados pela luta em prol dos direitos civis e o movimento estudantil contra a guerra do Vietnã. Kennedy chegou à presidência e Martin Luther King encabeçou a histórica marcha até Washington; ambos morreram assassinados. As comunas se expandiam, o ácido e a maconha eram moedas comuns entre os adolescentes alternativos e o rock vivia uma nova idade dourada.

Nas telas enormes do museu, Richie Havens canta ‘Freedom’ – o hino que improvisou sobre o palco quando já não sabia mais o que tocar –, e Joe Cocker agradece a ajuda de seus amigos em ‘With a little help from my friends’. As vitrines mostram as capas de discos de Supremes, Dylan e dos Beatles, entre outros.

Woodstock se encontra a uma hora e meia de carro do museu. Os promotores originalmente planejaram celebrar aqui o festival. Quando tinha vinte anos, Michael Lang se instalou em Woodstock atraído pela presença de Dylan, Joplin e Hendrix na zona. Lang ia e vinha da cidade e rapidamente conseguiu um encontro com Artie Kornfeld, diretor artístico na Mercury Records aos 25 anos. Juntos idealizaram o plano de montar uma discográfica com sede no povoado.

John Roberts, um rico herdeiro de uma empresa química, e Joel Rosenbam, bacharel em Direito por Yale, foram os investidores da recém fundada Woodstock Ventures. Rápido tomou corpo a idea de organizar um festival. Contrataram a uma equipe e uma agência de relações públicas, Wartoke, para dar publicidade ao evento. “Sou um grande fã de usar os rumores como instrumento de promoção”, escreveu tempo depois Lang num livro comemorativo do festival.

Tom Benton não escutou os rumores que circulavam pelo Village, simplesmente viu um anuncio de página inteira no ‘The New York Times’. Tinha 19 anos e uma paixão desaforada pela música. Relembra sentado em sua loja de guitarras situada na rua principal de Woodstock. “Morria de vontade de ver Jeff Beck e os Iron Butterfly, mas caíram fora da programação na última hora”. Benton não somente foi um dos poucos que pagaram – a avalanche de público fez com que os organizadores declarassem entrada livre –, senão que, ademais, assegura que não perdeu nenhum concerto; nem sequer o ‘Star spangled banner’ de Hendrix, que tocou na manhã de segunda-feira, quando a maioria do público já havia se retirado.

É difícil imaginar a Benton despenteado no lamaçal, um homem de meia cabeleira branca e partinha simétrica. Durante 20 anos renunciou à música e se dedicou a exercer como advogado. “Disse que quando completasse 50 voltaria pra cá”. Em sua loja montou um selo discográfico e dá aulas de música.

Naquele verão, ninguém tinha certeza de que o festival fosse finalmente acontecer. A tensão entre os sócios crescia e as possíveis localizações do macroconcerto eram os seus maiores problemas. Quatro semanas antes que Woodstock abrisse suas portas, ainda não tinha local definitivo.

“Eu salvei o festival. É hora de que se saiba que Woodstock ocorreu graças a um gay”, diz Elliot Tiber, fazendo cara de sério, sentado junto a sua cadelinha ‘Molly’. Decidido a aclarar a historia, este escritor e cômico – vizinho de Tennessee Williams em sua juventude e amigo do fotógrafo Mapplethorpe – publicou suas memórias há dois anos. O livro, ‘Taking Woodstock’, inspirou o filme homônimo de Ang Lee, no qual se recria o motel ‘El Mónaco’ que era gerenciado pelos pais de Elliot Tiber.

Elliot Landy, o fotógrafo oficial do festival, foi um dos hóspedes do motel. Desde algum tempo vivia em Woodstock, onde havia fotografado a Bob Dylan e The Band para as capas de seus discos. Durante os três dias em que cobriu o festival tirou mais de 2.500 fotos. Uma seleção de seu trabalho viajará pela Espanha até finais deste ano.

Além do documentário e das fotografias, aquele momento foi histórico? “A música não foi memorável para os que viram ao vivo”, contesta o grande papa da crítica Robert Christgau. “Sejamos claros, os sistemas de som em 1969 eram ruins”.

Christgau foi ao festival com sua namorada, a crítica Willis. Também levaram seus dois filhos, de dois anos e oito meses. O menor, Nathan, hoje é editor de música na revista Rolling Stone. “Meus pais eram um pouco mais velhos que a maioria do público. Não eram ‘hippies’, estavam mais para um tipo ‘beatniks-folk’”. Em Bethel acamparam no bosque. Anos depois, lhe contaram como acabaram dando de comer a um montão de desconhecidos. “Diziam que se sentiram como monitores de um acampamento”.

Na segunda-feira, 17 de agosto de 1969, ao terminar o concerto de Hendrix, os voluntários e membros das comunas recrutadas pela organização começaram a limpar. O promotor Michael Lang subiu num helicóptero que o levou até Wall Street. Ali se celebrou a primeira das amargas reuniões nas quais os quatro organizadores se enfrentaram durante anos. Acabou-se a paz. Na fazenda de Yasgur tardaram um mês em limpar. Dizem que centenas de objetos ficaram no lodo. Arqueologia de uma geração que já é historia.

Festival de Woodstock

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Woodstock foi um festival de música anunciado como "Uma Exposição Aquariana", organizado na fazenda de 600 acres de Max Yasgur na cidade rural de Bethel, Nova York, de 15 a 18 de agosto de 1969. Era para ocorrer na pequena cidade de Woodstock, estado de Nova Iorque, onde moravam músicos como Bob Dylan, mas a população não aceitou, o que levou o evento para a pequena Bethel, a uma hora e meia de distância.[1]

O festival exemplificou a era hippie e a contracultura do final dos anos 1960 e começo de 70. Trinta e dois dos mais conhecidos músicos da época apresentaram-se durante um chuvoso fim de semana defronte a meio milhão de espectadores. Apesar de tentativas posteriores de emular o festival, o evento original provou ser único e lendário, reconhecido como uma dos maiores momentos na história da música popular.

O evento foi capturado em um documentário lançado em 1970, Woodstock, além de uma trilha-sonora com os melhores momentos.

Introdução
Woodstock surgiu dos esforços de Michael Lang, John P. Roberts, Joel Rosenman e Artie Kornfeld. Roberts e Rosenman, que entrariam com as finanças, colocaram um anúncio sob o nome de Challenge International, Ltd., no New York Times e no Wall Street Journal ("Jovens com capital ilimitado buscam oportunidades de investimento legítimas e interessantes e propostas de negócios").[2] Lang e Kornfeld responderam o anúncio, e os quatro reuniram-se inicialmente para discutir a criação de um estúdio de gravação em Woodstock, mas a idéia evoluiu para um festival de música e artes ao ar livre.[2]

Mesmo considerado um investimento arriscado, o projeto foi montado tendo em vista retorno financeiro. Os ingressos passaram a ser vendidos em lojas de disco e na área metropolitana de Nova York, ou via correio através de uma caixa postal. Custavam 18 dólares (aproximadamente 75 dólares em valores atuais), ou 24 dólares se adquiridos no dia.[3] Aproximadamente 186,000 ingressos foram vendidos antecipadamente, e os organizadores estimaram um público de aproximadamente 200,000 pessoas.[4] Não foi isso que aconteceu, no entanto. Mais de 500,000 pessoas compareceram, derrubando cercas e tornando o festival um evento gratuito.

Este influxo repentino provocou congestionamentos imensos, bloqueando a Via Expressa do Estado de Nova York e eventualmente transformando Bethel em "área de calamidade pública". As instalações do festival não foram equipadas para providenciar saneamento ou primeiros-socorros para tal multidão, e centenas de pessoas se viram tendo que lutar contra mau tempo, racionamento de comida e condições mínimas de higiene.[5]

Embora o festival tenha sido reconhecidamente pacífico, dado o número de pessoas e as condições envolvidas, houve duas fatalidades registradas: a primeira resultado de uma provável overdose de heroína, e a outra após um atropelamento de trator. Houve também dois partos registrados (um dentro de um carro preso no congestionamento e outro em um helicóptero), e quatro abortos.[6]

Ainda assim, em sintonia com as esperanças idealísticas dos anos 60, Woodstock satisfez a maioria das pessoas que compareceram. Mesmo contando com uma qualidade musical excepcional, o destaque do festival foi mesmo o retrato comportamental exibido pela harmonia social e a atitude de seu imenso público.[7]

Artistas que se apresentaram em Woodstock
O livro Woodstock, do jornalista americano Pete Fornatale, é um relato sobre as apresentações de cada artista presente em Woodstock, contado por quem esteve lá (artistas, jornalistas, público e produtores do evento). O livro comemora os 40 anos do festival e faz justiça a possíveis talentos esquecidos presentes na lista abaixo.

Sexta-feira, 15 de agosto - O 1º dia de festival
O festival abriu oficialmente às 17 horas com Richie Havens. Este dia apresentou sets mais leves, trazendo a maior parte dos artistas folks que participaram.
Richie Havens (abriu o festival)
High Flyin' Bird
I Can't Make It Any More
With a Little Help from My Friends
Strawberry Fields Forever
Hey Jude
I Had A Woman
Handsome Johnny
Freedom/Sometimes I Feel Like a Motherless Child
Swami Satchidananda (deu a invocação para o festival)

Country Joe McDonald (tocou separado da sua banda, The Fish)
I Find Myself Missing You
Rockin All Around The World
Flyin' High All Over the World
Seen A Rocket Flyin'
The "Fish" Cheer / I-Feel-Like-I'm-Fixin'-To-Die Rag
John Sebastian
How Have You Been
Rainbows Over Your Blues
I Had A Dream
Darlin' Be Home Soon
Younger Generation
Sweetwater
What's Wrong
Motherless Child
Look Out
For Pete's Sake
Day Song
Crystal Spider
Two Worlds
Why Oh Why
The Incredible String Band
Invocation
The Letter
This Moment
When You Find Out Who You Are
Bert Sommer
Jennifer
The Road To Travel
I Wondered Where You Be
She's Gone
Things Are Going my Way
And When It's Over
Jeanette
America
A Note That Read
Smile
Tim Hardin (com um repertório de uma hora)
If I Were A Carpenter
Misty Roses
Ravi Shankar (com um repertório de 5 músicas tocadas durante uma chuva)
Raga Puriya-Dhanashri/Gat In Sawarital
Tabla Solo In Jhaptal
Raga Manj Kmahaj
Iap Jor
Dhun In Kaharwa Tal
Melanie
Tuning My Guitar
Johnny Boy
Beautiful People
Arlo Guthrie (a ordem do repertório é incerta)
Coming Into Los Angeles
Walking Down the Line
Story about Moses and the Brownies
Amazing Grace (encerrou a apresentação)

Joan Baez (grávida de seis meses na época)
Story about how the Federal Marshals came to take David Harris into custody.
Joe Hill
Sweet Sir Galahad
Drugstore Truck Driving Man
Sweet Sunny South
Warm and Tender Love
Swing Low, Sweet Chariot
We Shall Overcome

Sábado, 16 de agosto
O dia abriu às 12:15 da tarde, e trouxe os principais artistas psicodélicos e de rock do festival.
Quill (repertório de quatro músicas, totalizando quarenta minutos)
They Live the Life
BBY
Waitin' For You
Jam
Keef Hartley Band
Spanish Fly
Believe In You
Rock Me Baby
Medley
Leavin' Trunk
Sinnin' For You
Santana
Waiting
You Just Don't Care
Savor
Jingo
Persuasion
Soul Sacrifice
Fried Neckbones
Country Joe McDonald (sem a banda The Fish)
The Fish Cheer
Canned Heat
A Change Is Gonna Come/Leaving This Town
Going Up The Country
Let's Work Together
Woodstock Boogie
Mountain (repertório de uma hora, incluindo a "Theme For An Imaginary Western", de Jack Bruce)
Blood of the Sun
Stormy Monday
Long Red
Who Am I But You And The Sun
Beside The Sea
For Yasgur's Farm (até então sem nome)
You and Me
Theme For An Imaginary Western
Waiting To Take You Away
Dreams of Milk and Honey
Blind Man
Blue Suede Shoes
Southbound Train
Janis Joplin (dois bis: Piece of "My Heart" e "Ball & Chain")
Raise Your Hand
As Good As You've Been To This World
To Love Somebody
Summertime
Try (Just A Little Bit Harder)
Kosmic Blues
Can't Turn you Loose
Work Me Lord
Piece of My Heart
Ball & Chain
Grateful Dead
St. Stephen
Mama Tried
Dark Star/High Time
Turn On Your Love Light
A apresentação do Grateful Dead foi atrapalhada por problemas técnicos, incluindo um pedaço do chão defeituoso e também dois dos integrantes da banda, Jerry Garcia e Bob Weir, afirmaram levar choque toda hora que encostavam em suas guitarras. A performance do Grateful Dead não foi incluída no filme, mas, em um breve momento do filme, Jerry Garcia aparece segurando uma maconha, dizendo: "Maconha. Exibição A".

Creedence Clearwater Revival
Born on the Bayou
Green River
Ninety-Nine and a Half (Won't Do)
Commotion
Bootleg
Bad Moon Rising
Proud Mary
I Put A Spell On You
Night Time is the Right Time
Keep On Chooglin'
Suzy Q
Sly & the Family Stone
M’Lady
Sing A Simple Song
You Can Make It If You Try
Everyday People
Dance To The Music
I Want To Take You Higher
Love City
Stand!

The Who (começou às 4 da manhã, com um repertório que incluia a ópera rock Tommy)
Heaven and Hell
I Can't Explain
It's a Boy
1921
Amazing Journey
Sparks
Eyesight to the Blind
Christmas
Tommy Can You Hear Me?
Acid Queen
Pinball Wizard
Incidente com Abbie Hoffman
Do You Think It's Alright?
Fiddle About
There's a Doctor
Go to the Mirror
Smash the Mirror
I'm Free
Tommy's Holiday Camp
We're Not Gonna Take It
See Me, Feel Me
Summertime Blues
Shakin' All Over
My Generation
Naked Eye

Jefferson Airplane (começou às 6 horas da manhã, com um repertório de apenas 8 músicas. A vocalista Grace Slick saudou a platéia dizendo: "Ok, amigos, vocês já viram os grupos pesados; agora vocês verão música maníaca da manhã, acredite em mim, yeah. Isso é uma nova manhã... [...] Bom dia, pessoal!")
Volunteers
Somebody To Love
The Other Side of This Life
Plastic Fantastic Lover
Won't You Try/Saturday Afternoon
Eskimo Blue Day
Uncle Sam's Blues
White Rabbit

Domingo, 17 de agosto
O dia abriu às 14 horas com Joe Cocker. Os eventos deste dia acabariam atrasando a agenda do festival em nove horas, e no nascer do sol do dia seguinte o concerto ainda continuava, apesar da maioria do público já ter ido embora.
Joe Cocker
Dear Landlord
Something Comin' On
Do I Still Figure In Your Life
Feelin' Alright
Just Like A Woman
Let's Go Get Stoned
I Don't Need A Doctor
I Shall Be Released
With a Little Help from My Friends
Após o repertório de Joe Cocker, um temporal deu-se inicio interrompendo o festival por longas horas.

Country Joe and the Fish (continuou a apresentação às 18:00 horas)
Rock and Soul Music
Thing Called Love
Love Machine
The "Fish" Cheer/I-Feel-Like-I'm-Fixin'-To-Die Rag
Ten Years After
Good Morning Little Schoolgirl
I Can't Keep From Crying Sometimes
I May Be Wrong, But I Won't Be Wrong Always
Hear Me Calling
I'm Going Home
The Band
Chest Fever
Tears of Rage
We Can Talk
Don't You Tell Henry
Don't Do It
Ain't No More Cane
Long Black Veil
This Wheel's On Fire
I Shall Be Released
The Weight
Loving You Is Sweeter Than Ever
Blood, Sweat & Tears (abriu à meia-noite, com cinco músicas)
More and More
I Love You More Than You'll Ever Know
Spinning Wheel
I Stand Accused
Something Comin' On
Johnny Winter (trazendo Edgar Winter, seu irmão, em duas músicas)
Mama, Talk to Your Daughter
To Tell the Truth
Johnny B. Goode
Six Feet In the Ground
Leland Mississippi Blues/Rock Me Baby
Mean Mistreater
I Can't Stand It (com Edgar Winter)
Tobacco Road (com Edgar Winter)
Mean Town Blues
Crosby, Stills, Nash & Young (começou por volta das três da manhã com um set acústico e outro elétrico separado)
Set acústico
Suite: Judy Blue Eyes
Blackbird
Helplessly Hoping
Guinnevere
Marrakesh Express
4 + 20
Mr. Soul
Wonderin'
You Don't Have To Cry
Set elétrico
Pre-Road Downs
Long Time Gone
Bluebird
Sea of Madness
Wooden Ships
Find the Cost of Freedom
49 Bye-Byes
Paul Butterfield Blues Band
Everything's Gonna Be Alright
Driftin'
Born Under A Bad Sign
Morning Sunrise
Love March
Sha-Na-Na
Na Na Theme
Yakety Yak
Teen Angel
Jailhouse Rock
Wipe Out
Book of Love
Duke of Earl
At the Hop
Na Na Theme

Jimi Hendrix (após ser apresentado à platéia como "Jimi Hendrix Experience", Jimi, já em palco, corrigiu o nome do grupo para "Gypsy Sun and Rainbows"). O repertório de Hendrix consistia em 16 músicas
Message to Love
Hear My Train A Comin'
Spanish Castle Magic
Red House (Durante essa música, uma corda da guitarra de Hendrix estourou, mas ele continuou tocando com cinco cordas)
Mastermind (escrita e cantada por Larry Lee)
Lover Man
Foxy Lady
Jam Back At The House
Izabella
Fire
Gypsy Woman/Aware Of Love (Essas duas músicas escritas por Curtis Mayfield foram cantadas por Larry Lee como um medley)
Voodoo Child (Slight Return)/Stepping Stone
The Star-Spangled Banner
Purple Haze
Woodstock Improvisation/Villanova Junction
Hey Joe

Curiosidades
Fazenda de Max Yasgur, onde aconteceu o Festival de Woodstock
Max Yasgur (15 de Dezembro de 1919 — 9 de Fevereiro de 1973) foi o dono da fazenda em Bethel, Nova York, onde ocorreu o festival em 1969.

A banda Grateful Dead tocou durante a chuva. Alguns membros da banda tomaram choques durante a sua apresentação e Phil Lesh (o baixista) ouviu o rádio de transmissão de um helicóptero através do amplificador de seu baixo enquanto tocava.

The Doors inicialmente concordaram em tocar pois acharam que o festival fosse ocorrer no Central Park, mas decidiram ir contra a idéia quando souberam que o festival ocorreria em uma fazenda isolada da cidade.

Jimi Hendrix estava agendado para tocar no domingo, mas, pelas ocorrências inesperadas, acabaram por tocar na manhã de segunda-feira, quando restavam apenas 35.000 pessoas.

Apesar do festival ter abrangido uma multidão de 500.000 pessoas, apenas 200 pessoas foram presas no local por ofensas, mesmo estando sob os efeitos incontestáveis das drogas.

Foram documentadas apenas duas mortes no festival: uma pessoa morreu de overdose de droga, a segunda pessoa morreu ao ser atropelada por um trator enquanto dormia no campo. Algumas fontes afirmam que há uma terceira morte, devido a uma apendicite, mas isso ainda não foi provado.

Apresentações canceladas
The Jeff Beck Group estava agendado para tocar no festival, mas cancelou pois a banda acabou uma semana antes.
Iron Butterfly ficaram presos no aeroporto.

A banda canadense Lighthouse estava certa de que tocaria no festival, mas, no final, acabaram decidindo por não tocar, pois temeram que aquilo fosse uma cena ruim para a banda. Mais tarde, alguns membros do grupo disseram que se arrependeram da decisão.

Convites negados
A banda Led Zeppelin foi chamada para tocar no festival, mas o empresário da banda, Peter Grant, afirmou: "Nós fomos chamados para tocar em Woodstock e a gravadora (Atlantic) estava bastante entusiasmada, e Frank Barsalona (o promotor) também. Porém eu disse não pois em Woodstock nós seríamos apenas outra banda na parada". Em vez disso, o grupo foi para uma turnê de mais sucesso.

The Doors foi considerada uma banda com grande performance, tinham bastante potencial, mas cancelaram a apresentação em cima da hora. Ao contrário do que muitos pensam, esta ocorrência não está relacionada ao fato de o vocalista, Jim Morrison, ter sido preso por postura indecente em um show anteriormente. O cancelamento do show se deu ao fato de que Morrison sabia que a sua voz soaria repugnante por estar ao ar livre. Há também a idéia de que Morrison, em um momento de paranóia, estava com medo que alguém atirasse nele e o matasse quando o mesmo pisasse no palco. No entanto, o baterista John Densmore compareceu no festival; no filme, ele pode ser visto ao lado do palco durante a apresentação de Joe Cocker, quando esse cantava o hino lisérgico "Let's Go Get Stoned".
Os promotores entraram em contato com John Lennon, pedindo para que os The Beatles tocassem no festival. Lennon disse que os Beatles não tocariam no festival a não ser se a Plastic Ono Band, da Yoko Ono, também pudesse tocar. Os promotores o recusaram.
Frank Zappa e The Mothers of Invention afirmaram: "Muita lama lá em Woodstock. Nós fomos convidados para tocar lá, mas recusamos" - Frank Zappa.

Outras edições
Para comemorar os 25 anos do superevento, 250 mil pessoas se reuniram no Woodstock '94, em Saugerties, a 135 km de Nova York. Pagaram 135 dólares para ouvir 40 bandas, entre eles o Nine Inch Nails, Aerosmith, Metallica, Green Day, Red Hot Chili Peppers e músicos como Peter Gabriel, Carlos Santana e Joe Cocker.Outra edição ocorreu em 1999, destruindo a reputação do "Festival da Paz e do Amor" devido à violência e tumultos supostamente incentivados por bandas como Limp Bizkit, Insane Clown Posse e Kid Rock.
No entanto, para o ano de 2009 fala-se da comemoração dos 40 anos do Festival. De acordo com o promotor Michael Lang, este poderá vir a acontecer em Agosto, nos dias 15 e 16 em Nova York (ainda em local indeterminado) e nos dias 22 e 23 em Berlim (num aeroporto abandonado). Os organizadores pretendem recrutar mais bandas que fizeram parte do alinhamento do 1º Festival, nomeadamente Grateful Dead, The Who e Santana.[8]

Notas e referências
1- Woodstock completa 40 anos neste sábado (15/08). Jornal Hoje (14/08/2009). Página visitada em 15/08/2009.
2- 2,0 2,1 Robert Stephen Spitz,. Barefoot in Babylon.
3- http://oregonstate.edu/cla/polisci/faculty-research/sahr/cv1996.pdf
4- BBC ON THIS DAY - 1969: Woodstock music festival ends.
5- Statement on the Historical and Cultural Significance of the 1969 Woodstock Festival Site.
6- Tired Rock Fans Begin Exodus. New York Times (1969-08-18).
7- Andy Bennett,. Remembering Woodstock.
8- Woodstock 2009 Set For New York And Berlin. Página visitada em March 24, 2009.